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7.16.2020

Ri-me mas depois fiquei a pensar...

“Tenho saudades de Miami”, disse esta amostra de gente, quando estávamos em casa, num dia destes. 



Claro que me parti a rir, para logo depois ficar a pensar sobre isto. É uma sensação maravilhosa saber que guardam memórias das nossas viagens, saber que gostam de conhecer o mundo e que o tempo em família é aquilo que mais as deixa felizes. 

Mas, por outro lado, pergunto-me se vão ter noção do privilégio que têm. 
Se vão conseguir continuar a dar valor às coisas mais simples. 
Se vão gostar de estar em casa, sem planos, e não exigir tanto da vida. 

Por isso, tinha planeado ficarmos por casa este fim-de-semana. Só que uma das melhores amigas, que tem casa de campo e piscina, acabou de nos convidar. É tentador, por todas as razões. Porque é tia delas e as adora. Porque a adoramos. Porque vamos poder refrescar-nos, vão correr e jogar à bola. Vamos conversar, rir, comer grelhados e brindar. Por que não? Porquê ficar neste T2 quente, sem ar condicionado? Ainda por cima depois dos meses por que passámos em que a liberdade era tão mais escassa. 
O que lhes/ me quero provar? 

Sim, a Luísa com 4 anos já viajou mais do que eu quando já tinha tinha carta e podia votar. Sim, já foram a mais hotéis do que eu quando já namorava.
Mas vou prescindir de tudo isto só porque tenho medo que se venham a tornar numas miúdas mimadas ou exigentes? 
Acho que consigo ensinar-lhes coisas importantes sem deixarmos de ter estes momentos bons em família. Acho que consigo,  no dia-a-dia, que se surpreendam com as coisas mais pequenas - aliás, as crianças são pródigas nisso: a ver mais além, a imaginar, a encontrar pormenores em coisas que nos escapam. Que se aborreçam com tédio, que é tão importante para criar. 
Espero conseguir passar-lhes uma dimensão do mundo, do esforço, das diferenças, de uma realidade que não se prenda no nosso umbigo. Sem perder a noção. Espero. 

Aproveitar, agradecer, dar valor... a tudo. 
Acho que é isto. Mas sei lá eu. 

5.26.2020

Disse-me que ia morrer e que ia ter saudades minhas...

Custou ler estas palavras? Imaginem o que senti quando as ouvi, repetidamente, antes de a adormecer. 

Primeiro, a Isabel perguntou-me se ela ia morrer. Já conversámos várias vezes sobre o assunto, nunca lhe menti, sei que faz parte terem momentos de ansiedade a pensar sobre o assunto.

Eu recordo-me perfeitamente de estar deitada na minha cama, pequenina, a pensar em qual dos meus pais morreria primeiro e o horror que qualquer uma das opções seria. Pensava também na minha morte e quando seria. Andei muitos anos a pensar que seria com 33 anos (deve estar relacionado com a idade de Cristo). Tenho 33 anos até 19 de junho, por isso, nunca se sabe (ahah esta era para desanuviar).

A morte não deve ser tabu, acho. Devemos falar sobre ela, tentar explicar numa linguagem que eles percebam, talvez não muito detalhada, simbólica. Eu evito dizer que pode acontecer a qualquer momento porque acho que isso lhe pode causar ainda mais ansiedade. Digo quase sempre que, normalmente, se morre já muito velhinho.

Mas não me lembro de uma crise tão grande nela, de um choro tão sentido. Quando me disse que ia morrer e que ia ter muitas saudades minhas arrepiei-me e tive de me morder toda para não desatar ali a chorar também. Perguntei-lhe por que achava que isso ia acontecer e ela disse-me que era porque engolia coisas do chão ou pêlos da gata, porque lavava mal os dentes (aqui confesso que me apeteceu rir, mas não o fiz) ou porque comia muitas "porcarias". Tentei não desvalorizar o sofrimento dela mas tentei explicar-lhe, com muita calma, que nada daquilo fazia com que alguém morresse. Que podíamos passar a ter mais cuidado com cada uma dessas coisas, mas para não se preocupar que não ia morrer. Abraçou-se tanto a mim que nem imaginam. Respirou fundo e adormeceu.

Se custou? Sim. Nessa noite, até o David foi espreitar se ela estava a dormir bem. A Isabel é uma miúda extremamente sensível, carinhosa, preocupada, atenta. Estive a tentar perceber de onde viria aquilo tudo, se estaria ou não relacionado com os tempos que atravessamos, com alguma coisa que possa ter ouvido, mas sinceramente, penso que não. Ela não está exposta a notícias nem a nada que se pareça e não falamos sobre isso à frente dela. Talvez tenham abordado o tema em algum dos desenhos animados que viu e isso me tenha escapado. O que quer que seja, ainda bem que ela tem a capacidade de desabafar e de conversar sobre o que sente.

Os vossos, falam da morte? 




5.10.2020

Adormeceu a soluçar com saudades da avó

E partiu-me o coração. 



Por um lado, tento imaginar que se estivéssemos emigrados também seria impossível estabelecerem contacto físico com os avós e a vida seguia. 
Por outro, sei que eles estão ali. E elas também. O meu pai sozinho há dois meses. A minha mãe tem um ecrã cheio de corações e máscaras do messenger a enfeitá-la. E o cheiro? E os abraços quentinhos? Elas sentem falta deles. Eu também. 

Eu achava que o pior já tinha passado, em termos de habituação, de mudança de rotinas. Psicologicamente, sinto-me mais estável até. Mas noto-as, nos últimos dias, mais desejosas de voltar. De voltar a ver os amigos, a escola (a Isabel pede-me - por favor, mãe! - para pelo menos ir um dia a esta escola, antes de mudar para a escola onde vai fazer o primeiro ciclo), os avós e os tios, as primas. Não é que estejam o dia todo a bater nessa tecla, mas de vez em quando descomprimem expressando a frustração de lhes terem alterado o esquema todo. 

Quando? Pergunto-me muitas vezes. Quando poderemos ver os meus pais e a minha avó? O máximo que aconteceu foi no dia 16 de março a minha mãe escrever na estrada, lá em baixo, "parabéns Isabel" e vir cantar os parabéns da rua. Ainda nem os visitei (mesmo mantendo distanciamento) por achar que dificilmente conseguirão manter uma distância de segurança. Que, por muito que lhes explique as regras, vai ser doloroso não poderem interagir fisicamente com eles. E quero protegê-los. E aos outros. 

