Havia um rapazinho na nossa turma que, apesar de pequenino, se sentava nas carteiras lá de trás. Era falador, desestabilizador, gozão, a custo fazia os trabalhos de casa, tinha negativas. Na primária, levava não raras vezes estalos e carolos da professora (sim, isto acontecia nos anos 90). Era, diziam, "indisciplinado" e "mau aluno".
Acontece que esse menino, de sorriso fácil, recebeu agora uma Estrela Michelin, no restaurante Adega, em San José, nos Estados Unidos. O meu orgulho nele é enorme e fico também contente pela chapada de luva branca que isto significa. O nosso sistema de ensino não está feito de acordo com as necessidades, interesses, ritmos das crianças. Prepara-nos, aos que conseguem apanhar o comboio a alta velocidade, para os exames, mas não necessariamente para a vida. E ele, que não conseguia estar sentado na carteira, tinha bicho carpinteiro, porque era simplesmente uma criança! Hoje esse desassossego traduz-se num profissional de mão cheia, criatividade, talento, humildade, vontade de aprender, resiliência... imaginem então se tivesse tido um ensino que o estimulasse desde o início! O caminho teria sido tão menos doloroso... Felizmente a força interior (e o incentivo da família, principalmente do irmão mais velho, a quem seguiu os passos) foi superior a tudo isso e ele conseguiu, não um canudo, mas um dos maiores feitos na área que desbravou.
Parabéns, David! Pelo reconhecimento que só os grandes alcançam, mas principalmente pela audácia e por teres ido à luta [parabéns à Jéssica também, claro].
Notícia do DN, aqui.
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