1.07.2019

Os vossos filhos ficam loucos antes de dormir?

A sério. Se isto da maternidade fosse um jogo de consola, para mim, desde sempre que havia dois níveis finais de dificuldade: adormecê-los e dar de mamar. 

Sempre foi um terror para mim adormecê-la. Agora está muuuito melhor e entendemo-nos muito bem SE... Se o quê? Olhem, se tiver feito sesta é uma maravilha. SE conseguir deitá-la a boas horas também. 

Comecei a reparar (já há algum tempo que a miúda tem quase 5 anos, mas mais agora que já não faz sesta todos os dias na escola, infelizmente) que perto da hora de deitar está sempre a mexer em tudo. Como se fosse compulsivo. Pega numa coisa, digo para parar, pega logo noutra. Põe-se aos pulos na cama, corre de um lado para o outro e parece que fica com audição selectiva... pedir-lhe para parar ou tentar explicar que tem de ir dormir cedo na maior parte das vezes não resulta. É horrível.

Isto para já não falar que fica claramente "mal comportada". Faz asneiras, parece que não consegue pensar e parece outra miúda. A Irene costuma ser uma rapariga energética mas reage bem quando falamos com ela quando está "em si". Mesmo que não aceite ou o que for, costuma dar para falar e gerir as coisas em conjunto, negociando, explicando. 

Quando não dorme a sesta e quando não consigo deitá-la pelas 20h porque, sei lá, uma pessoa tem de fazer coisas e quer ver a criança, é a chamada loucura.

Fica louca. E eu também. As coisas descontrolam-se e, finalmente, quando ela adormece, fico a sentir-me horrível por não ter conseguido controlar-me ou não ter conseguido dominar a situação, etc. A culpa quando ela adormece... começo a rever os passos e a pensar como posso fazer diferente no dia a seguir. 


Isto porquê, gente? 

Não falando da culpa toda que sinto - isso posso falar no divã (ahah) - mas sim deste descontrole todo que existe ao final do dia, especialmente em crianças privadas de sono (e em mães cansadas também).

Quais são as consequências da privação de sono? 

São a vários níveis: no comportamento, no desenvolvimento socio-emocional, no desenvolvimento cognitivo, etc. 

As crianças têm vindo a dormir cada vez menos de geração em geração (por todos os motivos que já sabemos: os pais terem de sair tarde do trabalho, as deslocações...). 

Ao contrário dos adultos, a falta de sono nas crianças não se revela em bocejos e em apatia, mas sim em hiperactividade, irritabilidade e uma rápida falta de tolerância. E é sabido que alguns diagnósticos de hiperactividade mudam depois da criança passar a ter uma rotina adequada de sono (cuidado com isto, hã?). 

Dormindo menos que o ideal ou desejável não conseguem gerir tão bem (quanto possível para a idade) as suas emoções até porque revelam um nível de cortisol (stress) mais elevado. 

A privação de sono antes dos 3 anos pode perturbar o desenvolvimento verbal da criança e nas capacidades não verbais nas crianças de 5 e 6 anos. 

Além de que contribui para um risco acrescido de excesso de peso ou de obesidade.


Quanto é que as crianças devem dormir? 

Se conseguirmos estar atentas, conseguimos ver pelo comportamento deles, pelas olheiras, pela energia (excesso ou falta dela) que estão cansados. Geralmente, quando adormecem no carro, é porque estão em privação de sono evidente, por exemplo. 

Tudo depende da qualidade de sono da criança. A Irene, por exemplo, por ter alguns problemas respiratórios, a qualidade do sono dela é inferior, de momento, à desejável e, por isso não me posso reger pelos valores habituais. Nada como observarmos os nossos filhos, se conseguirmos. Digo muitas vezes "se for possível" ou "se conseguirmos" porque, durante muito tempo, não consegui por não estar minimamente calma. 

