2.04.2018

5 coisas a não fazer quando se vai viajar com filhos

Já ando para vos escrever este post há que séculos. Agora que começamos a sonhar com uma viagem com as miúdas e outra sem, para este ano, resolvi reunir um conjunto de cinco recomendações para quando decidirem pegar na filharada e ir com ela de avião a qualquer parte do mundo. 

1)  NÃO vão de mãos a abanar no que diz respeito a slings, panos, mochilas ergonómicas ou carrinhos. 
Ouçam o que eu vos digo: por muito que não vos apeteça andar com monos e que achem que eles andam bem a pé ou que não vão querer andar "presos", nada vos vai fazer mais falta que isto. Claro que depende sempre do propósito da viagem: se é para ficarem a  num resort ou se é para fazerem quilómetros e andarem por museus, restaurantes e cidades. Mas, para mim, pelo menos um carrinho bengala, fácil de transportar e onde eles possam dormir, e uma mochila ergonómica é ponto assente. Na última viagem os quatro, até Barcelona, levámos duas mochilas e um carrinho e foi o que nos safou. Sim, a Isabel é super bem transportada numa mochila - se a mochila for boa, pode aguentar até aos 20kgs sem que seja desconfortável para eles ou nos doa as costas. Temos a Boba 3g e um Ergobaby. Íamos revezando as miúdas no carrinho (levamos o bengala Noa da Bébéconfort).

2) NÃO levem toda a cozinha às costas: as sopas, os tomates biológicos, as bolachas de aveia com alpista, o iogurte de não sei quê.
Eu gosto que elas comam bem, na maioria das vezes, mas de férias, minhas amigas, não estou nem aí. Não é por uns dias que fico com o sobrolho a tremer. Se não comem sopa todos os dias, compro fruta algures; se comem carne dois ou três dias seguidos, não me apoquento. Nunca fomos para nenhum destino muito exótico, verdade seja dita, mas até acho que aí o verbo que iria mais aplicar seria "descomplicar". É uma boa maneira de os "obrigar" a experimentarem coisas novas, pumbas. Agora lembrei-me da minha primeira ida a Paris com o meu irmão e primo a fazermos concursos de puns no quarto de hotel, por estarmos a ser alimentados a porcaria e ri-me.
Isto não invalida que se leve coisas para o avião, isso sim, acho uma jogada de mestre: fruta, bolachas, pão, snacks, podemos levar tudo o que for para os miúdos comerem e isso pode evitar birras e ajudar a passar o tempo. Tudo o que for para nos poupar a stress extra na viagem, melhor.
3) NÃO se esqueçam de, caso vão sem o pai das crianças e não sejam casadas, levar uma autorização reconhecida por advogado/notário.
Ai filhas, se eu vos contasse o que me aconteceu quando fui viajar com a Luísa... Vou contar. O meu pai, advogado, estava a preparar o tal documento, mas entretanto resolvemos saber se era mesmo preciso o esforço. Enviámos email ao SEF a perguntar se seria. Responderam-nos que não. "Menor, filho de pais em união de facto (filiação estabelecida quanto a ambos os progenitores que vivem em condições análogas às dos cônjuges): A autorização de saída deve ser emitida e assinada por um dos progenitores, apenas se o menor viajar sem nenhum deles; caso o menor viaje com um dos progenitores não carece de autorização, desde que não haja oposição do outro."
Posto isto e com o email em minha posse lá fui eu toda gaiteira para o aeroporto. Resultado: tudo muito bonito, mas a companhia aérea não nos deixaria embarcar sem a declaração assinada pelo pai. Que maravilha. A menos de uma hora, isto. Suei do bigode. Lá consegui, até hoje nem sei bem como, que a declaração fosse de mota por meio de um colega do meu pai, no meio do trânsito da segunda circular, ter com o David a Carnaxide, que ele assinasse e que fosse por email ou fax ou que foi até ao aeroporto. Um sufoco. Por isso, mães e pais deste país, levar declaração caso não estejam casados e um de vocês não viaje com os filhos. Pela lei não é preciso, mas depois na prática podem exigir. Enfim.

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4) NÃO esperem que os vossos filhos se portem que nem adultos em ponto pequenino, não se chateiem nem queiram saltar pela janela do avião ou não se mandem para o chão no restaurante.

Se nós, adultos, às vezes exasperamos em viagem, imaginem eles. Sítios novos, coisas novas, pessoas diferentes, espaços confinados... Para eu não ter logo expectativas muito altas, na primeira viagem da Isabel, a Londres (aqui), a Isabel fez logo uma birra valente no aeroporto que é por causa das coisas. Por acaso, depois no avião, até foi tranquilo. Levámos arsenal: lápis e folhas, uma mala que comprei na Alehop com ímans de olhos e bocas e narizes de animais giríssima e que dava minutos e minutos de brincadeiras, e livros. Convém levarem algumas novidades para os agarrar, nem que seja um livro para pintarem ou autocolantes. Vá, um tablet com jogos ou videoclips do Panda também pode ajudar, não me vou armar em moralista antitablets. Usado com moderação, tem vantagens, e nos restaurantes no país ou cidade que forem resultar é, por vezes, um alívio. :)



Depois, é tentar fazer alguns programas que lhes possam agradar (na viagem a Barcelona, e porque também já conhecíamos a cidade, acabámos por ir a parques, para elas poderem andar de baloiço, e foi bem giro) e planear bem o dia, de forma realista, sem grandes expectativas e listas enormes a cumprir, de forma a poder ir descansar a casa/hotel a meio ou então chegar a casa mais cedo e já não sair. Ver bem se vale a pena subir 300 escadas até ao castelo, ver se compensa aquele museu onde se paga bem, se provavelmente àquela hora, o miúdo vai estar com fome, etc, etc. E, mesmo depois desse desprendimento, houver umas birritas, É NORMAL. Respirar fundo. (Por acaso queixo-me zero delas em viagem, são sempre uma surpresa muito positiva, tirando um ou outro voo de regresso).



