3.22.2019

"Uma palmada não faz mal nenhum".

Custa-me, cada vez mais, ver e ouvir defensores de palmadas nos filhos.

Não julgo quem já perdeu a cabeça. Começo por dizer que eu própria já o fiz e tenho coragem de dar o corpo às balas e de o assumir aqui. Não me orgulho, no entanto. Não acho que seja necessário. É sim, sinal de descontrolo da nossa parte, mas convém que arranjemos ferramentas para não nos passarmos e, acima de tudo, ferramentas que tenham resultados efectivos a médio e longo prazo. Que ensinem algo. Os nossos filhos são quem nós mais devemos proteger e defender. 

Mas custa-me, mais ainda, em pleno século XXI, que haja quem escolha bater. Quem decida, conscientemente, que o vá fazer. E que não se aperceba de que há outras formas de educar ou que uma educação sem violência física não tem, necessariamente, que ser uma educação sem regras e sem limites. Ouço e leio que quem anda por aí a bater nos pais e a cometer crimes devia ter levado mais em criança (provavelmente houve falta de atenção, amor e/ou limites). Ou quem diz, ainda, que levou de cinto e grandes tareias e hoje está muito agradecido por isso, que está de muito boa saúde e que faria igual. Ou ainda "há crianças e crianças". 

Este tipo de discurso faz-me alguma confusão, confesso. Normalizar a palmada, o enxota moscas, o tira-pó do rabo, ou o que lhe queiram chamar, e encará-lo até como uma forma de amor chega a ser perverso. É um contra senso.

Não, não acho que os estalos que os meus pais me deram me tenham perturbado ao ponto de ficar com traumas, mas também não foram eles que me balizaram e fizeram de mim uma pessoa melhor. Preferia que tivessem tido outras ferramentas, outras escolhas. Mas na altura era "normal".

Hoje já se fala nisto. Já se sabe que não se pode. Que é proibido. E que não lhes faz bem nenhum, pelo contrário. Potencia comportamentos violentos. E nós temos de os ajudar a conter e a resolver frustrações, não a potenciá-las ainda mais.

É difícil fugir a este modelo correctivo? Acredito que sim. Esta normalização está-nos muito marcada. Foram anos e anos a ver acontecer. Era assim que se fazia. Mas ainda bem que se fala cada vez mais nisto e que nos apercebemos, com trabalho de psicólogos, pediatras, especialistas, que não faz sentido. Que não é bom.

A autoridade e a imposição de regras não têm de implicar palmadas. Não se bater não significa que estejamos a ser permissivos. Há consequências para as acções e regras que cada família deverá definir. A mim, ajuda-me muito ler sobre disciplina positiva para arranjar alternativas que, por muitas vezes estar presa a um modelo mais clássico de educação, nem que passariam pela cabeça. E, às vezes, uma conversa e um abraço resolvem birras monumentais. Noutras vezes não.

Mas palmadas, não. Em ninguém. Nunca.





Podem ver tudo o que já escrevemos sobre disciplina positiva aqui.