Um dia, espero que a minha filha sinta a falta de aninhar a cabeça no meu corpo.
Que me beije a cara, com rugas mas macia, e me diga que me ama.
Que me perceba, me dê valor e que me diga que eu até tinha razão.
Que seja uma mulher independente, mas que carregue no coração uma infância plena, cheia de carinho, de pés descalços, aviões e cócegas.
Que a minha filha sinta por alguém o que eu sinto por ela. Um amor que me faz chorar enquanto escrevo, de tão enorme e avassalador. Um amor em que convivem certezas e medos. Um amor em que me descubro maior do que pensei. Um amor sem igual.
Um dia, espero que a minha filha me olhe com o mesmo carinho com que olha agora, com aqueles olhos grandes e brilhantes e deseje que eu nunca morra. As mães nunca morrem, apesar do meu coração morrer um bocadinho só de pensar nisso.
Um dia, espero que a minha filha me ame tanto quanto eu amo a minha mãe.
A minha filha idolatra-me, chora por mim e faz caretas para que eu me ria. Daqui a uns anos, vai odiar-me, chamar-me chata, revirar os olhos e achar que eu não percebo nada e que eu sou velha. Vai chorar no quarto e dizer entre dentes que está farta de mim. Vai pedir para crescer depressa e para ser independente.
Mas, um dia, espero que a minha filha volte a ser a filha que me olha com aqueles olhos brilhantes, a filha que me estende os braços a pedir colo, a filha que sabe que não há amor maior do Mundo que o amor de uma Mãe.