Já que temos a Diana Lopes (terapeuta da fala) à distância de um e-mail, decidimos fazer-lhe algumas perguntas. Vejam lá alguma vos dá jeito! Obrigada, Diana :)
O que se deve fazer com os miúdos que comunicam por gestos para estimular a linguagem?
O que se deve fazer com os miúdos que comunicam por gestos para estimular a linguagem?
Muitas crianças usam gestos para conseguirem o que querem. A linguagem gestual pode ser uma ponte, mas deve ser superada. Se os pais/cuidadores entregam sempre à criança o objecto simplesmente apontado, a criança habitua-se e não aprende a usar a fala quando quer alguma coisa, sabe que basta apontar para adquirir o objecto pretendido. Isso, por vezes, leva à substituição da linguagem oral pela gestual. Embora a criança ainda não fale (ou mesmo quando fala) os pais/cuidadores devem explicar o que é aquilo e promover a oralidade incentivando-a a falar. Por isso, no momento em que a criança aponta para a água, é indicado que os pais perguntem "queres o quê?" esperando que a criança faça o pedido, incentivando-a a falar. Caso não o faço devemos dar o feedback: "Queres água? Então diz, eu quero água por favor".
Até que idade podem dizer piu-piu?
Pouco depois dos 12 meses, surgem as primeiras palavras apesar de cada criança ter o seu ritmo de desenvolvimento! Geralmente são monossílabos ou repetições de silabas, por exemplo, “ó-ó” para cama/dormir ou “mã” para mãe, correspondendo sempre a pessoas ou objectos significativos para o bebé. No entanto, uma vez dita a primeira palavra, o vocabulário da criança multiplica-se rapidamente, à medida que começa a experimentar novas palavras e a juntar novos sons.
Aos 18 meses, o vocabulário do bebé pode incluir entre quarenta a cinquenta palavras, ou até mais, conseguindo compreender cerca de duzentas palavras. Por esta altura, já é capaz de compreender frases e ordens simples, iniciando a produção de holófrases (por exemplo, diz “áua” para transmitir a ideia de “quero água”) e é capaz de nomear objectos familiares. Por volta dos 2 anos, usará cerca de duzentas a trezentas palavras, em que 50% dos sons são claros e inteligíveis, e compreenderá cerca de mil palavras. Este desenvolvimento da linguagem da nascença até ao momento, permite ao bebé compreender ordens mais complexas, dizer o seu nome e construir frases com duas a três palavras. Desta forma, aos 18 meses já não é suposto usarmos um discurso infantil com a criança, será uma boa altura para começarmos a dizer que "o pássaro faz piu piu" em vez de "olha ali um piu piu".
As "coisas" devem ser sempre tratadas pelo nome, desde muito cedo.
A Irene trata-se pela terceira pessoa e eu a ela, é grave? Devo fazer por alterar asap?
A Irene já tem 2 anos e 7 meses, sei que está dentro do que é esperado para a idade.
A Irene trata-se na terceira pessoa em todas as situações? Na creche, como se refere a si própria, a Irene ou eu? Se se referir a ela na terceira pessoa em todas as situações, devemos começar a usar o "eu". Uma das consequências de se tratar sempre na terceira pessoa é o não reconhecimento do significado do "eu".
Com os 3 anos, surgem capacidades gramaticais, como por exemplo, o uso de plurais e preposições, assim como a aplicação de questões no seu discurso (“a chamada idade dos porquês”). O vocabulário da criança é variado, permitindo-lhe compreender frases simples. Porém, na sua expressão as frases ainda são telegráficas respeitando a estrutura básica (Sujeito-Verbo-Objecto), por exemplo (“Irene quer leite”). É também nesta faixa etária, que surge a manipulação dos sons da língua através de jogos com rimas e de segmentação silábica, que será a base para a aquisição da capacidade de leitura, posteriormente.
É uma boa altura para deixarem de se tratar na terceira pessoa dando o Feedback correcto à Irene.
O sono e o desenvolvimento da linguagem?
Não existem estudos concretos que confirmem que o sono seja benéfico ou prejudicial para o desenvolvimento da linguagem. Contudo, pela experiência e pelo que observamos sabemos que o sono tem um papel fundamental em todas as fases de desenvolvimento da criança. Uma noite de sono mal dormida pode ter como consequência uma diminuição na atenção e na concentração também porque a criança fica mais birrenta. Assim, se não estamos concentrados/ birrentos a aquisição de novas informações (palavras novas, por exemplo) é prejudicada.