Mas até quando? Também se perguntam isto? Até quando teremos de privar avós e netos ao que de mais precioso têm na vida uns dos outros? Até termos imunidade de grupo? Até encontrarem uma vacina? E haverá vacina para este vazio? Para acalmar os soluços da Luísa, que vêm normalmente à noite quando me pede para lhe cantar a música do Vitinho (a mesma que a minha mãe lhe costumava cantar quando a adormecia)? 

Acredito muito nesta necessidade deste isolamento (e os resultados estão à vista: fomos alunos bem comportados e estamos a ter boas notas). Temos de continuar a respeitar a distância, a higienização e tudo o mais, em prol de todos. Esta responsabilidade e consciência colectiva é bonita de se ver e traz frutos. Mas pergunto-me muitas vezes pelas lesões do coração. Nos colos vazios de netos, nas recém-mães sem rede de apoio, na solidão de muitos, que deixa mossa. 

Temos de dar mais colo uns aos outros, mesmo que de forma virtual. Palavras de esperança. Memórias boas, que havemos de repetir. Disse baixinho a Luísa: "está quase, um dia vais voltar a estar com a vovó". E vai.  


12.08.2019

Não, não gosto mais de uma filha do que da outra

Fotografia da Joaninha do The Love Project


Esta questão não surgiu por acaso. Aqui há coisa de dois meses, uma seguidora perguntou-me, no instagram, se eu gostava mais de uma filha do que da outra. Não faço ideia se foi por ela estar grávida do segundo filho e se teria esse medo (também eu tive receio de não amar tanto a segunda filha como a primeira) ou se estaria com essa sensação pelas minhas partilhas. 

Num dos nossos vídeos do Youtube, a Joana Gama também insinuou isso mesmo e eu, apesar de ter a certeza absoluta no meu coração de que isso não existe, fiquei constrangida, com dificuldade em justificar. Foi para o ar assim mesmo. 

Duas coisas (só porque também já vos pode ter passado essa ideia pela cabeça e assim fica o assunto arrumado):
- a Luísa aparece mais nos meus stories, vídeos e fotos porque a Isabel já tem momentos em que me diz que não quer (e eu respeito isso, como é óbvio)
- acho normal, nos primeiros anos de um filho, mostrar mais "gracinhas" e vibrar com tudo o que mostram e dizem e, à medida que vão crescendo, começar a reservá-los mais (digo eu)

A verdade é esta, dúvidas houvesse: amo as minhas duas filhas de forma arrebatadora e ímpar. É impossível ser de outra forma. Até me angustia pensar que algum filho possa sentir que um pai ou uma mãe gosta mais do irmão. Para mim, a escolha seria uma "Escolha de Sofia" (não sei se viram este filme duríssimo com a Meryl Streep).

Acho piada a coisas diferentes nas duas (até porque são as duas bastante diferentes), aprecio coisas diferentes nas relações que tenho com cada uma, mas AMOR? 

Não ando a medir com régua, mas daria a vida pelas duas, sem pestanejar. São as MINHAS FILHAS. São as minhas pessoas preferidas de todo o sempre. São incríveis. Adoro-as todos os dias, mesmo quando me moem o juízo. Quero que sejam as pessoas mais felizes do planeta. Tenho uma sorte do caraças. 

Não há ordem, nem escadinha, nem gráfico, nem escala para este amor. 

Não, não gosto mais de uma filha do que da outra. 


10.31.2019

Odiamos viver.

O quê? As bloggers não têm direito a não querer viver? Têm, têm. Não é por termos recebido um presskit na semana passada de pensos para perda de urina e, em tempos, nos terem oferecido um kg de queijo que não nos vamos queixar como as pessoas normais. Era o que faltava. Apesar desta nossa profissão de deusas também temos momentos em que odiamos viver. 

No dia de gravação deste podcast estávamos as duas piursas e fizemos questão de vos brindar com a nossa alegria.

Fotografias de quando estávamos felizes e tesudas. 


Domingo contem com um vídeo novo no nosso canal de youtube (já seguem?) como é costume ;)


Também está no Apple Podcasts ;)

10.20.2019

Racismo e homossexualidade: como explicámos às nossas filhas?

Bem, isto era para ser uma coisa e ficou outra. Deixámos a conversa fluir. A verdade é que, como pais, nunca temos certezas absolutas de como abordar certos temas, mas o mais engraçado é que, por vezes, nem temos de o fazer. Basta ver a forma descomplicada como eles resolvem os assuntos dentro deles e, afinal, somos nós que aprendemos uma grande lição: tudo é mais simples do que às vezes julgamos.



O que eu e a Joana Gama fizemos aqui foi um exercício sem termos aprofundado nenhum dos assuntos e sem estarmos sempre a tentar ser politicamente correctas no uso dos termos (as nossas opiniões são isso mesmo, com base na nossa sensibilidade e nos poucos documentários que fomos vendo, etc). Por isso, estamos à espera que venha desse lado mais alguma biblioteca sobre estes assuntos, sim? E até ajuda para a forma como nos referimos a "preto", "branco", se empregámos de forma errada a "etnia", etc. Queremos aprender. Sem "hate" desse lado, por favor.

Vamos a isso?





Entretanto podem seguir-nos também nos nossos instagrams: JoanaPaixaoBras e JoanaGama e claro, amaeequesabe.pt

Temos novo podcast, desta vez sobre sexo (estou corada só de pensar que vão ouvir, caraças).
Mas vá, coragem.

10.10.2019

À leitora: ando cheia de mim, sim, e ainda bem!

Olá leitora que disse que eu andava tão cheia de mim que até enjoava. 

E ando. Ando cheia de mim, finalmente. Não sei se vomidrine fará efeito nestes casos, mas talvez afastar-se de "mim" temporariamente (ou desistir por completo) e rever por que razão isto a faz sentir-se mal disposta fosse mais produtivo.

Finalmente ando a tentar encher o que andava vazio. Finalmente consigo ter mais auto-estima e ir ganhando mais confiança. Se todos conseguíssemos encher mais um bocadinho o que anda vazio - de emoções, não de coisas -, se todos pensássemos um bocadinho mais em nós, se conseguíssemos enchermo-nos de coisas boas, talvez o mundo ficasse um bocadinho melhor, talvez não andássemos todos tão frustrados, tão magoados, tão revoltados, a ver o que os outros têm e nós não; o que os outros são e nós não. Se isso lhe faz confusão, talvez devesse rever, em si, por que razão isso a faz sentir algo negativo. Normalmente projectamos nos outros inseguranças nossas.

