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6.09.2020

Estão tão felizes de volta à escola (e eu também)!

Disclaimer: Não quero incentivar-vos a meterem os vossos filhos na escola. Acho que esta é uma decisão muito pessoal. Não temos todos as mesmas condições, as mesmas necessidades, as mesmas estruturas familiares, as mesmas escolas, modos de funcionamento. Todos temos e tivemos de pesar os pros e os contras. 




Tomámos a decisão de irem quando se colocou a hipótese de eu recomeçar a trabalhar já em junho. Ligaram-me e talvez viesse a ter trabalho em breve em TV. Como poderia vir a saber de um dia para o outro, achámos melhor que a transição para a escola fosse uma coisa suave e que começassem a ir menos horas enquanto eu as pudesse ir buscar mais cedo. Têm ido das 10h às 16h30, mais coisa menos coisa. 

Uma coisa que me descansou foi o facto de terem um bom espaço exterior e ser lá que iriam passar a maior parte do dia. Tivemos uma reunião de quase 2 horas para ficarmos a saber como iria ser o funcionamento da escola. Percebi (já calculava) que não iria faltar mimo, que os miúdos poderiam brincar juntos (sei que algumas de vocês acharam graça àquela imagem dos helicópteros na cabeça que andou por aí a circular - a ideia era os miúdos terem umas hélices tão grandes, num suporte na cabeça, que lhes delimitavam o espaço e impedia que se aproximassem; eu não gostei mesmo nada) e, muito importante, que iriam fazer várias atividades na rua. Acho que no primeiro dia então, só foram dentro para almoçar e para a sesta. Posto isto, a confiança na escola e nas educadoras, auxiliares, etc foi um factor decisivo para mim.

Outro factor a ter em conta, para nós, foi a proximidade com pessoas de risco. Os meus pais não o são, por exemplo. Os meus sogros, sim. Por isso, agora que tomámos esta decisão, é provável que só os voltemos a ver depois de estarmos de férias e com menos contactos. Veremos.

Sossegou-me bastante ter visto uma entrevista recente a uma infeciologista pediátrica portuguesa; ter lido outros artigos e ter conseguido vencer o meu medo. 

Depois de tomada a decisão, e mesmo tendo agora a noção de que muito provavelmente só voltarei a ter trabalho em tv em julho, já não as tiro da escola tão cedo. A não ser que haja indicação para isso. 

Elas estão outras. Logo no primeiro dia, notei uma diferença tremenda. Chegam a casa e vão brincar. Mal se lembram de que têm uma TV em casa. Estão mais colaborativas. A Luísa voltou a fazer sesta. Fazem o caminho todo de carro a contar as novidades, ao que brincaram, o que comeram, sem que lhes pergunte nada. Querem partilhar as novidades e a sua felicidade comigo. As descobertas que fizeram. O balancé novo. A brincadeira às bruxas boas ao pé da árvore. O "quantos queres" que fizeram. A lanterna. 

Estão mais calmas, mais felizes, acho que precisavam muito desta rotina, destas companhias e, também, de encontrar este espaço individual. Cada uma, sozinha, com os seus amigos e educadoras. 

Para finalizar, percebo que este seja um tema que divide muita gente e eu percebo. Eu também dizia "não tendo necessidade real, elas não vão". Até cheguei a pensar que seria egoísmo meu ir pô-los na escola estando em casa, com trabalhos esporádicos. Que só deviam ir os filhos de quem não tem outra opção. Mas quem define "necessidade real"? Quem me diz que não era uma necessidade que precisava de colmatar nas minhas filhas? Uma necessidade emocional? 

E não, não temos de nos catalogar como pais extremosos e dedicados VS. pais que não têm paciência para os filhos, só porque se toma esta decisão. Ou pais medrosos VS. pais inconscientes. 

As minhas filhas não estão a ser "cobaias" de nada, como aí vi escrito sobre este assunto. Às minhas filhas foi devolvida uma rotina mais agradável, um jardim, amigos que adoram, aprendizagens e, também, uma mãe mais equilibrada, depois destes meses. Todas as decisões são legítimas, desde que feitas em consciência, pesando os prós e os contras e de acordo com cada escola e família. 



Esta foi a nossa decisão.



5.10.2020

Adormeceu a soluçar com saudades da avó

E partiu-me o coração. 



Por um lado, tento imaginar que se estivéssemos emigrados também seria impossível estabelecerem contacto físico com os avós e a vida seguia. 
Por outro, sei que eles estão ali. E elas também. O meu pai sozinho há dois meses. A minha mãe tem um ecrã cheio de corações e máscaras do messenger a enfeitá-la. E o cheiro? E os abraços quentinhos? Elas sentem falta deles. Eu também. 

