12.07.2019

Mudar de vida outra vez? Sim!

Não foi preciso chegar aos 33 para perceber que não há problema nenhum em voltar a baralhar e a dar jogo. Percebi isso logo quando me despedi do meu trabalho de vários anos em televisão. Estava grávida da Luísa (a minha segunda filha para quem chegou aqui só agora), quando fomos para Santarém e eu fui trabalhar apenas no blogue. Por lá ficámos até ela ter ano e meio. Foi tudo o que precisámos, naquela altura. Acalmar, desfrutar do campo, cheirá-la todinha e dormir até sestas com ela, ir buscar a Isabel cedo à escola. Depois, quisemos estar mais perto do trabalho do pai e eu quis voltar a meter as mãos na massa. Voltámos a Lisboa. Comecei a trabalhar numa agência de comunicação, aonde nunca antes tinha trabalhado. Despedi-me passado um ano e vim trabalhar apenas como freelancer, para casa. Saía de casa para reuniões, para trabalhar com a Joana Gama (quando tínhamos de gravar vídeos ou podcasts) e para fazer locuções. Uma ou outra vez para eventos (mas, se não for workhshops ou comida (lol) "não é bem bem a minha cena"). Passava muito tempo sozinha. Entre paredes. Eco. Máquinas de roupa para fazer e pó à espreita. Episódios da netflix ali mesmo à mão de semear (e o tal do "ah é só um à hora de almoço") e, quando dava por mim, tinha visto 3. Para se trabalhar em casa, tem de haver muita disciplina. E eu, para me sentir inspirada, preciso de estar bem. Preciso de não me sentir só. Preciso de estar a sentir-me viva. 

Acho que andei meio adormecida nos últimos tempos. Pouco produtiva. E isto é uma bola de neve. Quanto menos se faz, menos vontade se tem de fazer. Quando dava por mim, era hora de as ir buscar. Claro que estes tempos (um ano, para ser mais exacta) me trouxeram coisas óptimas: conseguir ir com elas à natação às 16h30, conseguir fazer mais desporto (Chama a Sofia, ainda não sei bem como me vou conseguir organizar para continuar no ritmo snif), conseguir ir à dentista com a Isabel cedo, aproveitá-las mais. Há uma liberdade boa nisto tudo. 

Por outro lado, não saber bem como vai ser o mês em termos financeiros, fazia com que essa liberdade nem sempre compensasse. Meses bons, meses razoáveis, meses péssimos. Clientes que, se em vez de pagarem a 30 dias pagarem a 60, já desestabilizavam as nossas vidas por completo. Acredito que para se viver desta forma se tem de ser muito poupado, prever tudo muito bem, não dar grandes passos em falso. 

Neste momento, continuo a ser freelancer, mas voltei a trabalhar com pessoas e em televisão. Já não pegava num programa de edição (sem ser para os nossos vídeos) há quatro anos. Adrenalina de novo. Sensação de recomeço. Acordar bem cedo, largar o pijama ou o fato de treino, maquilhar-me, beber um café na rua. Conhecer gente nova, rever colegas. Construir histórias. Curiosamente, sinto-me em casa. 

Volto a ter de fazer malabarismo com as horas, com o trânsito, com os prazos. Mas digo-vos já que me saiu um peso de cima. Que sinto borboletas na barriga. 

No outro dia, ouvi dizer - sobre o facto de se mudar com "facilidade", diziam, de trabalhos - que hoje em dia os jovens já não sabem o que é o compromisso. Eu tendo sempre em chatear-me quando se olha com paternalismo para a geração seguinte (tende-se sempre a achar que a anterior foi bastante superior e que a seguinte é ignóbil - quem não se lembra do termo "geração rasca"?). Mas, a ser verdade essa generalização do compromisso, se calhar, ainda bem. Acho que o maior compromisso que podemos ter é com o nosso bem-estar e realização e, claro, tentar ao máximo que a equação não subtraia aos nossos filhos, quando os há. A mudança não é um papão. Se for tudo feito com respeito, com ponderação, pode ser a melhor coisa que nos acontece. 

Ainda bem que não fiquei até hoje na primeira produtora aonde trabalhei, até porque muito provavelmente estaria doente, a trabalhar 16 horas por dia, a ganhar 500€ a recibos verdes e não haveria Isabel e Luísa. 



