Deixo que furem as orelhas: sim ou não? Não uma à outra, claro. Vontade às vezes não lhes faltava (andam ambas com a mão bem leve...).
A Isabel (5 anos) disse-me esta semana que queria furar as orelhas, como eu. Perguntou - mais uma vez - se doía e eu disse-lhe a verdade. Falei-lhe de todos os cenários possíveis. Disse-lhe que iria doer no momento e depois, às vezes, durante a noite, a vestir a roupa e noutras situações. Que poderia infectar e fazer sangue. E, mesmo assim, quer arriscar. A Luísa (3 anos) disse logo que também queria. E eu fiquei a pensar que, em elas pedindo tantas vezes, talvez já não faça assim tanto sentido impedir.
Não tenho a mínima vontade de que furem as orelhas, atenção. Não acho que fique nem mais bonito nem mais feio nestas idades. Confesso que mais novas é muito raro gostar, tendo a achar piroso. Mas, estando numa sociedade em que é bastante comum e culturalmente aceite e sendo elas a pedir, não sei se os meus argumentos continuarão a ser válidos. Incentivei a usarem outra vez autocolantes, mas, desta vez, a Isabel disse logo que não, que caiam e que se perdiam. Perguntou-me se poderíamos ir no sábado fazer os furos e eu disse que ía pensar e falar com o pai.
Poder, podemos. Mas qual o risco real de infecção? E se nos “estraga” o Natal? E se ela se arrepende ao sentir a dor, no momento? E se sentir que não a protegi? E a Luísa, não será nova?
Estou a pensar demasiado, eu sei.
Já nem me lembro que idade tinha quando furei as orelhas, mas também fui eu a pedir. Lembro-me de uns brincos, lindos, em forma de morango, de madeira. Lembro-me de me sentir vaidosa com eles e gosto de ver as fotografias da altura.
E agora? Não queria nada que elas sofressem. São as orelhas das minhas pessoas preferidas (ainda custa mais). Uma amiga nossa caiu e a orelha infectou, antibiotico e uma grande chatice. Não me apetecia nada passar por tudo isso, desnecessariamente.