Eu achava que o pior já tinha passado, em termos de habituação, de mudança de rotinas. Psicologicamente, sinto-me mais estável até. Mas noto-as, nos últimos dias, mais desejosas de voltar. De voltar a ver os amigos, a escola (a Isabel pede-me - por favor, mãe! - para pelo menos ir um dia a esta escola, antes de mudar para a escola onde vai fazer o primeiro ciclo), os avós e os tios, as primas. Não é que estejam o dia todo a bater nessa tecla, mas de vez em quando descomprimem expressando a frustração de lhes terem alterado o esquema todo. 

Quando? Pergunto-me muitas vezes. Quando poderemos ver os meus pais e a minha avó? O máximo que aconteceu foi no dia 16 de março a minha mãe escrever na estrada, lá em baixo, "parabéns Isabel" e vir cantar os parabéns da rua. Ainda nem os visitei (mesmo mantendo distanciamento) por achar que dificilmente conseguirão manter uma distância de segurança. Que, por muito que lhes explique as regras, vai ser doloroso não poderem interagir fisicamente com eles. E quero protegê-los. E aos outros. 

Mas até quando? Também se perguntam isto? Até quando teremos de privar avós e netos ao que de mais precioso têm na vida uns dos outros? Até termos imunidade de grupo? Até encontrarem uma vacina? E haverá vacina para este vazio? Para acalmar os soluços da Luísa, que vêm normalmente à noite quando me pede para lhe cantar a música do Vitinho (a mesma que a minha mãe lhe costumava cantar quando a adormecia)? 

Acredito muito nesta necessidade deste isolamento (e os resultados estão à vista: fomos alunos bem comportados e estamos a ter boas notas). Temos de continuar a respeitar a distância, a higienização e tudo o mais, em prol de todos. Esta responsabilidade e consciência colectiva é bonita de se ver e traz frutos. Mas pergunto-me muitas vezes pelas lesões do coração. Nos colos vazios de netos, nas recém-mães sem rede de apoio, na solidão de muitos, que deixa mossa. 

Temos de dar mais colo uns aos outros, mesmo que de forma virtual. Palavras de esperança. Memórias boas, que havemos de repetir. Disse baixinho a Luísa: "está quase, um dia vais voltar a estar com a vovó". E vai.  


Parir em tempos de Covid-19

Quando soube que estava grávida de gémeos, soube que vinha aí um grande desafio. Não acreditei quando o médico me disse, achei que estava na brincadeira, fartei-me de rir com o seu sentido de humor e, depois, de chorar. Lá estavam eles, cada um na sua bolsa, a partilhar a mesma placenta. Porquê? Um daqueles milagres da genética, um óvulo e um espermatozóide que se dividiram em dois. Fiquei a saber que abundam casos destes na minha família. Eu é que não sabia. Também não sabia que, meses mais tarde, o desafio iria subir de nível. Ia ter gémeos no meio de uma pandemia.

Vim para casa de quarentena no dia 19 de Março, com um caso suspeito na escola do meu filho. Já estava grávida de 33 semanas e, na altura, não sabia bem as implicações que este vírus ia ter no parto. Ao longo dos dias, fui assistindo às notícias que davam conta de mães infetadas que eram isoladas dos bebés à nascença, de leite materno desperdiçado, de pais excluídos do momento do parto e de induções desnecessárias. E num contexto de tanta morte, de tanta solidão na morte, de caixões que se acumulam, de funerais sem pessoas, lá estava eu do lado oposto, a gerar duas vidas e, no entanto, profundamente angustiada.

Há uma enorme romantização da gravidez e do parto, que faz com que nos sintamos um pouco ridículas por nos sentirmos assim. Quando os tiveres nos teus braços, vais ver que fica tudo bem, diziam-me. Mas é um momento extremamente violento, duro e decisivo para a vida dos nossos filhos. E às vezes os bebés não vêm para os nossos braços. E às vezes não fica tudo bem. E quando não fica tudo bem, não há profissional de saúde, por mais profissional e humano, que substitua aqueles que amamos.

Foram muitas as vezes em que me pus a pensar em duas variáveis opostas desta pandemia: isolamento e relações sociais. As segundas têm sido constantemente espezinhadas pelo primeiro e encontrar o equilíbrio acaba por ser uma missão impossível. Privilegiar questões emocionais parece estar fora de questão e, no entanto, elas não ficam em stand by. Vão crescendo, na solidão.

Falei com o meu médico, em quem confio muito, e percebi perfeitamente as decisões. A culpa – se é que interessa – não é dos hospitais. Infelizmente, na maioria dos hospitais públicos, não há condições para garantir acompanhantes em segurança. Devia haver. Devia haver um esforço do governo para possibilitar a criação de condições. Mas não há. Felizmente, a questão da separação mãe bebé quando a mãe testa positivo para Covid-19, no caso deste hospital de Lisboa, fica à decisão (informada) da mãe.

Com isto, quero dizer-vos, grávidas desta pandemia, sintam-se no direito de estar revoltadas, tristes, angustiadas. Ou felizes por não terem que levar com os beijinhos repenicados das vossas quarenta tias afastadas nos vossos bebés desta vez. Ou defraudadas, por terem criado uma expectativa que não se vai concretizar. Ou ansiosas na esperança de que isto mude. Não deixem que ninguém vos revire os olhos e vos diga que no tempo da Maria Cachucha não havia cá pais (nem epidurais!) e que as coisas aconteciam na mesma. Sintam-se como sentirem, um abraço apertado para vocês, cheio de solidariedade e força. Não sei se vai ficar tudo bem, mas uma coisa é certa: dos nossos sentimentos sabemos nós.

Mas queria partilhar também que nem tudo é negativo. Algumas coisas correram melhor neste meu parto e acredito que se deva à pandemia. Aqui vão elas. Sem romantizações.

Os profissionais de saúde fizeram os impossíveis para não sentir a falta do pai
Nunca esperei mais de uns segundos depois de tocar à campainha. Deram-me epidural assim que cheguei à sala de partos e eu dormi. Quando me senti nervosa, no momento antes da expulsão, ficou uma enfermeira comigo. Também ela tinha tido um filho há pouco tempo, fartámo-nos de conversar.

Fiquei num quarto sozinha
Imagino que, para minimizarem os contactos, estejam a privilegiar esta modalidade. Claro que não será sempre possível, mas no meu caso tinha quarto e casa de banho só para mim.

Dormi muito (se é que muito e dormir podem ser utilizados juntos num contexto de dois recém nascidos)
Não ter visitas tem este lado. Sempre que não estava a comer ou a alimentar as minhas crias, estava a dormir.

Saí do hospital em 36 horas
Foi parto normal, pelo que este é o tempo de internamento. Saí feliz, com o meu marido e o meu filho à porta, à espera para conhecerem o João e o Manuel. Foi uma emoção, as auxiliares tiraram fotos, uma animação!

Li há tempos uma notícia de um senhor de cento e poucos anos que tinha sobrevivido à Covid-19 em Itália. Tinha nascido em plena gripe Espanhola. E desejei que esta fosse uma história longínqua para os nossos filhos contarem aos seus netos daqui a uma eternidade. Tive que ser um bocadinho romântica.



A Margarida tem 34 anos e é mãe de três rapazes. Trabalhou 10 anos em comunicação, mas em 2019 tomou a decisão de deixar o seu emprego e dedicar-se à música. Voltou a estudar, a cantar e começou a dar aulas de música a crianças. Engravidou de gémeos no meio destas mudanças todas, mas confia que vai tudo correr bem.

4.17.2020

Afinal sou uma educadora do caraças e não sabia #02

Depois do sucesso da primeira edição (e mesmo que não tenha sido, vamos fingir que sim), vêm aí novas sugestões desta mãe que vos escreve, que já teve melhores dias mas, vá, estes não são tão maus assim. Saudinha da boa, impagável. Vá, punha uma varanda cá em casa, se querem saber. É que já nem digo um terraço, nem um jardim, nem... era só uma varanda, aberta, para não ter de ficar com os caixilhos das janelas a fazerem-me tatuagem nos cotovelos e antebraços em gangrena sempre que quero pôr a cabeça de fora da janela para apanhar uma brisa na cara. Pronto. Já desabafei, está tudo bem, siga.

Então o que tenho aqui para vos sugerir de atividades giríssimas (calma, não são assim tão extraordinárias, mas entre estarem a comer a comida do gato e a empapar rolos de papel higiénico no bidé, mais vale estarem entretidos com outras coisas. Cá estão elas:

1) Contagens com conchinhas
A Luísa queria que fosse a Lisa a agarrar a caixa e cá está ela. A ideia aqui é bastante óbvia: colocar números em cada buraquinho da caixa de ovos e deixar que eles coloquem lá a quantidade indicada de ojectos. Podem fazer com feijões, botões, peças de lego pequeninas. Fizemos com conchinhas - são os nossos tesouros - para aproveitar para conversar sobre as férias e despertar boas memórias.


2) Naves com rolos de papel
Vocês não sei, mas cá em casa uma das frases mais ouvidas é: "limpas o rabo?" Estão SEMPRE a comer e aquilo tem de sair por algum lado, sabem como funciona a mecânica. Por isso, vão ver aqui várias sugestões com rolos, sim?


3) Animais pintados com aguarelas
Foi o David que copiou estes de algum lado da internet, mas elas estiveram entretidas a ajudar e já brincaram muito com estes bonecos. A Isabel quis pintar a borboleta "ao contrário" e, já se sabe, eles podem tudo. :)



4) Experiência "misturas"
Esta foi a Isabel que sugeriu. Apesar de não ter tirado foto, é bastante simples. Têm de ter à mão 4 copos com água e, ao lado, canela, sal, farinha e azeite. Em cada um, deixam-nos deitarem uma pequena quantidade de cada elemento. A ideia é ver se dissolvem ou não, se são homogéneas ou heterogéneas (calma que elas não usam esta terminologia ahah).


5) Brincar aos restaurantes
Isto parece sem interesse do ponto de vista "didático", mas dá sempre para aproveitar para falar sobre a ementa, os ingredientes dos produtos que estão à venda, os preços e depois fazer contas com moedas 


Para além destas actividades manuais, contagens e brincadeiras, vou deixar-vos AQUI uma lista de programas giros para eles verem na televisão e/ou no pc/tablet, desde peças de teatro, circo, desenhos animados e curtas, visitas virtuais a museus. Espero que gostem! <3

4.13.2020

Parem de se comparar com as outras mães!

Não estou a escrever estas palavras com um sorriso no rosto. Não posso deixar de dizer que fiquei triste porque houve pelo menos uma pessoa a dizer que me tinha deixado de seguir porque “estou sempre a fazer atividades com as filhas”. Percebo que a forma como o post da Joana Gama está escrito - apesar de saber que não foi essa a intenção - incentive por um lado, e ainda bem, a descompressão, o desabafo, a partilha mas, por outro, uma especie de shaming contra as “mães do Ruca”. Como se alguém o fosse.

Nunca disse que isto estava a ser fácil para mim. Vivo num T2 muito pequeno (mesmo muito), tenho duas miúdas cheias de energia fechadas, sem uma varanda que seja, sinto que estou sempre a fazer comida (frase que mais ouço é “tenho fome!” a par de “limpas o rabo?”, e faz sentido uma ser consequência da outra), a limpar, a arrumar ou a gritar para pararem de se esfolar vivas. Até há uma semana estava em teletrabalho e foi um mês de loucos. Tinha de trabalhar às vezes até às 3h da manhã para conseguir compensar o que não dava vazão durante o dia. E lá estavam elas a acordar cedo no dia seguinte e tudo se repetia.

No entanto - e esse foi o meu estratagema, não significa que resulte convosco, que possam ou queiram - tirava sempre (ou quase sempre), uma horinha que fosse só para elas de manhã. Mas, notem, não era só por elas. Era por mim também. Por dois motivos essencialmente: se lhes desse atenção, “des”largavam-me mais no resto do dia. E também porque planear coisas para elas fazerem e envolver-me nos projectos delas me salva. É uma forma de me manter ocupada, de ter planos e projectos. Sem grandes expectativas! Às vezes quem acaba as coisas sou eu. Às vezes só fica a Isabel entusiasmada. Às vezes gostaria que não se lembrassem do que lhes prometi fazermos na véspera, porque não me apetece, mas tenho uma polícia cá em casa (Isabel). Lembrámo-nos de jogar sempre um jogo os quatro às refeições (telefone avariado/ listas de animais, etc) e há dias em que só me apetecia comer em silêncio.

Já houve dias em que se tiveram 15 minutos da minha atenção focada foi muito. E está tudo bem. Tenho a certeza de que elas - e os vossos - não se vão lembrar disto nesta quarentena. Vão lembrar-se das partes boas. Eles não nos cobram isso tudo.



Por isso, decidi fazer aqui uma ressalva (como se não bastasse o estado em que mostrei a minha cozinha no outro dia...), para vos dizer que não ando a espetar nas vossas caras as mil atividades que faço com elas (atenção que algumas se fazem em 5 min... mas pronto) porque “sou uma ÓPTIMA MÃE, olhem para mim” mas sim para vos dar ideias simples, caso estejam já sem elas, para entreter os vossos filhos. Deixei também links de séries e de teatros e circos que duram uma hora (para nos libertar também a nós). Não escolham ver o pior dos outros nesta fase. Nem em vocês. Não se sintam frustradas porque não conseguem ter a casa arrumada, fazer a comida XPTO ou pão, ou fazer coisas com os miúdos. Quem disse que quem está nas redes a partilhar está o dia todo naquilo? E, mais importante, está feliz? Não se consegue fazer tudo bem. Muitas vezes prescindo de fazer refeições de jeito, de ter a casa arrumada ou, até, de tomar banho. Pronto, já disse.

Não sou guru, nem psicóloga, nem nada disso, mas tentem também avaliar se estão a fazer as escolhas mais “acertadas” (não falo do banho). Fará sentido continuarem a passar roupa a ferro? Que tal dobrar depois de apanhar e arrumar? Quem vos vai cobrar por isso? Quem vos vai ver? Poupam energia e tempo e cabeça [a não ser que vejam nisso uma terapia]. E fazer mais comida ao almoço a contar já com o jantar? E se eles não tomarem banho todos os dias? Sei lá, vejam de que forma podem tirar esse peso de cima de vocês, e por favor, sem se estarem sempre a comparar com os outros.

Vejo quem ande a treinar todos os dias, a ler livros atrás uns dos outros, outros já acabaram de correr a Netflix, vejo quem se continue a maquilhar todos os dias (por acaso a minha pele está muito melhor desde que não o faço): se eu ficar algum dia com algum sentimento de inferioridade por isto, internem-me (dava jeito já, para ir descansar um bocado delas). Se calhar deviam mesmo, que já gritei mais neste mês e uma semana do que na vida toda delas.

Ninguém é perfeito. Estamos todos a lidar com isto da melhor forma que sabemos. A apalpar terreno. A fazer ajustes todos os dias ou só a tentar sobreviver. Uns a conseguir aproveitar as coisas boas desta porcaria, outros a ver de que forma saem com alguma sanidade. Uns a descobrirem talentos que não sabiam que tinham, outros a pensar como vão conseguir continuar a pagar a escola dos miúdos se deixaram de ter trabalho.

Não, não vamos todos ficar bem, mas que o processo seja o menos penoso e o mais leve possível. Julguemos menos e, sobretudo, paremos de nos comparar tanto. Ninguém estava à espera disto e a espera por que tudo isto passe parece interminável. Cada um lida como melhor pode ou consegue.

Até breve, com mais ou menos sugestões de actividades com os miúdos. Mas seguramente com um copo de vinho ao lado, enquanto vos escrevo.

4.07.2020

Afinal sou uma educadora do caraças e não sabia #01

Primeira achega ao título: é uma graça. É óbvio que não tenho nem formação, nem jeito, nem PACIÊNCIA, nem talento para ser educadora. Já tinha percebido isso há muito tempo. E acho que agora já percebemos todos a importância e o papel determinante das educadoras dos nossos filhos nas nossas vidas, não já? Pronto. Cada macaco no seu galho. Eu prezo muito as educadoras das miúdas, tenho umas saudades enormes delas, acho-as fantásticas (toda a escola e metodologia, aliás - Movimento Escola Moderna, de que já falei aquiaqui e aqui). A Luísa ainda no outro dia se deitou a choramingar porque tinha saudades da Maria João e da Rute. A Isabel vibrou quando viu um vídeo da sua querida Inês a contar uma história e ouviu um áudio com a voz da Nádia. Temos tido acompanhamento via whatsapp com sugestões e propostas de atividades para desenvolvermos em casa, links para programas giros, tudo. 

Estive até este sábado em teletrabalho, pelo que não foi fácil gerir tudo como gostaria. Mas, mesmo assim, conseguimos fazer coisas giras - umas propostas pelas educadoras, outras sugeridas pelos colegas e família e outras que surgiram da nossa imaginação, vi em algum site/FB/pinterest. 

Não vão ver aqui grandes obras de arte, nem nada muito bonitinho (para isso sigam a Violeta Cor de Rosa, que disponibilizou coisas lindas para imprimir), mas pode ser que vos inspire para futuros projectos aí em casa com eles, porque, no meio disto há dias em que já não sabemos o que inventar. 

  • Atenção que às vezes temos de nos dar um desconto - e a eles - e um bocadinho de ócio também faz bem, a todos. Se virem mais TV nestes dias, etc, acho também perfeitamente legítimo (nós tínhamos cortado a TV e os tablets durante a semana cá em casa, lembram-se?). Agora não. Durante a semana vêem bem menos do que ao fim-de-semana, mas, de forma controlada, há espaço para tudo
  • Brincadeira livre é importantíssimo e deixo bastante espaço para isso, mesmo que acabe normalmente tudo à batatada
  • Ajudarem nas tarefas domésticas e nas refeições não só é extremamente útil, como considerado "tempo em família", em que aprendem ao mesmo tempo a cooperar, a ser autónomos e desenvolvem destreza em várias coisas (a Luísa a cortar cogumelos e espargos é uma maravilha de se ver e ainda não ficou sem dedos. Ainda.)
Posto isto, vamos então à primeira listinha de coisas que temos feito cá em casa e que facilmente conseguirão reproduzir aí.

