1.23.2015

Afinal havia outra (#02) - Violetta, Violetta



É em dias como hoje - em que milhares de pais em procissão se encaminham para o Meo Arena, atrás de um bando de filhas histéricas e de bandeiras da Violetta em riste - que agradeço ter sido mãe apenas há 17 meses e uns dias. A minha filha não diz pão, quanto mais Violetta e por enquanto gosta de rock e música alternativa. De vez em quando brindamo-la com alguma pop azeiteira (mas em bom). O máximo que autorizamos lá em casa é a música do genérico final da Casa do Mickey Mouse, a “Olha a Bola Manel” e “o Balão do João” – duas canções bastante tristes onde os protagonistas acabam a chorar mas que a minha filha parece apreciar de sobremaneira – e a canção do Ruca. De resto, a criança ainda não tem querer e estas músicas só são accionadas em loop em casos urgentes de birra eminente. Para dançar, Twin Shadow e D’Alva são os preferidos mas na verdade basta cantar “lá lá lá” para ela começar a abanar o esqueleto de forma bastante desengonçada e hilariante. A minha filha tem o ritmo no corpo mas não é um ritmo oriundo da américa latina. Quando for suficientemente grande para escolher, Violetta já estará transformada numa Miley Cyrus ou Britney Spears demasiado bêbeda para encantar criancinhas. Assim o espero até porque, como disse Ricardo Araújo Pereira na sua Mixórdia de Temáticas dedicada ao tema, “o problema não é serem cantorias, é serem cantorias em espanhol”. Eu pensei que o flagelo de “Carrossel” e “Chiquititas” tivesse servido para aprendermos alguma coisa mas aparentemente não. E não, o facto de Violetta ser da Disney não altera a triste realidade de terem filhas viciadas numa telenovela. Volta Gabriela, que pelo menos não cantas e és mais crescida. E boa.
Burros que somos não aprendemos nem com as novelas venezuelanas nem com o Avô Cantigas. Xana Toc Toc, miúda, estou a falar contigo. Mais esquisito do que um velho que nem é velho (estou a falar de quando eu era miúda) e que veste jardineiras, é uma quarentona com braços de ginásio e bronze de solário que gosta de se vestir de boneca e dar-se com crianças. É até ligeiramente perturbador. Vejo pais de pele pálida e ar miserável a falar na televisão nos concertos dos Caricas e da Toc Toc, com os filhos aos pulos o tempo todo, a confessarem que o rádio do carro já não lhes pertence e que todas as viagens eram feitas ao som das canções dos filhos.
Pais que sofrem tenho uma cena para vos dizer: os grupos infanto juvenis não são uma invenção deste século. Em 1980 e picos havia uns grupos musicais chamados Ministars e Onda Choc que enchiam salas de concertos e apareciam todos os fins de semana na televisão. Lembram-se? Eu, como vocês, hoje pais da minha geração, adorava-os, queria ser como eles e comprar roupa nos Porfírios e na Cenoura (dois opostos). Mas não deu, azar. A roupa era cara para caraças e os meus pais não foram em cantigas, literalmente. Também nunca me passou pela cabeça obrigá-los a ouvir os Onda Choc, fosse no carro ou em casa. Com os meus pais no carro ouviam-se os Beatles e os Supertramp e o Eric Clapton e o Elton John. No carro da minha avó aprendi a letra de “Eu tenho dois amores” porque se ouviam as cassetes da minha avó e não as minhas. E se o Marco Paulo não é razão suficiente para os pais recuperarem o controle dos rádios dos seus carros, não sei qual será. 
Leididi, mãe há 17 meses
O Blog do Desassossego

Afinal havia outra é a nova rubrica do A Mãe é que sabe, escrita por outras mães que não as Joanas. Podíamos dizer, qual candidata a Miss Mundo, que queremos dar voz a outras mães mas no fundo, no fundo, o blogue está a correr tão bem que já nos podemos dar ao luxo de ter escravas a trabalhar por nós. 

9 comentários:

  1. Ahahahahah!!! Muito bom! É verdade que a minha mãe aturou umas quantas cassetes dos Onda Choc, gravadas dos vinis dos colegas que tinham filhas, qual pirataria barata... Mas também é verdade que também ouvia REM e pedia para repetir... Tanto que hoje o Out of Time é dos meus álbuns preferidos. Só espero nunca cair na esparrela de ceder à tentação de me ver obrigada a ir ver uma Violetta ou uns Caricas. Vamos antes ver o John Legend ou o John Mayer, ok Lucas?

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  2. Eu tenho CA em casa uma viciada na violeta, ainda por cima fez aniversário e recebeu uma carrada de coisas da violeta e maior parte tem a música incorporada ohh sagaaa
    ..

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    1. Estás feita ao bife, Ana! Daqui a pouco já sabes as músicas de cor e salteado. Se é que não as sabes já...

