3.10.2019

Quem sabe mais? O Pai ou a Mãe?

Olá nossas queridas leitoras e ocasionais leitores que são tão amados como quaisquer outros. Desde que piem baixinho. Brincadeira :) Gostam da nova imagem do nosso blog? Ainda requer alguns afinamentos, mas não poderíamos deixar-de vos mostrar, principalmente na data em que foi - o Dia da Mulher.

Quando fomos ter com a Constança Ferreira ao Centro do Bebé, tivemos que lhe perguntar qual dos dois saberá mais no que toca a cuidar de um bebé. Óbvio que a resposta nunca seria "a mãe" ou "o pai", seria sempre muito na ordem dos jogos de educação física quando éramos mais novas "o importante é participar", mas não deixa de ser interessante ver que há muito mais além do "fazer as coisas" no que toca a criar uma criança com apego. 

Fica aqui o convite para ouvirem (e verem) a conversa que a Joana Paixão Brás teve com a Constança sobre isso mesmo. 




Enquanto gravava esta conversa... fiquei com muita coisa por pensar. Por exemplo: quanto de mim e da minha vontade de "controlar a situação" terá impedido que o pai da Irene tivesse entrado mais nos cuidados dela? 

Talvez seja importante partilhar este vídeo para que, algumas mães, também tenham consciência da importância de abrir espaço para não se sentirem tão assoberbadas, mas também para entregar também a quem de direito o prazer de cuidar dos filhos. 





3.08.2019

"Qual é a lenda do Dia da Mulher?", perguntou-me a minha filha de 4 anos

Antes de dormir, a Isabel perguntou-me, ao saber que hoje era o dia da mulher, qual era a lenda. E eu que podia bem ter inventado uma história qualquer de princesas fortes, contei-lhe a verdade. Ou parte dela. Disse-lhe que, há alguns anos, as mulheres não podiam usar calças. Que não podiam trabalhar no que quisessem e que tinham de ficar em casa, mesmo que tivessem jeito para outras coisas e tivessem outros sonhos. Ela ouviu tudo com muita atenção. “Nem podiam jogar à bola?”, perguntou de seguida. Disse-lhe que não. "E ainda há sítios no mundo onde não podem. Um dia vai ser diferente." Poupei-a à violência de saber que há mulheres que apanham na cara dos maridos e miúdas de 14 anos que têm medo dos namorados. Ela não precisa de saber disso, para já. Mas vai sabendo que as mulheres podem fazer tudo o que quiserem da vida, que são inteligentes, fortes e corajosas. Ela diz que quer ser jogadora de futebol do Benfica e, preferências clubísticas à parte, não sou eu quem lhe vai desfazer sonhos. E espero que ninguém o faça. Espero que ela possa ser mesmo tudo o que deseje. Que não lhe perguntem se tenciona engravidar ou o que pensa fazer quando os filhos estiverem doentes, numa entrevista de trabalho. Que lhe paguem o mesmo que pagariam a um homem pelo exercício das suas funções. Que ame e seja amada com respeito e sem violência. Que tenha a coragem e a força para nunca permitir que a menorizem, que a pisem, que a humilhem. 

Há muito caminho a fazer. Muito. Por isso este dia é tão especial. Não me faz confusão nenhuma as flores, os brindes e os elogios, desde que se fale do essencial. 

E o essencial está na origem dos preconceitos, estruturais, de que, por exemplo, a mulher que se veste assim ou assado está a pedi-las, entre tantos, tantos outros.

Além da violência verbal a que se assiste - e às vezes basta navegar nas redes sociais - as mulheres são vítimas de violência, físuca e psicológica, às mãos daqueles em quem supostamente confiavam (e muitas vezes mesmo ao nosso lado e nós não fazemos nada...).  São muitas as vítimas silenciosas; são muitas as que já não vão a tempo de se queixar sequer; são muitas (demasiadas, sempre), as que o fizeram, mas não as conseguimos proteger. E ainda houve quem lhes chamasse desleais, imorais e outras coisas que tais. A justiça falha com elas.

É preciso coragem para dizer não, basta e adeus. Muita, nem nós sabemos quanta. A vergonha, a culpa, o medo moram todos lá em casa. E às vezes uma espécie de amor, acha-se,... e esperança. Sabemos lá nós.

Feliz Dia da Mulher (que um dia seja um dia feliz para TODAS)
Com ou sem flores, com ou sem maquilhagem, mas com muita, muita coragem.


3.07.2019

O que os nossos filhos serão é o que lhes dissermos.