Percebi que deveria - enquanto consumidora de conteúdos, de redes - deixar de seguir algumas pessoas quando estive na eminência de lhes enviar mensagens ou comentar a forma como aquilo que diziam ou mostravam me incomodava, de certa forma. Como tenho, além de dedos no teclado, alguma consciência, antes de carregar no enter, apaguei e fiz unfollow. Até que ponto tenho de ser eu a definir o que os outros devem ou não mostrar, dizer e pensar? Até que ponto a minha opinião seria construtiva ou traria algo de bom àquela pessoa? Por que razão eu iria continuar a sentir coisas negativas a respeito de pessoas que eu nem conhecia e às quais só acedo a uma ínfima parte? Era bom para quem aquilo? Eu respondo por si: para ninguém.

Que bom que é eu andar numa fase em que me sinto mais cheia de mim, sem tanto medo de fazer ou dizer o que bem me apetecer, de falar sobre os assuntos que me interessarem com o tom que me surgir, de me mostrar em biquíni quando eu bem entender ou enrolada num lençol amarelo às pintas. Liberdade, tão bom que é vivê-la. E nada disto tem a ver com humildade ou falta dela. Nem tudo o que publico, penso e digo gira em torno de mim e do meu ego. Não ando propriamente apaixonada por mim, a olhar-me no reflexo da lagoa. Mas - e já o disse aqui - tendo começado a resolver várias coisas que me afastavam de um amor-próprio que tanta falta nos faz (porque não me castra, porque me lança para a frente, me desafia), estou sim, mais consciente. Do meu poder em mudar aquilo que penso e sinto sobre mim e sobre o que me rodeia. Do que posso melhorar. Gustavo Santos encarnou em mim e manda um oi.

“A tua opinião sobre ti próprio torna-se a tua realidade. Se tens todas essas dúvidas, então ninguém vai acreditar em ti e vai correr tudo mal. Se pensares o contrário, o contrário vai acontecer. É simples.” 50 cent - falei sobre isso aqui.


Linda comó sol - e pode olhar-se de frente 


E só para não dizerem que estou cheia de mim, passo a publicidade à minha clega, que eu adorooooo (a ver se me perdoa a dívida do almoço do outro dia). A Gama vai dar espectáculo com a sua outra clega, aquela super gata, a Rita Camarneiro (que agora está com os olhos todos lixados que é para ver se aprende o que é ser uma pessoa que é só médio-gira). É no próximo dia 24 no Maxime Comedy Club e era giro se se sentassem ao meu lado na plateia, a mostrar que não é por sermos pais que não sabemos rir a bom rir (eheh malucos do riso). 




Domingo voltamos com vídeo novo no Youtube, stay tunned (tão jovem que ela é). Subscrevam, pá.
Ciau!!!


10.01.2019

E se o 50 Cent tiver razão?

Sabemos a teoria: mais do que dizer como se faz, é fazer para que vejam. Mais do que ensinar-lhes que têm de dizer olá, agradecer, serem gentis com os outros, é preciso que nos vejam a fazê-lo. Que nos vejam a sê-lo. Mais do que dizer que são corajosas e fortes, ou que não faz mal chorar, ou que nos podem contar sempre tudo, é preciso que nos vejam ser corajosas, ou até a chorar, ou contar-lhes coisas sobre o nosso dia ou sobre nós para que percebam que há espaço para partilha, que não é unilateral. E que também nos vejam pedir desculpa, a reconhecer que erramos.

Mas será que o que dizemos sobre nós próprias à frente delas, não define também em parte as coisas que vão pensar e dizer sobre elas? Tenho uma grande amiga (olá Millia!) que há muito me diz que as expressões que dizemos sobre nós - “ai que parva!” “sou mesmo trapalhona”-, os rótulos que nos colocamos, mesmo que com sarcasmo ou no gozo, definem muito do que sentimos sobre nós, limitam-nos, e isso condiciona-nos muito. “Se não dirias isso à tua melhor amiga, não o digas de ti própria”. Sou muito castradora em relação a mim. Dantes achava que não era mau ser tão crítica e exigente, que era melhor ser a primeira pessoa a baixar as expectativas sobre mim para não defraudar ninguém e que até tinha graça. Talvez fosse apenas insegurança, mas eu até o via como um exercício pragmático de humildade. Só que o que achamos sobre nós, a prateleira onde nos arrumamos, pode definir muito aquilo que conseguimos atingir.

O 50 cent (sim, estou a citar o 50 cent eheh) disse uma coisa muito gira: “a tua opinião sobre ti próprio torna-se a tua realidade. Se tens todas essas dúvidas, então ninguém vai acreditar em ti e vai correr tudo mal. Se pensares o contrário, o contrário vai acontecer. É simples.” Se formos mais optimistas, mais positivos e mais gentis, coisas boas virão. Dantes acharia este discurso boring e demasiado concurso de beleza, agora acho-o essencial até (chamem-me velha). Por isso, mudar o mindset só pode ser bom. Sermos boas para nós próprias, sem estar sempre a acrescentar camadas de culpa, camadas de julgamentos, sem estarmos a reforçar sempre o que temos de “errado”, é libertador. Ainda estou a aprender a fazer isto, não é de um dia para o outro. A linguagem e o pensamento treinam-se. E conseguem mudar o (nosso) mundo.

Fotografia: Joana Sepulveda Bandeira do The Love Project


E é isto, por hoje. Espero que tenham gostado e assim me despeço, com cordialidade (haha),



Podem seguir-nos no instagram em www.instagram.com/amaeequesabe.pt
Este é o nosso último episódio, que podem ouvir no Spotify, Soundcloud, Anchor FM e Apple Podcasts.

E este é o nosso último vídeo, que saiu ontem.

Está <3 <3 <3 Vejam e subscrevam o canal, se gostarem :)




9.29.2019

Não senti nada pela minha filha quando nasceu.

Bem, tal como algumas vocês dizem (às vezes de maneiras menos charmosas): "vamos por as mamas da Joana Paixão Brás" de parte. Só durante um bocadinho. Ainda que, com aquele aconchego, suspeito eu que nunca tenham estado tão juntas.


Bom, falemos de coisas mais... coiso. 

