E isto vai fazer com que uma centena de pessoas queira a minha cabeça, mas aviso-os já que não é grande coisa. Dá muito trabalho e não compensa.
É um segredo. É um grande segredo. E fui avisada para não dar muito ênfase, mas não sei como. Faz parte da minha natureza querer partilhar as coisas boas (ou só partilhar, no geral) com as pessoas e isto é demasiado bom para ficar "só para mim".
O meu pai, madrasta e irmão foram convidados há uns anos para passarem férias numa espécie de paraíso: o Burgau. E, desde aí, é impensável não passarem lá uns dias. Tem tudo o que querem e precisam, além de irem acompanhados de um dos casais que são seus melhores amigos.
O meu pai torna-se uma pessoa diferente por lá. Enquanto que, no dia-a-dia, gosta mais de estar no seu cantinho, em frente ao computador, a corrigir exames ou a dar aulas, ali parece que vejo o meu pai dantes. Aquele que gosta muito de fazer rir toda a gente, sempre apressado para a coisa seguinte e o que mais se preocupa se estamos todos bem e se precisamos de alguma coisa.
O meu irmão, de 14 anos, ali tem toda a liberdade do Mundo. É um sítio seguro, onde toda a gente se conhece e, por isso, pode ir da praia para casa e vice-versa sem qualquer problema e às horas que quiser.
As pessoas tratam-se pelo seu nome próprio ou alcunha e é habitual haver um sorriso sempre que se cruzam porque não há outro modo de estar no Burgau, durante o Verão, que não o de calma e de satisfação. Há praia, bons restaurantes, amigos e cerveja.
Quem vai ao Burgau conhece a Dona Conceição, quem gere o Hotel Burgau Turismo da Natureza. É uma senhora que dá muito nas vistas. Não por ter flipado e por se vestir de forma bizarra - de todo, mas porque usa aquilo que mais se vê ao longe: um sorriso.
Ainda que em tempo de máscaras não tenha conseguido vê-lo [o sorriso da Dona Conceição], foi evidente desde o momento em que a Irene, o Miguel e eu chegámos ao hotel que sentimos que tínhamos chegado à nossa casa de família. Nunca foi meu hábito visitar a família por aí em Portugal - andamos demasiado presos nas nossas rotinas, talvez - mas acredito piamente que é esta a sensação: pousar as malas e sentir que estamos entregues.
Entregámo-nos à Dona Conceição e ao seu staff neste hotel de 3 estrelas no meio do paraíso. Sendo-vos sincera, adoro luxo, adoro dormir em hotéis de 5 estrelas, mas ali não faria sentido outra coisa que não aquele ambiente simples e próximo (embora com as distâncias devidas, não sejam chatas).
A chave do melhor quarto do hotel veio parar-nos à mão. Tínhamos uma varanda incrível sobre o Burgau em que, por tudo ser tão perto, quase que conseguia acenar à minha família de lá. Aliás, numa das suas saídas à noite, o Miguel e eu namorávamos na varanda e conseguimos metermo-nos com eles enquanto punham a chave na sua casa deste Verão.
Quando chegámos ao quarto, reparámos que iamos poder dormir "todos juntos". Juntei a cama de casal à da Irene e ficou a parecer que tínhamos uma cama infinita. Onde, se fosse necessário, poderia dar-lhe a mão durante a noite enquanto tocava com os meus pés nos do meu namorado. Para quem está na minha situação, sabe que... é ter tudo ali, à mão (e ao pé).
Os duches depois da praia eram fantásticos. Deu espaço para tomarmos as duas ao mesmo tempo. Tirarmos a areia de tudo o que é pele do nosso corpo (sim, aí também) e ficarmos as duas cheirosas (os três, mas o Miguel tomou depois, ahah) para irmos jantar em família. Todos os restaurantes onde fomos (que eram já ali) tinham uma carta criativa e serviram-nos como se fôssemos habitués. O que, na verdade, grande parte de nós era e a outra parte vai passar a ser.
Hotel pequeno o da Dona Conceição, mas melhor assim. Quem procura a Natureza e família para férias não quer um resort porque sabe que o que é mais valioso está fora do hotel. Ainda que a piscina não tenha escapado aos mergulhos da Irene e aquele pequeno-almoço que a Dona Conceição e a equipa preparam diariamente tenha sofrido e muito com a nossa larica matinal. Desde panquecas, ovos mexidos, sumos e doces tradicionais... posso dizer que foi a muito custo que nos contivémos para guardar espaço para o almoço.
O começo do dia, a forma, dita tanto de como irão ser as horas seguintes... Impossível acordar com birra ali, depois de dias de praia fantástica, jantares até às tantas, namoro na varanda e noites a sentir-me profundamente completa. Porém, todo o staff do Hotel Burgau Turismo da Natureza apesar de manter o profissionalismo necessário, faz-nos sentir em família. Recordo-nos de uma senhora muito simpática que até se veio despedir de nós pessoalmente quando soube que estávamos de partida.
A maré, durante este Verão (minha primeira vez), quando está vazia dá espaço para que se caminhe imenso até se ter água pelos joelhos. A Irene delirou poder estar no mar tão à vontade e a brincar tanto com o tio e com o amigo novo, o Pedro. Chegou a dizer-me, no início "Gosto tanto dele que quero casar" - atenção, do rapaz que não o tio. Embora, no final, já dissesse "afinal ficamos só amigos porque ele não sabe seguir regras na piscina".
Libertei-me das minhas ansiedades. Não houve horas. Principalmente no dia do banho nocturno. Ao que parece, todos os anos, no dia 29 de Agosto, os habitantes e visitantes do Burgau, vão tomar banho no mar à meia-noite. A Irene molhou os pézinhos e sentiu-se uma super heroína. Tenho a certeza de que esta memória vai ficar. E é para isso que trabalhamos, não é? Memórias.
Lembro-me também de toda a viagem em que o Miguel e a Irene foram jogando a um jogo que inventámos. Em que ele lhe deu a sobremesa à boca enquanto ela pintava. Nas várias brincadeiras que eles tinham antes de adormecer e que me fizeram sentir que sou uma privilegiada imensa. Estou rodeada de pessoas que amo e que me amam de volta. E, vai-se a ver, muitas delas também gostam umas das outras.
Sentir de novo os mimos do meu pai, voltar a brincar e a abraçar a minha madrasta, meter-me com o meu irmão e ver a Irene, no meio disto tudo, a ser o carinho e a cola foi maravilhoso. Também foi giro apresentar o namorado à família, fiquei a achar que ele e o meu pai, noutra vida, seriam inseparáveis. Sim, sim... falarei disto nas consultas ;)
Visitem o Burgau, com respeito pelo segredo, pela natureza, pelo clima, pelas famílias e, acima de tudo, sorriam de volta à Dona Conceição (por enquanto, com os olhos). Sente-se quando quem trabalha o faz por gosto e por amor. E a Dona Conceição abraçou-nos diariamente ainda que sem poder.
Podem seguir, que eu deixo ;)
@mmikepires (é o rapaz que tem dona neste momento)