Ai meninas, demorou mas finalmente consegui meter isto na minha cabeça. O peso que me saiu de cima.
Sempre fui muito perfeccionista. Além de ter toda uma esquadra de polícia dentro da minha cabeça a analisar todos os meus passos, e a castrar muitos deles, a reprimir outros tantos e a desdizer outros ainda (o que pode ser muito desgastante), sempre tive uma enorme necessidade de aceitação. Nunca consegui lidar muito bem com o facto de alguém não gostar de mim. Ficava doente. Lembro-me de ter 13 anos e de me aperceber que duas colegas da turma diziam mal de mim e daquilo me ter deixado a chorar dias sem fim. Necessitei sempre de aprovação. Era carente de alguma forma. Ou tinha pouca confiança em mim. Ainda tenho. Nem sempre, felizmente. Há dias em que o meu ego está em altas (normalmente é quando me estou a marimbar para a opinião dos outros e só me escuto a mim) e que bom que é.
Mas, o que me andava a fazer extrema confusão, principalmente desde o momento em que fui mãe e que, por isso, comecei a acumular diferentes papéis e funções, era o pensamento "não estou a dar conta". E nisso, até ali, eu era uma pessoa que controlava. Podia não saber muito bem o que queria fazer profissionalmente, ir apalpando terreno e experimentando coisas diferentes (nunca fui uma pessoa muito decidida a esse respeito, como vos contei aqui: Não sei para onde vou.), mas no que me metia, dava o meu melhor e fazia-o bem. Trabalhava bem, era criativa, acumulava funções e trabalhos, horas e horas e, apesar de cansada, era um cansaço diferente, diria até um cansaço que me dava prazer (conhecem a sensação?). Acho que era workaholic. Mas conseguia, assim mesmo, ir ao cinema, ir arranjar as unhas ou fazer uma dieta ou ir ao ginásio. Tinha tempo dentro da falta de tempo. Quando deixei de conseguir fazer tudo o que queria fazer e bem, comecei a ficar angustiada. Tinha sono, cansaço acumulado e tinha uma bebé a precisar de mim e eu a chegar na hora de fecho da creche, o trabalho a precisar de mim e eu a achar que era insubstituível e com dificuldade em delegar funções, sem grande tempo para a vida pessoal, amigos, família, filmes e tempo para mim. Foi difícil gerir esta incapacidade. Andei ainda um ano e tal a querer ser Super Mulher (ou a achar que é o que esperam que sejamos e a tentar sê-lo de boa cara). Percebi que podia baixar a guarda e mandar tudo à fava quando estava grávida da Luísa. Estava com demasiado trabalho em cima, demasiadas responsabilidades, estava a perder peso e não estava a conseguir ser mãe como gostaria. Desistir da minha carreira na televisão - ou colocá-la em standby - foi a solução mais óbvia (tomada em família).
Agora que voltei a ter um trabalho fixo, senti, a par do regresso da adrenalina, essa necessidade de conseguir dar conta de tudo. O trabalho, a casa, o blogue, as miúdas, consultas. Não queria falhar em nada. E com a minha mania para o perfeccionismo, lá veio a censura. Lá veio o meu diabinho a dizer-me que eu não era boa o suficiente a nada se não conseguia fazer o malabarismo e se já estava a falhar em algumas coisas. Mas o meu cansaço e, ao mesmo tempo, esta doença da Luísa fez-me perceber (só agora) que tenho o direito de falhar, sem estar necessariamente a falhar. Não faz mal se adormeço com as miúdas e se ignoro o despertador quando ele toca às 22h para ir trabalhar. Não faz mal se não acabo o que me comprometi (comigo mesma) a fazer à noite, extra horas. Se a louça fica por lavar ninguém morre com isso. Se comem outra vez arroz tanto lhes dá. Se eu estou dois dias sem vir aqui ao blogue, ninguém me despede (e vocês não ralham comigo). Não faz mal se eu não conseguir ser boa a tudo nem sequer faz mal se eu não for extraordinária em nada. A vida corre e vai muito além disso.
Quero ouvir a Isabel a dizer-me de manhã que sou muito quentinha e fofinha. Quero aquele sorriso da Luísa quando me vê. Quero babar-me a ver um filme que, de tantas vezes que é recomeçado, mais parece uma série. Quero respirar fundo sem sentir o peso do mundo nos ombros. Se eu não salvo pessoas, o resto pode esperar. Posso permitir-me ser só boa a algumas coisas (ou nem sequer ser boa noutras e aprender a lidar com isso). Posso permitir-me dizer que não. Seleccionar. Filtrar.