É bem polémico este título, mas não deixa de ser verdade. Quando a Irene nasceu, houve algo em mim que pareceu não funcionar. Pelo menos de acordo com aquilo que eu esperava e tinha visto nos anúncios de televisão ou que as outras mulheres me tinham contado. Será expectável? Terá sido consequência de um parto atribulado? Ou apenas o desenrolar previsível de alguém que estava aterrorizada com a experiência de ser mãe? Seja como for, há coisas que todas nós podemos tentar garantir para termos partos melhores. Ouvindo os relatos umas das outras talvez nos dê mais ideias daquilo do qual nos podemos tentar proteger e até sugerir. 

Este foi o post que escrevi em Dezembro de 2014 que reuniu muitos comentários de mães que passaram pelo mesmo. Somos muitas: https://bit.ly/2mKIANj








Podem seguir-nos no instagram em www.instagram.com/amaeequesabe.pt




Um podcast que podem ouvir no Spotify, Soundcloud, Anchor FM e Apple Podcasts. ;)



E ainda uma iniciativa para a qual convidamos marcas parceiras. O "a Mãe é que sabe ajudar". A Joana e eu vamos a casa das mães vencedoras dar uma mão naquilo que precisem e também levamos ajudas preciosas. Quem nos queira contactar, poderá fazer através do e-mail amaeequesabeblog@gmail.com. 


9.13.2019

"Se não lhe bato, faço o quê?"

Ontem, a meio de uma conversa lembrei-me de um grande desafio que tive de ultrapassar com a Irene. Inexplicavelmente (ainda que a nossa cabeça consiga arranjar milhares de explicações, claro), houve uma fase em que perante qualquer contratempo que mexesse mais com o meu ego, cansaço e insegurança, o meu instinto era levantar a mão à Irene. 

Ela não me obedecer, ela não fazer o que eu precisava, não reconhecer o meu esforço, os meus sacrifícios deixavam-me muito frustrada. E, infelizmente, a minha falta de ferramentas e a minha falta de capacidade momentânea para arranjar ferramentas pareciam deixar-me num beco. 

"Se não lhe bato, faço o quê?"

Tenho a "sorte" de ter recebido algumas palmadas e muitos gritos. E fiz o exercício de voltar atrás e rever o que isso me fazia sentir. O quanto me sentia incompreendida, sozinha e menos amparada por quem precisava mais que me amparasse. 

Aí prometi. Lembro-me de já ter prometido quando era mais nova a não ser assim. Mas voltei a prometer agora mais crescida. Vou mesmo dar a força que sinto que me resta (vamos sempre buscar mais) e dar-lhe tudo o que tenho para não levantar a mão e arranjar alternativas.


Isso implicou ler. Implicou chorar. Muita frustração. Ouvir muitas opiniões que me "deixavam" insegura. O "deixavam" está assim escrito porque os comentários só deixam alguém inseguro se essa pessoa já estiver, aumentam a insegurança. Quem está verdadeiramente confiante não se deixa abalar. Ainda que isso possa ser uma utopia. 

Ajudou-me ver a Irene como uma mini-eu. Bem sei que esta projecção poderá não ser saudável se estendida a um campo maior, mas ajudou-me a vê-la. Como pessoa, como mini pessoa que está a ir buscar em mim o significado da maioria das palavras e, acima de tudo, o do amor. 

Apercebi-me que a maneira como a ajudo a resolver os conflitos ou como lido com as explosões de frustração dela, de cansaço e de tudo o resto, é como mais tarde ela poderá vir a resolver com os seus filhos ou até como agora poderá lidar com os colegas ou até comigo. 

No início finge-se (mal e porcamente) a empatia. A voz fica hipnótica e sentia-me falsa, a representar. Porém a dinâmica mudou (temos vindo a crescer) e a empatia sai-me do coração. Consigo ouvi-la e vê-la. Já não se trata de paciência, mas de carinho. 

Não vejo os obstáculos como algo pessoal, mas sim como um desafio e até uma oportunidade para ensinar ou sugerir aquilo que considero melhor. Sendo que o "melhor" é o que lhe traga mais felicidade agora e depois e também aos que a rodeiam. 

Estou a focar-me em criar um ser humano bonito, ainda que venha a falhar. 

Queria só deixar uma palavra de incentivo a todas as mães (e pais) cujo o primeiro instinto também tenha sido ou ainda seja o de levantar a mão que é possível guardá-lo no bolso e ficar com os braços livres para abraçar. É uma mudança lenta, feia, mas com um final muito feliz e um crescimento muito grande. 

A relação muda e faz bem a todos.

Se acharem por bem, partilhem pelos vossos amigos ou familiares que notem que têm a mão mais rápida, pode ser que ganhem fé em si e na mudança porque é possível (e necessário). 

Um beijinho e bom fim-de-semana, já agora ;)





Aproveito para vos dizer que ontem saiu o segundo episódio do nosso podcast "a Mãe é que sabe" em que falamos de tudo menos de maternidade - só para desenjoar um bocadinho. Está disponível no Spotify, SoundCloud, Apple Podcastas e Anchor FM. Aproveitem para fazer boas reviews que, como ainda é novo, a Apple ainda está a ver se vale a pena ou não ;)




Além disso, esta semana (tal como todos os Domingos), publicamos um novo vídeo, este sobre as 5 piores coisas da gravidez. Já subscreveram o canal? ;)




Para além disso,se conhecerem marcas que estejam interessadas em entrar no nosso projecto de ajudar mães nas primeiras fases mais difíceis de ter um bebé, falem connosco através do e-mail amaeequesabeblog@gmail.com. Ok?

9.09.2019

Sou má mãe?

Sei que esta pergunta já vos deverá ter passado, pelo menos uma vez, pela cabeça. Talvez não como "sou má mãe?" mas como "fui má mãe"?. 
Li algures que só pelo facto de questionarmos, de sentirmos que pudemos ter falhado em alguma circunstância, significa que nos preocupamos e, por isso, não somos. Se fossemos más mães, não queríamos nem saber.

Ontem questionei-me. Depois de um dia fantástico de praia e de cansaço, não estavam a jantar nada de jeito. Levantavam-se 22087 vezes da mesa, fugiam, riam, voltavam, comiam uma colher, "não quero mais" e lá seguiam. Eu dizia que não se podiam levantar, que tinham de comer, senão iriam ficar com fome, etc. Até estava calma. Acho. 