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Pediatria, estas são as recomendações de horas diárias de sono: 

1) Lactentes dos 4  aos 12 meses: 12 a 16 horas por 24 horas (incluindo sestas)

2) Crianças de 1 a 2 anos: 11 a 14 horas por 24 horas (incluindo sestas)

3) Crianças de 3 a 5 anos: 10 a 13 horas por 24 horas (incluindo sestas)

4) Crianças de 6 a 12 anos: 9 a 12 horas sono noturno por 24 horas

5) Adolescentes de 13 a 18 anos: 8 a 10 horas sono noturno por 24 horas


Aproveito também para deixar a tabela muito clara que toca às repercussões da privação de sono nas crianças: 



Só para não ficar aqui só um post de pânico geral, queria deixar algumas sugestões para melhorar a qualidade e quantidade de sono da criança (pode ser que ajude alguém que não saiba ainda):

- Criar uma rotina de horários de sono (mantendo-a aos fins-de-semana, tentando que haja apenas, no máximo, 30 minutos de diferença, de acordo com a SPP);

- Incentivar a utilização de um objecto de transição e respeitar essa necessidade;

- Não permitir a visualização de ecrãs e a utilização de aparelhos electrónicos pelo menos trinta minutos antes de adormecer;

- Ter uma rotina para deitar, os rituais e as ordens serem os mesmos;

- etc. 


Acima de tudo, o que queria deixar claro com este artigo é que não podemos responsabilizar uma criança que está em cenário de privação de sono pela incapacidade de gerir as suas emoções, pela sua hiperactividade e agressividade e pelas dificuldades de aprendizagem. 

Aquilo que poderá parecer uma atitude de revolta ou de falta de educação é, nestes casos, o melhor que a criança poderá fazer. Sendo da responsabilidade dos pais e da escola que a criança tenha o mínimo de sono adequado para a idade e para cada caso.

A Irene precisa de 11 horas mais uma sesta, ainda, por aí.

Tem sido difícil gerir tudo, mas só temos que fazer o melhor que conseguirmos.



Referências: 

Petit D, Montplaisir J. Consequences of Short Sleep Duration or Poor Sleep in Young Children. In: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Petit D, topic ed. Encyclopedia on Early Childhood Development [online]. http://www.child-encyclopedia.com/sleeping-behaviour/according-experts/consequences-short-sleep-duration-or-poor-sleep-young-children. Published December 2012. Accessed January 7, 2019.

Sociedade Portuguesa de Pediatria, RECOMENDAÇÕES SPS-SPP: PRÁTICA DA SESTA DA CRIANÇA, 1 de Junho de 2017. 

1.04.2019

Fomos à Serra da Estrela ver neve pela primeira vez!


No outro dia tinha planeado ir a Paris com a Irene, porque me apetecia e porque achei que ia ser uma boa viagem. Porém, quando vi as notícias, tive de cancelar. Ainda para mais indo só as duas. Não achei seguro e Paris poderá esperar - digo eu. 

Olhei para o calendário e havia as férias de Natal da miúda. Quero dar-lhe memórias, quero mostrar-lhe vida, coisas e lembrei-me de ir à neve. Ela falava de querer ver neve e, por isso, tendo em conta orçamento, idade e disponibilidade fomos à Serra da Estrela. 

Por ter feita a reserva um "bocadinho" em cima do joelho, os sítios mais giros estavam ocupados, mas acabámos por ficar numa casa em Vila Cova à Coalheira (gostava tanto de saber o que se passou para este nome) muito agradável. Posso dar-vos o nome, se quiserem. Se não quiserem escuso de meter aqui o nome porque aquilo que paguei, Jasus, dava para me banhar em litradas de cremes feitos de fetos de ovelha para todo o sempre - não foi assim tão caro, mas eu sou forretita. De qualquer das formas, duvido que exista mais algum sítio daquele género para ficar ali na Vila. 

Acordamos sempre com tudo cheio de gelo do lado de fora da janela do quarto, mas à hora de almoço o sol era tão bonito e forte... 


