7.27.2015

É um dos meus maiores medos

E já o era, ainda antes de ser mãe. Um dia, estava eu em Coimbra, entrevistei um senhor que tinha mudado de vida. Tinha decidido voltar a estudar. Tinha ido tirar um curso superior e ainda ia tirar um mestrado. Esse senhor carregava uma luz enorme, era contagiante, dono de uma voz muito serena. Esse senhor tinha perdido uma filha, que tinha sido atropelada por um carro. Não tenho a certeza do nome, acho que se chamava Leonor, e teria pouco mais de quatro anos. Foi a única reportagem em que chorei. Tentei controlar-me, mas foi mais forte. A mulher estava grávida novamente, de uma menina. Chorei mais um bocado, tentando disfarçar, muito a custo.

Não sou pessoa de grandes medos, não me deito a pensar nas coisas terríveis que nos podem acontecer. Basicamente, pode-nos acontecer tudo, mas não vale a pena vivermos atormentados, nem perdermos tempo com más energias. Não devemos sequer passar-lhes as nossas ansiedades, nem agrilhoá-los, superprotegendo-os. Eles têm de cair, têm de correr, subir a árvores. Mas... 

Mas... as histórias de atropelamentos em crianças mexem muito comigo. No outro dia li, no site do Correio da Manhã, mais uma desgraça (tenho de parar de seguir aquela compilação de desgraças no Facebook urgentemente). Tenho algum medo. Por isso, quando tiro a Isabel da cadeirinha no automóvel, não a ponho no chão. Não a deixo andar nos parques de estacionamento, vou com ela ao colo até uma zona de conforto. Não ando com ela ao meu lado em ruas muito movimentadas, vai ao colo, no marsúpio ou vai no carrinho. Não por enquanto.

Um dia, terei de conseguir. Não sabia bem que estratégia usar, além de muita conversa, de alertar para os perigos (que, bem sabemos, nem sempre é suficiente) e vi esta solução. Não resolve tudo, mas achei de génio: fazer daqueles momentos de espera, enquanto não conseguimos ter tudo a postos para sair ou entrar no carro, um jogo com os filhos. É quase como jogar ao Stop ou ao Mamã, dá licença. Parece-me que os miúdos devem alinhar nisto.