Se
ligasse às opiniões dos outros – como já vi muita gente ligar, eu incluída a
determinada altura – já me teria morto.
Não estou a tentar ser engraçada ou dramática, estou a contar-vos algo pelo qual já tive que passar para estar aqui onde estou. Houve uma altura na vida em que, se as opiniões dos outros determinassem o que é real, não valeria a pena estar viva.
Estamos
programados para ver o que queremos ver. Sendo que o que queremos nem sempre é
o que precisamos, mas sim o que temos em “nós”. Não somos o que fazemos. Não
somos o que achamos que somos. Temos uma linha paralela à nossa existência, uma
substância inalterável de riqueza e de luz que não é alterada pelos
acontecimentos, pelas consequências.
Existe
um espaço em nós que raramente algo ou alguém consegue chegar e que, mesmo
dentro de um sítio muito pequeno, de um sítio violento, de um sítio morto, de tristeza, de desapontamento, essa luz continua cá dentro.
A luz que mesmo depois de uma perda
monstruosa, nos dá força para continuarmos por cá, por exemplo.
Somos
mais do que a ausência ou presença de likes, muito mais do que o número de
pessoas que concorda connosco ou que discorda. Somos mais do que as opiniões
que queremos ouvir ou que os sítios onde querem que estejamos. Somos água, não
somos listas de tarefas. Não é o número que rege o que está certo ou errado.
Não é a quantidade, é a qualidade. É a qualidade das pessoas e a sua relação
connosco.
E a relação delas consigo.
E a relação delas consigo.
Da
mesma maneira que existe uma grande necessidade para o pintor de fazer um recuo
relativamente às suas obras para ganhar perspectiva, também nós deveríamos fazê-lo, embora hoje em dia
seja ter cada vez mais difícil: o tempo parece que nos tira tempo e vamos com a
corrente em vez de confiarmos que sabemos nadar contra ela - faz-me lembrar do
poster que a personagem principal do Fargo tinha na lavandaria.
Claro
que a nossa essência não consiste em estarmos constantemente a lutar contra
(seja o que for). A nossa essência, o nosso propósito, quem somos
verdadeiramente (despidos de status, de histórias que nos contaram sobre nós
próprios e que continuamos a repetir para dentro, de roupas, de iPhones, de
ausências ou de meias-presenças) não se poderá definir por uma postura relativa
à maioria, mas sim uma postura relativa a nós mesmos.
Poderá
parecer egoísmo para muitos. Poderá parecer imaturidade para outros. Arranjámos
muitas maneiras de medir quantitativamente algo que é só impossível de medir: o
amor. Não podemos julgar, pesar, equacionar o quanto alguém gosta de nós por
ter estado connosco ali ou por ter saído ali. A vida acontece independentemente
de nos sentirmos o centro da vida dos outros ou que merecemos estar no centro da
vida dos outros.
A
primeira pessoa que devemos aprender a amar é a nós mesmos. Sabendo saborear o
que nos parece mais doce e amargo, desenvolvemos o nosso paladar. Todos os
sabores fazem parte deste. Só doce é aborrecido. E do que seria a vida sem o
pressuposto da existência dos contrários?
Cobramos.
Julgamos. Acima de tudo a nós próprios. Sinto muito isso no pêlo no que toca à
imagem corporal que tenho, ao conceito de sucesso profissional e à imagem que
temos da “mãe” perfeita. Não somos quadrados, não temos que nos encaixar num
conjunto de requisitos para sermos considerados aptos enquanto: mulheres,
seres, trabalhadores, mães, filhas, amigas, namoradas, etc.
Da
mesma maneira que o sexo poderá funcionar de forma criativa e livre quando duas
pessoas se deixam de prender (ou se passam a prender, dependendo dos gostos),
todos os outros conceitos que nos rodeiam também poderão ter essa fluidez e
verdade. Uma verdade que é moldada às pessoas que fazem parte da relação e não
o oposto.
Não
temos de construir pessoas para que encaixarem nas nossas expectativas. Nem
nós.
Claro
que a vida não é um passeio de barco, de vela estendida consoante onde o vento
nos leve. Claro que a vida não é só um passeio solitário onde nos guiamos apenas
por aquilo que sentimos. A cabeça tem de ser um instrumento para sentirmos melhor e não para deixarmos de nos sentir. Ser algo não é estar em todo o lado ao mesmo tempo.
É
estar onde o coração manda.
Ouvindo-o
é ouvir-nos.
E quanto mais e melhor nos ouvirmos, mais cuidado temos com as opiniões dos "outros".
Sou cada vez mais feliz.
E quanto mais e melhor nos ouvirmos, mais cuidado temos com as opiniões dos "outros".
Sou cada vez mais feliz.
Hoje de manhã. |