1.15.2018

Então e soluções para as "mães não perfeitas"?

É frequente e "sem querer" que nos esquecemos destas três dinâmicas essenciais e sempre presentes nas nossas relações: nós, nós com eles e eles. Quanto mais em "modo sobrevivência" estivermos, menor é a capacidade para distribuirmos pensamentos, para a sensatez, para a empatia. Deslocamo-nos rapidamente para "a culpa" é deles ou "a culpa" é minha. Também serve quando se aponta os dedos aos outros: "a culpa é dela que é uma mãe que não impõe limites" ou  "a culpa é da miúda que é um monstro". A culpa que tanto funciona com a palmada que se dará à criança como as palmadas que se dão na nossa consciência depois de as termosdado -  enquanto ainda não a [consciência] tivermos adormecido para não suportarmos tanta dor. 

As coisas fluem, são dinâmicas. A culpa é algo, nestas situações, primário, de sobrevivência, imediato, infantil. É difícil e parece "totó" reconstruirmos a realidade, fazendo um moonwalk cuidado no que nos levou até ali, mas uma vivência mais consciente ajuda-nos a termos capacidade para que nos surja amor com mais frequência quando olhamos para nós, para eles ou para nós e eles. 

Porque é que nos deixamos de perguntar, quando crescem mais um pouco, o que terá a criança? Quando são bebés, perguntamo-nos se têm fome, sono, sede, necessidade de mimo... mas, depois, passamos para o tribunal das manhãs e das tiranices. Foi o que terá sido feito connosco e o que terá sido feito com quem nos fez, a culpa não interessa. 


Interessa muito aqui por-mo-nos no lugar da criança, pomo-nos no nosso próprio lugar quando tínhamos a idade dela também ou até mesmo deixando-nos estar na nossa. O que sentíamos quando gritavam connosco? Quando nos punham de castigo? Quando nos portavamos "mal" era porquê? O que sentimos agora quando nos fazem o mesmo?  

Quando, na nossa vida, andamos mais amargurados, respondões, zangados, com "mau feitio" é porquê? Será aleatório? Porque "somos tiranos"? 

O que há antes do que se vê e ouve? O que há antes do fazer? 

A mãe chora quando a criança está a ser castigada porque lhe dói. Dói-lhe "ter que chegar a esse ponto". Também eu chorei quando, por desespero, numa vez em que tentei deixar a Irene chorar no berço porque "não devia mimá-la". 

O que nos faz chorar assim, "indo contra nós" (até a mãe disse isso no episódio -  a estreia do formato Super Nanny em Portugal) é porque não está bem. Ir contra nós nunca será a solução, digo. 

Impedirmo-nos de comer o que nos apetece, sem percebermos porque é que nos apetece. Impedirmo-nos de mexer tanto no telemóvel, sem perceber porque é que o fazemos. Impedirmo-nos de abraçar as nossas filhas quando elas, depois de se portarem mal, pedem colo sem perecber porque é que elas pedem e porque é que nós, mesmo depois do que aconteceu, as queremos abraçar... 

A comida que nos aparece no prato vem de algum lado. O dinheiro que sai do Multibanco também. Aquela colega que resmunga tem também ela uma vida, não "saiu assim por defeito". A criança grita, chora, bate porque não sabe expressar de outra forma o que sente. 

Aqui sim, cabe-nos a nós ter o trabalho de ver o que se passa. O panorama geral, ver além de nós e do nosso ego. Senão são duas pessoas a fazer birra. Sendo que uma delas tem a responsabilidade de tentar ser capaz de reconstruir, de fazer o moonwalk: o adulto. O adulto que além de crescido também tem algures uma criança que não se sabe expressar e que não consegue falar consigo. É tudo. 

Gostava muito de apresentar soluções concretas para cada caso. Ainda estou a descobrir muitas com a Irene no dia a dia. E as que funcionam vão mudando. Sei sempre que as melhores são quando me forço a pensar nela, em mim e nela e em mim. 

Parece que não temos tempo. Parece que não temos coração. Que nos caiu tudo em cima e que, pior que tudo, que nos deram um filho imperfeito. Esse filho que terá uma mãe imperfeita que, outrora, já esteve no lugar dele... 

Amor. Mais. Porque amor gera amor. 


Muito sobre aquilo em que acreditamos e soluções aqui:
disciplina positiva, parentalidade consciente, ...

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Às vezes ainda acho que sou uma adolescente.

Juro que não sei como isto foi acontecer. Juro que ainda tenho 16 anos, cheia de sonhos. Juro que ainda estou ali a lamber o ombro, discretamente, para sorver o sal, da pele morena e quente do sol. Juro que ainda estou ali, cheia de dúvidas, mas cheia de esperanças. O mundo nas minhas mãos. Possibilidades infinitas. Posso ser jornalista. Posso ser cantora. Posso ser actriz e fazer só musicais. Posso viajar pelo mundo. Posso ser mãe de quatro filhos. Aos dezasseis anos pode-se tudo ainda. Aos 31, se calhar já não se pode tanto, mas ainda se quer muito.

