1.08.2020

Subornei a minha filha.

E isto vai contra todos os meus princípios. Quem nos segue sabe que tento ser o máximo consciente no que toca a isto da parentalidade, tendo noção das consequências que os meus actos implicam no crescimento dela e querer ser uma boa referência. Não quero dizer com isso que lhe negue a observação do lado menos bom da vida, isso já me passou. Já deixo que ela me veja triste, que saiba quando estou doente, etc. Mas não consigo ser outra coisa que não cuidadosa com aquele que considero ser o bem mais precioso para mim e também para o Mundo. Gostava muito que todos os pais tivessem a capacidade (não tão exageradamente, se calhar) de reconhecer a gigante influência que têm no crescimento dos filhos e, por isso, de quererem (se pudessem) ser melhores todos os dias, mas sei que a vida e os nossos próprios problemas por resolver nos impedem de nos vermos com transparência, misericórdia e, acima de tudo, calma. 





No entanto, a Irene hoje acordou demasiado cedo. Tem estado cansada. Durante as férias fez sesta todos os dias (porque ainda precisa) e na escola não tem essa oportunidade. Começou a chorar desalmadamente a dizer que não queria ir para a escola. E eu, em vez de me posicionar como aquele apoio normal e tentar desconstruir os seus sentimentos e ajudar a arrumá-los, dei-lhe espaço, simplesmente. Disse para que “quando passasse” viesse ter comigo. Demorou (a miúda é orgulhosa), mas veio. Abracei-a muito e não me apeteceu estar com conversas. Já era tarde e não queria pesá-la ainda mais com reflexões, também não me parecia o momento certo. Perguntei-lhe o que é que podia fazer para a ajudar e, surpresa das surpresas (nem por isso) disse-me que gostaria que lhe comprasse um brinquedo. 

Disse que sim. 

Acabou a birra. Continuou com sono e irritadiça, mas a manhã correu melhor e foi para a escola tranquila. 
Confesso que estava à espera de me sentir mais culpada por ter tomado uma atitude que, em princípio, não concordaria e que levanta precedentes, mas é o chamado “caguei”. Caguei mesmo e até estou meia orgulhosa. 

O mais chato disto é ter-me comprometido com ir comprar o raio do brinquedo, apetece-me 0 enfiar-me num centro comercial na quinta-feira, mas vá. 





1.06.2020

Adoro não ser mãe.

Tem sido fantástico. Contei-vos que, por ter amamentado durante 4 anos e tal e por ser mesmo muito focada com a Irene (sim, um eufemismo para maluquinha) e, depois, divórcio pelo meio... tem sido difícil respirar. Ah e além de ter deixado um trabalho onde tinha estado durante 10 anos... Têm sido imensas as mudanças e creio que só agora estou a encontrar o meu ritmo. Muito também por ela já estar mais crescida, mais razoável e, por isso, é mais fácil fazer tudo. 

Tenho tido mais momentos em modo não mãe. Nem todas conseguimos fazer logo isso (acho que nem é suposto) e se há coisa que tenha aprendido com isto tudo é que "são tudo fases". Chegou agora a fase de respirar, de me divertir com outras coisas e de voltar a reconstruir os meus grupos sociais, a minha identidade. Tenho a sorte de ter dois projectos que me completam e de fazê-lo com pessoas que considero essenciais para mim. 

A Irene foi muito para os avós, foi o normal para o pai mas, por ter ficado solteira recentemente, tenho aproveitado o tempo para fazer o que acontecer ou o que me apetecer no momento que seja e tem sido maravilhoso! Creio que seja normal que haja um luto da nossa identidade anterior quando somos mães, mas também sinto que, mais tarde, há uma espécie de desfragmentação do disco e começamos a incorporar o velho no novo, o verdadeiro e a novidade, as duas verdades numa só, fundindo-nos numa pessoa: a Joana que é mãe e não a mãe Joana. 


É mais fácil para mim (sei lá) por estar divorciada e por haver momentos obrigatórios em que ela tem de estar só com o pai ficando eu assim sozinha, mas também deverá haver outras maneiras de ter espaço em casal - não sou é a pessoa indicada para falar sobre isso (ou sobre nada no geral, mas vou falando). 

Tenho-me apercebido que quanto mais estivermos fechadas na nossa cabeça, menos espaço temos para que entrem coisas diferentes e boas. Vou tentar escrever-vos sobre isso nas próximas publicações, nomeadamente sobre a minha percepção da minha beleza - uau! ficaram loucas, não ficaram? 

O que queria dizer, é: não se sintam pressionadas a afastarem-se dos vossos filhos porque "uma mãe também é uma mulher". Cada uma terá os seus timings e que são indissociáveis do estilo de vida que levam. Essa altura vai chegar e, quando chegar, se a soubermos ouvir, conseguirão aproveitar o melhor dos dois mundos da maneira mais sensata possível. Sem ser fazendo uma mala e desaparecer durante um mês para as Fiji, mas indo incorporando mais "me time" nas rotinas semanais, por exemplo. 

Fui sair à noite, tenho estado com amigos, acordo mais tarde e reparo que isso me dá outro fôlego para estar com a Irene. Além de também verificar o oposto: a Irene tem estado ainda mais bem disposta e já encara estas transições e alterações na rotina com mais facilidade. Sabem porquê? Porque a mãe está mais equilibrada e feliz. 

Como têm gerido o vosso tempo? 



1.02.2020

Sugestão de escapadela: eco-hotel no meio da natureza

Foi ali que a Luísa deu os primeiros passos. Foi ali que, em 2017, eu, a minha mãe, as miúdas e o meu irmão passámos um fim-de-semana incrível, na natureza, a dar mergulhos na piscina, a comer pratos divinais e a passear ao longo do rio. A poucos dias do fim do ano, voltámos ao Vale do Rio, em Oliveira de Azeméis, para respirar ar puro. E, desta vez, com o David.



Soube tão bem. Eu, que deixei de conseguir ir com as miúdas à natação, pude ver a desenvoltura que já ganharam desde aí e o quanto amam água (o difícil foi tirá-las de lá). Jogámos Quem é Quem, Bingo, Party & Co. às refeições e na sala e ainda montaram a pista de carros que a Isabel tanto pediu ao Pai Natal. Viram, pela primeira vez, um jogo de snooker e os pais sem jeitinho nenhum a discutirem as regras. Passeámos no bosque, à procura de seres mágicos e de renas. Ouvimos o som do rio a correr e pusemos a mão sobre o musgo e sobre as árvores. Equilibraram-se em troncos e viram sair vapor da boca uma da outra. Vimos teias de aranha enormes e os raios de luz a atravessarem as copas das árvores altas. E ainda fomos conhecer o parque de La Salette, com lagos com patos, com uma capela no topo e com espaço para correrem e para andarem de trotinete (e caírem…) à vontade.

Foram dois dias que souberam a mil e que me fizeram sentir, mais uma vez, que estarmos juntos, sem grandes planos, é dos maiores privilégios que podemos ter.