Há imensa gente que sabe do que estou a falar. Somos muitos os prisioneiros de um mecanismo qualquer de adormecimento nos nossos filhos.
No meu caso e da Irene começou por ser com a maminha. Mais tarde, negociado, tive de arranjar outro recurso para a adormecer ou, até mesmo com a maminha, quando a punha no berço, arranjar maneira para que ela lá ficasse (foi até bastante pacífico graças à Constança do Centro do Bebé). Desenvolvi, visto que ela não falava, o "abanar o rabo".
E atenção que nada era pacífico no momento de a adormecer. Dava-lhe mama sentada e depois punha no berço e acordava e chorava. Ou dava-lhe mama em pé a vaguear pelo quarto e ela não parava de chorar. Ou tentava não lhe dar mama ela chorava na mesma. Punha-a só no berço e chorava. Nunca foi fácil. Nunca.
A quantidade de vezes em que me escorriam lágrimas enquanto tentava adormecê-la... Cansada, irritada de não conseguir mas, acima de tudo, cansada. Não dormia. Mesmo quando dormia não dormia e adormecê-la era como uma prova de resistência, daquelas que fazíamos na escola de correr durante 10 minutos sem parar ou mais.
Voltava para a sala com ela, milhões de vezes. Em que tinha de respirar fundo, tinha de chorar. Tinha de a pousar algures para voltar a sentir os meus braços, mas sempre com a cabeça a "lixar-me o juízo": "não dormiu agora, vai adormecer mais perto da hora do lanche e depois para pegar o sono da noite vai ser pior". E, se me permitem, naquela altura, pior que tudo isso? Eu não podia ter tempo para mim. Nem apenas uma hora em que fingiria que iria dormir a sesta só para estar um bocadinho sozinha ou em que tentaria mesmo dormir.
Tentei muitas coisas. A contar números até ao infinito, a contar histórias sem nexo (ela ainda não falava) e que, às vezes, até resultavam porque eu própria me perdia nos enredos e acabava por me acalmar até que descobri: abanar o rabo.
Virá-la de barriga para baixo e cantar ou contar uma história enquanto lhe abanava o rabo ao mesmo tempo que fazia com que ela ficasse imobilizada (nossa, que violência), fazia com que ela fosse obrigada a descontrair o corpo. Já tinha de estar na cama também, o que ajudava. Depois, para tirar a mão era outro terror. Tive de desenvolver técnicas e timings ninja para conseguir tirar a mão sem que ela acordasse, mas sempre melhor do que a ter ao colo durante horas (eram mesmo horas, às vezes).
Confesso que foram algumas as vezes em que, mesmo assim, chorando de desespero, lhe abanava o rabo. Às vezes, se calhar, rápido demais para a distrair ou para lhe fazer um snap out of it. Agora, olhando para trás, o cenário, se alguém nos tivesse visto, seria impressionante, seria mesmo de quem precisaria de alguém que nos ajudasse. E precisávamos.
Pelo meio passou a dormir a noite toda (aos 3 anos). Isso fez com que eu conseguisse ter um pouco mais de paciência e de esperança e de - vocês sabem - vontade de viver.
Abanar o rabo passou a ser o sistema. A rotina é ler a história, dar mama, pôr na cama, e abanar-lhe o rabo enquanto canto uma música que o pai inventou para conseguir adormecê-la quando voltei ao trabalho tinha ela 1 ano e meio. E assim tem sido até recentemente.
Aos poucos têm surgido outras possibilidades e, de repente, já não tenho de ficar com o braço dormente e tentar trocar de braço sem que ela repare. Ou estar sempre a cantar a mesma música ou... De repente, o que "surgiu" foi fazer-lhe cafuné, festinhas e massagens nas costas ou nas pernas quando dorme sem calças... Caramba. Como tudo mudou e para tão melhor.
Acabou a prisão - até ver - de lhe abanar o rabo e agora tenho só de lhe fazer miminhos - que chatice!! Agora quase que nem tenho pressa para que ela comece a adormecer sozinha. Gosto tanto. De repente, o pior momento do dia passou a ser um dos meus preferidos. Aquele é que me recalibro.
![]() |
Desculpa, filha, a Mãe estava tão cansada... Ou às vezes está tão cansada... |
Isto, claro, quando não "tenho pressa". Senão perco-me toda na mesma, mas agora com mais margem de conversa visto que a miúda já tem 4 anos. :)
![]() |
Nota: o Facebook decidiu mudar o seu algoritmo e a partir de agora vai mostrar-vos mais posts dos vossos amigos e menos de páginas onde fizeram like. Querem saber quando publicamos coisas?

Sigam-nos também no Instagram: