Aviso desde já que se vai falar de morte. Quem teve um dia
mau, quem se quiser rir e esquecer dos problemas, clique na cruzinha do lado superior
direito (ou do esquerdo, se for sortudo e tiver um Mac). Ou vá ler este texto
da Joana Gama. Vá ver um filme, vá ver uma série.
Aqui vai falar-se de um dos textos mais bonitos e mais
tristes que já li. Este (no Público). "Sim, vou deixar-te morrer" é um murro no estômago e
faz-nos pensar na eutanásia, nos cuidados paliativos, no sofrimento de algumas
mães confrontadas com o sofrimento, em vão, dos filhos.
Começa assim:
"- Que Deus ilumine as pessoas que estão a criar esta lei da
eutanásia para crianças e as faça desistir - pediu o padre.
- Não, meu Deus, não posso desejar isso. O que mais lamento é
que o Tomás tenha sido obrigado a passar por aqueles três últimos dias - pensou
para si.
Num destes domingos, no final da missa, Vanda voltou a
recordar o dia em que levou o filho ao hospital para morrer. Sabia que aquele
bebé de um ano e meio, a quem já nem sequer podia pegar ao colo, não era mais o
seu Tomás. Olhava e via um corpo minúsculo e inchado, pálpebras fechadas,
deitado numa maca, a gemer sempre que lhe tocavam e com dificuldade em
respirar. "Nunca mais acordou, nunca mais abriu os seus olhos grandes, nunca
mais sorriu. A dor já tinha tomado conta dele. Se logo nesse dia tivessem dado
alguma coisa para ajudar o meu filho a partir... Foram mais de 48 horas. Ouvia
as máquinas constantemente a apitar e só tinha vontade de puxar aqueles fios
todos para que tudo acabasse o mais depressa possível." A médica já estava com
uma injecção na mão quando o coração de Tomás bateu pela última vez. "Sabia que
era proibido, mas ia ficar só entre nós. Acabou por não ser preciso".
Ainda estão aí? Já sentem um nó na garganta e vontade de
chorar? Pois, comigo foi igual.
Vanda Alcobia, portuguesa, emigrou para a Bélgica há 15 anos. Na
Bélgica, a lei da eutanásia foi recentemente alargada a menores de 18 anos,
sendo que o pedido tem de partir do próprio, conscientemente, e cumprir apertadas
regras.
Mas a história de Vanda e de Tomás não é a única a deixar-nos
comovidos. Izabela, de 18 anos, "deverá morrer quando desabrocharem as
primeiras flores da primavera". Com poucos meses de vida, alimenta-se através
de dois tubinhos ligados ao estômago. Deixou de andar e de falar, mas consegue comunicar
com a mãe, que diz, "a minha filha está consciente". Em breve "vai começar a
tomar morfina porque as dores são cada vez mais fortes". Para esta mãe a
eutanásia não é uma hipótese. Mas já falou com a filha sobre isso: "Achas que é
bom ou mau?", perguntou-lhe. "É mau", recebeu como
resposta."
A mãe de Rafael
também é contra a eutanásia. "O meu
filho nunca me disse que queria morrer e fomos tão felizes naquele mês de
Dezembro. Vivemos coisas juntos que nunca irei esquecer". A mãe, Elsie, vendou um pequeno
apartamento em Bruxelas e no último mês de vida, Rafael concretizou os seus
sonhos possíveis, entre eles, ir à Eurodisney.
Depois,
morreu em casa. "O meu filho morreu no nosso ninho, nos meus braços, ao pé dos
seus brinquedos; nem se pode comparar este conforto com a frieza de um
hospital."
Na Bélgica, um menor que esteja a ser acompanhado
pelos cuidados paliativos pode escolher morrer em três sítios: no hospital, em
casa, ou num dos centros de repouso para crianças.
A realidade
portuguesa é outra. "Em Portugal, os cuidados paliativos funcionam muito mal,
para menores e adultos. Morre-se mal aqui. As crianças morrem nas instituições
de saúde onde estão internadas ou em casa. Tudo dependerá da sorte que tiverem.
E é isso que está mal: ser obrigado a depender da sorte para ter uma morte
menos má, seja-se adulto ou menor", critica Laura Ferreira dos Santos,
professora da Universidade do Minho, que estuda há vários anos questões
relacionadas com a eutanásia.
Muitas são as
vozes que se ouvem nesta reportagem: mães, técnicos de saúde, especialistas, professores, políticos. Diferentes os pontos de vista. E no meio disto tudo, ficam as dúvidas, perante as histórias mais tocantes que alguma vez li sobre
este tema. As dúvidas e os medos.
Agora, que sou mãe, sinto tudo de maneira diferente e imagino-me a ter de fazer escolhas. Não consigo. Não quero.
Agora, que sou mãe, sinto tudo de maneira diferente e imagino-me a ter de fazer escolhas. Não consigo. Não quero.
A jornalista
Sofia da Palma Rodrigues ganhou um prémio com este trabalho. É fácil perceber
porquê. Arrepiante, do início ao fim. Vão ler a reportagem. Vale muito a pena.
Onde podemos ver essa reportagem?
ResponderEliminarUm dia também tive que fazer uma escolha:ir para casa e o meu bebê morrer dentro da barriga ou ficar no hospital a ser massacrada onde o meu bebê só teria 0,01% de sobreviver e 99,9%de ser vegetal...
Escolhi arriscar e hoje ele é 100%um bebe normal:-) isto para dizer que mesmo passando pelo que passei não sou nem contra nem a favor da eutanásia
Ana, o link está aqui.
Eliminarhttp://www.publico.pt/mundo/noticia/sim-vou-deixarte-morrer-1624184?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+PublicoRSS+%28Publico.pt%29
Tema forte, doloroso. Compreendo o que quer dizer com "Não consigo. Não quero", pois provavelmente é a escolha mais difícil que uma mãe/pai terão de o fazer, se isso acontecer. Eu tb não a quero, ninguem quer, isso é óbvio, mas... a haver escolha, não preferia ser a Joana a tomá-la do que delegar essa enorme e frustrante responsabilidade nos técnicos de saúde, nos políticos, nos especialistas? Eu acho que preferia... ou então sou eu com a mania de que ninguém sabe o que é melhor para os meus filhos do que eu. Parabéns pelo tema e pela reflexão. Era de facto importante que se levasse este tema a instâncias mais altas.
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