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3.15.2020

Como trabalhar em casa com crianças?

Faço um intervalo no meu dia de trabalho a partir de casa, com as minhas filhas.

Não sei até que ponto isto vos pode ser útil, porque todos nós teremos não só trabalhos diferentes, como teremos rotinas - em casa e com os miúdos - diferentes, mas, mesmo assim, partilho convosco  6 dicas que têm resultado comigo para minimizar stress e frustração.



1) Definir metas realistas
Não é suposto conseguirmos produzir exactamente o mesmo do que produzimos quando não temos elementos distractores, alguém a chamar para limpar o rabo ou brigas (normais) entre irmãos para ajudar a gerir. Menos ainda quando sabemos que os nossos filhos não se criam sozinhos nem podem passar 8 horas sem a nossa atenção e, muito importante!, estão a sentir esta mudança de rotina e a nossa insegurança/perplexidade perante tudo o que se está a passar e, por isso, ficam mais carentes e acabam por exigir mais a nossa presença. Faz sentido.

Por isso, pensar em reduzir, pelo menos, para 2/3 os objetivos que traçámos inicialmente / traçaram para nós é fundamental. Se estamos em casa, à partida significa que não temos profissões de facto imprescindíveis nestes dias - um enorme abraço a todos os profissionais de saúde, investigadores, camionistas que transportam bens de primeira necessidade/medicamentos, etc -  e, se forem necessários mais dias para terminar um trabalho, que assim seja. 

2) Fazer pausas para meditar, alongar, respirar fundo ou fazer exercício
Se estamos 24h/24h em casa, tendo que gerir almoços, jantares, máquinas de louça, limpezas, filhos e trabalho - sendo bombardeados por recomendações, notícias, alertas sobre a doença - é fundamental tirarmos momentos para reforçar a sanidade mental e para continuarmos a suportar estes dias de forma calma. A mim, acalma-me fazer o pino que aprendi no ioga, alongar, fazer exercícios de respiração e ouvir música. Fico mais feliz. É essencial encontrarmos coisas que nos façam desligar do que se está a passar. 

3) Distribuir tarefas ao longo do dia 
Percebi, logo no primeiro dia que fiquei sozinha com elas, que não valia a pena pensar que iria conseguir fazer 7h seguidas de trabalho. Por isso, tirei parte da manhã para organizar a casa e para brincar com elas e à tarde repeti essa lógica. Assim, consegui duas horas de seguida (!!!) super focada porque elas já tinham tido "mãe" durante bastante tempo e organizaram brincadeiras e jogos sozinhas (o rei manda/ saltos na cama/ pinturas). Foi mais rentável assim do que se elas estivessem sempre a exigir a minha atenção ao longo do dia e a cada 10 minutos. Por fim, deixei o que restava para fazer no computador depois delas adormecerem. Às 23h00 estava na caminha a ver séries (e a desligar do coronavírus novamente). 

4) Desativar os alertas do whatsapp, instagram, messenger 
Já não recebia alertas do instagram e do messenger há uns bons meses e agora retirei também os do whatsapp. Prefiro apanhar 150 mensagens de amigos de seguida - à partida, se fosse algo urgente, as pessoas telefonariam -, do que estar sempre a desconcentrar-me e em sobressalto. Claro que é importante irmos falando, desabafando e até rindo (o humor é essencial nestes momentos) sobre tudo o que está a acontecer, mas não tem de ser a cada 10 minutos. De quando em vez, vou espreitar, mas não ando sempre agarrada ao telemóvel, para bem da minha produtividade e da minha saúde mental. 

5) Fazer logo comida para algumas refeições
A lógica acaba por ser a mesma do que quando trabalhamos fora e chegamos tarde a casa. Mais vale num dia "queimarmos" mais umas horas a cozinhar e a lavar louça, do que somar a tudo o que já temos para fazer em casa ao longo do dia a logística das refeições. Além disso, ficamos com uma ideia muito melhor do que temos na despensa, controlamos melhor prazos de validade, gerimos melhor tudo para não haver tanto desperdício e para irmos o menor número de vezes possível às compras nos próximos dias. 