Contacto ocasional com os avós que insistem em falar abebezado é de corrigir os avós ou não tem influência?
Acabei por já falar um bocadinho desta questão do falar "abeberando" na questão "até que idade devemos dizer piu-piu".
Este acaba por ser um assunto sensível para os avós.
Quando dou algumas orientações aos pais, mais cedo ou mais tarde, acabo sempre por ouvir "mas Diana, eu faço isso mas quando ele está com os avós, é para esquecer. Os avós deixam-no fazer tudo o que ele quer, como quer (......)".
Os avós têm um papel muito importante na vida das crianças e no seu desenvolvimento. A relação de afecto, carinho e cumplicidade com os avós marcam a vida de uma criança para sempre. Os avós contam histórias, mimam, dedicam muito tempo aos netos e a grandes maioria das vezes acabam por ter mais paciência para os netos do que tinham com os filhos.
As crianças aprendem a falar pelos estímulos que recebem das pessoas que os cercam, ou seja, a criança só aprende a falar ouvindo alguém que fale com ela. Por este motivo, é muito importante darmos padrões correctos de fala às crianças, mesmo que sejam bebés. ~
Acaba quase por ser uma regra, quando as crianças começam a falar acabam sempre por pronunciar uma ou outra palavra de forma incorrecta mas a família cheia de felicidade de ouvir o rebento a falar tem a tendência de imitar a forma como a criança fala porque acha bonito, engraçado. Contudo, mesmo no meio das palavras "engraçadinhas" que são pronunciadas pela criança de forma incorrecta, o adulto deve sempre dar o feedback correctivo.
Da mesma forma que ninguém dá um alimento estragado a um bebé, não devemos também dar um exemplo de fala errado, visto que a criança imita o adulto.
Por isso, avós, dar muitos mimos, muito carinho, brincar muito mas usar sempre um discurso pouco infantil com a criança.
A linguagem e as emoções. A ajuda nas birras.
A criança tem uma expressão verbal limitada, e é através do comportamento que frequentemente expressa o seu mal-estar. As manifestações do comportamento podem tomar várias formas e, em diferentes crianças comportamentos idênticos, podem ter diferentes significados. Vejamos, como exemplo, as vulgares "birras", comuns em crianças pré-escolares, e que vão normalmente tornando-se menos frequentes com o crescimento, quando a criança passa a ser mais competente a usar a palavra para exprimir o seu pensamento e emoções. Quando falamos em "birra", referirmo-nos habitualmente a um estado de agitação em que a criança chora e berra, normalmente a seguir a uma frustração. O facto de não se conseguir expressar, fazer os outros entender o que quer, leva a um estado de frustração.
Tenho uma outra questão que não está aqui mencionada. Não sei se vale a pena colocá-la mas, em caso de dúvida digo na mesma. :) É normal uma criança de 2 anos e meio gaguejar? A minha filha, nas últimas semanas, hesita e gagueja a meio de algumas frases. Às vezes gagueja, outras não. Nós não lhe dizemos nada nem damos importância a isso à frente dela mas questionamo-nos se devemos procurar ajuda profissional ou se ainda é cedo uma vez que a miúda ainda agora é que começou a falar e ainda fala de uma forma muito incorreta. Obrigada. :)
ResponderEliminarmuito cedo! só por volta dos 4-5 anos é que deve ser avaliado. até lá é na maioria das vezes transitório e resolve
EliminarPurpurina, o meu filho teve o mesmo comportamento com essa idade. A educadora e a pediatra explicaram-me na altura que era a vontade de querer explicar-se mas ainda não tinha vocabulário para tal. Ele ficava mesmo ansioso e a gaguejar! Queria explicar tudo, passar muita informação, mas não sabia o que/como dizer e então era esse o resultado. Recomendaram-me que lhe dissesse "filho, fala com calma, a mãe está a ouvir-te" e ele lá repetia com mais calma e sem gaguejar. Assim como apareceu, desapareceu por si.
EliminarObrigada. :) Fico mais descansada. Beijinhos
EliminarA minha já tem 3 anos e meio e não para de gaguejar... nós vamos realizar uma grande mudança,iremos retornar ao Brasil, será que pode ter influência? Quando acontece eu falo pra ela respirar ter calma e falar novamente pq eu não consegui entendê-la...