Chegou a uma altura em que fiz um ultimato. Ou comiam ou eu iria assumir que estavam cansadas e que teríamos de ir lavar os dentes e dormir e no dia seguinte logo comeriam. Fiz duas tentativas, dei-lhes mais duas oportunidades. Avisei que seria a última vez que podiam voltar à mesa. Cumpri. Fomos lavar dentes e cama. A Luísa começou logo a dizer que tinha fome. A chorar desalmadamente. A pedir desculpa. Mas eu senti que fome não estariam, de facto, a passar, que tinham lanchado bem, ainda petiscaram qualquer coisa do jantar e que aquela demonstração de desagrado - totalmente compreensível e válida - foi precisamente porque achou que eu não seria capaz de fazer aquilo. 

Fiz. Não voltaram a sair do quarto e adormeceram, depois de bastantes lágrimas, pedidos e lamentações (e a Isabel a dizer que não iria conseguir adormecer enquanto a Luísa estivesse a fazer birra, todo um filme).

Senti que esta consequência lhes mostraria algo e que teria efeito, a médio prazo. Claro que a meio me apeteceu desistir, mas não quis mesmo mostrar-lhe que eu desistiria sempre que ela chorasse. Foi o combinado, elas ouviram bem, as regras estavam claras e a consequência foi esta. 

Não foi fácil. Tudo o que mexe com emoções, culpa (e pedidos de desculpa), necessidades básicas, acaba por custar bastante. Mas educar também é isto. E crescer enquanto mãe também.

Não sou má mãe. Não somos más mães.

Somos mães que erram, que querem melhorar, que se sentem abençoadas e que, por vezes, só desejavam um minutinho de silêncio. Mães que às vezes andam à procura de uma identidade, que sentem que perderam algumas coisa, mas ganharam outras. Mães que nuns dias descomplicam e que noutros são assombradas por dúvidas. Mães cheias de coragem e de vontade de educar seres fantásticos.




Ontem foi assim. Hoje há de ser melhor.

8.14.2019

Deixem as "mães obcecadas" em paz!

Só agora. Só agora passados 5 anos é que me sinto mais confortável por estar a ganhar a minha identidade completa. Quando fui mãe, houve parte da Joana que parecia ter morrido, como se não houvesse espaço para mais nada a não ser para a minha filha. A minha vontade imensa de lhe dar tudo o que ela precisava, a minha "ceguez" custou-me muito descanso, sanidade e relacionamentos. Mas, honestamente, 5 anos depois - e mesmo já antes - está a compensar. Tenha sido por isso também, juntamente com a genética, a personalidade ou pelas outras pessoas envolvidas no crescimento da Irene, que a nossa miúda está a transformar-se num ser humano fantástico. Orgulho-me gigantemente dela, da sua beleza interior, da sua vontade de compreender as coisas, de as questionar. Quero criar alguém que se procure e não apenas alguém que exista. Quero dar-lhe as melhores ferramentas que tenha. 


Amamentei durante 4 anos e meio. Sozinha acordei todas as noites. Mudei-lhe praticamente todas as fraldas e todos os banhos. Não podia sair de casa durante a noite durante muito tempo (ou até separar-me dela durante o dia) por causa da amamentação e por ela me procurar. Também por reparar que na Irene o factor descanso influencia gigantentemente a sua disposição e resiliência. Tudo foi sempre pesado e "ser pela Irene" era sempre o que ganhava. Com gosto, muito, mas com muito sacrifício. 

Este foi o meu caminho e sou humilde agora ao ponto de saber que existem outros e que cada uma deve percorrer o seu, desde de que de forma consciente. Honrando o privilégio que é podermos ser mães, podermos aprender com uma criança e bebé a bebé estarmos a criar o futuro.

Não saí, não convivi, não passeei. Exagero? Talvez, mas o tempo vai passando. E quando estamos prontas vemos o que existe. E a verdade é que agora, 5 anos depois, estamos prontas para mais espaço. Um espaço que não me faz sentir culpada por ter sido ganho com paciência e calma e, acima de tudo, por ambas estarmos preparadas. 

Sempre preferi que as coisas fossem a meu custo e não a custo da Irene. Até porque vendo bem as coisas, fazendo "pela Irene" era o que me faria melhor a longo prazo.

Pelo caminho muitos comentários. Sobre tudo. Muita falta de compreensão (por falta também de conhecimento da minha vida e de como funciono), mas sei que estive sempre certa ainda que tenha queimado metade da minha cabeça. Ou, quiçá, me tenha tido que aperceber que metade da minha cabeça estava em obras quando nasceu a Irene. 

"A mãe também é mulher", mas não eram as idas ao cabeleireiro nervosa pela Irene acordar e sentir que a mãe tinha saído que me faziam mais feliz. Nem seria se tivesse continuado a trabalhar durante o ano "sabático" que tirei para ficar com ela. Ficar no trabalho sem grande trabalho (por me ter sido mãe), à espera que o tempo passasse e a tirar leite para o pai lhe dar também não me fez sentido.

Tive a sorte de não ter que a pôr na escola antes dos dois anos e meio. Não a quis por antes de estar preparada. E embora não tenhamos sido felizes com a escolha que fizemos, agimos conforme aquilo que acreditámos ser o ritmo dela e não o nosso. Foi uma sorte. 


Agora a Irene dorme em casa do pai, dos avós. Fica com amigas minhas se precisar de sair para trabalhar ou, apenas, se precisar de sair. Chama-me poucas vezes à noite e raramente. Fica com o meu pai e com a minha madrasta ou durante umas horas com a minha mãe se me apetecer espairecer num centro comercial.

Neste caso sempre tive noção do médio e longo prazo. Com tudo. Com o desgaste, o sacrifício, tudo. Ter um filho para mim foi um compromisso gigante em que obviamente desequilibrei a minha balança e que também, por causa disso, trouxe algumas dificuldades (ser mãe e não ter espaço para ser a Joana levou-me à insanidade temporária), mas sei que o fiz por amor e por descargo de consciência. 

Quanto aos comentários de quem não sente o mesmo, podemos ouvi-los, digeri-los e aproveitá-los para repensarmos a nossa necessidade de sermos exímias (uma ilusão mas que no meu caso significa dar tudo o que posso e tenho e a mais não ser obrigada). Podem incluir soluções para equilíbrio, para menor sacrifício, mas há que respeitar o ritmo de todas nós. 