Mas, o que me andava a fazer extrema confusão, principalmente desde o momento em que fui mãe e que, por isso, comecei a acumular diferentes papéis e funções, era o pensamento "não estou a dar conta". E nisso, até ali, eu era uma pessoa que controlava. Podia não saber muito bem o que queria fazer profissionalmente, ir apalpando terreno e experimentando coisas diferentes (nunca fui uma pessoa muito decidida a esse respeito, como vos contei aqui: Não sei para onde vou.), mas no que me metia, dava o meu melhor e fazia-o bem. Trabalhava bem, era criativa, acumulava funções e trabalhos, horas e horas e, apesar de cansada, era um cansaço diferente, diria até um cansaço que me dava prazer (conhecem a sensação?). Acho que era workaholic. Mas conseguia, assim mesmo, ir ao cinema, ir arranjar as unhas ou fazer uma dieta ou ir ao ginásio. Tinha tempo dentro da falta de tempo. Quando deixei de conseguir fazer tudo o que queria fazer e bem, comecei a ficar angustiada. Tinha sono, cansaço acumulado e tinha uma bebé a precisar de mim e eu a chegar na hora de fecho da creche, o trabalho a precisar de mim e eu a achar que era insubstituível e com dificuldade em delegar funções, sem grande tempo para a vida pessoal, amigos, família, filmes e tempo para mim. Foi difícil gerir esta incapacidade. Andei ainda um ano e tal a querer ser Super Mulher (ou a achar que é o que esperam que sejamos e a tentar sê-lo de boa cara). Percebi que podia baixar a guarda e mandar tudo à fava quando estava grávida da Luísa. Estava com demasiado trabalho em cima, demasiadas responsabilidades, estava a perder peso e não estava a conseguir ser mãe como gostaria. Desistir da minha carreira na televisão - ou colocá-la em standby - foi a solução mais óbvia (tomada em família).
Agora que voltei a ter um trabalho fixo, senti, a par do regresso da adrenalina, essa necessidade de conseguir dar conta de tudo. O trabalho, a casa, o blogue, as miúdas, consultas. Não queria falhar em nada. E com a minha mania para o perfeccionismo, lá veio a censura. Lá veio o meu diabinho a dizer-me que eu não era boa o suficiente a nada se não conseguia fazer o malabarismo e se já estava a falhar em algumas coisas. Mas o meu cansaço e, ao mesmo tempo, esta doença da Luísa fez-me perceber (só agora) que tenho o direito de falhar, sem estar necessariamente a falhar. Não faz mal se adormeço com as miúdas e se ignoro o despertador quando ele toca às 22h para ir trabalhar. Não faz mal se não acabo o que me comprometi (comigo mesma) a fazer à noite, extra horas. Se a louça fica por lavar ninguém morre com isso. Se comem outra vez arroz tanto lhes dá. Se eu estou dois dias sem vir aqui ao blogue, ninguém me despede (e vocês não ralham comigo). Não faz mal se eu não conseguir ser boa a tudo nem sequer faz mal se eu não for extraordinária em nada. A vida corre e vai muito além disso.
Quero ouvir a Isabel a dizer-me de manhã que sou muito quentinha e fofinha. Quero aquele sorriso da Luísa quando me vê. Quero babar-me a ver um filme que, de tantas vezes que é recomeçado, mais parece uma série. Quero respirar fundo sem sentir o peso do mundo nos ombros. Se eu não salvo pessoas, o resto pode esperar. Posso permitir-me ser só boa a algumas coisas (ou nem sequer ser boa noutras e aprender a lidar com isso). Posso permitir-me dizer que não. Seleccionar. Filtrar.
Custou-me chegar até aqui. Não sei se a isto se chama experiência de vida se maturidade se o quê. Dantes confundia esta postura como sendo desmazelo ou desistência. Agora sinto que devo desistir de querer o mundo com a sofreguidão com que sempre o quis. Sinto que devo desistir de me pressionar a ser TUDO para conseguir uma calma que me faz mais falta em algumas coisas. Sinto que devo dormir quando o corpo me pede. E que o email fica para depois e ninguém morre por isso. Nem eu sou ISTO ou AQUILO se não corresponder às expectativas que os OUTROS têm de mim.
Seria hipocrisia se dissesse que se chama a isto LIBERDADE, numa vida tão condicionada e tão cheia de grilhões e de normativas. Mas é um passo. É um "não faz mal" que me apazigua. É deixar só um polícia dentro da minha cabeça em vez de toda uma esquadra e ainda dar-lhe férias algumas vezes. É julgar-me menos.
Não sou boa a tudo. Não consigo fazer tudo. E não faz mal.
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Foto: The Love Project |
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