7.06.2015

Já apanharam este susto?

Acho que só se apanha uma vez. E é quando se é mãe pela primeira vez. Por esta altura, no ano passado, a Irene começou a mexer-se na cama e a adoptar posições esquisitas. Uma vez, quando lá fui, estava assim. 


Fiquei moderadamente em pânico, porque diziam-me "ela tem de dormir de barriga para cima". Eu: "está bem, mas e agora? não vou acordá-la para a virar de papo para o ar". Dormi esta noite e a seguinte (ahah como se eu dormisse) algo preocupada, mas não sei bem porquê.
Esta é uma daquelas preocupações que as pessoas que têm mais do que um filho dizem: "é o primeiro, não é? Pois...".

Cada vez mais me apercebo de que eles só fazem o que conseguem e podem fazer. Ela, se se virou assim, é porque pode. E, se não pudesse, também o que podia eu fazer? Não lhe ia lá por daqueles cilindros para ela não se mexer porque os bebés não devem ter bonecos na cama (salvo um dou-dou) já que está provado que ter coisas na cama, tendo eles esta idade, pode provocar o pior dos acidentes.
Agora olho e penso: "que barriguinha tão deliciosa que tinha a minha moreninha" e "que bem que lhe ficava aquele pijama do Auchan". 


Mães para ser, não se preocupem com isto.

Mães que já são, é bom já não termos estas preocupações, não é? Imaginem o "descanso" mental do segundo! 



Estou a ser operada neste momento.

E não, não vos escrevo a esta hora. A esta hora devo estar em nenhures ou onde todos os cérebros estão quando sob o efeito da anestesia. 

Se estava cheia de medo? Estava. Nunca fui operada na vida (e o parto não conta porque estive sempre consciente). 

Mas agora já está. A esta hora (a que me lêem) já o bisturi abriu parte da minha mama e extraiu o que, ao que tudo indica, é um fibroadenoma. A biópsia foi inconclusiva, mas deve ser.

A Joana Gama perguntou-me no outro dia, entre outras coisas, se eu tinha receio do aspecto da cicatriz. Vi, com 12 anos, a minha avó Isabel morrer de cancro da mama, que se alastrou para os ossos. Lembro-me bem do corte que ela tinha, de uma ponta à outra da mama. Recordo-me de dormir a fazer "caixinha" com ela (sei que vocês dizem "conchinha" ou "colherzinha" mas nós dizíamos "caixinha"), de pôr a mão por cima dela e de ter medo de a magoar no peito. Lembro-me como se fosse hoje daquela cicatriz. A minha, ao pé daquela, vai ser um arranhão. Por isso não, não tenho pena nenhuma de ficar com uma cicatriz.

O meu medo não é esse. É uma estupidez, é irracional, mas tenho receio de não acordar da anestesia. Não me perguntem de onde é que isso vem, que eu não sei. Não sei que série vi, que filme, mas algo ficou aqui a pairar nesta cabecita. Sei bem que a probabilidade de me acontecer alguma coisa desse género é ínfima, que sou jovem e saudável, mas enfim. Despedi-me com uma lágrima da minha filha e nem a levei à creche para não dar espetáculo. Ontem tive vários momentos em que pensei "será a última vez que...", o que é estranho, porque sou uma pessoa optimista e não costumo ser tão tontinha. Deve ser por agora ter uma Isabel na minha vida e querer muito estar viva para vê-la crescer.


Bem, agora já está. Não tarda nada estarei a acordar. E assim que possa, venho dar-vos notícias. Ou dá a Joana por mim. E obrigada pelas boas energias. Sei que estão neste momento a torcer por mim.