9.02.2015

Ser mais mãe

Hoje fui buscar a minha filha à creche. Três dias depois, foi o nosso reencontro. Assim que me ouviu a cumprimentar a Ana, a auxiliar, veio até à cancela, bem-disposta. Pediu-me colo e ali ficámos a brincar um bocadinho, porque não se queria vir embora. Quis mostrar-me os brinquedos, o carrinho e o bebé, o gato, e por ali andou, confiante e crescida, a explorar. Ao andar agitava os braços, sinal de que estava feliz. E estava mesmo. De vez em quando, saía-lhe um gritinho.

Depois, já no nosso cantinho, fizemos nariz de esquimó, demos abraços e esfregou a cara no meu peito como se me estivesse a cheirar. Beijei-lhe todos os bocadinhos de pele, todos os recantos e refegos, fiz-lhe cócegas, fi-la rir-se. Estava cheia de saudades daquelas gargalhadas.

Achei-a mais crescida. Emocionei-me. Vi como estava bem, como estava feliz, como o David tinha compensado a minha ausência. Transbordei de amor por aquele homem, que admiro tanto.

Custou-me muito. Mais do que a ela, que esteve bem e deixou o pai dormir noites inteiras, até às 8h30. Mas eu enchi-me de saudades, ainda nem tinha saído de casa. Quando cheguei ao aeroporto, vi uma mãe a dar beijos e a fazer festinhas ao filho, com uns 5 anos. Escutei, ao longe, uma voz emocionada que dizia: "Meu menino! 4 dias sem a mamã, que corajoso! Correu muito bem, não foi?" Os meus olhos encheram-se de lágrimas naquele segundo. Senti no peito o que aquela mãe estava a sentir. É bom, faz bem a todos, mas... custa.

Foto Cv Love

Sempre fui daquelas pessoas que dizia (e diz) que as mães são mulheres e que têm de ter o seu espaço, que é saudável terem tempo para elas. Mas, na verdade, quando o tenho - e não estou a falar de uma simples ida ao cinema ou um jantar - quero estar em família. Quero ter a minha filha a tiracolo. Quero adormecê-la no meu colo só para sentir a respiração dela a acariciar-me o pescoço. Quero sentir o quentinho daquele corpo no meu peito. Quero ver aqueles olhos enormes a deliciarem-se com as minhas caretas. Quero ouvir "mamã". Quero dar-lhe banho e vê-la chapinhar para me molhar. Quero vê-la vir a correr mostrar-me uma folha, como se da coisa mais importante do mundo se tratasse. Quero estar ao pé dela quando está zangada e ajudá-la a resolver essa crise. Quero sentir que sou a melhor amiga dela.

Não sinto (ainda) grande necessidade de ter um tempo para mim.
Gostava era de ter (mais) tempo para ser (mais) mãe.

5 comentários:

  1. Lindo texto Joana! "Tempo para ser mais mãe".... é isso mesmo! E quando nos dizem: "tens que parar de mamar.... ele já tem 1 ano!" É stressante...... É maravilhoso eu dar-lhe mama. É maravilhoso eu ter leite. É maravilhoso eu conseguir estar com ele em casa e aproveitar cada minuto com ele. Eles crescem tão rápido..... Beijinho

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  2. "ser (mais) mãe".
    Que palavras tão poderosas. Acho que ainda não tinha conseguido compreender bem, mas é mesmo isso. Gostava de ter mais tempo, não para fazer o que não consigo por estar com a minha pequenina, mas para ter ainda mais "dose" de pequenina.

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  3. Acabei de chegar ao aeroporto para 7 dias completos sem o meu filhote. Sai da creche com ele à beira do choro pois sabia que a mamã ia para o bião. Já estou cheia de saudades mas só volto para a semana :( faz parte do meu trabalho mas uma pessoa nunca se habitua e cada vez custa mais. Espero que passe rápido!!!

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  4. Como eu te compreendo Joana, acho que preciso de tempo para mim, reclamo, mas depois na hora H, prefiro sempre estar com o meu filho, tem quase 4 anos e o máximo que esteve sem mim foi uma noite, que fica na avó, para umas idas ao cinema. Mas fico sempre com uma mistura de sentimentos...
    Temos um casal amigo que nos convidou p um fim de semana sem filhos, sei que faz falta, mas parte me o coração, não consigo é terrível...penso sempre nas mães que por motivos profissionais o tem que fazer, deve ser muito difícil, deve custar horrores.
    Parabéns pela coragem Joana!

    Adoro o Blogue

    Beijinhos

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  5. O último parágrafo diz tudo. E que bem que diz. Obrigada Joana!

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