Mudei de vida outra vez. Voltei a trabalhar, também, em televisão. Não sei se "para a vida", se "para já". E é bom não saber. É mais divertido assim. 



18 comentários:

  1. Parabéns pelo reconhecimento de um período menos produtivo e iniciativa de mudança! Sou apologista de que devemos fazer as mudanças necessárias na nossa vida - e em nós - para alcançarmos a paz de espírito; termos a capacidade de largar o que já não nos serve. Se não correr bem, tentamos de novo.
    Boa sorte nesta nova etapa!
    💪🏻
    (Ainda estou a digerir a informação sobre o salário da primeira produtora + carga horária, uma vez que ganho mais a fazer limpezas e com um terço da carga horária)

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  2. Foi fácil encontrar trabalho? Eu acho que muitas vezes o medo de mudar é o de não arranjar nada satisfatório, ou seja, na prática estar a mudar para igual ou pior.
    Mas parabéns! E que corra bem esse malabarismo :)

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    1. Foi relativamente fácil mas como freelancer na mesma :) e, de momento, também não quereria de outra forma 😘

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  3. Sofia Dias4:17 da tarde

    Infelizmente a minha opinião é mesmo essa de que os jovens de hoje em dia não querem compromisso e não estão dispostos a fazer qualquer sacrifício.
    Já acompanho a Joana por aqui há uns tempos e realmente a ideia que passa é que nunca está satisfeita com o que faz. Ora porque quer mais tempo com as filhas mas depois afinal o dinheiro faz falta e precisa de estar com pessoas e de ter horários mas se for preciso daqui a uns tempos diz que não está para chegar tarde ao colégio porque afinal quer é tempo de qualidade com as filhas.
    Enfim lamento não entender essa sua postura mas gosto de a acompanhar na mesma e que seja feliz com as suas decisões porque é só isso que importa. Um beijinho

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    1. Não sei se depreenda que a Sofia 1) acertou à primeira e está super feliz com o seu trabalho e consegue gerir sempre muito bem trabalho e família; 2) apesar de não se sentir realizada profissionalmente ou de não estar bem emocionalmente, cumpre com o compromisso, se for preciso até ao final da vida, porque "é assim que tem de ser".
      Eu estou na franja de pessoas que só teve contrato de trabalho duas vezes na vida (e por pouco tempo), por isso está habituada a mudar. E não sente que isso seja horrível, bem pelo contrário. É assim que eu funciono e vejo que as minhas filhas não estão a ser prejudicadas por isso. Se sentisse, talvez fizesse o "sacrifício". Na minha área, uma área criativa, chamemos-lhe assim, não há essa coisa do trabalho para a vida e, por isso, uma pessoa vai seguindo o coração e o mercado também. Seja qual for a sua decisão, prioridades e filosofia de vida, não a critico. Eu tenho a minha, não tem de concordar com ela. Beijinhos!

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    2. Ou seja, tu queres que aceitem a tua visão das coisas mas não aceitas que nem todos a tenham. A Sofia pode pensar diferente e ti e estar bem assim. Não é necessário estares a depreender coisas.

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    3. Não entendi. Mas deixe estar, não perca tempo 😂

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    4. Sofia Dias10:30 da tarde

      Não acertei á primeira, acertei á segunda. E sim estou muito feliz com o meu trabalho e com a vida que eu escolhi. Gerir o trabalho com a família é como tudo na vida, não vivemos num mundo perfeito e encantado, há alturas em que é mais fácil outras não. Tenho folgas e férias e o importante é a qualidade do tempo que temos em família. Os meus pais por exemplo nunca passaram muito tempo comigo pois desde muito pequena que gerem um negócio por conta própria e curiosamente nunca fui uma criança infeliz por isso, pelo contrário, temos memórias incríveis juntos e quando comecei a trabalhar e a saber aquilo que a vida custa ganhei uma admiração e respeito ainda maior por eles. Mas lá está, provavelmente para a Joana, a minha “filosofia” de vida é errada.

