No momento em que vos escrevo esta crónica, estou
a 16 horas, 10 minutos e 43 segundos de entrar no hospital com a minha namorada
para o nascimento da criança (não que eu esteja a contar), e quero apenas dizer
que estou calmíssimo. Mesmo muito calmo. Tipo, calmo como quem está calmo numa
calmaria autêntica. ESTOU CALMO! JÁ DISSE QUE ESTOU CALMO, PORRA! A minha
namorada é que nem se atura. Está sempre a dizer “vai correr tudo bem, Hugo” e
“não stresses que vamos ser bons pais, Hugo”. Está in-su-por-tá-vel!
Ok, talvez o nervosismo me esteja a bater um
pouco. Não só porque vai começar a aventura mais incerta das nossas vidas, mas
porque toda a experiência da cesariana não podia estar mais longe da minha zona de conforto. No que
toca a hospitais, sou como um peixe fora de água, mais concretamente, um peixe
numa betoneira.
Passo a explicar: eu sou o que se conhece no mundo
da medicina como um coninhas de nível 7. Não me dou lá muito bem com sangue.
Nem agulhas. Quando faço análises clínicas acabo deitado na maca, de pernas
elevadas e a beber um shot de glicose, ou não fosse “Tonturas” o meu nome do
meio. #nãoémaspodiaser
Eu nunca poderia trabalhar na área da saúde.
Médicos e enfermeiros são, para mim, heróis. Ainda a semana passada estive à
conversa com minha irmã e cunhado, que nos explicaram um pouco o que esperar da
cesariana. Apesar de ter a perfeita noção que não serei eu o objeto da
operação, era na minha barriga que tinha uma estranha sensação de desconforto.
Agora imaginem ser tratados por um médico que, ao vos explicar o que esperar de
uma mamografia, estivesse a esfregar os próprios mamilos.
Ainda assim, quero tentar assistir à cesariana.
Quero fazer parte do que será certamente um momento memorável e quero apoiar a
minha namorada, sem que eu próprio seja uma preocupação para a equipa médica. O
meu plano é entrar na sala de operações e dizer: “Excelentíssimo Dr. Stephen Strange, eu estou tão confortável num bloco
operatório como um negro homossexual num concerto do João Braga. Caso eu me
comece a sentir indisposto, por favor indique-me qual o caminho para a saída de
emergência de forma a que desmaie do lado de lá da porta. Se eu desmaiar deste
lado, deixe-me ficar inconsciente até a criança terminar a faculdade. Obrigado.”
Que acham? Razoável da minha parte?