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  3. Acho que, como em tanta coisa da maternidade/paternidade, trata-se de cada núcleo encontrar o seu equilíbrio. Concordo em não dar o monopólio das escolhas às crianças, anulando-nos no processo, mas custa-me a perceber essa rejeição a estes fenómenos infantis de música, como se fossem um coisa menor ou menos digna. Os meus filhos ouvem Caricas e Xana Toc Toc e ouvem Elis Regina, Marcelo D2, Stevie Wonder e o que mais me apetece pôr quando calha. Já foram ver os Caricas e já foram a concertos de música clássica para bebés. Uma coisa não anula a outra, nem acho que uma coisa seja melhor do que a outra. Acredito que a minha função como educadora é dar-lhes acesso ao maior número de opções, para que eles possam perceber aquilo que gostam. É óbvio que não entra tudo, não os vou pôr a ouvir música que não gosto só porque sim. Mas há espaço para muita coisa...

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  4. A minha não é fã da Violetta, mas já foi da Floribella e agora é fã da Miley e dos One Direction (ainda no ano passado me arrastou até ao Porto para os ver). E sim, também nós já passámos por isso, também nós tivémos as nossas ondas. É deixá-los crescer, pessoal!

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    1. Mas eles crescem de qualquer forma.. Ninguém os está a impedir. Para mim, a questão é que hoje em dias as belas das criançinhas não têm limites, regras ou contrariedades. Não estou a falar dos seus, atenção, é apenas o que vejo no geral. Se uma vez sem exemplo pedirem para por um cd deles a tocar no carro, encantado da vida. O problema é quando eles exigem que seja esse o cd a tocar e os pais preferem ouvir aquilo do que dizer não aos meninos, porque valha-nos Deus que o menino oiça a palavra não, que vem a segurança social dizer que os estamos a traumatizar. Eu tive a sorte (na minha opinião) de ter uns pais que sempre estabeleceram esse tipo de limites. A TV da sala era deles e não minha, se eu quisesse estar na sala via o que eles estavam a ver, a aparelhagem de casa era deles e tocava o que eles queriam. o rádio do carro a mesma coisa. A mim, fez com que hoje em dia tenha uma cultura relativamente alargada de música. Eu vejo miudos hoje em dia que não sabem o que é fado por exemplo, não é não ouvirem, é não saberem mesmo o que é, secalhar sabem que tem qq coisa a ver com Portugal porque ouviram numa aula de história. Isto, na minha opinião, é preocupante,

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  5. Também fui habituada a não ter vontades próprias quando se tratava da TV e aparelhagem lá de casa e não foi por isso que não ouvi OndaChoc e Mini Stars ou o disco da Rua Sésamo! Só que ouviamos quando era possível e não todo o dia! Lembro-me de uma fase em que a minha mãe tolerava que eu ouvisse Four non blond em repeat no carro, mas foi sol de pouca dura! E é assim que é lá em casa, tenho um filho de 13meses e a TV não esta sempre acesa no Panda ou outro canal infantil. O desenho animado favorito, que safa na altura de fazer os aerossóis é o João bebé (recomendo a pais com bebés pequenos). Há uma outra animação engraçada do baby TV (ponho sempre no you tube) é a Bugs Band em que uns insectos fofinhos tocam músicas como Bob Marley ou bossa nova. Muito bom para eles aprenderem qualquer coisa e entretém bastante.

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  6. Também fui habituada a não ter vontades próprias quando se tratava da TV e aparelhagem lá de casa e não foi por isso que não ouvi OndaChoc e Mini Stars ou o disco da Rua Sésamo! Só que ouviamos quando era possível e não todo o dia! Lembro-me de uma fase em que a minha mãe tolerava que eu ouvisse Four non blond em repeat no carro, mas foi sol de pouca dura! E é assim que é lá em casa, tenho um filho de 13meses e a TV não esta sempre acesa no Panda ou outro canal infantil. O desenho animado favorito, que safa na altura de fazer os aerossóis é o João bebé (recomendo a pais com bebés pequenos). Há uma outra animação engraçada do baby TV (ponho sempre no you tube) é a Bugs Band em que uns insectos fofinhos tocam músicas como Bob Marley ou bossa nova. Muito bom para eles aprenderem qualquer coisa e entretém bastante.

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  7. A minha sorte foi ter um irmão e uma tia que tinham mais 5 e 6 anos que eu. Ora eles nem me davam grande oportunidade de gostar dessas porcarias, porque quando cheguei à idade de gostar de Ministars e Onda Choc, já eles ouviam a rádio da moda, rádio cidade, na altura ainda uma rádio pirata (caraças, é aqui que se vê que uma pessoa está velhinha, velhinha), ora vai daí, a minha tia e o meu irmão ouviam Bros (se não conhecem, procurem que vão a-do-rar), Mini Vanilli, e afins. Claro que eu pequenita era influenciada por eles... Mais tarde ficaram fãs dos Doors e dos Cult, e lá estava eu a brincar às Barbies e a ouvir Cult e Doors no meu tijolo es-pe-cta-cu-lar!!!!
    Na altura os meus pais também não facilitavam as coisas aos meninos, ou ouviamos Led Zepplin, Beatles, Black Sabath ou então, a Sinfonia dos Brinquedos...

    Em relação à "Violentta" também fui com a minha Mini de 9 anos, foi um dia bem passado, e só pelo ar de felicidade da minha filha, até ia às outras sessões todas. Foram quase 2 horas de tortura para mim a tentar perceber quem era quem e saí de lá na mesma, ou pior por causa do zumbido nos ouvidos... Mas descobri também que tenho uma filha que é muito low profile e não faz figuras tristes em concertos.

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