É por volta desta altura que parecem surgir os medos mais concretos. Noto que ela tem mais medo do escuro e das aranhas e coisas do género. Quando era mais nova, dizia que tinha medo mas não se comportava como se estivesse mesmo a imaginar que as coisas "más acontecessem".
Na primeira escola onde ela andou - estava eu toda desorientada - aconselhava-se aos pais que saíssem sem que eles reparassem. Que não era preciso dar um beijinho.
Sentia que era errado. Experimentei duas ou três vezes como a educadora tinha dito, mas não havia outra maneira. Passei a despedir-me sempre. Até porque na escola nova ("nova", este já é o terceiro ano), a educadora dos primeiros anos aconselhava a fazê-lo, mesmo que eles chorassem com a despedida, para confiarem que os pais não "desaparecem". Disse-me também para usarmos as frases "a mãe volta sempre".
Despeço-me sempre da Irene. Nunca é completamente fácil como já vi com outros miúdos, mas não tem de ser tudo igual para todos. Hoje, como está constipada, fui deixá-la a casa do pai. Já tinha tentado despedir-me dela no elevador para depois com a agitação não estar a pedir que ela se focasse em mim novamente.
O pai da Irene e eu falamos um pouco até sobre os cuidados a ter com ela por estar constipada e abri a porta do elevador para sair. A Irene estava a ver televisão e perguntou ao pai por mim. Voltaram a abrir a porta e ela veio ter comigo, abraçou-me e disse:
"Então, mãe? Esqueceste-te de mim?".
"Então, mãe? Esqueceste-te de mim?".
"Não filha, a mãe nunca se esquece de ti, nunca".
Nunca é demais certificarmo-nos que nos despedimos, mas aquele abraço precisava de acontecer.
A Irene a saltar no trampolim numa aula com o Chama a Sofia. |