Às vezes tenho medo de me esquecer. Já percebi, pela minha experiência de dois anos e tal da Isabel, que a maternidade teve momentos em que meti a quinta e acelerei e teve outros em que, apesar de termos ido em terceira, não me consigo lembrar com a nitidez com que gostaria. Digo muitas vezes, em conversa com o David, que devíamos apontar. Coisas pequenas, frases mal ditas, expressões divertidas, momentos ternurentos, palavras inventadas. Coisas como "ontem, ao adormecer a Luísa ao colo com shhhhh ela veio atrás de mim a adormecer o macaco com shhhhhh." Ou "eu sabo tudo, mãe." Ou "o mata de moscas". Ou, ainda esta semana: "mana, parece mesmo uma bola. E é!". Ou quando no carro, depois do pai lhe perguntar como se chamava o bebé dela, ter respondido "É o Silva!". Coisas nossas, pequeninas, sem interesse suficiente para as vir escarrapachar aqui no blogue. Não quero esquecer-me delas. Apesar de saber que este sentimento avassalador de descoberta, de amor, de paixão desmedida não se apagará, já não me lembro do cheiro exacto da Isabel quando era bebé e valem-me os vídeos para que me recorde do som baixinho da voz (que delicada era ela a chorar!). Os dois anos são uma fase que tem tanto de desafiante como de apaixonante e sinto que ela cresce de dia para dia. E com ela os medos do lobo mau (que pesadelo terrível que teve no outro dia, coitadinha), e com ela as frases tão bem construídas, e com ela uma paixão pela irmã que se sente a quilómetros. Uma satisfação gigante ao fazê-la rir.
Escrever para não esquecer, é o que tenho de fazer. Aqui ou num caderninho.
Fotografia do evento da Igor |