1) Teatro de Sombras
Fizemos inspirado neste aqui. Precisam de uma caixa de cartão, papel vegetal, cola. Pauzinhos (usámos do mikado, ups!) e figuras que podem desenhar e recortar ou imprimir da internet. Giro e dá para fazerem sempre novas personagens, treinar o improviso, brincar, além de que o ambiente é muito giro, mais escuro, elas adoraram.



2) Caixa para lápis/canetas feita de embalagem de leite
Vocês cortam, eles colam um papel pintado e decoram como quiserem (aqui sempre tentámos desmistificar os monstros). Além de aprendem a reutilizar uma embalagem, vêem todos os dias algo feito por eles. É bom para a auto-estima deles, digo eu.


3) Família e amigos feitos em rolos de papel higiénico
Fizemos para o Dia do Pai e elas adoraram. Com desenhos e recortes de revistas e fotografias que tenham ou imprimam, fica engraçado, elas podem brincar com eles e matar saudades dos avós, tios, etc

4) Gelados
Já fizemos só de fruta, saudáveis, mas também um menos saudável, com natas ao barulho e morangos, mas é algo de que elas gostam muito e sempre dá para matar aquele "bichinho" de quando nos pedem coisas doces. Participam no processo, cortam os morangos, etc, etc.


5) Experiência flutua/não flutua
Esta foi a Isabel que pediu. Já tinha feito na escola e queria repetir para mostrar à Luísa. É simples: basta agarrarem em pequenos objectos aí de casa, verem se flutuam ou não (se são mais pesados ou mais leves) e registarem numa folha


6) Relógio de papel
Só precisam de dois pratos de papel, cartolina para fazerem os dois ponteiros e uma forma engenhoca de os prender aos pratos. Desenhar as horas na folha de cima e desenhar os minutos na folha de baixo.



Tenho mais coisas para vos mostrar, mas também não vou gastar já os cartuchos todos, não é?

Querem também ideias de filmes/ peças de teatro / livros / sites giros para eles?




Não pensar em nada.

Ontem pintei com aguarelas pela primeira vez a sério, concentrada. Não se estejam já a rir. Fiz um cacto com uma flor, ao mesmo tempo que via um tutorial no youtube. Perdi-me nas horas. Misturei cores, pus mais ou menos água, usei um pincel mais fino para os contornos e outro maior para preencher. As miúdas estavam a ver televisão, o David a trabalhar lá dentro e eu só concentrada no que estava a fazer. Quando olhei para o relógio já era mais que hora de ir fazer o jantar. Ainda fiz um cacto a correr e uns ramos que estragaram o esforço do primeiro. Quer dizer, não estragaram nada, que isto não tem fim nenhum, o que interessa é o meio. E o meio foi bom. Consegui não pensar em mais nada. É disto que preciso, cada vez mais. Tirar meia hora, uma hora, do meu dia para não fazer nada. 

Até agora estive em teletrabalho, que me consumiu muito. Não o trabalho em si, de que gostei, mas a gestão. Apesar de vos ter passado as minhas estratégias para conseguir trabalhar a partir de casa, com miúdos, nem sempre (quase nunca, diria) correu bem. Deitava-me tardíssimo para conseguir. É duro. Queremos fazer as coisas que as educadoras sugerem com elas, queremos estar lá, brincar, deixar a casa minimamente apresentável (já que é aqui que passamos 24h do dia, fazer refeições minimamente saudáveis e trabalhar. Digamos que é... impossível. Quem disser que consegue fazer tudo bem e está ainda bem da mona deve estar a mentir. Ainda ontem comentei que recebi muitos emojis de espanto quando publiquei em story o estado da minha cozinha, um dia destes. Nesse dia, não conseguimos arrumar nada do almoço nem do jantar (com lanche pelo meio e sopa, etc) porque tivemos os dois de trabalhar bem (dar-lhe bem) à tarde e só depois de as adormecer consegui arrumar. Sim, estava em estado de sítio, mas também acho que espelha alguns momentos por que todos, caso tenhamos de trabalhar e acompanhá-las, passamos. É o que é. 

Neste momento, fiquei sem trabalho (sou freelancer em TV e os programas que estava a fazer estão agora parados, em stand by). Estava muito contente por estar a fazer conteúdos de programas que adoro, mas agora tudo mudou e já me habituei à ideia. Muita gente estará em situações mil vezes piores que a minha. Sei que vamos dar a volta.