Ah! E aproveitar para cozinhar algumas coisas com eles. Já fazemos isto há algum tempo cá em casa (eu diria que desde sempre - mesmo sem torre de aprendizagem, sempre as pusemos em bancos para ajudarem), mas agora, mais do que nunca, é bom envolvê-los na preparação das refeições: é um momento em família, sabe bem a todos e forma de aprenderem o que fazer a alimentos que já estão ali na corda bamba para ficarem kunami (quem viu Gato Fedorento vai entender) - ex: fizemos gelado de morango com banana.

6) Pensarem em atividades que eles gostem, que lhes ocupem tempo e com que aprendam algo
Li algures que também não é preciso transformar a casa num circo (mais do que ela já fica normalmente) de atividades e de números arriscados. É importante deixar-lhes espaço para o ócio - é aí que a imaginação funciona. Mas também é útil pensarmos juntos em coisas giras para fazerem (e/ou fazermos). 

A Mãe Já Vai deu a ideia de fazerem uma lista de coisas que querem fazer (cada elemento da família escolhe 3 ou 4), recortam, colocam num pote e vão sorteando. 

Aqui vamos decidindo de cada vez. Dei a ideia de prepararem um espetáculo de música ou teatro e foi o momento mais emocionante e divertido do dia de ontem. Mas também já as pus a ver um filme da Disney para poder ter essa hora para mim, por exemplo. "Vale tudo", desde que com algum equilíbrio.

E não se esqueçam de ler o SUPER ÚTIL texto da psicóloga Eugénia Amaro sobre como falar com as crianças sobre coronavírus

Deixo-vos ainda algumas ideias da Joana Gama, antigas, mas sempre úteis: 60 atividades para fazermos com eles e As nossas brincadeiras

Querem acrescentar algumas coisas?

8.24.2018

“Menti no trabalho: disse que o meu filho não tinha sido planeado”


Uma amiga confessou-me um dia destes que quando anunciou que estava grávida no trabalho e perante a questão das colegas se o filho estava nos planos, ela não conseguiu ter coragem para dizer que sim. “Foi um disparate, mas fiquei com vergonha e até receio de ficar mal vista”.

Acredito que, apesar de parecer um disparate, isto aconteça muitas vezes, perante colegas e principalmente perante as chefias. Engravidar nosso país é, infelizmente, visto como ir ali fazer umas férias (intermináveis) ou que a partir desse momento não podem contar connosco como até ali tinham feito. É como se houvesse um antes e um depois da profissional. Primeiro são as consultas, os exames, as baixas, depois a licença, depois a assistência e as doenças, a redução de horário, as reuniões nas escolas, as idas ao médico e ao centro de saúde, as viroses que se espalham por todos os membros da família e lá se vão as reuniões marcadas para as 18h30 da tarde, que pena, e lá se vai a disponibilidade que até ali era de 100%, a responder a chamadas à hora de jantar e a trabalhar madrugada dentro, todos os dias. As mulheres passam a ser vistas, e vezes até por mulheres, como alguém que arranja muitas desculpas para não trabalhar. Acham que nunca mais encarará o trabalho da mesma forma. Chegam a achar injustas as “benesses” (os direitos) que essas mulheres têm (ou os filhos delas). É incrível como nem a baixa taxa de natalidade no país, que está a deixar de assegurar a continuidade, é motivo de encorajamento das mulheres a terem filhos. E o facto de ganharem mundo e de ganharem uma flexibilidade gigante, de se redobrarem e chegarem a todo o lado – mesmo muitas vezes privadas de sono – nem o facto de darem tudo por tudo para continuarem a assegurar o seu trabalho para pôr comida na mesa parece suficiente.

Não vou ser hipócrita. Eu, infelizmente – não me orgulho mesmo nada – lembro-me de, uns aninhos depois de ter começado a trabalhar – ficar meia revoltada (nunca o expressei para com essa pessoa, menos), quando ela tinha redução de horário e tinha de ser eu a ir fazer todas as reportagens a 400 kms, às vezes em dias seguidos – uma vez calhou Porto e no dia seguinte Algarve. Custava-me. Mas com quem eu devia ter ficado chateada era com a minha chefia, que deveria ter arranjado outra solução ou posto mais uma pessoa na equipa, para que nos fôssemos alternando. Não era aquela mãe. Depois fui mãe e apercebi-me disso.

