1.07.2015

Quero voltar a fumar! Já!

Fumava tanto que parecia sempre que tinha acabado de entrar em palco no Chuva de Estrelas e que tinham posto aquele efeito de fumo manhoso. 

Fumava tanto que o meu cheiro servia de fumo passivo para os meus colegas de trabalho.

Fumava tanto que parecia que usava verniz amarelo, mas só no dedo indicador da mão direita (e nos dentes). 

Fumava tanto que media o meu tempo em cigarros. 

Fumava desde os meus treze quando, nas Olimpíadas dos Maristas, levei um maço de tabaco da minha mãe (SG Filtro) para fingir que já fumava e acabei por ter de "provar" que era uma fumadora experiente (dizia aos meus amigos que já tinha fumado, mas que tinha deixado para não ter que o fazer) nas casas de banho do colégio. Lá fumei e fingi que travei, porque saberia que iam estar atentos, os sacaninhas.

No liceu, comia as repetições das minhas colegas no refeitório, para usar o dinheiro da minha semanada para comprar Camel ou LM. 

Quando não tinha tabaco, roubava cigarros a um maço de Gauloises sem filtro (hardcore, pior que "mata ratos") que a minha madrasta tinha na sala, mesmo quando não estavam em casa.

Fumava sempre que entrava no carro. Fumava sempre a caminho do trabalho às 6 da manhã. No liceu, fumava enquanto comia uma maçã, quando ia para o autocarro. 

Pronto. Isto para dizer que me esfumaçava toda. E, a meu ver, ainda me esfumaço, mas psicologicamente.

As saudades que tenho de discutir (calma, não tenho saudades de discutir) e poder acender cigarros e fumar para pontuar as conversas. As saudades de um bom cigarrinho depois de ter enchido o bandulho ao jantar. As saudades de escrever com duas mãos enquanto uma segura o cigarro e tira a cinza.

Bom, vou parar com isto, devo estar a minar os neurotransmissores das mães ex-fumadoras e aposto que as fumadoras já estão a programar o próximo cigarrinho (sacanas!). 




Serve este post para dizer que sou a maior. Ou que, pelo menos, me sinto a maior. É verdade que fumei até saber que estava grávida (um maço de Camel por semana - no carro, para fumar a sério - e o resto do dia Smuky - cigarros electrónicos quando, na altura, se dizia que eram quase tão pouco maus que quase que curavam escorbuto e faziam máquinas de roupa).

Quando soube que estava grávida, tentei fumar um cigarro para "comemorar", sabendo que tentaria que fosse o último, com tudo o que o verbo "tentar" implica (só as fumadoras e ex-fumadoras é que percebem o raciocínio estúpido de fumar um cigarro para comemorar uma gravidez). 

Esse cigarro soube-me mal,  soube-me a culpa e a fracasso.

Acho que foi a minha primeira culpa de mãe (a segunda foi saber que o chá verde era abortivo e que andava a beber Tisanas à vontadinha o dia todo - apesar daquilo ser só 0,00001 de extracto de chá verde e de saber, racionalmente, que não ia fazer mal). 

Como é que eu estava a ser capaz de fazer algo que não me traz nada de bom a todos os níveis, decidindo que, ainda antes do meu bebé nascer, iria fazer-lhe mal?

Tive sorte porque o cigarro me soube mesmo mal, enjoou-me, senão cada cigarro que eu fosse fumar, iria ser, de longe, o momento mais triste do meu dia. Fumar grávida, a meu ver, deve ser o equivalente a darmos socos na barriga e não conseguirmos parar. Não gostarmos disso, mas continuarmos na mesma. Claro que há aquela questão de "não deixar de fumar bruscamente, senão a mãe fica ansiosa". Acredito. Se eu não tivesse deixado de fumar, refugiar-me-ia nesse argumento para me sentir menos mal. Tive sorte e, assim, sinto-me a maior.

Não fumei um único cigarro ao longo dos 9 meses de gravidez, mesmo mantendo todas as minhas rotinas (vocês sabem o quanto isso custa, porra), mesmo tendo um marido em casa com um maço de Marlboro sempre à mão, mesmo sabendo que ficava muito gira a fumar (ahah, é parvo, eu sei). 

