Custou ler estas palavras? Imaginem o que senti quando as ouvi, repetidamente, antes de a adormecer.
Primeiro, a Isabel perguntou-me se ela ia morrer. Já conversámos várias vezes sobre o assunto, nunca lhe menti, sei que faz parte terem momentos de ansiedade a pensar sobre o assunto.
Eu recordo-me perfeitamente de estar deitada na minha cama, pequenina, a pensar em qual dos meus pais morreria primeiro e o horror que qualquer uma das opções seria. Pensava também na minha morte e quando seria. Andei muitos anos a pensar que seria com 33 anos (deve estar relacionado com a idade de Cristo). Tenho 33 anos até 19 de junho, por isso, nunca se sabe (ahah esta era para desanuviar).
A morte não deve ser tabu, acho. Devemos falar sobre ela, tentar explicar numa linguagem que eles percebam, talvez não muito detalhada, simbólica. Eu evito dizer que pode acontecer a qualquer momento porque acho que isso lhe pode causar ainda mais ansiedade. Digo quase sempre que, normalmente, se morre já muito velhinho.
Mas não me lembro de uma crise tão grande nela, de um choro tão sentido. Quando me disse que ia morrer e que ia ter muitas saudades minhas arrepiei-me e tive de me morder toda para não desatar ali a chorar também. Perguntei-lhe por que achava que isso ia acontecer e ela disse-me que era porque engolia coisas do chão ou pêlos da gata, porque lavava mal os dentes (aqui confesso que me apeteceu rir, mas não o fiz) ou porque comia muitas "porcarias". Tentei não desvalorizar o sofrimento dela mas tentei explicar-lhe, com muita calma, que nada daquilo fazia com que alguém morresse. Que podíamos passar a ter mais cuidado com cada uma dessas coisas, mas para não se preocupar que não ia morrer. Abraçou-se tanto a mim que nem imaginam. Respirou fundo e adormeceu.
Se custou? Sim. Nessa noite, até o David foi espreitar se ela estava a dormir bem. A Isabel é uma miúda extremamente sensível, carinhosa, preocupada, atenta. Estive a tentar perceber de onde viria aquilo tudo, se estaria ou não relacionado com os tempos que atravessamos, com alguma coisa que possa ter ouvido, mas sinceramente, penso que não. Ela não está exposta a notícias nem a nada que se pareça e não falamos sobre isso à frente dela. Talvez tenham abordado o tema em algum dos desenhos animados que viu e isso me tenha escapado. O que quer que seja, ainda bem que ela tem a capacidade de desabafar e de conversar sobre o que sente.
Os vossos, falam da morte?
Minha Isabelinha ❤️ que miúda mais sensível. Saudades delas. E tuas
ResponderEliminarImagino que nao deve ter sido nada fácil, nao sei como reagiria a uma coisa dessas. Acho mesmo que chorava...
ResponderEliminarO meu marido teve covid19 logo no inicio da pandemia. FOI leve e no geral esteve bem. Um dia a minha filha que tinha completado 7 anos dias antes veio ter comigo cabisbaixa, de repente começa a chorar em prantos que nao queria que o pai morresse...pelos vistos tinha ouvido as professoras a comentarem que o Covid matava e ela assumiu que matava todos que apanhassem (gracas a Deus, nao é esse o casa). Apanhou-me desprevinida completamente e quase que eu desatava a chorar...enfim. Beijinhos grandes para a Isabel e para a Luisa e para ti que essa conversa nao pode ter sido facil.
ResponderEliminarPara quem possa precisar deixo a sugestão de um post sobre como lidar com o pânico. https://www.mhresources.pt/2019-09-08-como-lidar-com-o-panico/
ResponderEliminarSim...muito...perguntas como:"quando se morre voltamos depois a nascer e começa tudo de novo outra vez?" ou " quando morremos viramos uma estrela ou esqueleto?"..Chora antes de adormecer, diz que não quer morrer, que nunca mais nos vai ver...tento tranquilizá-lo,conversar com ele com calma, dizer-lhe que as pessoas que amamos nunca morrem se continuarmos a falar delas e a recordar o que de bom vivemos com essa pessoas.Mas fica muito aflito, compreendo-a bem.É uma fase, há-de passar.Um beijinho.
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