EliminarOlá Purpurina, as respostas partilhadas estão correctas. Aguarde até aos 3 anos e meio e veja se nessa altura esses episódios de gaguez ainda ocorrem e, nessa altura, se necessário, estaremos cá para ajudar. Um beijinho
EliminarMuito obrigada. :)
EliminarMamã da menina com 3 anos e meio, os episódios de gaguez têm mais de 6 Meses? Para quando está previsto o regresso ao Brasil? Aconselho que procure um terapeuta da fala (fonoaudiologo, em Brasil) especialista em perturbação da fluência para despistarmos se é só algo transitório ou não. Tenho alguns contactos que lhe poderei passar caso seja necessário :)
EliminarCá em casa nunca houve ó-ó, nem dói-dói, nem au-au, nem chicha(?ou xixa?), nem pó-pó; só xixi e cocó. Sempre falamos com os nossos filhos com a mesma linguagem que utilizamos entre nós e a verdade é que os nossos filhos sempre foram muito elogiados pelas educadoras pela riqueza de vocabulário e rigor na sua aplicação.
ResponderEliminarRecordo-me de uma vez o meu filho (na altura com cerca de 3 anos) estar a ver os carros na rua e um senhor se dirigir a ele dizendo "estás a ver os popós...". Resposta do miúdo (que sempre foi maluco por carros e aprendeu as marcas todas assim que começou a falar): "popós?... Não, estou a ver um BMW!"
MUITO bom!!! É assim mesmo!! :D
EliminarIgual por aqui. Nem piu piu, nem xixa, nem popos, nem ó-o e por aí fora...quanto aos avis foram simpaticamente avisados que a linguagem devia ser a mesma que utilizamos entre adultos. Nunca houve cá dúvidas
EliminarMuito bem :) venham mais papás e mamãs assim! Beijinhos
EliminarMesmo ainda não sendo mãe achei este post bastante interessante e educativo não só para quem já tem filhos, mas também para aqueles que têm bebés na família como é o meu caso.
ResponderEliminarAdorei o post e deixo uma questão para um próximo, se não for pedir muito :) desenhos animados e músicas infantis noutras línguas são benéficos ou prejudiciais em tenra idade (26 meses no meu caso)? Obrigada :)
ResponderEliminarVou sugerir escrever sobre isso :) um assunto interessante! Beijinhos
EliminarNão lhe sei responder,... mas acredito que em parte sejam benéficos. Mas o que me fez escrever foi a barbaridade dos desenhos animados portugueses! É com cada 'calinada',... só agora que sou mãe reparei!
EliminarAbomino o: "A gente vamos!"
"sopinha de massas" aos 5 anos... é de levar a terapia?
ResponderEliminarNa altura disseram-me que sim.
EliminarSe for de Lisboa (distrito) sugiro-lhe a Ipsis Verbis, que fizeram um rastreio gratuito aos meus filhos no mês passado. Vão a casa sem levar nada e na altura dizem logo se acham que é para seguir para terapia ou não. O meu T. começou já porque com 5 anos tem de começar a falar "bem" por causa da entrada na 1ª classe. Está a adorar porque é tudo feito com jogos e com os bonecos que ele gosta :) :) :)
O site é www.terapiadafala.eu e têm também facebook
Até aos 3 anos e meio, sons como o "s", "z", "ch" e "j" já devem estar adquiridos. Escrevo sobre estes sons porque por norma são os sons alterados pelas pessoas que falam "sopinha de massa" (sigmatismo interdental). Aconselho uma consulta de terapia de fala para avaliação mais detalhada :)
ResponderEliminarÉ normal aos 2 anos um bebé dizer pouco mais de 3 ou 4 palavras? Sendo que emite bastantes sons, mas palavras ou tentar dizer as palavras.... Nada.
ResponderEliminarObrigado
Olá Ana, só agora me apercebi da sua questão.
ResponderEliminarApesar de tardia, segue a resposta.
Em relação ao desenvolvimento da linguagem, uma criança com 2 anos já compreende ordens mais complexas, diz o seu nome e usa frases com duas a três palavras.
Se o seu filhote está a usar poucas palavras, o discurso é pouco perceptível e não junta duas palavras para formar uma frase simples, peça ajuda junto de um profissional especializado neste caso um terapeuta da fala.