8.29.2015

Era um par de palmadas no rabo

Nas férias, caso vamos para um sítio com piscina partilhada com dezenas de famílias e para a praia, convivemos com dezenas de crianças e com as respectivas famílias.

Vemos as dinâmicas familiares, crianças mais ou menos extrovertidas, mais ou menos birrentas, e com pais mais ou menos compreensivos, mais ou menos relaxados.

É ponto assente que ir de férias com miúdos não é a coisa mais fácil do mundo, não é. Mas é quando supostamente estamos com mais disponibilidade para eles, para as coisas deles. É quando supostamente não temos a cabeça ocupada com outros problemas e quando conseguimos fugir à rotina. É quando supostamente temos uma(s) hora(s) da sesta deles para nós e não para a casa, nem para a roupa, nem para os emails de trabalho. É quando arranjamos uns minutos para respirar fundo ou ler quatro páginas de um livro. Ou de uma revista cor-de-rosa. É quando podemos "jogar conversa fora", perder tempo com coisas leves, brincar e conversar mais.

Eu sou daquelas chatas que mete conversa com outras mães e outros pais na praia e na piscina. Gosto de conhecer gente. É como regressar à infância, quando não tínhamos vergonha de meter conversa com os meninos na praia. Eu, pelo menos, era assim. Fazia amigos em todo o lado. Agora, a Isabel é um excelente desbloqueador de conversas. Conheci os pais da Marta, os pais da Francisca, os pais do Afonso. Sempre que revíamos os pais da Marta e a Marta, que tinha 5 anos se bem me lembro, ficávamos um bocadinho a conversar. A Isabel adora miúdas mais velhas. Com os pais do Afonso, de 23 meses, só falei numa manhã, quando estávamos todos a jogar à bola na relva da piscina.

Simpatizei muito com a Francisca, de 9 meses, e com os pais dela. Uma bebé linda, morena, de olhos grandes e pestanudos, vestida de xadrez cor-de-rosa. A Isabel foi às toalhas deles dizer olá e lá ficámos a conversar, sentadas.

Gosto. Gosto de saber como gerem as férias. Se fazem comida, se eles comem ou não sopa, como fazem as sestas, que gracinhas já fazem ou faziam com a idade da Isabel.

Por outro lado, é por ali que vejo também coisas com as quais não concordo, mas que tenho de engolir a seco, porque nisto da educação de um filho, cada um sabe dos seus. Um pai que bateu num filho só porque este estava a despir os calções com a ajuda dos pés. Uma mãe que disse: "se cais mais alguma vez, levas na cara". Enfim... já sabem como eu sou adepta da disciplina positiva e tento praticá-la sempre com a minha filha, pelo que as ameaças e as palmadas não fazem parte do nosso dia-a-dia. Para mim, a haver palmadas no rabo, não seriam os filhos a recebê-las.

Bem sei que tenho de aprender a não meter o bedelho onde não sou chamada, mas se conseguir despertar a curiosidade a mais alguns pais para isto da disciplina positiva (não confundir com permissividade), já me sinto contente.

Boas férias para quem ainda não foi! E respirem fundo!!! :)


Diario das Férias (#04)

O dia de ontem começou muito mal. Aliás, acho que não foi bem o dia que começou, foi a noite que não correu bem. A Irene acordou praticamente de hora em hora (hora e meia, vá) e, nos intervalos, o Frederico fazia questão de ressonar como se a vida dele dependesse disso. Foi terrível para mim, menos para a Irene. Ela acordou algumas vezes só para dar puns. Começámos a achar que era por causa dos espinafres da sopa, mas depois lembrei-me que talvez seja por eu andar a emborcar uns bons litros de leite com chocolate por dia (amamento). Ela não tolera muito bem leite e acho que o chocolate não é das melhores coisas para estas questões. 

Bom, a noite foi horrível e, por isso, não resisti e acabei por adormecer no sofá. Graças a isso a miúda desistiu de andar a pedir maminha de 3 em 3 minutos (fase... que tem o que se lhe diga) e o pai e a avó chegaram-se à frente. Divertiu-se imenso a ver os desenhos animados com o pai (eu que dizia que não ia ver televisão até fazer dois anos) e fartou-se de almoçar a papa que a avó fez para ela com todo o amor e carinho. Foi bom. Tão bom. Sabem aquele sonos em que estamos a dormir mas... estamos a controlar tudo? Pronto. Era desses mesmo. Eu estava deliciada a ouvi-los aos três. 

Hoje foi dia de receber a Inês e o namorado. A Inês conhece-me desde o 12º ano. Bem, com um intervalo de 6 anos pelo meio de silêncio (não houve problemas entre nós, mas aconteceu, já nem nos lembramos porquê). Esses anos de intervalo parece que não existem. Quando estou com ela sinto que estive todos os dias. Que continuámos a almoçar todos os dias como almoçávamos no Atrium Saldanha (ou nos outro, que nunca distingo o nome daqueles centros comerciais a não ser o Monumental), no Burguer Ranch ou lá o que era.  Gosto dela. Tolero silêncios quando estou com ela. Não estou a pensar no que ela está a pensar ou não penso no que quero dizer a seguir. Estou "em casa". Hoje, cá em casa, até com os sogros, parecíamos que éramos todos uma família. Correu tudo tão bem.  Claro que não havia grande coisa para correr mal, mas achei perfeito.

Tirando, se calhar, o aspecto bizarro do Cláudio, namorado da Inês, a galá-la de trás, à campeão.

O pai todo babado e apaixonado decidiu partilhar isso nas redes sociais. Gosto quando isso acontece. Ele não é oversharer como eu e, por isso, as partilhas dele são especiais. Hoje houve ali um clique qualquer.

A Irene a ver as pedrinhas lá de cima do quintal.

Não, não arranjo as unhas. Fazem cócegas e magoam-me a tirar as peles. Uma podologista uma vez disse que não se deveria tirar isso dos pés e eu sigo à risca hehe.

Engraçado que aquilo que me dava mais ansiedade nos primeiros dias - o não ter controlo sobre a hora de deitar da Irene, visto que tinha de esperar que escurecesse para conseguir que o quarto ficasse com um bom ambiente (que frase tão grande, ainda se lembram do que escrevi no início?) - é agora (ou, pelo menos, foi hoje) uma das coisas que mais gostei. Gostei daquela calmaria antes de ir deitá-la. Gostei de vêr o sol a pôr-se e de ver a minha filhota calminha, a brincar. 


Sinto que, aos poucos, estou a deixar de ser essencial e gosto. Acho muito injusto que tenhamos de deixar os nossos bebés tão cedo para irmos trabalhar. Está mal feito. Esta está a parecer-me a altura certa para ambas para que eu vá trabalhar (estarei de volta em Novembro). Ela precisa de ter mais espaço para outras pessoas na vida dela e eu já estou mais descansada porque já confio nela e na sua capacidade de se fazer entender. Gostava que todas as mães que quisessem estar com os filhos a tempo inteiro enquanto são pequeninos (porque há as que não querem e percebo isso perfeitamente) pudessem fazê-lo. Claro que a família beneficia, se assim for o desejo da mãe e do casal, mas acima de tudo crescemos muito. Eu cresci muito. Ainda estou a crescer. Estou a deixar de ser birrenta e a aprender a estar presente. Demoraria muito mais tempo (meu feitio) se não tivesse tantas oportunidades diariamente. 

Estou feliz.