Às vezes quero ser mãe às vezes e não sempre. Mas é por ser sempre que é tão intenso e é por ser tão intenso que é tão gratificante. E o sempre, às vezes, até parece pouco. Quando damos pelo tempo que passou. Aquele clichê do "passa tão depressa" é tão verdade que assusta. Foi ontem e afinal já foi há quase três anos. Foi ontem que fui levada pela corrente de sentimentos dessa coisa que é ser Mãe. E afinal já passaram anos desde que essa corrente, às vezes dolorosa, rápida e periclitante, desaguou num mar imenso. Às vezes ainda há ondas, há marés, mas já sei onde estou e vou dar. Já não ando tanto à deriva. Passou depressa a fase mais angustiante em que precisava de apalpar terreno. Voltei a ser rio quando nasceu a Luísa, mas sinto que também já cheguei ao mar. E já passaram quase seis meses. Rápido, rápido. Seis meses saboreados ao milímetro, mas sempre com a sensação de que se calhar podia, podíamos, ter estado ainda mais. É a angústia do relógio. Tic tac tic tac. Saber que o tempo não volta atrás. Por isso, qual Gustavo Santos num qualquer livro de auto-ajuda, vos digo: aproveitem ao máximo. Até a fase em que andamos aos solavancos e a apalpar terreno deixa saudades, porque aprendemos a filtrar e as coisas boas sobressaem. Aproveitem ao máximo, porque o feed no Facebook, os likes nas fotos, os episódios das séries, as roupas passadas a ferro, são pó, são nada, comparados com a vida a pulsar ali, ao nosso lado. A pele macia na nossa pele. O sorriso, o olhar indefeso, os esgares, a dependência frágil. É bom. Muito bom. Aproveitem ao máximo, porque deixa saudades. Muitas. Eles vão transformar-se em pessoas lindas, interessantes, divertidas (e teimosas e chatas e cheias de personalidade, ainda bem), mas nunca mais vão ser assim, pequeninos, nossos.