Olá nossas queridas leitoras e ocasionais leitores que são tão amados como quaisquer outros. Desde que piem baixinho. Brincadeira :) Gostam da nova imagem do nosso blog? Ainda requer alguns afinamentos, mas não poderíamos deixar-de vos mostrar, principalmente na data em que foi - o Dia da Mulher.
3.10.2019
Quem sabe mais? O Pai ou a Mãe?
3.08.2019
"Qual é a lenda do Dia da Mulher?", perguntou-me a minha filha de 4 anos
Antes de dormir, a Isabel perguntou-me, ao saber que hoje era o dia da mulher, qual era a lenda. E eu que podia bem ter inventado uma história qualquer de princesas fortes, contei-lhe a verdade. Ou parte dela. Disse-lhe que, há alguns anos, as mulheres não podiam usar calças. Que não podiam trabalhar no que quisessem e que tinham de ficar em casa, mesmo que tivessem jeito para outras coisas e tivessem outros sonhos. Ela ouviu tudo com muita atenção. “Nem podiam jogar à bola?”, perguntou de seguida. Disse-lhe que não. "E ainda há sítios no mundo onde não podem. Um dia vai ser diferente." Poupei-a à violência de saber que há mulheres que apanham na cara dos maridos e miúdas de 14 anos que têm medo dos namorados. Ela não precisa de saber disso, para já. Mas vai sabendo que as mulheres podem fazer tudo o que quiserem da vida, que são inteligentes, fortes e corajosas. Ela diz que quer ser jogadora de futebol do Benfica e, preferências clubísticas à parte, não sou eu quem lhe vai desfazer sonhos. E espero que ninguém o faça. Espero que ela possa ser mesmo tudo o que deseje. Que não lhe perguntem se tenciona engravidar ou o que pensa fazer quando os filhos estiverem doentes, numa entrevista de trabalho. Que lhe paguem o mesmo que pagariam a um homem pelo exercício das suas funções. Que ame e seja amada com respeito e sem violência. Que tenha a coragem e a força para nunca permitir que a menorizem, que a pisem, que a humilhem.
Há muito caminho a fazer. Muito. Por isso este dia é tão especial. Não me faz confusão nenhuma as flores, os brindes e os elogios, desde que se fale do essencial.
E o essencial está na origem dos preconceitos, estruturais, de que, por exemplo, a mulher que se veste assim ou assado está a pedi-las, entre tantos, tantos outros.
Além da violência verbal a que se assiste - e às vezes basta navegar nas redes sociais - as mulheres são vítimas de violência, físuca e psicológica, às mãos daqueles em quem supostamente confiavam (e muitas vezes mesmo ao nosso lado e nós não fazemos nada...). São muitas as vítimas silenciosas; são muitas as que já não vão a tempo de se queixar sequer; são muitas (demasiadas, sempre), as que o fizeram, mas não as conseguimos proteger. E ainda houve quem lhes chamasse desleais, imorais e outras coisas que tais. A justiça falha com elas.
É preciso coragem para dizer não, basta e adeus. Muita, nem nós sabemos quanta. A vergonha, a culpa, o medo moram todos lá em casa. E às vezes uma espécie de amor, acha-se,... e esperança. Sabemos lá nós.
Feliz Dia da Mulher (que um dia seja um dia feliz para TODAS)
Com ou sem flores, com ou sem maquilhagem, mas com muita, muita coragem.
3.07.2019
O que os nossos filhos serão é o que lhes dissermos.
E mostrarmos. Que nada ou quase nada se resume apenas ao verbal. Nós funcionamos, na minha opinião, tendo como referência as pessoas mais próximas de nós e as mais marcantes que, em princípio, serão os pais ou quem terá exercido essa função.
Eles funcionam como uma lente do mundo que nos é passada (não só geneticamente), mas em tudo o resto ao longo da vida, especialmente nos primeiros anos de vida.
São importantes e fulcrais os rótulos que nos põem, mesmo que sem querer. São rótulos que podem durar anos e anos e que, sem consciência disso - até porque as palavra dos pais, para nós, até muito tarde, são a verdade - poderão limitar a vida e, acima de tudo, a percepção que os "filhos" têm de si.