Termos um filho, termos dois filhos e até três deveria ser encorajado, caso seja essa a nossa vontade (e ainda melhor caso seja, de facto, planeado, desejado e sonhado). Deveria haver mais formas de gestão de equipas, mais possibilidade de trabalhar a partir de casa, mais possibilidade de fazer trabalho a tempo parcial. Deveria haver também mais equidade na distribuição de tarefas domésticas, as enfermeiras no centro de saúde não deveriam ficar ainda espantadas com o facto de ser um pai a acompanhar as consultas, as reuniões não podem continuar a ser agendadas para as 18h30 (independentemente de ser com homens ou mulheres).

Há muito caminho a fazer para que ter um filho não seja visto como um empecilho para uma empresa. Há muito caminho a fazer para que não haja medo de assumir: eu escolhi ter este filho.

 

Mais alguém teve medo de assumir?
(comentem em anónimo caso tenham receio de represálias, etc)
imagem pixabay.com/pt

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6.24.2017

Sinto que a minha carreira mediática já me passou ao lado


Confesso que fiquei histérica com o convite. E não estou a exagerar. A verdade é que sinto que a minha carreira mediática já me passou ao lado. Sinto que tive um timing ali em que podia ter apostado, mas que tomei outras decisões com o que sabia e sentia naquele momento.  Agora, claro que posso fantasiar com elas, mas só por não saber se levariam ao mesmo resultado. 

Houve uma altura em que fazia rádio (na rádio mais ouvida do país e no programa mais ouvido) e televisão e stand-up e comédia de improviso. Sentia-me realizada, mas cansada, mas sentia-me realizada, mas cansada. Deixei de o fazer, apostei noutras coisas, mas agora sinto falta. 

De verdade, só uma dessas é que não depende de mim, que é a televisão. Este convite fez-me sentir que não é por ter deixado de ser boa que não faço televisão, mas talvez porque já não seja adequada ao formato ou por haver gente mais adequada e isso não é errado. "É a vida a acontecer!" - por muito imbecil que possa parecer esta frase. 

Tenho saudades de andar de um lado para o outro, de espectáculo em espectáculo, de 5 euros em 5 euros, de grupo de amigos para pessoas da televisão, de fazer festivais em dois meios diferentes. Convenci-me que me tinha cansado e que não me mereciam por me darem tão pouco, mas eu recebia mais do que isso. Recebia utilidade, como aqueles cães com o barril ao pescoço (S. Bernardo?). 

Ontem matei as saudades - um bocadinho - e fiquei muito satisfeita por ver que a Mariana (Bumba na Fofinha) faz aquilo que faz na perfeição. Não sou provedora de nada, mas olhei para ela a trabalhar e pensei: isto está bem entregue. Como se pudesse descansar em relação a mim própria, mas sem saber bem porquê. 

Gostei muito de ir. Gostei muito do que fui falando. Gostei muito da dupla que lá estava. Adorei conhecer o Guilherme do Por Falar Noutra Coisa e adorei o Dário e a sua autenticidade.  Porém, tinha saudades de ser maquilhada e penteada e de conversar com a equipa e de abraçar os cameras - sinto-os quase como família, que "esquisito".. 

Gosto de fazer televisão, sinto até que preciso e não há que ter vergonha disso. Certo? Há quem precise de fazer Kitesurf, eu gosto de comunicar. Gosto de "aparecer", mas não sinto que seja para ser famosa. Sinto que é por causa da adrenalina e por gostar de fazer rir. 

Agora tenho o stories do instagram, ninguém me maquilha e os dados do telemóvel não esticam (estou para ver a conta deste mês), mas que tenho saudades, tenho! Também vos tenho aqui, mas este lado do meu coração não tem tanta graça, tem mais amor :)

Ontem fui ao CC All Stars Black Friday e foi às 16h50, quem quiser ver, esteja à vontade! 

Mariana e Guilherme, não ficaram no vosso melhor, mas o blog é meu, tinha de ser esta. :) 



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