Porque, no fim, quem vai lidar com isso somos nós mesmas também. E eu estou a lidar extremamente bem com todas as decisões que tomei até agora, ainda que me tenham custado sanidade temporária. A insanidade é temporária a relação com os nossos filhos e a relação deles consigo não. 

Claro que invejo quem consegue fazer tudo isto, criar crianças perfeitamente felizes e não ter que desequilibrar a balança. É uma aprendizagem. Talvez num segundo filho o "sacrifício" não seja tanto. Mas para esta filha foi. Porque tinha de ser. E está tudo mais do que bem 5 anos depois. 




8.12.2019

Sentem que não têm família?

"Ai que vem aí mais um post todo dramalhão da Joana Gama!"
"Já no outro dia disse que quando era mais nova pensou em morrer e viu que deu likes, agora vai ser a blogger deprê". 

Amigas, sempre fui a blogger deprê deste blog. Disso já ninguém me livra. Mas, por acaso, hoje não há cá dramalhões, antes pelo contrário. 

Sei que estou a dois posts de escrever um livro de auto-ajuda, mas não me importa, porque uma das coisas que me faz ter vontade de escrever neste blog - além de passar férias aqui e ali em troca de umas mençõezinhas - é ter o prazer de me cruzar convosco e de me dizerem que já vos ajudei nalguma coisa. Nem que seja a não serem como eu, vá. 

E isto tem sido fabuloso. 

Vamos à auto-ajuda? "Vaaaamos, Joana! É mesmo isso que nós queremos ler quando estamos de férias, coisas que nos façam pensar ou que nos mostrem o quanto andas feliz já que durante 3 anos só te ouvimos dizer que davas mama e não bates na Irene."

Talvez seja igual para muita gente, espero que sim por um lado e, por outro espero que não. A minha noção de família nunca foi daquelas tipo "caixa de cereais" ou anúncios de televisão. De alguma maneira sempre senti que a minha família estivesse partida. Talvez, sim, por ser filha de pais divorciados mas havia algo mais. Da parte do meu pai, apesar de até achar que gostam um dos outros, não tomam iniciativa de se reunirem e o tempo vai passando. E, do lado da minha mãe, só nos reunimos em ocasiões festivas e, mesmo assim, é comum estar-se "com fogo no rabo" para se desembrulhar os presentes, por a máquina da loiça a lavar e seguir em frente. Isto piora quando não nos sentimos identificados com a nossa família por alguns motivos, quando nos sentimos "a carta fora do baralho". 

Ora, durante muitos anos, lamentei-me de não ter a família que um dos meus ex-namorados tinha. Todos próximos, todos a rir, todos sempre felizes por estarem uns com os outros. Ou a família da minha melhor amiga que falam todos todos os dias ao telefone. Custava-me ninguém me ligar para combinar coisas ou que, quando ligassem fosse um festival de perguntas e nunca fosse uma conversa agradável. Às tantas segui em frente e pensei "criando a minha família, acabam-se os problemas". 

Mal sabia eu que tinha razão. Depois de ter morto o ideal de família - sei lá se existe quando se vê de perto em qualquer uma - e depois de ter sentido a extrema solidão (ainda que fabricada ou o quer que fosse), apercebi-me de uma coisa que o meu pai já me tinha dito em relação aos amigos: "Joana, há amigos para tudo: para os copos, para desabafar, para jantar, para sair, para férias... raros são os que servem para tudo ao mesmo tempo". 

E a família pode não ser a ideal. Podem não ser aquilo que desejávamos e cabe-nos a nós saber de quem nos queremos aproximar e como. 

Finalmente a família do lado do meu pai parece estar a compôr-se. Tomei algumas iniciativas assim como um dos meus primos e temos tomado alguns cafés e chegámos até a almoçar no dia de Natal. Soube tão bem e acho que a todos. Ao ponto de ter surgido espontaneamente a ideia de irmos de férias para a "terra" da família e todos fomos sem reticências. Fomos a Pinhel. 

Eu, o meu pai, a minha madrasta, o meu irmão, o meu primo, o meu priminho e fomos ter com o meu tio. Passei alguns dias lá quando era mais nova, tenho muitas lembranças e, realmente, a família dá-nos um sentimento de pertença gigante que nos completa. 

Fomos às muralhas, fomos a vários restaurantes, a Irene deitou-se tarde a brincar com o tio e com o primo. A minha madrasta deu-lhe a mão na rua para passearem, o meu pai meteu-se com a Irene a fazer-lhe brincadeiras, o Tiago jogou xadrez comigo e com ela, ensinou-a a jogar qualquer coisa no telemóvel, deram mergulhos na piscina, comeram gelados juntos, contámos malandrices de quando éramos mais novos... 


Visitamos a casa dos nossos avós, os nossos antigos terrenos, os actuais, fomos ao restaurante onde trabalha o meu tio (e que, já agora, aconselho vivamente e que se chama Entre Portas, se forem ver as críticas no Trip Advisor, percebem que não estou a ser parcial, de todo). O dono, o Tá, ensinou-me a ser DJ tinha eu para aí uns 7 anos e tratou-me todo contente, como se eu fosse agora uma celebridade. Senti-me mesmo em casa. E foi mesmo onde comemos melhor em Pinhel, caso vão apitem que posso também dar outras sugestões.

Logo na primeira noite a Irene disse que eram as melhores férias de sempre (e, atenção, que já teve o rabiosque em Cabo Verde este ano) e pelo que sei o meu irmão também disse o mesmo e já tem 13 anos.

Às vezes andamos a inventar, à procura de pessoas, de sítios de coisas para fazer e, afinal, voltar às origens e com quem partilhamos tão mais do que contas de instagram e whatsapps sabe muito melhor.









Pinhel é lindo e a minha família também.
Mais do que cumprir datas, obrigações é estar porque se quer. Quando se quer, quando faz sentido.

E tinha mesmo razão em construir a minha família.

Se sentem que não têm família, conseguem aproveitar a que têm como querem e podem?




8.06.2019

Já quis morrer.

Estou sempre a pensar em maneiras de vos animar a noite. Achei que este post vinha a calhar. 

É mentira. 

No outro dia, quando fui passar férias com a minha melhor amiga a Armação de Pêra, num dos últimos dias decidimos ir dar um longo passeio pela praia. Sem levar telemóveis. Fizemos praticamente a praia toda. Soube-nos bem. Cantámos, dançámos, conversamos e, por fim, tivemos de parar um pouco por me doer um pé. 

