Hoje até usei o desodorizante dele porque sabia que ia ficar a morrer de saudades. Sabem o quanto o cheiro nos faz sentir em casa, não sabem? Quando gostamos, quando estamos apaixonadas, o cheiro da outra pessoa funciona melhor que a melhor vela da Rituals (são caras, pá!). Faz-nos sentir abraçadas.
Foi a nossa primeira noite a sós fora de casa. O nosso primeiro mês de namoro. Foi precisamente há um mês que ele me pediu em namoro. Embora talvez hoje em dia já não pareça ser habitual, para mim, pedir em namoro é importante. É uma escolha, é o princípio oficial de um compromisso que vai além da química e das emoções. Assinala-se o respeito e a vontade de trabalhar em conjunto, de crescer individualmente, mas em dupla. Aceitei aos pulinhos, abraçada a ele - cheirando o desodorizante (não se preocupem que não é um post a vender um desodorizante) - e a tentar acalmar a cabeça, também ela aos pulos e cheia de pressa para viver tudo o resto. Sei que estou a viver um grande amor.
Chegámos ao Dream Guincho e fomos só nós. No fim-de-semana imediatamente anterior tínhamos estado em família com a Joana Paixão Brás e com o David na Nazaré e, por isso, soube ainda melhor viver o silêncio, ainda que recheado da química que temos entre nós. É visível, é palpável e, se querem que vos diga, um simples toque mexe comigo.
A menos de 30 minutos das nossas casas, senti que deixei para trás as preocupações. Deixei para trás o stress e também o peso de ser mãe. Ser mãe está cada vez mais entranhado em mim, no entanto, já não me sinto culpada por adorar não estar com ela, ainda para mais agora. Todos os momentos em que não estou com a minha filha servem para me dar alento e ainda mais amor para a encher de colo e beijinhos (como se ela me deixasse).
Lá chegámos. Fomos recebidos pelo caseiro Sr. João. Ele é de Trás-os-Montes e confesso que nos fez sentir em casa. Toda a decoração é maravilhosa. Muitos livros espalhados por todo o lado, o que acredito que tenha aumentado o FOMO tanto a mim como ao Miguel, mas com a sensação de casa de férias com personalidade. Gosto muito de minimalismo, do estilo nórdico, mas nada se compara a um sítio que seja decorado de dentro para fora e não para parecer um catálogo. O Sr. João faz um bolo maravilhoso que nos ofereceu assim que chegámos, juntamente com um chá vindo de Macau. Tomámo-lo junto à piscina que tem uma vista fantástica sobre o mar enquanto, discretamente, rezava para que o Miguel não comesse as duas fatias dele. Mas comeu. Ofereceu. Eu disse que não uma vez (vá, tinha que ser), mas lá embuchou o bolo do Sr. João como gente crescida.
Antes disso tínhamos estado estendidos nas espreguiçadeiras que estavam à nossa espera e bebemos uma limonada. Queríamos ler, queríamos continuar a conversar ou a inventar os jogos parvos que nos tinham surgido na praia, mas aquela vista impediu-nos disso. Fomos obrigados a sermos felizes e extremamente gratos não só por nos termos um ao outro, mas também por vivermos aqui, em Portugal. A praia do Muchaxo atingiu-me como um pontapé na boca quando cheguei. Caramba! Como é que passei anos a escolher praias por serem as mais perto de casa quando existe este paraíso apenas uns minutos mais longe daqui? Faz diferença. É a diferença entre comprar 10kgs de roupa na Primark ou uma peça de roupa incrível que vamos estimar e que nos assenta perfeitamente.
Todos os oito quartos têm o nome de uma obra importante. Ficámos no da Menina do Mar de Sophia. Gosto muito de dormir fora de casa. Confesso que me adapto bem a sítios baratos e que me adapto ainda melhor a sítios bons (ahah). Contudo, quando estou num sítio bom, ligo o botão da esquisitice e fico mais atenta aos pormenores. Torno-me implicativa e perfeccionista e anseio por apontar defeitos a tudo e mais alguma coisa. Entre os beijos que fomos dando e os abraços, consegui reparar que as toalhas eram as toalhas que gostaria de ter em casa, que o duche pede para que se tomem banhos a dois e sem olhar tanto ao desperdício de água, que os roupões são tão confortáveis quanto dormir com os nossos pés a tocar nos dele... Iluminação perfeita, materiais naturais, mobílias que contam uma história e não a de faltar um parafuso para que se aguentem montadas mais de uma semana. Mais livros. Muitos livros. E tanto, mas tanto Miguel.
Ficámos divididos entre ficar na piscina ou aproveitarmos a varanda do nosso quarto. Deslizámos para dentro dos roupões e ainda li um bocadinho da "Câmpanula de Vidro" que uma amiga (da qual tenho saudades, mas a vida têm destas coisas) me tinha recomendado. Tinha dito para ler quando estivesse bem. Três anos depois ou quatro, tal como prometido, comecei a lê-lo. E estava tão bem. O sol a pôr-se lá ao fundo a estender-se no mar, o céu a ficar com aquelas cores quentes como se fosse pintado a pastel e, ao meu lado, ele. Ele que me tem feito sonhar e que me tem feito viver o presente como se fosse um sonho.