5) Não digam nunca "isto não são férias!"
Até porque não é verdade. É verdade a parte em que não se descansa o corpinho, mas a verdade é que muito provavelmente serão as férias mais incríveis, de que se vão recordar daqui a uns anos. Por mais que possamos chegar mais cansados do que saímos, por mais que as unhas dos pés encravem de tanto caminhar, de uma ou outra birra que nos pareça despropositada, por mais que chova e que isso nos estrague alguns planos, não há nada mais enriquecedor do que passear com os nossos filhos. Para nós e para eles. A dinâmica em família, o desafio, a aventura, a descoberta de sítios novos e sabores novos, o aprender algumas palavras novas (e vê-los a repetirem), o facto de podermos estar felizes e passar-lhes isso é impagável. A Isabel ainda hoje se lembra da viagem a Barcelona e sabe que foi lá que aprendeu algumas coisas de espanhol (para a próxima tento o catalão). Por isso, "isto não são férias" é uma frase muuuuuito injusta. São outro tipo de férias. E um privilégio.


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Sobre a porcaria dos rankings das escolas

Eu sou a boa aluna que via sempre o nome nos quadros de honra das escolas, que recebia diplomas e que terminava o ano com 5 a tudo, ou quase, que nunca teve um 3 na vida, e que entrou para a faculdade com 18,2 ou o que foi. Eu sou a aluna certinha, estudiosa, responsável, participativa, um regalo para qualquer professor e um orgulho para qualquer pai.

Mas eu... eu sou uma privilegiada e tenho noção disso. E eu, neste momento, adulta, em que penso sobre o assunto, tenho noção de que os diplomas são uma merda e de que os rankings da escola são uma falácia enorme e que só perpetuam as disparidades em vez de ajudar a atenuá-las. Eu, que penso sobre o mundo (e nem é preciso muito para se chegar a esta conclusão) tenho noção de que, por mais indicadores que incluam nestes rankings, os colégios e as escolas públicas de contextos privilegiados vão continuar a estar à frente. O que se quer então com isto? O que muda? O que nos acrescenta? 

Todos os anos a mesma luta, a mesma concorrência desleal para se concluir o quê? Que a escola 234 é melhor que a 300, como comparava o Alexandre Henriques, no Público? Em quê? Tem um melhor projecto educativo? Teve menos alunos retidos? Tem mais ou menos alunos que conseguem pagar explicações? Mostra o ranking que há ali alunos que em vez de estarem a estudar para a prova x tiveram de tomar conta do irmão bebé porque o pai estava no segundo turno do dia? Mostra o quê, exactamente? Não haverá escolas fantásticas, que fazem um esforço enorme para integrar todos e mitigar as carências, que fazem das tripas coração para ensinar e chegar a todos, e que não estarão num bom lugar no ranking? Valorizemos a escola.

A escola tem de ser muito mais do que um número, do que uma pauta, do que um lugar numa tabela. Onde ficam as necessidades individuais de cada aluno? Onde ficam os esforços de professores em fazer omeletes sem ovos?

Basta a esta cultura da humilhação. Basta aos egos. Basta a este modo de olhar para as escolas como um negócio. Basta a esta competição desleal, a este umbiguismo. 

Eu, boa aluna nas filas da frente, tinha pais presentes que me ajudavam a estudar ou que me pagavam explicações de alemão para que eu aumentasse um 16, a meu pedido, e sabiam quando tinha testes. Tinha férias. Tomava o pequeno-almoço em casa. Tinha presentes nos anos e fora deles. Tinha actividades fora da escola. Tinha bons professores, uma escola onde não passava frio, e alunos de classe média e média alta com quem podia disputar as melhores notas, fazer trabalhos de grupo e aprender. Eu, se tivesse nascido em Regosive*, atrás do sol posto, se tivesse pouco acompanhamento, passasse necessidades e não tivesse boas notas, não iria precisar deste espectáculo, que me esfregassem na cara o quão má era eu e a minha escola. Eu, se tivesse nascido em Regosive, atrás do sol posto e se quisesse ter esperança para dar a volta à situação, não quereria este negativismo todo e este veredicto quanto ao meu futuro, nem este perpetuar de preconceitos. Quereria um movimento da sociedade que procurasse maior justiça nas escolas e que pudesse oferecer às escolas públicas de Regosive as mesmas condições de trabalho da escola privada na capital xpto. E, também, que os exames e os rankings não fossem um fim último, uma obsessão colectiva, em prol dos quais tudo funciona.

O propósito da escola não é nem pode ser esse.




 *nome inventado




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