Vou aproveitar esta fase para estar mais aqui, para vos dizer que séries ando a ver, que livros infantis encomendámos, que coisas ando a fazer com elas. E, quem sabe, ainda vos deixo aqui receita de ISCO para fazer pão!!! Desta não estavam à espera, pois não? Não encontrei fermento de padeiro online nem na merceeria aqui do bairro e estou a fazer o meu próprio fermento.  

Amanhã voltarei a pintar. Foi terapêutico, palavra. A melhor coisa até agora. Tenho sempre uma voz interior que me diz que não estou a aproveitar bem estes dias, que não estou a ser produtiva o suficiente ou que podia, ao menos, acabar de ver a série X, ler o livro Y, quando o que eu preciso mesmo mesmo é de conseguir, estando acordada, descansar a mente.  


E é isto. Por agora. Como estão vocês? O que têm feito para relaxar?

3.31.2020

Só coisas bonitas #01 - Despensa do Bairro

Acho que todos precisamos de coisas positivas. De ver iniciativas fantásticas, que nos dêem esperança. Por isso, resolvi inaugurar aqui uma espécie de rubrica (que vai durar mais do que as minhas tentativas de rubricas anteriores, prometo) que se chama "Só Coisas Bonitas".

Porque sei que vão ficar com um sorriso enorme, tal como eu fiquei, partilho convosco a iniciativa fantástica de uma família que temos a sorte de conhecer: uma despensa do bairro. “Dê o que puder, leve o que precisar”, com bens essenciais, mas também livros!
Obrigada Sofia, Zé Miguel, Xavier, Madalena e Santiago. ❤️

Não é a coisa mais fantástica que viram hoje?




Partilhem esta iniciativa! Quem sabe não inspiramos a que se criem mais "Despensas do Bairro" por esses bairros todos? 

E partilhem pff outras iniciativas fantásticas para nos inspirarmos e para nos comovermos com as coisas mais bonitas.


3.28.2020

Deixem-me chorar um bocadinho

Deixem-me chorar um bocadinho. Pois se há caixões insuficientes, se são precisos camiões militares para transportar tantos mortos. 
Deixem-me chorar um bocadinho. Se há pessoas a morrer sozinhas. Deixem-me chorar um bocadinho. Se tenho saudades de pessoas que são um bocadinho minhas, se sinto falta do cheiro da pele da minha mãe e das mãos grandes do meu pai. Do som dos copos a brindarem em casa da minha amiga Raquel e dos nossos abraços de despedida e das danças na sala. 
Deixem-me chorar um bocadinho. Se estou assustada e se me sinto claustrofóbica. Se não tenho uma varanda. Se me apetecia estar duas horas completamente sozinha e outras rodeada de pessoas. Se me apetecia andar de carro, com destino ou sem ele. 
Deixem-me chorar um bocadinho. Se não sei quando volto a ter trabalho. 
Deixem-me chorar. Mesmo sabendo que há quem esteja em situações piores e a sofrer muito mais. Deixem-me chorar um bocadinho porque é sinal de que sou sensível mas nem por isso frágil. 

Exteriorizar o que sinto, falando alto, desabafando, chorando, dá-me espaço para depois sentir tudo o que há de bom para sentir. Partilhem os vossos receios uns com os outros, não continuem a fingir que não vos afecta. Desvalorizar o que sentimos é só varrer para debaixo do tapete. 
Chorem um bocadinho. E depois continuem, mais leves, na luta. Todos temos uma.






3.15.2020

Como trabalhar em casa com crianças?

Faço um intervalo no meu dia de trabalho a partir de casa, com as minhas filhas.

Não sei até que ponto isto vos pode ser útil, porque todos nós teremos não só trabalhos diferentes, como teremos rotinas - em casa e com os miúdos - diferentes, mas, mesmo assim, partilho convosco  6 dicas que têm resultado comigo para minimizar stress e frustração.



1) Definir metas realistas
Não é suposto conseguirmos produzir exactamente o mesmo do que produzimos quando não temos elementos distractores, alguém a chamar para limpar o rabo ou brigas (normais) entre irmãos para ajudar a gerir. Menos ainda quando sabemos que os nossos filhos não se criam sozinhos nem podem passar 8 horas sem a nossa atenção e, muito importante!, estão a sentir esta mudança de rotina e a nossa insegurança/perplexidade perante tudo o que se está a passar e, por isso, ficam mais carentes e acabam por exigir mais a nossa presença. Faz sentido.

Por isso, pensar em reduzir, pelo menos, para 2/3 os objetivos que traçámos inicialmente / traçaram para nós é fundamental. Se estamos em casa, à partida significa que não temos profissões de facto imprescindíveis nestes dias - um enorme abraço a todos os profissionais de saúde, investigadores, camionistas que transportam bens de primeira necessidade/medicamentos, etc -  e, se forem necessários mais dias para terminar um trabalho, que assim seja. 