Quando nos sentamos, no pareo que a minha amiga tinha comprado numa das lojas preferidas dela em Armação, olhámos para as gaivotas bebés que voavam por cima de nós. Ainda a aprender a voar, isto sob um wallpaper natural perfeito: um pôr do sol em cima do mar, um espelho.

Não nos poupámos às palavras nestas férias. Depois de ter sido mãe, de me ter casado e tudo o resto, ainda que a nossa amizade tenha perdurado, o formato foi-se moldando. Chamavamo-nos de namoradas antes, ainda que nunca tenha havido nada entre nós nem qualquer tipo de atracção. 

Como não tenho irmãs é um pouco fora de mão para mim estar a dizer que é "como se fosse ter uma irmã", mas é mais do que isso. A família - por vezes - poderá dar-nos algum conforto no sentido em que sabemos que teremos para sempre um laço que nos ligue e que nos faça voltar mas neste caso não. Neste caso, construímos mesmo a nossa relação tendo por base preferência, amor e respeito. Sendo que recentemente aprendi que um é indissociável do outro. Lição aprendida. 

Sentámo-nos no pareo. E, mais uma vez, não nos poupámos às palavras. Não me poupei eu. Apesar da Susana e eu sempre nos termos dito que nos amávamos, sinto que só agora estou a compreender a magnitude e a sorte de nos termos uma à outra. Somos perenes. 

Sentei-me. Parei. Sem telemóvel. Ao lado da minha melhor amiga. E expliquei-lhe que estava a tentar absorver tudo o que estava a ver e a sentir. Tinha a perfeita noção, a certeza, de que este seria um dos melhores momentos da minha vida, ali. 

Expliquei-lhe o quão grata estou por nos amarmos tanto assim, por toda a história que partilhámos juntas e que tenho a certeza que nunca nos iremos perder. Que bom sentir isto. 



Que bom sentir isto porque ainda me lembro. O meu corpo ainda se lembra. Ainda que o meu cérebro, para funcionar, tenha criado algumas gavetas, tenha racionado memórias e tenha tido a capacidade de me ir apresentado o que preciso de processar devagarinho. 

Grande parte da minha vida foi sentida como uma corrida. Um acto de sobrevivência. Compreendo que tal não seja compreendido por muitos por nunca me ter faltado onde dormir, roupa lavada, comida e até bons colégios. Por alguma razão ou - outra lição aprendida - por várias razões senti tudo muito à flôr da pele. Tanto, tanto que, às tantas, deixei de sentir. Senti tanto que a minha única ferramenta foi desligar-me de tudo. 

A única coisa que era capaz de sentir e que me fazia sentir viva era a tristeza, a dor, a mágoa e o abandono. Tudo junto dá uma tristeza gigante. Ainda para mais na cabeça de alguém que, por estar focada na corrida, na sobrevivência, não conseguia sentar-se num pareo na praia e fazer uma digestão do que poderia estar a entupir-lhe o coração. 

Lembro-me que durante muito tempo (sendo que qualquer pouco tempo a sentir isto será muito) quis morrer. Vou explicar-me melhor: não queria sair da cama, só queria dormir, não conseguia sentir prazer em nada, apenas medo e dor. 

Mesmo as coisas boas que me rodeavam ou as sortes a que sentia ter direito me passavam completamente ao lado. Tornando-se até, por vezes, maldições em vez de coisas boas. Eram mais coisas com as quais teria que lidar e sozinha. Sempre sozinha. Porque por sentir tudo na pele como sempre senti e não conhecer mais ninguém como eu, também me sentia estragada. 

Viver era um tormento e não uma dádiva. O tempo passava rápido demais por não sentir nada de bom com ele e lento demais para quem queria um dia estar bem. 

O que pensei para continuar a corrida foi "um dia, se não quiser mais... mato-me". Sabia que, ao final do dia, da semana, dos exames, o quer que fosse, teria sempre essa opção. Não era obrigada a suportar mais do que conseguisse. Não tinha que enfrentar todas essas emoções sozinha para sempre. Por isso "vou esforçar-me ao máximo", mas tendo consciência que, se quiser, um dia, ponho um fim a isto. Talvez fosse o medo também a falar mais alto e a querer procurar algum controlo. 

Era real, porém. Por duas vezes ia tendo dois desastres grandes de carro: num deles ia caíndo num buraco gigante que tinham aberto para fazer um prédio na Amadora e noutro na A5 na entrada para Caxias, aquela curva a 90º. Em qualquer uma das duas, quando estava prestes a embater (nunca cheguei, tentei sempre virar o carro e travar) senti que o meu corpo e cabeça estavam em sintonia: "se morrer, morro tranquila, pode ser". Não um tranquila de "fiz tudo o que tinha a fazer", mas mais numa de "ok, óptimo, já está, posso sair". 

Fui-me arrastando, o melhor que soube. Usando sentido de humor, lidando com a ansiedade o melhor que conseguia e podia, sentindo-me sempre estragada. Não havia mais ninguém como eu. E sei também (ou julgo que sei) que pessoas que se sintam assim raramente têm os ouvidos e os olhos limpos para conseguir ver algo mais para além de nós mesmos. Isto é, mesmo que existisse mais alguém como eu, seria incapaz de a ver. Estaria destinada a sentir-me sozinha para sempre. Mesmo entre namorados, algumas saídas com amigos, cafés no bar da faculdade, tudo. 

Um dia estive noutra situação em que senti que podia morrer num desastre de automóvel. Na volta seriam só toques ou mazelas superficiais mas a minha cabeça pintou a morte como das outras vezes. Dessa vez já não senti o mesmo. Senti o contrário. Senti "não quero morrer, não quero mesmo morrer". 

Arde-me agora o nariz por estar a começar a chorar. 

Quase que não me lembro do percurso até esse dia. Não me esqueço do trabalho sobre suicídio que escrevi na faculdade. Lembro-me deste sentimento e pensamento: "não querro morrer, mesmo". 

Depois de me desviar ou de me salvar ou de deixar de estar em perigo chorei. Chorei imenso e ri. Imagem excelente do que é estar insana, mas nunca me tinha sentido tão sã na vida. Afinal queria viver. Agora quero. 

E agora sou capaz de sentir os melhores momentos da minha vida enquanto acontecem e não como culpabilidade à posteriori por não os ter conseguido sentir, por não ter estado presente. 

