12.18.2019

Um elogio à Saúde 24.

A Irene está doente neste momento, está a beber um chá de mel com limão enquanto vê os desenhos animados. Está com febre e com uma amigdala inflamada. Estou mais preocupada porque a educadora disse que havia alguns miúdos da escola que estiveram escarlatina - que, apesar do nome, não é assim tão grave, mas ainda assim..

Propunha que se mudassem os nomes das doenças para coisas menos preocupantes, só para aligeirar a ansiedade parental. Em vez de escarlatina ser "a doença do morango", etc. Vou criar uma petição para isso. Assinavam?

Quem já acompanhe o blog há algum tempo, sabe que a Irene sofre de convulsões febris e que isso é algo aterrador que acontece com frequência em algumas crianças mas que, ainda assim, são as convulsões mais benignas possível. De certa forma, apesar de todo o aparato, sinto-me muito grata por ser só o que são. E já que o herdou de mim,  consigo normalizar no sentido de que eu até nem cresci mal, vá. 

Morando sozinha com a Irene e passando eu com ela a maior parte do tempo, quando está doente, a responsabilidade cai por inteiro em mim (enquanto não vai para a casa do pai ou dos avós) e é difícil gerir os cuidados, o cansaço e a preocupação. Nisto, já dei por mim a ligar várias vezes (até há umas semanas quando uma amiga se magoou muito no pé) à saúde 24. Devem conhecer, é uma linha de atendimento telefónico do Serviço Nacional de Saúde e totalmente gratuita.



Somos atendidas por uma equipa de rastreio (não me lembro do nome técnico de momento) e, depois, encaminhadas para um enfermeiro e até, quando justificável, para um médico ou podem providenciar-nos um parecer no mesmo. Às vezes, há doenças que não requerem observação imediata e que poderá ser útil ter este feedback para saber que profilaxia implementar ou até medir o grau de gravidade. 

Muitas vezes - quando necessário - encaminham a criança para ser vista e, quando assim é, o hospital que a recebe já tem informação da sua chegada e, se não me engano, é vista com alguma celeridade. 

Ontem, fui atendida por uma enfermeira maravilhosa. Muito calma, bem disposta e cuidadosa. Quando estou no auge da adrenalina por não saber o que se passa com a minha filha e cruzando com o facto de estar sozinha, fez-me bem ouvir a voz calma e carinhosa da enfermeira. Além de ter feito uma série de perguntas e de ter ajudado com os sinais a que devo estar atenta, etc (sempre é melhor do que fazer aquela pesquisa no Google), também me deu algumas mezinhas para por em prática e para aumentar o conforto dela. Sinto que fez o papel da minha mãe, mas com uma credibilidade acrescida da minha parte por, enfim, ser especialista. 

Claro que também me descansa a minha mãe ter um andamento gigante de doenças e afins com dois filhos no bucho, mas os tempos vão mudando e, por exemplo, o histerismo com a febre já mudou um pouco, até numa criança com propensão a convulsões febris. 

Passado algumas horas, voltam a ligar de novo para saber como está o paciente o que nos deixa sentir verdadeiramente acompanhados. 

Não sei quem teve esta ideia, se é comum na maior parte dos países como o nosso, mas queria deixar o meu elogio ao mesmo. E, em particular, à enfermeira de ontem da qual não me lembro do nome (com os nervos), mas que não deixei de lhe dizer que tinha sido óptima connosco. 

Têm boas experiências com este serviço? 

Se precisarem, fica aqui o número: 808 24 24 24. 




12.15.2019

Marriage Story, o filme que todos os casais deveriam ver.

ALERTA - SPOILER

Estreou há pouco mais de uma semana, na Netflix, o filme "Marriage Story". Uma história agridoce (mais agre do que doce) sobre o fim de um casamento. O filme é do Noah Baumback (autor e realizador do "The Squid and the Whale" e do "Margot at the Wedding", entre outros - só vi estes e gostei muito), com a Scarlett Johansson, o Adam Driver (conheci-o na série Girls há uns anos e é fenomenal) e a Laura Dern.

Interpretações soberbas, diálogos que de tão naturais poderiam ser os nossos, lágrimas e olhos inchados, silêncios, canções em take único, olhares que dispensam falas, raiva, desilusão... cabe tudo naqueles minutos. Não é um filme de acção, não é um drama, não é uma comédia... nem sei bem  ainda como termina (termina como quisermos que termine e eu ainda não decidi), mas foi seguramente das melhores coisas que eu vi nos últimos tempos.