Fomos à Torre logo no primeiro dia. E, infelizmente, este ano, ainda não tinha havido neve. Porém, ainda nos deliciamos com alguns metros quadrados de gelo. Já deu para não poder ter outra alternativa se não tirar a etiqueta do fato de neve que lhe tinha comprado no dia anterior à pressa naquele centro comercial espanhol apesar de ter um nome que tenta disfarçar. 

Metrinhos de gelo na Torre.


Não compensou ir à Torre. A caminho, à beira da estrada, havia alguns pedaços de gelo com menos gente e menos carros que teriam servido perfeitamente. No entanto, a minha esperança era que lá em cima houvesse neve numa quantidade absurda. Não. Não havia. 

Fiquem a saber que - não sei se é verdade - mas reza a lenda que Na Torre nos dão queijo bom a provar e, depois, o que nos vendem  não é o mesmo. Achei o senhor muito simpático, não lhe estou a julgar o carácter, mas é história que corre por lá. Talvez para enganar os turistas. Só não comprei porque não queria o carro a tresandar a queijo. Só por isso. Onde se devem comprar queijos, pelo que me disseram, é na loja "da Maria" ali em Seia. É uma rua onde há 3 ou 4 lojas de produtos regionais e, do que percebi, são todas da Maria, pelo que não há que enganar. 

Na descida, tivemos que almoçar no Museu do Pão. O nome não me parecia nada atractivo para qualquer actividade que fosse. Haver um Museu do Pão desperta em mim uma vontade gigante de fazer stand-up sobre as ideias mais parvas para museus, mas fui convencida e ainda bem. Que restaurante e sítio fabulosos. A comida era óptima e o modelo de entradas e sobremesas em regime buffet também. Reservem. Pelo menos na altura da passagem de ano foi mesmo necessário. 

Aproveitamos para ir à festa de passagem de ano em S. Romão onde fomos brindadas com dois palcos "cheios de animação" - um chavão que a malta "do meio" usa quando já não tem mais nada que dizer. S. Romão tem imensos bons restaurantes, acabámos por almoçar num dia no Gato Preto e no dia 31 comemos umas sandes de leitão e de panado ali numa taberna no centro que eram um mimo. 

O Borges é um restaurante a não ignorar em Seia. É-se muito bem tratado, bom ambiente, carta reduzida e, por isso, bem cuidada. Comida acabadinha de fazer. Gostámos muito. 

Pelo caminho aproveitamos (estou a juntar dias, não fizemos tudo num dia que não andamos a drogar-nos, haha) e visitamos A Aldeia Natal em Cabeça. Além de cantares, de poder andar de pónei, comer crepes, beber ginjinha, também pudemos ver o presépio vivo (pessoas a sério que de vez em quando tinham de ir à casa de banho) e a beleza de Cabeça. Que vista inacreditável. 

Cabeça, A Aldeia Natal. 
Um mini-crepe de chocolate em Cabeça.


Loriga também nos recebeu de braços abertos. É uma vila, apesar de ter dito que tinha braços. Tem uma praia fluvial que nos deixou esmagadas. Ir ali no Verão é um paraíso. Nem imagino que haja tanta gente por cá que não conheça aquele segredo. Cada vez mais fã de praias fluviais. Uma frase que nunca pensei que viesse a dizer, confesso. Nem isso, nem Loriga.




Todos os caminhos na Serra tiram-nos o ar. A vista, a maneira como a luz vai mudando a cor das árvores. Por muito que a paisagem sejam semelhante, a temperatura da luz do sol vai fazendo com que haja sempre algo mais para ver.

As estradas são muito mal iluminadas à noite, tenham cuidado. 

De resto, foi uma experiência incrível que nunca esqueceremos e, ainda para mais, cá dentro. O nosso país está mesmo cheio de sítios maravilhosos para conhecermos. Quero mostrar à Irene também a riqueza que temos aqui bem perto de nós. Quero que se inspire para que quando lhe apeteça algo, já tenha ideia do melhor que há. A todos os níveis. 


Se e quando quiserem ir, já sabem. Foi isto que fizemos durante os 4 dias de estadia.

O que falta à lista? Querem acrescentar?