1.14.2019

"Se é para terem uma vida estúpida, mais vale não os terem"

A propósito do cansaço dos pais e das divisões domésticas (post aqui), recebemos um comentário que me fez pensar (apesar de o querer rebater): obrigada por isso. 

Neste momento, o David está numa fase em que precisa de trabalhar mais horas (sem que isso tenha a ver com o facto de eu agora trabalhar como freelancer e não ter um ordenado fixo, só para que conste), tenho de ser eu a estar. A ser mais mãe. Com todo o lado maravilhoso que isso tem (adoro ter agora mais tempo para elas, estar com elas, conversar, abraçá-las e amá-las), também recai sobre mim gerir mais. Gerir as refeições, as compras, as guerras entre elas, as birras e até algumas decisões, que às vezes têm de ser imediatas e em que nem o whatsapp nos safa. E isto cansa, às vezes. Na minha visão hipotética das coisas o preferível seria "ambos fazem tudo" - cuidar da casa, cuidar dos filhos. Mas nem sempre isso é o melhor para a família no seu todo, ou nem sempre isso é possível: há fases e nem todos os trabalhos são iguais e têm a mesma flexibilidade, exigências, horários, turnos, etc. Não tem de ser tudo medido a régua e esquadro e as cedências também deviam fazer parte do "contrato".

O comentário:

"Todas as tarefas e despesas devem ser logo divididas como se o casal estivesse separado. Quer esteja ...ou não. A criança deve ter dois progenitores que são os dois cuidadores e adultos de referência para a criança. 
Não precisam, nem devem cuidar deles em conjunto. Devem é fazer as atividades de lazer juntos. É suposto tirarem muito prazer disso. Ora, tal não vai acontecer se estão ambos exaustos.
Ou pior ...se há uma/a claramente muito mais sobrecarregado.
Por exemplo, as mães que amamentam não deviam fazer mais nada se não cuidar de si e fazer só as tarefas leves e gratificantes com os seus filhos. O que amamentam e os outros, se os têm. 
2 Uma empregada doméstica é fundamental. 
As tarefas domesticas basicas não podem ser asseguradas a 100% por um pai e uma mãe sob pena de destruirem a sua relação como casal e pior...destruirem a sua relação com os filhos. 
Se é para arranjarem uma vida estúpida e de má qualidade para as crianças e para as mães/ pais, mais vale não os terem".

Concordo com parte da premissa, acho importante e preferencial que a criança tenha os dois cuidadores de referência a educá-la e também em momentos de lazer; não vejo que este modelo funcione com todas as famílias, há vários tipos de famílias, vários tipos de trabalhos e acho redutor que sintamos que toda a gente se deverá moldar a esta forma de pensar, que já parte do ponto de vista "privilegiado". Há uma coisa chamada "desemprego" que afecta muitas famílias em Portugal. A maior parte das pessoas, dos casais, não têm dinheiro para ter uma empregada doméstica. Só com esse critério podem ter filhos? Não. As crianças também ficam a saber, desta forma, que os pais (ou a mãe ou o pai) sabem fazer tudo, são autónomos, e que na vida há lazer e descanso mas também há responsabilidades e deveres. Que organizar, cozinhar e gerir uma casa pode ser gratificante. "Bullshit" pensam vocês. Sim, sim. Eu adorava ter alguém que todos os dias estivesse lá em casa a limpar, arrumar e a fazer as refeições, mas, nem nos tempos em que eu e o David talvez tivéssemos conseguido, antes de sermos pais, isso aconteceu. Claro que se eu tivesse alguém que me assegurasse o trabalho "de sapa", para que eu pudesse só dar banho, jantar, brincar e contar histórias, seria menos cansativo; mas também gosto que as minhas filhas saibam - a sério que sim - que podemos transformar momentos de responsabilidade em momentos felizes e de entreajuda. Ponho-as a limpar, a ajudar, a aspirar, a separar a roupa escura da clara, a cozinhar comigo (ainda hoje de manhã fizemos waffles juntas)... e consigo transformar obrigações em brincadeiras e em momentos em família! Às vezes até cantamos e dançamos pelo meio. Gosto e até acho que lhes estou a dar ferramentas importantes.

Posto isto, já aprendi que não há fórmulas únicas e taxativas e que não devemos definir o que os outros devem fazer com os nossos olhos. E muito menos sou pessoa para dizer "então não os tenham". Cada um faz o que consegue e pode, cada família luta para ser melhor e, na minha opinião, não temos de estar à espera de ter uma empregada em casa ou nem sequer um contrato de trabalho das 9h às 5h para decidirmos ter um filho.

E sim, podemos queixarmo-nos e desabafar depois, quando estivermos cansados.




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9 comentários:

  1. Que comentário tão sem nexo. O queixume faz parte da natureza humana. Se assim não fosse ninguém andava para frente nem fazia por ser melhor.
    Pelo ponto de vista do/a autor/a do comentário as empregadas domésticas não podem ter filhos e só pessoas acima de determinado rendimento mensal ou com o cú virado para a lua pode ser mãe/pai.
    Posto isto tenho a certeza que ter muitas posses nem sequer é garantia de uma vida menos estúpida e feliz. Os valores, dedicação e amor são um garante bem melhor para uma vida de qualidade

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  2. Bem li o comentário dessa "pessoa" e realmente fiquei em choque.
    Essa "pessoa" é mesmo perfeita, não sei em que mundo vive, mas não deve ser no mesmo que o meu.
    Eu tenho uma filha, um marido que viaja muito e passa muito pouco tempo em casa e tenho que ser eu aa faze praticamente tudo, não tenho ajuda de ninguém, vivo longe dos país e sogros. Sinto me exausta e não é facil, peço desculpa se não tenho empregada e trabalho 8h por dia, e se nao tenho tempo de qualidade para estar com a minha filha. Se calhar vou pedir ao meu marido para se despedir, para dividirmos as tarefas, peço é a esta pessoa que depois pague as contas.
    Não sei em que mundo estas pessoas vivem, mas acredito que não é no mesmo que o nosso Joana, sao tão perfeitas, tenho medo de pessoas assim��

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  3. Sinceramente não sei às vezes em que mundo as pessoas vivem. No outro post há comentários de brandar aos céus. Tenho uma filha com 4anos em que passei a gravidez toda a trabalhar, não tive "direito" às horas de amamentação porque eram descontadas apesar de ser um direito. Com o nascimento e o que isso acarreta, sempre que a miuda estava doente e que tinha que faltar porque não tinha com quem a deixar, porque lá está o pai apesar de estar presente e de parilhar tarefas têm um trabalho "mais complicado" em termos de horário que não lhe permitia faltar assim. Sim, coitado dele se tiver tão doente que tenha de ficar de cama, que muitas vezes teve que ir qur não tinha ninguém que o substituí-se. Agora, nesta gravidez e com um filho de 15 dias, passei a maior parte da gravidez em casa, porque fui dispensada (o meu ex-chefe sempre teve qualquer coisa contra grávidas, só ainda não consegui perceber porque é que contrata mulheres, mas isso é outra história), tive uma gravidez mais calma e aproveitei o que nunca aproveitei da outra por causa do trabalho, por causa do stress se tivesse que faltar seja por indisposição ou por qualquer consulta. Sim, é um direito mas isso têm muito que se lhe diga. Fico muito mais cansada só em casa, a cuidar de tudo, roupa, limpar, arrumar 500 vezes, para quem têm crianças mais quietas é possivel que não seja tão cansativo, mas nem todas as crianças são iguais e a minha é um poço de peste do que a trabalhar e ao mesmo tempo ter as lides da casa.
    Se é a melhor coisa do mundo? Para mim sim, se mudava alguma coisa, talvez pequenos apontamentos, mas sim eu posso reclamar de há 4 anos não saber o que é dormir 4h seguidas, de ficar frustada de arrumar as mesmas coisas 10x ao dia, ou ficar frustada por me sentir cansada.
    É tão fácil criticar a vida dos outros, principalmente por mães perfeitas do facebook.

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  4. Sou mãe de primeira viagem de um príncipe de quase quase 10 meses, o melhor que a vida me deu. Todos os dias penso como era bom ter uma empregada para chegar a casa e ser só dar atenção ao meu pequenito. Mas como a Joana disse acho que depois não passamos bases importantíssimas para eles e acabam por pensar que tudo é tão fácil. E sim eu faço parte da percentagem de pessoas que não tem possibilidades de ter empregada nem mesmo quando era só eu e o meu marido.
    O meu marido por questões de trabalho também tem de passar semanas fora, e lá eu mal ou bem consigo desempenhar o meu papel de mãe e de dona de casa da melhor forma possível.
    A casa não está um brinco, mas está confortável os jantares não são banquetes, mas são o essencial, no trabalho saio de casa de manhã e muitas vezes entro á noite(principalmente agora de inverno pior),acho que por causa disso não prescindo de forma alguma do meu papel de mãe. E apesar de tudo ainda tenho os meus momentos de lazer com o meu piolho e com o meu marido.
    Como eu, somos muitas mães nesta mesma situação. E aposto que cada uma delas, e apesar do cansaço, não trocariam essa vida por nada ��

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  5. Aposto que é uma tia de cascais que tem empregada doméstica 24h/24h, nunca deu um banho ao filho e nem sabe qual é o seu jogo preferido. Mas aposto que a empregada sabe. E que para a criança, a empregada é o mundo. Se a regra fosse esta, a natalidade do país , se já está má, estava morta.

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  6. Claramente a pessoa desse comentário está a queixar-se da sua própria vida e acha que está a fazer um grande favor aos outros a dar conselhos para que não cometam os mesmos "erros" que ela.

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  7. A "melhor" parte do comentário é a da empregada doméstica. Claro que sim, toda a gente pode pagar a uma empregada doméstica.

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  8. Esse comentário veio certamente de alguém que se acha dono da razão, que vive numa bolha privilegiada e que não a deixa ver para lá dela! Que triste...

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  9. Acho o comentário em causa demasiado fraco (em todos os aspectos) para merecer um post dedicado a ele... Posts destes chamo chouriçada...

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