3.19.2019

E nasceu-nos mais um bebé. Chama-se Amwêlê.

A viagem a São Tomé foi transformadora. No fundo, eu já sabia que o seria. Era a quarta vez do meu pai. Foi ele, aliás, que nos aliciou durante imenso tempo para lá irmos. Ele já tinha sido conquistado, desde o primeiro momento, por São Tomé.

Éramos 20 a embarcar. Antes de ir, já tínhamos preparado toda a logística: vestidos, roupa para menino, outros livros e enciclopédias, brinquedos, roupa em segunda mão... um mundo de coisas. Levámos mochilas e material escolar para todos os alunos da escola primária do Ilhéu das Rolas. Tudo já combinado com o professor Alexandre. Pelo caminho, passámos numa roça para deixar brinquedos e roupa. 

Foi aí a primeira vez que o meu coração parou e mordi o lábio para travar as lágrimas. 

Uma migalha, pensei. Uma gota num imenso oceano. E, no meio de tantas crianças, um miúdo com o sorriso mais rasgado de todos por ter recebido uns calções. Uns simples calções. Cheguei ao carro e desabei. Chorei e chorei. 

Não pode ser só isto. 

A escola primária a precisar de uma biblioteca organizada e paredes pintadas. O professor Alexandre a desafiar-nos para lhe arranjarmos um portátil para poder mostrar o mundo aos seus alunos. Todos pensámos no mesmo: conseguiríamos arranjar um portátil ontem. Depois, saber que todos os produtos hortícolas que o hotel comprava vinham de fora. Não seria possível criar ali uma horta, com a ajuda, claro, de especialistas em agronomia e sustentabilidade ambiental?... E uma creche para as tantas e tantas crianças pequeninas? E um posto médico onde pudéssemos receber o voluntariado de médicos e enfermeiros e com eles rastrear doenças e ajudar nos cuidados mais básicos? E... choviam ideias. Nós só queríamos voltar e fazer, fazer, fazer. Concretizar. Passo a passo, pequenas coisas, enormes no coração.

Foi então que começou a tomar forma a AMWÊLÊ, "amor" em crioulo de São Tomé. Era muito amor o que sentíamos. Era um amor enorme por aquele povo bom, por aquele país. E uma vontade de não os largar mais.

Nasceu a nossa - e vossa - associação sem fins lucrativos AmwêlêFaçam like e acompanhem o que vamos andar a fazer.

É um projecto do coração. Um enorme obrigada ao meu pai que pôs a primeira pedra. Contaremos convosco para colocarmos todas as outras. 


Nota: o portatil será entregue pela Amwêlê no inicio de maio, na missão de voluntariado da Sara Poejo e Érica Domingues. <3 


10 comentários:

  1. Olá Joana, estive quase há dois anos em São Tomé e passado poucas horas de ter chegado já estava rendida.Na manhã seguinte quando visitei as roças as minhas lágrimas caiam e caiam porque na mochila não levava o suficiente para tantas crianças. Senti me frustrada e egoista por não ter pensado nesta questão, de não ter feito mais, quando um menino me deu a mão e me disse: "tens fome? Eu tenho fruta se quiseres!" E aí percebi que são felizes com pouco com tudo... tudo o que se conseguir será muito bom para eles. Espero e desejo lhe muita sorte. Um beijo Ana

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    1. Ana, podem ter pouco mas quem vai de fora deve ter cuidado com o que introduz na ilha. Ajudar a pescar, a cultivar, a criarem alimento e ajudas para a educação. Isso é o essencial. Tudo o resto que achamos que lhes faz falta, mais roupa, sapatos, brinquedos, no fundo tralha, pode criar um problema de lixo.

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  2. Joana, como podemos ajudar??

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    1. Vou partilhando os projectos/ missões à medida que forem acontecendo. Beijinhos! E obrigada!

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    1. Vou partilhando os projectos/ missões à medida que forem acontecendo. Beijinhos! E obrigada!

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  4. Olá,
    Gostava de saber um pouco mais sobte a vossa associação
    Eu ja foi a São Tomé 2 vezes como voluntária
    A vontade é fazer sempre um pouco mais

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  5. Olá,
    Gostava de saber um pouco mais sobre a vossa associação.
    Eu sou voluntaria e ja fui a São Tome 2 vezes como voluntária e 1 vez como turista (foi assim que conheci)
    A vontade é querer fazer sempre mais um pouco
    Obrigada

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