Fotografia Lovelab. |
"Mãe, a Necas quer que a mãe tenha um bebé na barriga. A Necas quer um irmão.".
Disse ela, ali, encostada à janela da cozinha, com o seu pijama da Everest e da Skye. Com aquela barriguinha que fotografo com os meus olhos desde pequena e que terá enquanto for minha, enquanto for bebé. Ali, às 7 da tarde, com aquela escuridão da mudança de hora.
Estava a preparar a comida dela para aquecer e não estava à espera disto. Muito menos nesta semana. Esta semana em que decidi pensar que talvez não quisesse um segundo filho. Por amor e cansaço, talvez não queira um segundo filho.
Quando a olho nos olhos e vejo que lhe quero dar tudo de mim, isso não inclui dar-lhe mais alguém além de mim. Quando está birrenta, já é difícil para mim conseguir ter todas as forças que quero ter para a ver do tamanho que ela tem e o lugar que ela ocupa em mim.
Mas ela quer.
Ou, pelo menos, disse que sim.
Não sou pessoa de não ter o que dizer - antes pelo contrário. Creio que pela primeira vez na vida o Frederico terá ouvido um silêncio da minha parte. Um silêncio em que, dentro de mim, estava tudo aos berros. O meu coração, a minha cabeça, as saudades da barriga de grávida, o corpo a gritar de cansaço... Calei-me para me ouvir, calei-me para não dizer nada de errado, mas aquele segundo foi passando em que a Irene ficou sem uma resposta.
Nem me lembro do que lhe terei dito. Provavelmente o Frederico terá respondido por mim.
Esta semana não quis ter um segundo filho e ela pediu-me um irmão.
Também eu às vezes me peço um segundo filho, mas não sei o que me diga. Nesta semana não quis. Tenho amado muito a Irene, o ginásio, o silêncio depois dela se deitar e aquela meia hora em que, às vezes, tenho esperança que ela não volte a acordar tão cedo.
Tenho saudades do Frederico e sinto que estamos mais perto de podermos ser um nós mais próximo de novo, embora de forma diferente.
E, acima de tudo, o que sinto é que lhe quero dar mais mãe e menos irmão.
Esta semana.