O que me ajudou? Ter enjoado, a culpa (que acho que está cá mais para nos ajudar a ser boas mães que outra coisa) e ter pensado: "assim que parir a miúda, vou fumar-me como se não houvesse amanhã. 

Lixei-me.

E dar mama? Ah pois. Afinal seriam 9 meses, mais 6 meses por causa da treta de ser o melhor para a bebé o aleitamento exclusivo até essa idade. Que nervos. Além disso, tinham dito nas aulas de preparação para o parto que o cheiro do tabaco nas mãos também conta como fumo passivo para o bebé, que o pai e mãe deviam sempre lavar as mãos (o que o meu marido teve de aturar nos primeiros meses... ainda hoje fuma na cozinha, de porta fechada, debaixo do exaustor, com ele no máximo e é só porque ele passa o dia inteiro em casa). 

E agora que já passaram os 6 meses de mama e descobri que o melhor para a bebé é amamentar o máximo possível e que ela desmame naturalmente? Que nervos. Houve alturas (quando tinha feito um stock de três meses de leite materno para a bebé e tinha guardado no congelador, para ir trabalhar) que pensei: agora damos o que estiver ali, para eu me fumar toda. Não fui capaz. Gosto mais de dar de mamar do que de fumar, acho eu. Ou então é a sra. dona culpa.

Já não fumo há 19 meses. Em condições já não fumo há mais de 23 meses. Esperem, isto devia ser tipo AA: 

"Olá, sou a Joana e já não fumo em condições há mais de 23 meses. E logo eu que fumava tão bem e ficava tão bem a fumar". 

Estou louca para voltar a fumar. Digo isto a toda a gente, em jeito de piada, para chocar, é verdade, mas também porque assim sinto que tenho a liberdade de me vingar de todo este sacrifício. Não sei se vou voltar a fumar. Para quê se depois tenciono parir outra vez?

Aguento-me dia após dia graças às minhas maminhas (isto, fora do contexto deste blogue, era só estúpido) e a pensar que, depois, vou fumar tanto que vou ser confundida com o La Féria no escuro. 

Se vou voltar a fumar? Não sei. Prefiro pensar que sim, para depois me sentir a maior todos os dias em que não fumar ou então por me sentir a maior por saber que ia voltar a fumar e voltei. 

Como foi convosco?

Eu sei, vocês vêm ao blog à procura de uma leitura agradável e rápida e depois calham-vos estes bacalhaus de texto. Acho que este blog tem sido o meu maço de Camel. 

*imagem do site We Heart It. 

Medo de atrasos

Enquanto que, com os cães, achamos sempre que os nossos são mais espertos que os dos outros, com os filhos, temos sempre medo que as coisas não estejam a ir na direcção certa. Tememos as piores doenças cerebrais possíveis, os piores atrasos de desenvolvimento conhecidos e imaginários e que, pior ainda (como se houvesse): que seja tudo por nossa culpa, por culpa de algo que comemos ou de não os estimularmos correctamente.

Até chegamos a conspirar contra os nossos pediatras, como se eles soubessem ou suspeitassem que o nosso filho tem um problema qualquer, mas que não nos queira dizer por ser inevitável e para não nos stressar. 

A Isabel, da Joana Paixão Brás, "está à frente do desenvolvimento" (cabra). A Irene ainda não gatinha e já tem praticamente 10 meses. A Isabel já fica em pé agarrada a móveis do Ikea lá em casa. A Irene arrasta-se de rabo como se tivesse parasitas, como os cães. Enfim.

Até confiar na Irene, demorou. Principalmente quando somos constantemente confrontadas com sites, aplicações e livros que nos dizem "a idade normal" para começarem a fazer determinado tipo de coisas.

Na brincadeira, chamava à Irene de foca, por a única coisa com piada que ela fazia ser eu por-lhe uma chucha no nariz (how sad).

A verdade é que, apesar de ter começado a sorrir mais tarde que a Isabel, a gargalhar bem mais tarde que a Isabel (só, para aí, há um mês é que gargalha sem que eu tenha de espancar com cócegas), ela descobre tudo sozinha, a seu tempo.