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    5. A diferença entre nós as duas - que ainda não entendeu - é que eu não acho as escolhas dos outros erradas e não as critico, muito menos com um tom de superioridade meio passivo-agressivo com um “lamento não entender essa sua postura”. Não escrevo à procura do entendimento de ninguém, nem da aprovação de ninguém. Não acho até que ninguém tenha de aprovar as escolhas dos outros nem as “filosofias” dos outros. Acho apenas que pode ser bom partilhar a mudança. Mostrar que se pode ser feliz de várias formas ou de procurar uma forma de ser ainda mais feliz. Que não tem mal querer coisas diferentes em momentos diferentes da vida. Não há nada para concordar nem para criticar aqui. É somente “a minha verdade”, a minha experiência e a minha visão. Estranho sempre quando vejo pessoas tão resolvidas e tão felizes a ditar o que os outros devem ou não fazer - acho que acabam por mostrar que não o estão. Mas espero estar enganada, seria bom sinal ;)

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  4. Olá Joana, obrigada pelo texto e pela partilha da sua experiência pessoal e profissional, sempre inspiradora.
    Quanto ao comentário da Sofia, não achei nada construtivo, apenas cheio de crítica. Penso como leitoras temos que apreciar o trabalho do Blog e a liberdade de comentar não dá o direito de, lá porque não se dá a cara, vir desvalorizar as opções de vida de outros.
    Eu sou da opinião, que a família é o valor maior e poucas são as pessoas que a põe como prioridade. Sim podemos ser nais felizes com menos dinheiros e escolher ter mais tempo para estar com nossos filhos.
    Beijinhos Joana, obrigada pela partilha deste texto. Um bem haja.

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    1. "Sim podemos ser nais felizes com menos dinheiros e escolher ter mais tempo para estar com nossos filhos." Ou podemos não ser felizes assim e não há mal nenhum nisso. A Joana, que no último ano teve nessa situação, não gostou. Depende de pessoa para pessoa.

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  5. Não pude corrigir os erros, não estou registada, desculpem. Só queria deixar aqui um comentário de apoio e mais uma vez salientar que há valores mais importantes que o dinheiro e que todos somos livres para escolher o nosso percurso. Cada um tem o seu tempo, as sua percepção das coisas tb. Só que cada vez é mais difícil ser sincero e falar abertamente das nossas escolhas, sem ser criticado. bem haja. :-)

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  6. Joana, já te sigo há algum tempo, acho ótimo que você se abra e se exponha, pois com certeza há muitas mulheres e mães que sentem e passam pelo mesmo, e que assim, se sentem acolhidas. Não entendo todos os comentários passivo-agressivos que recebe, tantas palavras amargas que não trazem nada de positivo, só julgamento. Honestamente, não sei como consegue lidar com isso. Mas de qualquer forma, queria agradecer por continuar a se abrir na internet, pois muitas que estão do lado de cá, como eu, agradecem por não se sentirem tão sozinhas. Força e boa sorte! Espero que continue sempre a tomar decisões para o SEU bem-estar e o bem-estar da sua família! Beijinhos

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  7. Sou trabalhadora independente tal como o meu marido, e percebo os 2 lados da questão. Também gosto é faço questão de passar muito mais tempo que a média com os meus filhos. Mas isso tem uma contrapartida que acho que não é compatível com o estilo de vida que a Joana e qualquer pessoa gostam de fazer. Viagens exóticas, refeições em restaurantes trendy... Tudo tem 2 lados, 2 pesos e 2 medidas. Viver é saber manusear tudo isso. E haver possibilidade de agora poder/crer e amanhã não poder/crer é uma grande dádiva.

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  8. Julgamentos à parte consigo perceber o que disse a Sofia Dias: sigo o blogue e o podcast e a verdade é que o que a Joana nos transmite é que não está bem com nenhuma das situações. Ora queria mais tempo para fazer outras coisas e para as filhas, ora foi para Santarém, ora voltou a trabalhar num dito "trabalho convencional", ora se cansou e voltou a ser freelancer, ora se cansou dessa instabilidade... Quem ouve a Joana sente que está a passar por uma fase de grande instabilidade. Mas tudo certo, é normal. E enquanto vamos tendo ousadia para mudar estamos no bom caminho. Como se costuma dizer, quem está mal muda-se

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    1. Não mudou grande coisa desta vez, continuo a ser freelancer e quero continuar a sê-lo. Só lhe acrescentei voltar a trabalhar em TV e ter um espaço físico com pessoas. :) uma pequena grande mudança porque mudando algumas horas do meu dia me sinto logo mais feliz. Isso deveria ser bom, não consigo entender como conseguem depreender o contrário 😅

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