6.26.2019

Faz-me confusão que ela consuma vídeos na internet.

Sei que há coisas que são boas e educativas e quase em tudo na vida há “bom” e há “mau”, mas ver uma criança tão quieta durante tanto tempo faz-me imensa confusão. Claro que até pode aprender a falar inglês - como a Irene aprendeu a falar português do Brasil por ver vários vídeos no YouTube quando estava com o pai - mas acho sempre que não é o melhor. 

Se me deu jeito na viagem a Cabo Verde espetar-lhe uns episódios da Netflix de seguida? Claro que sim. Mas não consigo. Faz-me sentir que a estou a adormecer, como se estivesse a sedá-la. Acho que me encontro mesmo no polo absurdamente oposto de muitas famílias actuais. 


Na minha cabeça, as crianças estão bem a brincar, sossegadas com as suas coisas (algo que envolva destreza ou raciocínio - e até poderão ser jogos no iPad) ou então a subir às árvores ou a pendurarem-se nos baloiços do bairro. Não nego a inovação. Caramba, sou blogger e também sou apresentadora de um programa na internet. Não sou nada contra. 

Mas sinto que tem de ser uma parcela ínfima da vida dela. O mínimo possível. A não ser que descobrisse um conteúdo (como descobri em tempos os desenhos animados da Netflix do Daniel, o Tigre) que compensasse o tempo “limitado” de inoperância, vá. 

No entanto, a maior parte das coisas que vejo e pelas quais a Irene se sente atraída são... consumidores de tempo, apenas. Um bocadinho como os stories que nos caem no instagram de conteúdos instantâneos mas que não “acrescentam” nada à nossa vida, embora nos viciem. Aqueles que nos hipnotizam mas que nos fazem perder tempo de vida. Uma parvoíce continuarmos a cair nisso tanto tempo depois de já termos sido apresentadas a este fascínio. 

Já aconteceu numa noite em que dormi pessimamente ou que fiquei a discutir durante horas não conseguir lidar com ela a manhã inteira e socorrer-me desse babysitter digital, mas não faço disso nem a regra nem sequer a excepção, acho eu.  Tudo por isto. Faz-me confusão. Televisão a mesma coisa. 

Ao fim-de-semana quando me pede para ver desenhos animados, claro que sim. Ponho-me (ou tento) a ler ao mesmo tempo e aproveitamos tempo juntas de outra forma antes de nos prepararmos para sair de casa ou fazermos algo em conjunto. Bom, a verdade é que na maior parte das vezes é quando aproveito para fazer um sprint e arrumar o máximo possível em casa - sabem como é. 

Durante a semana nem vejo tempo para ligar a televisão ou para lhe dar um iPad. Senão como a vejo? Quando é que ela brinca com os brinquedos dela? Como falamos? Como sei como é que ela está? E quando ela adormecer? Vou sentir que o dia nem passou por nós? Penso muito em como dizemos uns aos outros que “o tempo passa rápido” e acho que muito tem a ver com esta falta de tempo uns para os outros e que, às vezes, poderá estar a ser usada noutras coisas menos... úteis ou que menos contribuem para a nossa felicidade. 

Contei-vos em tempos que costumo fazer um desenho para ela levar no lanche com a memória recente mais querida. Tentando sempre que tenha sido algo divertido ou querido dela que tenha acontecido no dia anterior. Sinto que se lhe entregasse o iPad que nem teria nada para lhe desenhar no dia seguinte. 

Faço isso para treinar a visão optimista dela (e a minha também, provavelmente) e é algo que levo a sério.

Não vou desenhá-la agarrada ao iPad. ;)

Posto isto e porque sei que tudo o que seja extremado há de ter mais negativos do que algo “equilibrado”, queria perguntar-vos se conhecem vídeos giros no youtube para os mais novos. Sendo que giros signifiquem ser educativos de alguma maneira. 

E, já agora, se forem das pessoas que pensam nestes assuntos, como é que justificam para vocês que eles estejam no iPad com alguma frequência? 