Lembro-me que, quando ela se abanava, tivemos medo, durante uns dois minutos que pudesse ser autista (por causa daquela imagem estereótipo), mas descobrimos que, afinal, estava a dançar. A Irene não gargalhava, não gatinhava, mas dançava (coisa que a Isabel não faz, toma!).

Os bebés não têm curiosidades com a mesma intensidade ao mesmo tempo, podem não sentir as mesmas necessidades de deslocação ao mesmo tempo. Há bebés que passam directamente do sentar ao andar e tudo (isto deixou-me descansada muitas vezes).

Confiemos nos nossos bebés. Se houver algo mesmo brutalmente esquisito, os pediatras vão reparar nas consultas de rotina. Eles não ganham à comissão por segredos escondidos e até perderiam pacientes, além de ir contra tudo aquilo que representa ser médico, digo eu.


Mães que tudo sabem (#03) - Cláudia Borges

Cláudia Borges apareceu nos nossos ecrãs no Disney Kids, em 2002. A brincar a brincar já lá vão 13 aninhos e a apresentadora da SIC já tem um filho de 4 anos, o Rodrigo, o futuro namorado da Isabel (ele não sabe, nem a mãe dele, mas já andei a conspirar com os astros).

Numa conversa divertida, Cláudia fala-nos da gravidez, da maternidade e das saudades que tem do filhote em bebé.


Como soubeste que estavas preparada para ser mãe?
Desde muito cedo que queria ser mãe. Quando aos 21 anos me juntei com o Samuel, queria logo ter um filho. Ainda bem que ele era mais ajuizado do que eu ;) porque não sei se por essa altura teria maturidade suficiente, ou se a mesma chega quando o bebé nasce.

Como descobriste?
Já andava desconfiada, mas não queria pensar muito nisso, assim evitava desilusões.
A 26 de Março de 2010, entre reportagens, fui ter com a minha médica aos Lusíadas. Queria ter a certeza pois a 28 ia para Andorra em trabalho. Fiz a análise ao sangue e fui-me embora pois tinha de gravar. A Dra Linda ficou de me ligar e, umas horinhas depois, no meio da dita reportagem o telefone tocou. Do outro lado: "minha querida, vais para a neve, mas não te quero em aventuras..." Conseguem imaginar o ar de parva durante as entrevistas?

Quem foi a primeira pessoa a quem contaste que estavas grávida?
Só à noite, depois do trabalho todo feito é que fui ter com a Samuel a estúdio e foi aí que lhe contei que iamos ser pais.


Lembras-te da primeira coisa que compraste para o bebé?
Comprei um babygrow em tons beje. Assim, fosse menino ou menina dava.

Tinhas preferência por menino ou menina?
Não tinha preferência, mas a verdade é que estava convencida de que iria ter uma menina. Na família do Samuel, a maioria são rapazes, e todos diziam que era eu que ia ter uma menina.
Quando o médico disse que era um menino, fiquei super feliz, mas ao mesmo tempo em choque. Mas passou rápido!


Como correu a tua gravidez?
Lindamente! Foi aquilo a que se chama "uma gravidez santa". À parte dos enjoos matinais durante 16 semanas seguidas, não houve sustos, nem desejos doidos nem nada que que travasse a nossa felicidade.
 
Quantos kgs ganhaste?
Ganhei 16kg, o que não foi muito preocupante porque antes de engravidar tinha 53kg.

Comeste a dobrar ou tiveste alguns cuidados?
Cuidados... que vergonha... não tive mesmo. Usava o facto de ser magra para comer de tudo. A Coca-Cola sabia-me pela vida!


Ias com medo para o parto ou calma?
Sabes do que tinha medo? Da epidural! De resto, nada! Queria muito que fosse um parto normal e assim foi. Estava super tranquila e, mesmo com 12h de trabalho de parto, com dores que só nós sabemos, nunca entrei em pânico.

Como recuperaste o teu peso? Era uma preocupação voltar à tua forma o mais depressa possível?
Sinceramente não estava muito preocupada. Passados 22 dias fiz um direto num especial de Natal da SIC, mas de preto ;) tinha barriguinha como seria de esperar. E quando regressei em Março, estava a baixo do peso. Magra de mais! Cheguei aos 49kg, mas não foi propositado! Só quando o Rodrigo foi para a escolinha aos 12 meses é que comecei a treinar.


