Estava a estender a roupa (coisa que fiz muito este fim-de-semana e que, apesar de não adorar, me faz reflectir) e comecei a ouvir crianças a saltarem para a piscina e a nadarem. Há um condomínio em frente ao meu prédio com piscina. As minhas filhas estavam na sala a brincar e a esbofetearem-se (alternam muito entre uma coisa e outra). Era domingo e estava calor. E eu comecei a deixar-me invadir por pensamentos menos bons. A chatear-me por termos estado a manhã toda em casa, de volta da louça, da roupa, do almoço, das arrumações. De vez em quando fico com peso na consciência e sinto-me um bocado culpada, a achar que me organizo mal e que o fim-de-semana deveria ser só para elas. “Se morássemos ali, já estava feito. Descia até à piscina, uns mergulhos, umas brincadeiras com os vizinhos e já não me iria sentir assim”. Lamentei vivermos num segundo andar sem elevadores e sem garagem (já apanhei multa de estacionamento e tudo à custa disso). Perguntei-me se algum dia lhes poderia dar isso. Imaginei-nos numa casa com jardim a receber os nossos amigos numa almoçarada. E parei por ali. Que parvoíce. Comecei a fazer o exercício contrário. A pensar nas coisas boas das nossas vidas. A não me julgar pelas minhas escolhas. A não exigir mais das nossas histórias. Lembrei-me do quanto os meus pais suaram, do que cresceram, dos desafios a que se propuseram. Da equipa fantástica que fizeram para que o meu pai tirasse o curso superior já com filhos. E orgulhei-me. Orgulhar-me-ia de qualquer forma só pelo amor com que sempre nos educaram, mas o facto de terem conseguido contrariar o expectável e terem ultrapassado o inexpugnável fez-me perceber a fibra de que eram feitos. E o facto de nos terem falhado com nada do que é importante, comida, amor e atenção, de se terem desdobrado para me levarem até Lisboa para os meus ensaios nos Onda Choc para cumprir um sonho (mal eu sabia que contavam todos os escudos nessa altura...), de nos terem dado uma infância muito feliz... é impagável.
E agora estava ali entre uma mola e outra, a sonhar com uma casa com piscina ou com um quintal onde pudessem correr. Não há mal nenhum nisso, mas, sei-o bem, é muito improvável que aconteça. Sou ambiciosa mas não a esse ponto sequer e acho que não vale tudo para que o conseguíssemos. Prefiro manter os pés bem assentes na terra, não me endividar do que procurar a felicidade em coisas que não sei se nos trariam isso ou só preocupações. Não sei como estão os pais daqueles miúdos que ouvi rir na piscina. Não lhes conheço as histórias, os medos, nem sei sequer se estão felizes.
Por isso, o exercício que (me) proponho é este: ver o copo meio cheio no que somos, alcançámos e não nos cobrarmos mais nem nos sentirmos infelizes pelas nossas circunstâncias. Quando temos o mais importante: saúde, amor, uma família unida e sonhos simples, tem tudo para dar certo.
Com o que sonham vocês?
No jardim ao pé da nossa casa <3 |
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Joana, não penses tanto em não magoar a Irene. Para quê arranjar desculpas para uma coisa que é natural. E dizeres que se ela não se despacha não vão ler um livro, isso é um castigo