Ou será que não é assim? Será que sou demasiado sonhadora? Ou serei demasiado intensa? Porque não assento, porque não acalmo, porque não consigo ser completamente feliz com o que tenho e com o que sou? Por que é que tenho uma cabeça de adolescente num corpo de adulta? Por que é que, nem já mãe, consigo render-me à passagem dos dias, ao conforto da rotina, à estabilidade de saber o dia de amanhã?

Às vezes ainda acho que sou uma adolescente, na forma como escolho não olhar para alguns problemas, na forma como escolho não saber fazer o IRS ou enfrentar outras tantas dores de cabeça. Às vezes sou mimada. Às vezes sou ingénua e confio demasiado nos outros. Às vezes tenho expectativas surreais do mundo.

Ainda sofro com o que se diz, com a forma como se diz, odeio discussões, odeio ver pessoas zangarem-se. Nem sempre consigo desvalorizar, não sentir, não me revoltar.

Às vezes ainda acho que sou uma adolescente, pela forma como sinto e como me sinto.

Às vezes quero alcançar a serenidade que dizem que a idade nos dá. Outras vezes não quero perder a loucura que a adolescência nos deixa viver. E ser.

Não sei, mas às vezes ainda acho que sou uma adolescente.




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1.14.2018

Os perigos da SuperNanny, da SIC

Hoje ficámos a conhecer a Margarida e a mãe e a avó da Margarida. A Margarida tem uma atitude tirana perante a mãe. A Margarida bate e faz birras. A mãe da Margarida não tem autoridade nem é consistente. Palavras usadas no programa, SuperNanny, no qual uma psicóloga vai a casa desta família ajudá-las a controlar a rebeldia da filha e a superar esta crise. 

Este programa tem problemas. Muitos, diria.

1) A exposição de crianças em situações frágeis. Custa-me imaginar as repercussões que este episódio poderá ter na vida desta criança. "Ah! Mas ajudou-a." Tenho as minhas dúvidas. O programa é um reality show, não é um documentário, um estudo científico, uma reportagem. É encenado. Nos momentos de "birra", os tambores rufam. Nos momentos de serenidade, vem a pianada. É um programa de televisão, é uma história. Além disso, o que dirão os colegas da Margarida amanhã na escola? Ou daqui a uns anos, se lhe quiserem fazer bullying? Preocupa-me. Preocupa-me a auto-percepção com que a Margarida fica de si.

2) Os conselhos da SuperNanny. Gostei de ver que não recomenda a palmada, em situação alguma. De resto, pouco mais consegui aproveitar. Não concordo com o canto do castigo (ou da reflexão ou que outro eufemismo lhe derem). Não concordo com as recompensas. Não concordo com muitas das avaliações ali feitas, as expressões usadas. Achei que ficou tudo muito pela rama (e ainda bem, não queria saber mais da intimidade desta família escarrapachada num programa de televisão). As técnicas e a consistência simplesmente alicerçadas na ordem e na obediência, com a ajuda de castigos e recompensas. Ali o que é importante é acabar com alguns comportamentos, repor a ordem, mas sem uma visão a longo prazo. E mais, sem o entendimento e análise das principais razões para os comportamentos. Sem um processo que assente na dignidade da criança.

3) Vamos continuar a veicular, nos meios de comunicação social, esta forma de educação, que vê as crianças como animais a domesticar, a todo o custo, de forma behaviourista, para instaurar a calma, mas sem reflectirmos sobre os processos e sem vermos que poderá haver outras formas de chegar a bons resultados, sem rotularmos as crianças como "tiranas" e os pais como "soberanos", que estão a falhar e a ser permissivos. Há outras formas de lhes transmitir regras, mas sem que eles se esqueçam que os amamos incondicionalmente.

"Esse tipo de programa eleva a arte de manipular os espectadores para um nível nunca antes imaginado. Para começar, a escolha de crianças incrivelmente “mal-comportadas” dá-nos um certo sentimento de sucesso: “Pelo menos meus filhos – e minha capacidade enquanto pai ou mãe – não são tão maus!” Indo directo ao ponto, estas famílias problemáticas fazem-nos torcer por soluções totalitárias. Qualquer coisa para acabar com o tumulto." Alfie Kohn
Este artigo sobre o programa americano está muito bom. 

Leiam sobre disciplina positiva, caso se interessem, leiam sobre parentalidade consciente, e espalhem amor, muito amor (e regras e disciplina, que nada disto tem a ver com ser permissivo). 




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