Custou-te muito regressar ao trabalho depois da licença de maternidade ou nem por isso? 
Tinha tanta vontade de voltar ao trabalho, como de ficar agarrada ao meu "Barriguitas" para sempre.
O Rodrigo ficava com a avó, por isso só estava longe dele o tempo que o trabalho levasse. Mas ia ligando ao longo do dia. Aos 12 meses, quando foi para a escola, é que tudo mudou... os primeiros dias foram uma choradeira pegada! Ele e eu!

O que é mais difícil na maternidade?
Tento não me stressar muito com nada. E aos 4 anos já não há grandes dramas. Mas o Rodrigo teve uma fase péssima... não queria comer nada e confesso que aí achei que ia ficar maluca. Olha que não sei se não fiquei (eheh).

És uma mãe control freak ou mais descontraída?
Nem control freak nem descontraída! Se sou chatinha e exigente, sim, sou!

És das mães que aproveitam todos os silêncios para falar do Rodrigo ou consegues controlar-te?
Quase todas as minhas amigas já têm filhos, por isso acabamos sempre por falar dos pequenotes. Mas controlo-me, há mais temas. Mas vá, prefiro falar do Rodrigo do que do tempo (risos).




O que é que mais gostas no teu filho?
O que mais gosto? Difícil!!! Mas vou tentar... a alegria contagiante, a gargalhada fácil, o facto de não ser preciso muito para ficar entusiasmado e super feliz, as saídas que me deixam de boca aberta, muitas vezes quando estou a ralhar e acabo a rir. E até a teimosia típica de um escorpião.

Qual é a coisa que o Rodrigo te diz que mais gostas de ouvir?
O meu filho, como sabes, tem umas saídas engraçadas, não é fácil! Mas de há umas semanas para cá, dá-me um abraço bem apertadinho e diz "mãe eu gosto tanto de ti! Adoro-te!!".

O teu filho já percebe que a mãe é famosa? 
Não dou grande ênfase a essa questão. A mãe trabalha na SIC, como a mãe de um amiguinho trabalha numa loja ou é professora ou médica.
No outro dia na rua pediram-me para tirar uma foto e o Rodrigo perguntou porquê. Só lhe disse que a senhora me conhecia da TV e ele não fez mais perguntas.



Gravaste o Disney Kids para lhe mostrar?
Ainda não lhe mostrei o Disney, mas já viu vezes sem conta "Uma aventura na casa assombrada" e adora.

Tens saudades de quando ele era bebé?
Tenho!!! Tenho tantas! E por tua culpa, porque andei às voltas com as fotos, fiquei ainda com mais (ahah).


Aprendeste algo novo sobre ti, assim que te tornaste mãe?
Aprendi que uma mãe aguenta tudo! Se doer nós aguentamos, se estamos cansadas, sem dormir, mas é preciso acordar cedo, nós aguentamos! Aprendi o que é sentir dois corações num só! Se ele sofre, eu sofro!

Pergunta da praxe: para quando o próximo?
Quero muito voltar a ser mãe! Sou filha única e não é uma experiência pela qual queira que o meu filho passe. Quando as condições estiverem reunidas, se é que isso existe, vai acontecer!


Da próxima vez vais fazer alguma coisa diferente? 
As pequenas coisas que me deixavam cheia de dúvidas já não me vão stressar. Costumo perguntar ao Rodrigo se me ajuda quando tivermos um bebé – sim, porque ele diz que vamos ter um bebé - e a resposta é rápida e direta: "não lhe mudo a fralda!". Com esta ajuda extra,vai ser ainda melhor

Algum conselho para as futuras mamãs?
Não vale de nada dizer para não stressarem quando eles não quiserem comer, dormir ou quando caírem, porque vão sempre entrar em stress! Mas há um truque que pusemos em prática e que sempre deu resultado! Bebés a dormir a sesta depois das 18h30/19h é quase proibido! Vão ver que o sono chega mais cedo e que a noite será mais tranquila.

A mãe é que sabe?
A mãe é que sabe! Ah pois sabe!!! E se não sabe, desconfia! Não há instinto mais apurado do que o de uma mãe atenta.

Obrigada, Cláudia!