Eu não preciso que um filme me vire as tripas, que me faça sonhar, que me deixe fantasiar. Eu gosto de histórias que pudessem ser as nossas. Em que nos revejamos. Que nos façam pensar em quem está certo. Em quem falhou. Em quem deveria ter cedido. Em quem deveria ter apoiado mais o outro. Aonde se perdeu o amor? Não terão ido longe demais no divórcio? E o filho?... Não deveriam ter parado pelo caminho? Aonde deveriam viver então? E aquela advogada, era mesmo necessária?

E é nesta densidade de uma vida que poderia ser a nossa que vemos que as relações não são fáceis. (Quase) nenhumas. Sinto que aprendi alguma coisa com a dor daquele casal. Que aprendi a ver os dois lados de uma história. Que cresci. E sim, chorei. Tive momentos em que quis dar um estalo à Nicole, momentos em que quis abanar o Charlie e dar-lhes colo e falar-lhes das coisas boas que tiveram e... ai (emoji coração partido aqui, sem dúvida 💔).



E que grande regresso da Scarlett. O Amor é um Lugar Estranho é um dos meus filmes preferidos de sempre e acho que, desde então, ela praticamente não tem estado à altura. Rapariga do Brinco de Pérola e Vicky Cristina Barcelona talvez (tirando isso, nada "de jeito", acho). E agora... rapariga! Que maravilha de interpretação. Voltei a ser fã.

Digam-me coisas. Querem discutir alguma parte? O que mais vos fez pensar? 



Trabalhar fora de casa é bom porque...


Agora que voltei a trabalhar em TV, fora de casa, voltei a sentir coisas boas. Não que estivesse infeliz como estava (longe disso), mas estava a ser difícil para mim gerir o meu tempo, separar trabalho-casa e estar tantos dias sem conversar com um adulto. Além disso, não ter um ordenado certo também me angustiava às vezes. Vai daí, aceitei um trabalho por alguns dias e gostei tanto que em janeiro quero muito repetir a dose. E em fevereiro. E por aí fora.

Trabalhar fora de casa para mim é bom porque...

➤ Me obriga a tomar banho e a empinocar de manhã e, quando me cruzo com um espelho, não parece que acabei de acordar

➤ Ouço mais podcasts, nas viagens, e rio-me sozinha no carro (caso se cruzem comigo, já sabem) - Salvador Martinha, Bumba Na Fofinha, Extremamente Desagradável, Sem Barbas na Língua, N'a Caravana... - ouçam, ouçam

➤ Tenho a oportunidade de conhecer pessoas novas e de rever amigos, de mandar umas gargalhadas a meio da manhã 

➤ Sinto que estou a ser posta à prova, a cumprir desafios, a procurar soluções, sinto adrenalina. E, passados 4 anos, sinto que, afinal, ainda pode haver lugar para mim na minha área (TV)

➤ As miúdas foram, pela primeira vez, à natação com o pai. O que acabava por ficar para mim, porque tinha mais liberdade de horários, neste momento é melhor distribuído e todos podem beneficiar com isso: pai e filhas, que ficou todo babado (e transpirado) e elas orgulhosas, a mostrar o que já sabiam fazer

➤ A hora de almoço é mesmo hora de almoço - normalmente punha-me em frente à TV, a ver Netflix, e agora olho para a comida enquanto como, o que é importante, li algures (e faz sentido dar essa informação ao cérebro)

➤ Separo melhor o que é trabalho e o que é casa: as camas já não ficam feitas mas também ninguém fica lá para ver; a roupa acumula-se mas, com sorte, temos suficiente para a semana; e quando é para trabalhar é para trabalhar

➤ Voltei a dar mais valor aos momentos em que estou com as minhas filhas. Como já não as vou buscar às 16h, acabo por aproveitar mais todos os segundos. Já me cheguei a esquecer do telemóvel no carro e não fui sequer buscar (o que dantes seria impensável). Menos tempo na internet e mais tempo com as miúdas



Há mais. Estas são as vantagens principais. As que me fazem querer continuar assim. Se algum dia o jogo "virar", dependendo isso ou não de mim, estes dias bons já ninguém me tira. 

Uma amiga minha, que está em casa há 8 anos com os filhos, perguntava-me o que eu achava de uma oferta de trabalho que ela teve. Fiz-lhe mais perguntas do que dei respostas. Nunca temos a certeza absoluta de nada, o que quer que decidamos, mas o que de pior pode acontecer com as nossas decisões? Pelo caminho aprende-se sempre alguma coisa...

Já a entrar em modo Natal :)