Ainda que a primeira parte da minha vida tenha sido sentida assim com toda esta dor, acabei por receber uma grande biblioteca de emoções negativas que também me tornam capaz de sentir grata e feliz hoje. 

Orgulho-me de sempre, mesmo quando totalmente perdida, me ter orientado para a luz (não essa, mas esta que sinto hoje). 

E este blog também faz parte do processo. Tal como a psicanálise. Tal como a pesquisa sobre como ter referências para educar e amar a Irene. O yoga, o pilates, a natação, a alimentação, os treinos, os amigos, o amor, a comédia. 

Só quando somos tudo o que somos é que nos sentimos por completo. 

On my way. Everyday. 


Duvido que alguém tenha lido até aqui, mas só a partilha já me alegra. <3


8.05.2019

Isto da Irene ser filha única...


Ontem, a Irene e eu quisemos marcar alguma coisa para hoje, para irmos à praia com casais com filhos ou até só com os filhos. Fizemos videochamadas a torto e a direito - depois vim a reparar que foi precisamente à hora de jantar - e ninguém podia ou estava cá ou atendeu. 

Estar de férias em Lisboa em Agosto não é esperto nesse sentido, acho que é a minha primeira vez. Dantes, quando trabalhava numa empresa, era a minha altura preferida para estar cá: pouco movimento, pouco trabalho... era um sossego. 

Agora preciso de amigas com filhos. Liguei a todas (vá, são menos que 10 ou assim). É nestas alturas que compreendo as famílias com mais de uma criança (só nestas). Não precisam de combinar coisas com malta para animar as coisas ou, pelo menos, para a animação não depender dos crescidos - gostava de, às vezes, poder ler um bocadinho ou assim. 

Bom, pelo lado positivo: ensinei a Irene a fazer planos com pessoas. A como reagir perante a recusa e como adaptar os planos perante o resultado. Isto é ir buscar optimismo ao fundo do saco, bem sei, ahah. É um talento que tenho agora. Gostam?

Mais alguém que esteja por cá em Agosto? 

A Irene de férias com os pais e com os avós. Por acaso também foi num hotel sem muitas crianças, daí achar que ela está a ressacar também ;)


7.30.2019

Estaremos a criar miúdos-reis?

Tenho sempre algumas dúvidas quando o tema é este: decisões e escolhas dos nossos filhos. E as nossas. Claro que nem tudo tem de ser 8 ou 80 e que podemos ir decidindo, enquanto pais, ao longo do tempo, que espaço lhes dar para fazerem as suas escolhas. O reforço da autonomia é importantíssimo e acho castrador e limitador quando, apesar de já terem 5 anos, lhes continuarmos a escolher a roupa do dia-a-dia sempre ou a ditar quando devem parar de comer. A escolher que livro vão ler ou com que brinquedos devem brincar. A não os deixar participar em conversas à mesa ou a alimentar o espírito crítico deles. Ou, como a Joana Gama disse aqui, a não deixar que ouçam a sua voz interior.

Agora, preocupa-me que (não sendo esse o caso porque não conhecemos as razões nem o contexto em concreto), sejam os nossos filhos a ditar quando devemos ir embora de algum sítio em que nós queremos estar [a não ser, claro, que estejam doentes ou que não estejam em algum sítio apropriado e em horários porreiros para crianças], que comida vão comer num buffet, mesmo que para isso, escolham 79 pratos diferentes e "não gostem de nenhum", ou, como li, em comentário, se queiram ir embora porque não estão a gostar das férias. Não queria com isto estar a julgar (porque não conheço a missa à metade), mas eu acho que as crianças podem passar por momentos em que não estão felizes nem realizadas. Momentos de frustração, de tédio, são essenciais e só lhes faz bem aprender a lidar com escolhas "infelizes". Não era aquele o gelado que queriam ter escolhido e comido, paciência... Para a próxima, escolhem outro. E já muita sorte têm.

Não lhes podemos fazer as vontades todas, mesmo. Não podem ser eles a ditar irmos uns dias mais cedo das férias para casa. Lamento, mas não. É importante eles perceberem que não estão sozinhos neste mundo e que os outros também têm vontades. Que não há justificação para termos investido dinheiro numas férias para os meninos quererem "ir para casa". Faz-lhes bem passarem por esses dias de puro aborrecimento (mesmo que isso implique, para nós, ter de lidar com um feitio mais especial), porque vivemos em família, em sociedade, e eles não são reis. E isto estende-se até à adolescência. Se formos a pensar na quantidade de vezes que eu e o meu irmão quisemos ficar a dormir até às 16h da tarde, mas "temos pena, vivemos em família e devemos respeitar as regras da casa". Pelo menos almoçar em família e levantar o prato... é o menos! E, mesmo assim, já me cheira a hotel mamã que chegue! 

Não estaremos, quando desejamos que os nossos filhos sejam livres e façam as suas escolhas, também a colocá-los num pedestal enorme e a esquecermo-nos de que a vida é feita de contrariedades? A queda não será maior? Não será melhor irem caindo de sítios mais baixinhos, com pequenas lições dadas com muito amor? Estando lá para amparar a queda?

Eu acho que sim. Acho que não devemos ligar ao primeiro "não" que eles nos dão porque, às vezes, até eles estão a testar esse não. Nem eles sabem bem. Acho também que nem tudo é negociável.

Sei que se eu não tivesse incentivado a Luísa, aula após aula, a ir para a piscina, na natação, já não lá estava. Nunca disse que "tinha de ir" mas usei estratégias porreiras, como dizer para ir molhar os pézinhos, mostrando-lhe que eu estava lá, e passados 5 minutos já lá estava dentro e feliz. E isto aconteceu numas 3 aulas. Íamos no carro para lá e já me estava a dizer que não ia entrar na piscina. O que é certo é que agora adora as aulas. 

Fotografia The Love Project

Claro que eu tenho várias dúvidas, sempre. Mas também acho que lhes passamos inseguranças, quando lhes passamos a mão pelo cabelo e lhes legitimamos todas as contrariedades. Eu prefiro estar perto delas, validando as suas tristezas e vontades, mas fazendo-lhes frente, mostrando-lhes o lado bom de cada situação, até mesmo das que achavam que não iriam gostar.

Isto sou eu. E atenção que não sou irredutível nem inflexível. Vou avaliando, caso a caso. Como em tudo na vida.