Fomos jantar. Vestiu uma camisa branca que contrastou com o bronze que tem de ser uma pessoa maravilhosa cheia de amigos e planos. Às vezes derreto, noutras tenho um ataque cardíaco e muito raramente acredito que isto me esteja a acontecer. Estou a ter o privilégio de conhecer, de criar e de viver a vida com alguém que é tão apaixonante por dentro como por fora. Olhar para ele e saber ouvir mesmo o que ele não diz, dizer tudo (até demais) o que não consigo evitar é uma dança que me faz circular o sangue, sem ser preciso abocanhar Daflons que nem uma doida.
Jantámos em Cascais. Comemos tão bem. Parecíamos estar a festejar um ano de namoro, que espero festejar com o mesmo entusiasmo. Porém, o que sinto que festejámos foi o termo-nos encontrado e termos decidido deixar-nos entrar. Ainda que ambos tenhamos a nossa bagagem, arranjámos espaço. E, melhor, não a deitámos fora. Temo-la connosco. Honramo-la, não nos esquecemos dela e tornamo-la útil para amarmos melhor.
Voltámos ao Dream Guincho. Pusémos o código na porta. Tudo silencioso. Sentímos que a casa era nossa, só para nós. Assim como aquela lua cheia a reflectir na piscina. O som dos aspersores da relva e, com atenção, lá ao longe, ainda conseguíamos ouvir as ondas. Subimos até ao Menina do Mar e instalamo-nos na varanda a ouvir música baixinho. Fechei os olhos e encostei a cabeça para trás, isto com as pernas esticadas em cima de uma mesinha, a brilharem com a luz da lua e com o roupão um pouco acima dos joelhos. Não sei quanto tempo estive de olhos fechados, talvez duas músicas. Abri-os com saudades de o ver. Ele olhava para mim. Sorrimos com os olhos. E soubémos, mais uma vez, que é precisamente o nosso timing. Fez tudo sentido até aqui. Tudo de bom, tudo o que aprendemos e tudo o que somos faz com que encaixemos assim.
Tínhamos os cortinados abertos da janela gigante do quarto. Entrava aquele ar puro pelo Meina do Mar adentro. Dormímos com aquele momento parado no tempo nas nossas cabeças, sabendo que iríamos acordar ali naquele local que parece um cenário perfeito para o que nos tem atravessado.
Descemos e tomámos o pequeno almoço preparado pelo Sr. João e pela Dona Zulmira (tem uns olhos encantadores). A loiça tem personalidade também. Ao mesmo tempo que nos sentimos em casa, também nos sentimos parte de uma casa que recebe só os amigos mais próximos. A monotonia, a simetria e mais outros conceitos matematicamente agradáveis são postos de parte, optando pelo carinho e pela história. Bebemos chá e comemos iogurte grego com pedacinhos de ananás. Ainda fomos às torradas com manteiga e queijo, pedímos uns ovos com salsa e estávamos prontos para mais um dia na piscina. Mas e aquele quarto? E aquela varanda? E aqueles robes? Optámos por ir para a varanda e fazer uma das coisas que sabemos fazer melhor. Calma. Mesmo que o tivesse feito não vos diria. ;) Fomos gravar uns vídeos para o meu instagram a contar os jogos imbecis que tínhamos inventado na praia no dia anterior. Nunca tive um namorado ou namorada que fosse tão pateta quanto eu e que não se importasse de aparecer. Acreditem quando digo que vou tirar o melhor partido possível disto, ainda que ele possa acabar comigo para a semana que vem.
Conseguímos ir à piscina, antes que fosse buscar a Irene. Bricámos aos desfiles (aconteceu, sim) e aos mergulhos da malta que arregaça os calções até às virilhas. Talvez um dia o Miguel publique no instagram dele. Despedimo-nos do Sr. João e da Dona Zulmira e ficámos com vontade de celebrar ali todos os nossos meses ou, até, numa outra vida, todos os nossos dias.
Esqueci-me de vos dizer que conhecemos a criadora do Dream Guincho e que foi exactamente o que esperava depois de conhecer o espaço que preparou com tanto carinho. Uma mulher com visão e, acima de tudo, quem quer proporcionar paz a quem a procure e respeite. É disto que se trata ali: calma, paz e sentir que a vida é o que quisermos fazer dela.
Agora que já cá estou em casa, depois da Irene ter entornado - sem querer - o prato da sopa no chão, sinto que foi tudo um sonho. O que vale é que tenho estas fotografias para voltar sempre que quiser.
Tenho uma sorte enorme de ter espaço em mim para todas as eus que existem, sendo que todas elas amam amar e que o aprenderam com a Irene, mon cœur.
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