11.21.2016

Não tenho instinto maternal.

Foi algo que me disseram nos primeiros meses da Irene (não foi nenhuma de vocês, claro) e imediatamente me apeteceu chorar como uma criança a quem disseram que, por exemplo, a Disneyland tinha morrido. 

Senti que foi um golpe filho da mãe. Uma expressão nojenta e que vai muito além das palavras. Com uma intenção de besta e que, ainda por cima, foi dita como verdade. 

"Só lês muito porque não tens instinto maternal". 

Já estamos minadas o suficiente pelas nossas próprias armadilhas. Os nossos passados, os nossos sentimentos e nossos sonhos por desvendar e decifrar. Se juntarmos a isto uma espécie de terceira guerra mundial sentimental é um crime. É feio. É um nojo. 

As piores ofensas são aquelas que repetem os nossos receios. 

Esta foi horrível. Ainda hoje sinto as réplicas deste terramoto. Sempre que estou insegura em relação a uma decisão, essa frase surge como se fosse eu a dizê-la a mim própria todos os dias, baixinho, até explodir. 

Não sei se isso do "instinto maternal" existe tal como nós imaginamos - ou talvez seja eu só a dizê-lo a mim mesma para calar aquela voz de besta. 

Sei que amo a minha filha acima de tudo e todos e que todas as decisões que tomar são por amor. Se houver instinto é isso: o resultado de amar tanto, a consequência. 

Se nem sempre todas as decisões que tomamos estão certas? Claro que não. Somos videntes? Não. Fazemos o melhor que fazemos com o que temos e com amor. Mesmo que saia errado, não era algo que pudéssemos fazer melhor.

O melhor presente que podemos dar a nós próprios e aos nossos filhos é isso mesmo: amar.

Se lhe querem chamar instinto, se lhe quiserem chamar Zé, tanto me dá.  

Sei que amo como nunca. E que, afinal, nunca amei antes. 

Fotografia deste fim-de-semana no Hotel Vila Galé Évora. 
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