Foi esta a mensagem que consegui reter no outro dia enquanto a Irene e eu conversámos sobre um dos vários namorados que ela tem. Não é por isso que ando a ler um livro sobre poliamor, no entanto. Não vou a esse extremo de pesquisa para compreender e apoiar a minha filha - ainda.
Disse que tinha sido ela a pedir, que ele tinha pedido para pensar e que aceitou e que passaram o almoço todo a chamarem-se de namorado um ao outro. Também disse que eram namorados "emprestados" porque não se beijam na boca por causa dos micróbios (that's my girl, a fugir do herpes desde pequenina).
No entanto, sem querer reforçar o romantismo da coisa - tem apenas 5 anos e acho importante que viva o amor da amizade antes de haver aquela pressão desmesurada para encontrar par romântico e começar nessas lides - achei importante deixar claro que se um dia o namoro acabar (deve acabar em breve por causa de umas cartas Pokémon), que podem continuar a ser amigos como a mãe e como o pai.
Sabem o que ela respondeu?
"Sim, mas também podemos namorar para sempre como os avós".
Da mesma forma que vamos buscar referências maternas ou paternas quando temos pais menos presentes ou mesmo ausentes, julgo que a cabeça das crianças também estará feita para se auto-equilibrar e ir buscar o que precisem para acreditar. Temos é que lhes dar espaço para fazerem as suas próprias trajectórias e dar-lhes cenários diferentes para estarem informadas e poderem oscilar entre vários parâmetros.
O amor dos pais da Irene não foi para sempre, mas o dos avós é. E ela sabe disso.
Um dos vários motivos pelos quais não me arrependo de me ter divorciado é que não proporcionei à Irene um modelo de relação conjugal sem afectividade e sem um ritmo ideal de coisas boas. Prefiro que, assim, veja e conheça uma mãe mais feliz e um pai também, ainda que não estejam juntos.
Quanto ao amor? Vai surgindo na vida de um e de outro. E ela vai senti-lo sempre que houver.