2.27.2018

Gostava que os médicos dissessem todos a mesma coisa.

Já não é a primeira vez que depois de uma situação estar aparentemente resolvida me apercebo do peso que tinha em cima dos meus ombros. Primeiro foi a mudança de escola da Irene (enganei-me na primeira escola ou, melhor, tive infelizmente uma má experiência) e agora também com esta questão dela ter que ser operada para por tubinhos, tirar amigdalas e adenóides. 

Se, para mim, os médicos sempre representaram um conforto e descanso e tudo o que diriam seria lei, aos poucos tenho vindo a ter mais algum espírito crítico baseando-me, claro, em várias experiências pelo meio. Há médicos que falam de coisas que não lhes competem, causando confusão em todo o lado por usarem a credibilidade que têm numa área para poderem falar de outras e isso deixa-me confusa e com medo. 

Fotografias: Yellow Savages


Havia uma frase que usava muito nos testes de história ou de filosofia para encher uma chouriçada e que era: "o ser humano é falível e, por isso tudo o que daí advenha não poderá ser perfeito". Não tinha tantas palavras, acho que quando era mais nova, tinha mais inspiração. 

Mais do que a culpa ser dos médicos é o meu desejo que fosse tudo simples e directo. Gostava que para cada pergunta só houvesse uma resposta e que toda a gente conseguisse ver o mesmo. Claramente que retiraria o lado interessante das coisas, o lado, lá está, filosófico, emocional, tudo, mas poupar-nos-ia muito tempo e muitas preocupações. 

Nisto da medicina, neste caso da Irene pelo menos, em que foi aconselhada vivamente a retirar e a  pôr coisas por ter muito ranho e ressonar, também há o seu quê de pessoal. Medir o incómodo da criança face o desconforto da cirurgia e respectivo recobro, ter em conta a recuperação física e também, já agora, a violência psicológica, não é unânime. Se compensa ou não talvez só diga respeito aos pais decidir e sabem que mais? Às vezes preferia não ter opção. Claro que aqui pelo meio também há o lado positivo: o alívio, um sono finalmente descansado, o  conforto de saber que os pais a podem ajudar nos seus problemas caso optassemos pela opção. 

Escolher implica pensar, pensar implica ter responsabilidade, responsabilidade implica culpa e, nas nossas mãos, a saúde e o conforto da pessoa mais importante da nossa vida. Cá estamos nós, sem conhecimentos "na área", devorando a internet e perguntando a todos os conhecidos com médicos na família opiniões e acabamos sempre por ficar mais confusos. 

Neste momento estamos a usar a velha técnica da "segunda opinião para ouvirmos o que queremos ouvir". Encontramos um segundo médico, igualmente respeitado que, olhando para os mesmos exames, desvalorizou tudo e disse que não é necessária nenhuma intervenção. E, aqui pelo meio, toda uma vontade de dar ouvidos a procedimentos alternativos - cuja palavra me deixa desconfortável ainda - mas que talvez devam ser sempre considerados. Tenho já para ler o livro Adenóides sem Cirurgia em casa, por exemplo.

Por isso, num mundo de sonho, tudo seria concreto. Não, tudo não, mas pelo menos no que tocasse às doenças e desconfortos, sim, isso agradecia. 

Não faço ideia se é este ou o outro médico que está certo, mas sei que se a Irene estivesse mesmo muito desconfortável que não duvidaria do que teria que fazer. Talvez só se deva intervir quando se tem a certeza. 





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E quando vamos trabalhar com eles doentes?

Não sei se é sentimento geral mas a mim parte-me o coração. Sinto como se estivesse a falhar. Como se houvesse uma ferida para lamber e eu deixo-a exposta e desamparada. Calma, pareço demasiado dramática e fatalista, mas estas metáforas assentam na perfeição. 

Não gosto. Não gosto de não estar. Claro que sei que fica bem entregue (com pai ou avós, caso tenham folga ou possam), mas sinto ser contra-natura, não sei bem explicar. Se calhar os pais sentem o mesmo.

Hoje estou a chegar ao trabalho e a Luísa ficou em casa, porque estava queixosa e chorosa a apontar para a anca (coisa que até agora nunca fez e parecia estar a melhorar). Nem sei bem o que isto significa. Sinto que não temos descanso. 

Ao trabalho. 



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2.26.2018

E vais amamentá-la até ela ir para a faculdade?

No outro dia, como algumas de vocês terão reparado, fui à SIC dar o meu testemunho de alguém que amamenta a filha com 4 anos. O que se tem chamado de "amamentação prolongada/tardia" mas que, realmente, não é nada mais nem nada menos que amamentação.

E, enquanto estava a ser entrevistada, fui-me apercebendo da quantidade de cenários imaginários que deverá haver na cabeça das pessoas que nunca passou por esta situação. À semelhança dos rapazes que, quando são novos, perguntam: "Se usas tampão, como é que consegues fazer xixi?". 

1) A Irene come outras coisas. 