7 comentários:

  1. Joana, mas não era a Irene que antes via televisão enquanto tomava o pequeno-almoço e tu te arranjavas? Qual é a diferença? (sem julgamentos, estou apenas a tentar compreender) A minha filha não vê desenhos animados na televisão mas vê no iPad. Daniel, o Tigre. O Noddy. O Ruca. A Zebra Zou. É verdade que não gosto que veja vídeos estúpidos, de pura publicidade a brinquedos ou sem qualquer história.
    E de resto concordo contigo, tentamos limitar o tempo. Até aos 2 anos não viu porque não achei necessário, agora com 3 vê ao lanche quando chega da escola e depois vai brincar até serem horas de jantar. E não há iapd/telemóvel/etc à hora das refeições, nem em restaurantes, nem nas viagens de carro do dia-a-dia (vê nas viagens longas de carro), porque também acho que ela ganha mais nas brincadeiras, a conversar, a ouvir conversas, a cantar, etc...
    Não me faz confusão que veja desenhos animados, nós também víamos e fazíamos outras coisas. Temos é de garantir que lhes damos tempo para fazerem essas outras coisas. E que lhes ensinamos até o que fazer quando não estão parados à frente de um ecrã. :)

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  2. Penso da mesma forma! Também me faz impressão ver crianças agarradas ao digital, como se estivessem "sedadas".
    Os meus filhos claro que vêem uma ou outra coisa mas tento que sejam aplicações educativas e o mínimo de tempo possível, quando já esgotei todas as opções para os entreter. Há umas apps muito boas que são "Bia e Kiko" em várias vertentes(matemática, português,etc) e seguem exatamente os conteúdos para o ensino pré-escolar.
    A APP da caderneta do panda também tem algum interesse.

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  3. Mas então nós quando éramos crianças não víamos TV ou jogávamos videojogos? Desde que controlado não vejo o problema.

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  4. Lá por casa, com 2 anos e tal, começou a ver iPad e aquilo de repente era um vicio, e era tão fácil dar-lhe de comer quando estava hipnotizada com os videos... Decidimos rapidamente limitar, porque era mesmo assustador. Passou a só poder ver ao sábado e domingo, sem excepções. Ao sábado e domingo de manhã, se estivessemos em nossa casa, via e dava-nos mais 1 hora de sono de manhã. Agora com 3 anos fizemos uma viagem grande de avião e foi a primeira vez que quebrámos a regra do fim-de-semana, mas só nas viagens de avião. Acho que são coisas que fazem parte da nossa vida e vão fazer ainda mais parte da deles, mas que não lhes ensina grande coisa e por isso devem ser reduzidas ao mínimo. Na minha filha, vejo como é demasiado fácil ficar a beber daquele ecrã horas a fio, sem nenhum estimulo ou interesse, e que o vicio é real quando se tenta acabar e é um filme pior que sair do parque. E para a proteger dos vícios e educar em actividades mais interessantes, nesta fase, estou cá eu.

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  5. Eu gosto da app dos Lego e da Disney. De resto acho que o ipad é como a televisão. o que me faz impressão é o uso de tecnologia para os miúdos estarem quietos, ou seja usar ipads e afins para os miúdos não saltarem, correrem, perturbarem os adultos. De resto, eu também gosto depois de um dia cheio de coisas de esvaziar a cabeça a ver séries. Porque não os miúdos depois de um dia de escola cheio de estímulos?

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    1. "Porque não os miúdos depois de um dia de escola cheio de estímulos? "
      Bravo!!! Que tendência tão grande que há para o sobre-estimulo das crianças hoje em dia...

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  6. Falamos daqui a 3 anos. Nenhuma mãe sai da maternidade a achar que os filhos verem vídeos, televisão e outros adormecentes do género é desejável. E depois acontece a vida e esta geração tem equipamentos electrónicos como parte da vida. Que não seja só lixo e que se interessem por outras coisas é a minha ambição actual.

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