2) Fazer pausas para meditar, alongar, respirar fundo ou fazer exercício
Se estamos 24h/24h em casa, tendo que gerir almoços, jantares, máquinas de louça, limpezas, filhos e trabalho - sendo bombardeados por recomendações, notícias, alertas sobre a doença - é fundamental tirarmos momentos para reforçar a sanidade mental e para continuarmos a suportar estes dias de forma calma. A mim, acalma-me fazer o pino que aprendi no ioga, alongar, fazer exercícios de respiração e ouvir música. Fico mais feliz. É essencial encontrarmos coisas que nos façam desligar do que se está a passar. 

3) Distribuir tarefas ao longo do dia 
Percebi, logo no primeiro dia que fiquei sozinha com elas, que não valia a pena pensar que iria conseguir fazer 7h seguidas de trabalho. Por isso, tirei parte da manhã para organizar a casa e para brincar com elas e à tarde repeti essa lógica. Assim, consegui duas horas de seguida (!!!) super focada porque elas já tinham tido "mãe" durante bastante tempo e organizaram brincadeiras e jogos sozinhas (o rei manda/ saltos na cama/ pinturas). Foi mais rentável assim do que se elas estivessem sempre a exigir a minha atenção ao longo do dia e a cada 10 minutos. Por fim, deixei o que restava para fazer no computador depois delas adormecerem. Às 23h00 estava na caminha a ver séries (e a desligar do coronavírus novamente). 

4) Desativar os alertas do whatsapp, instagram, messenger 
Já não recebia alertas do instagram e do messenger há uns bons meses e agora retirei também os do whatsapp. Prefiro apanhar 150 mensagens de amigos de seguida - à partida, se fosse algo urgente, as pessoas telefonariam -, do que estar sempre a desconcentrar-me e em sobressalto. Claro que é importante irmos falando, desabafando e até rindo (o humor é essencial nestes momentos) sobre tudo o que está a acontecer, mas não tem de ser a cada 10 minutos. De quando em vez, vou espreitar, mas não ando sempre agarrada ao telemóvel, para bem da minha produtividade e da minha saúde mental. 

5) Fazer logo comida para algumas refeições
A lógica acaba por ser a mesma do que quando trabalhamos fora e chegamos tarde a casa. Mais vale num dia "queimarmos" mais umas horas a cozinhar e a lavar louça, do que somar a tudo o que já temos para fazer em casa ao longo do dia a logística das refeições. Além disso, ficamos com uma ideia muito melhor do que temos na despensa, controlamos melhor prazos de validade, gerimos melhor tudo para não haver tanto desperdício e para irmos o menor número de vezes possível às compras nos próximos dias. 

Ah! E aproveitar para cozinhar algumas coisas com eles. Já fazemos isto há algum tempo cá em casa (eu diria que desde sempre - mesmo sem torre de aprendizagem, sempre as pusemos em bancos para ajudarem), mas agora, mais do que nunca, é bom envolvê-los na preparação das refeições: é um momento em família, sabe bem a todos e forma de aprenderem o que fazer a alimentos que já estão ali na corda bamba para ficarem kunami (quem viu Gato Fedorento vai entender) - ex: fizemos gelado de morango com banana.

6) Pensarem em atividades que eles gostem, que lhes ocupem tempo e com que aprendam algo
Li algures que também não é preciso transformar a casa num circo (mais do que ela já fica normalmente) de atividades e de números arriscados. É importante deixar-lhes espaço para o ócio - é aí que a imaginação funciona. Mas também é útil pensarmos juntos em coisas giras para fazerem (e/ou fazermos). 

A Mãe Já Vai deu a ideia de fazerem uma lista de coisas que querem fazer (cada elemento da família escolhe 3 ou 4), recortam, colocam num pote e vão sorteando. 

Aqui vamos decidindo de cada vez. Dei a ideia de prepararem um espetáculo de música ou teatro e foi o momento mais emocionante e divertido do dia de ontem. Mas também já as pus a ver um filme da Disney para poder ter essa hora para mim, por exemplo. "Vale tudo", desde que com algum equilíbrio.

E não se esqueçam de ler o SUPER ÚTIL texto da psicóloga Eugénia Amaro sobre como falar com as crianças sobre coronavírus

Deixo-vos ainda algumas ideias da Joana Gama, antigas, mas sempre úteis: 60 atividades para fazermos com eles e As nossas brincadeiras

Querem acrescentar algumas coisas?