8.30.2015

Crucifiquem a minha forretice!


Serei eu a única a pensar que usar uma fralda "para água" só para uma vez é um desperdício enorme? O quão reprovável é pô-las a secar e usar no dia seguinte? Sinto-me malandra por estar a enganar o sistema. Estou sozinha nisto? ;)




Não sejas estúpida, Joana.

É o que me apetece dizer a mim própria. Aliás, tenho muitas coisas para dizer à Joana de há uns anos. Se calhar, não só à de há uns anos, gostava mesmo de poder interferir em todos os minutos da minha vida enquanto ela aconteceu. Sou romântica. Não necessariamente aquele primeiro significado de romântico, o mais imediato. Sou aquela que todos os dias tem a esperança que algo fora do normal aconteça e que me faça chorar de alegria. O que é injusto. Estou sempre à espera de algo extraordinário. Em silêncio. Raramente o digo. E, quando o digo, já estou zangada. Cobro coisas que não foram prometidas. Coisas que sonho. Sou romântica porque idealizo, idealizo impossíveis, idealizo sem ter os pés na terra. Idealizo coisas para os outros me darem, mas não para ser eu a dar. Que injusto. Para mim e para os que me rodeiam. Odeio parecer gostar de, às vezes, estar triste.

Uma das coisas pelas quais sempre tive muito respeito foi por isto de ser mãe. Eu dizia a toda a gente - a mim também - que não queria ser mãe. E não queria. No meu papel de filha, tinha perfeita noção de tudo aquilo que podia falhar, mesmo quando não se fazia tudo errado e sentia que não deveria ter uma criança se não fosse para lhe dar o meu melhor, no meu melhor. Achei que não era a filha certa para ser mãe. Não tinha os instrumentos. Não tinha a capacidade. Não tinha vontade. Não tinha o pai para a criança (vá, a fingir que não nos lembrámos todas da música). 

O que faz a insegurança a uma mulher. A uma menina. Achei que não era capaz de ser mãe em condições. Não como acho que se deve ser mãe. Achei que nunca conseguiria deter a inteligência emocional necessária para transmitir serenidade e segurança a alguém ou que alguém me conseguisse transmitir. Sentia-me um buraco sem fundo. Por muito que recebesse amor - fosse de que maneira fosse - não me sabia a nada. Como é que uma pessoa que não sente amor e que o quer tanto é capaz de ter para dar? Que egoísmo meu seria por uma pessoa no mundo sem estarem reunidas as condições que, pelo menos eu, considero essenciais só por uma questão de status, de achievement ou só para não me sentir sozinha. Criar uma alma-gêmea? Que egoísmo seria esse? Abortei a minha vontade de ser mãe. Durante anos. Tranquilamente. Fácil porque também nunca desenhei o meu futuro. Nunca o escrevi. O presente sempre me foi acontecendo a uma velocidade que não me dava tempo nem vontade para pensar. A minha cabeça é como uma discoteca: a música está alta, está tudo aos encontrões. Neste ambiente, ninguém consegue pensar em condições. Penso coisas pequeninas, muitas coisas pequeninas e bem, mas não consigo planear. No snooker só consigo planear a primeira tacada. Apesar de querer, nunca tentei planear uma segunda. Sempre foi aleatório. 

Como é que uma pessoa tão simplesmente complexa, egoísta e com tanta coisa para resolver poderia cometer o crime de querer ser mãe? Não era justo. Uma coisa são as pessoas que decidiam entrar na minha vida e que ficavam a conhecer-me, a outra era impôr a alguém a minha presença, toda a minha influência e os meus defeitos. Ser mãe.

Para quê tanto pessimismo? Talvez (pseudo inconscientemente) prefira pensar o pior para me achar a maior caso as coisas corram mal e eu ter adivinhado e nem pensar nisso caso corram muito bem. Desta forma, tudo me sabe sempre bem, por mais estúpido que possa parecer.

Decidi ser mãe porque amo e sou amada. De repente vi que o meu poço tinha um fundo e que está constantemente a ser enchido. Encontrei uma pessoa que acredita em mim, que me faz acreditar em mim e que me complementa. Tive sorte. Num ápice, como se merecesse, comecei a ter vontade de transformar todos estes sentimentos de esperança, de optimismo e de amor em algo físico. Apeteceu-me construir. Apeteceu-me amar ainda mais. 

É diariamente uma luta para fazer as melhores escolhas pela minha filha. Levo isto muito a sério. Demasiado a sério. Ao fim de 17 meses em casa com ela confesso que estou esgotada. Tenho a cabeça em água. Tenho as lágrimas prontas para serem vomitadas a cada contrariedade, a cada conversa mais séria. Tenho sono. Sinto-me sozinha (fardo que as pessoas exageradas carregam), mas tudo isto é apagado com um sorriso.

E é mesmo. 

Joana, não sejas estúpida. Não penses se vais ser mãe ou se não vais. Não penses se vais fracassar ou se vais ser a maior. Pensa menos e deixa fluir. Não é o "que tiver que acontecer, acontecerá", mas é um "só acontece aquilo que quiseres que aconteça" e, quando te sentires completa, a cabeça vai abrandar, vais conseguir ouvir-te e vais saber que sempre disseste timidamente: "quero uma família".