E mostrarmos. Que nada ou quase nada se resume apenas ao verbal. Nós funcionamos, na minha opinião, tendo como referência as pessoas mais próximas de nós e as mais marcantes que, em princípio, serão os pais ou quem terá exercido essa função. 

Eles funcionam como uma lente do mundo que nos é passada (não só geneticamente), mas em tudo o resto ao longo da vida, especialmente nos primeiros anos de vida. 

São importantes e fulcrais os rótulos que nos põem, mesmo que sem querer. São rótulos que podem durar anos e anos e que, sem consciência disso - até porque as palavra dos pais, para nós, até muito tarde, são a verdade - poderão limitar a vida e, acima de tudo, a percepção que os "filhos" têm de si. 


Concretizando: se estiver constantemente a dizer à Irene que ela é desastrada, que não tem jeito com as mãos, o mais provável é que ela venha a interiorizar o que eu disse e que não desenvolva essa capacidade por assumir o rótulo que lhe dei - injustamente já que tendo 4 anos, é natural que ainda esteja a desenvolver muitas aptidões, principalmente as que exigem minúcia. 

Isso dos rótulos, um dia a ver se me alongo. No outro dia apercebi-me que, por sempre querer ter um namorado (sentia-me sempre muito sozinha e pouco gostada) fui alvo de rótulos atrás de rótulos, tão cedo quanto aos 10 anos. A ver se um dia refletimos todas sobre isso e no que podemos fazer para que a geração dos nossos filhos não sofra tanto e não faça sofrer tanto os outros e tão cedo.

Isso começa antes. Aquilo que lhes dizemos que eles são e que lhes mostramos que eles são para nós. Actos, palavras e vá, não omissões. Não digo para andarmos sempre hiper mega ultra conscientes de tudo o que dizemos e fazemos, mas sim, termos uma noção geral presente de que estamos a moldar e a construir não só um ser humano, mas a percepção que ele terá de si próprio e dos outros também. 

A Irene não é desastrada, ela tem quatro anos. 

Ela não é teimosa, ela quer muito algo.

Ela não é mentirosa, está a aprender a lidar com as ferramentas que nos fazem ter aquilo que achamos que precisamos. 

Ela não é birrenta para ir dormir, ela provavelmente já estará a ir para a cama fora da hora dela e todos nós, privados de sono, somos insuportáveis, principalmente se alguém estiver a dar-nos ordens. 

O primeiro instinto, o mais básico, é rotular os outros. Até os nossos filhos, tal como nós fomos rotulados. O próximo passo, difícil já que temos tanto para fazer, resolver e assegurar, é ganhar tempo a tentar perceber se tal será justo e não poderemos estar a ser parte do problema. 


"Não tens jeitinho nenhum para desenhar, dá cá que eu faço isso". 

Uma das coisas que mais gostei de aprender até hoje é que, com treino, todos melhoramos em princípio a nossa aptidão para fazer algo. Até a desenhar, cantar, escrever, saltar, correr... tudo. 

Os rótulos são uma preguicite nossa, uma defesa nossa para nos sentirmos melhores connosco, mas não é necessário que seja à custa dos outros e até dos nossos filhos. 

Não é só o não dizer. É ver. Compreender. Aceitar. Ensinar. Abraçar e... muito importante: olhar nos olhos. 

Lembro-me que o momento que mais me marcou até agora de ser mãe da Irene foi quando uma vez, a primeira vez, trocamos olhares e estavamos completamente focadas uma na outra. Esta sintonia além de trazer serotina para a família (sempre vantajosa a milhares de níveis) faz com que surja a "auto-estima" nos nossos filhos.

"Auto" não por ter sido automática mas de "estima por si". E nós somos os primeiros (mães e pais e familiares próximos) a sermos os olhos daquilo que eles são e daquilo em que eles acreditam que poderão vir a ser. 

Hoje não consigo porque só dormi 4 horas (fui actuar à Universidade de Aveiro ontem e voltei hoje de comboio, estou de rastos - espero que este post esteja a fazer sentido), mas a ver se um dia fazemos todas o exercício de pensar quem queremos que os nossos filhos sejam e de vermos aquilo em que podemos ser úteis, além das funções básicas de assegurar a alimentação, segurança e afecto. 

Eu quero que a Irene tenha muita confiança em si e que seja compreensiva e empática, para também ser consigo mesma. 

E vocês?

Conseguem pensar que parte daquilo que vocês acham que vocês são foi transmitida pelos vossos pais? Que rótulos? Que orgulhos? :)

Acho que fritei os 2 minutos de cérebro que me restavam para hoje, mas fica aqui a intenção. É o que está na minha cabeça desde ontem, no espectáculo (e conversa) em que se falou de Tabus...