A Irene toma pequeno almoço, almoço, lanche e jantar "como as pessoas". O leite materno não entra como complemento em nenhuma refeição. Consome bebidas vegetais e ocasionalmente um iogurte ou outro, mas nada frequente. 

2) Eu não ofereço mama à Irene. 

Eu não ando atrás da Irene para ela mamar, nem lhe ofereço mama. Eu amamento-a ainda por estar a respeitar o ritmo e a vontade dela. Creio que pouco terá que ver comigo a este ponto.




3) A Irene não pede mama ao longo do dia. 

A frequência das mamadas vai desaparecendo com o tempo (às vezes com previsíveis retrocessos em alturas que estejam mais carentes ou em saltos de desenvolvimento/crescimento). Neste momento só mama antes de adormecer (diariamente à noite ou, ao fim-de-semana, antes da sesta). A semana passada, por estar mais carente (e meia adoentada) pediu também mama de manhã, mas não é comum. Quando era mais pequena nem contava o número de vezes que ia à mama e é por aí que também passa a "livre demanda" (a maneira ideal de amamentar os bebés). 

4) Quando pede mama, espera. 

Eu que nunca fui a pessoa de "ahhh são só mamas, amamento onde for". Sempre que amamentei em público me senti um pouco desconfortável (por mim, mesmo que não houvesse comentários), mas tive de passar a fazê-lo. Era impossível fazer a nossa vida sem considerar essa hipótese e amamentar em casas de banho (e tinha de amamentar em pé que, em crises, era só assim que a Irene aceitava) não é de todo agradável. Nunca me apetece comer quando me cheira cocó. Mas isso sou eu. E, por isso, já desde há muitos meses que quando ela pedia mama e estávamos na rua eu explicava: "quando chegarmos a casa". 

5) Já não me doem as mamas ou pingo leite

Quatro anos depois a amamentação não é de todo o mesmo que no início. Já nem exerce a função alimentar (a de carinho, apêgo e de fornecimento de defesas e ajuda na construção de defesas) como incialmente. Pelo que as mamas não incham, não doem, não tem que se tirar leite, etc. 

6) "Mas isso não é já só vício?"

Nope. As crianças têm mesmo necessidade de sucção e até estando elas associadas à mama da mãe, vão gerindo a sua necessidade com algumas limitações, sendo que a mãe, por esta altura, já não está em todo o lado. Durante a noite também dormem sem ter que chuchar (se calhar há uns que, entretanto se habituaram à chucha e não tem mal :)), na escola não podem levar a mama da mãe atrás, etc. Faz sim, parte de um ritual, isso sem dúvida. Já reparei que, quando vamos dormir a outros sítios, há menor probabilidade dela se lembrar que quer maminha antes de adormecer.

7) "Mas vais amamentá-la até ela ir para a faculdade?"

Não. Até porque ela não vai ser obrigada a ir para a faculdade. Escolherá o seu caminho, sendo que a faculdade será apenas uma das opções (ahah, ela tem só 4 anos mas já pensei nestas coisas). Apesar de querer que seja o ritmo dela que determine grandemente a amamentação, o meu conforto e vontade também é importante. A idade "normal" de desmame na nossa espécie é entre os 2,5 e 7 anos de idade. Se aos 9 ainda mamasse, a situação teria de começar a ser gerida de outra maneira. Quanto mais aos 18. Ahah Nem imagino, ela estar a ouvir a Mega Hits, a fumar um cigarrinho entre mamadas (ahah).

8) Não te dói com os dentes? 

Miúdas, para quem teve um início de amamentação complicado, a fase dos dentes é só a coisa mais tranquila do mundo. No caso da Irene, ela mordeu uma vez, olhei nos olhos e comecei a fingir que estava a chorar e ela percebeu que me magoava. Tive sorte que me percebeu bem. Agora, com 4 anos de mamanço em cima, já ela sabe mamar a fazer o IRS ao mesmo tempo e eu também.




9) E as mamas? Têm ficado cada vez mais mirradinhas? 

Honestamente, até já começaram a melhorar. Dantes notava diferença quando estavam cheias e vazias, agora já estão sempre "neste estado". Não têm piorado, nada disso. Até tenho bicos nos mamilos, coisa que nunca tinha tido e que me faz sentir toda tesudona. Acho que até amamento só por causa disso.


10) Mas isso ainda faz alguma coisa?

Faz. Ajuda a passar defesas para o bebé e também ajuda na construção das suas próprias defesas. Isto além da questão emocional. Um bebé que sempre tenha mamado e que possa fazer o desmame ao seu ritmo tem uma experiência mais calma do processo. É como ouvirmos a nossa música preferida e, em vez de a ouvirmos até ao fim, alguém desligar a meio (enquanto dançamos e curtimos) e sem conseguirmos entender "porque é que me fizeram isto?". E, já agora, essa música preferida ser "a mãe" e ter sido a "mãe" a desligar.


Tudo o que já escrevemos sobre amamentação aqui. 
Fotografias: Joana Hall
Macacacões: Little Jack

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