Concretizando: se estiver constantemente a dizer à Irene que ela é desastrada, que não tem jeito com as mãos, o mais provável é que ela venha a interiorizar o que eu disse e que não desenvolva essa capacidade por assumir o rótulo que lhe dei - injustamente já que tendo 4 anos, é natural que ainda esteja a desenvolver muitas aptidões, principalmente as que exigem minúcia.
Isso dos rótulos, um dia a ver se me alongo. No outro dia apercebi-me que, por sempre querer ter um namorado (sentia-me sempre muito sozinha e pouco gostada) fui alvo de rótulos atrás de rótulos, tão cedo quanto aos 10 anos. A ver se um dia refletimos todas sobre isso e no que podemos fazer para que a geração dos nossos filhos não sofra tanto e não faça sofrer tanto os outros e tão cedo.
Isso começa antes. Aquilo que lhes dizemos que eles são e que lhes mostramos que eles são para nós. Actos, palavras e vá, não omissões. Não digo para andarmos sempre hiper mega ultra conscientes de tudo o que dizemos e fazemos, mas sim, termos uma noção geral presente de que estamos a moldar e a construir não só um ser humano, mas a percepção que ele terá de si próprio e dos outros também.
A Irene não é desastrada, ela tem quatro anos.
Ela não é teimosa, ela quer muito algo.
Ela não é mentirosa, está a aprender a lidar com as ferramentas que nos fazem ter aquilo que achamos que precisamos.
Ela não é birrenta para ir dormir, ela provavelmente já estará a ir para a cama fora da hora dela e todos nós, privados de sono, somos insuportáveis, principalmente se alguém estiver a dar-nos ordens.
O primeiro instinto, o mais básico, é rotular os outros. Até os nossos filhos, tal como nós fomos rotulados. O próximo passo, difícil já que temos tanto para fazer, resolver e assegurar, é ganhar tempo a tentar perceber se tal será justo e não poderemos estar a ser parte do problema.
"Não tens jeitinho nenhum para desenhar, dá cá que eu faço isso".
Uma das coisas que mais gostei de aprender até hoje é que, com treino, todos melhoramos em princípio a nossa aptidão para fazer algo. Até a desenhar, cantar, escrever, saltar, correr... tudo.
Os rótulos são uma preguicite nossa, uma defesa nossa para nos sentirmos melhores connosco, mas não é necessário que seja à custa dos outros e até dos nossos filhos.
Não é só o não dizer. É ver. Compreender. Aceitar. Ensinar. Abraçar e... muito importante: olhar nos olhos.
Lembro-me que o momento que mais me marcou até agora de ser mãe da Irene foi quando uma vez, a primeira vez, trocamos olhares e estavamos completamente focadas uma na outra. Esta sintonia além de trazer serotina para a família (sempre vantajosa a milhares de níveis) faz com que surja a "auto-estima" nos nossos filhos.
"Auto" não por ter sido automática mas de "estima por si". E nós somos os primeiros (mães e pais e familiares próximos) a sermos os olhos daquilo que eles são e daquilo em que eles acreditam que poderão vir a ser.
Hoje não consigo porque só dormi 4 horas (fui actuar à Universidade de Aveiro ontem e voltei hoje de comboio, estou de rastos - espero que este post esteja a fazer sentido), mas a ver se um dia fazemos todas o exercício de pensar quem queremos que os nossos filhos sejam e de vermos aquilo em que podemos ser úteis, além das funções básicas de assegurar a alimentação, segurança e afecto.
Eu quero que a Irene tenha muita confiança em si e que seja compreensiva e empática, para também ser consigo mesma.
E vocês?
Conseguem pensar que parte daquilo que vocês acham que vocês são foi transmitida pelos vossos pais? Que rótulos? Que orgulhos? :)
Acho que fritei os 2 minutos de cérebro que me restavam para hoje, mas fica aqui a intenção. É o que está na minha cabeça desde ontem, no espectáculo (e conversa) em que se falou de Tabus...
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