Faço um intervalo no meu dia de trabalho a partir de casa, com as minhas filhas.
Não sei até que ponto isto vos pode ser útil, porque todos nós teremos não só trabalhos diferentes, como teremos rotinas - em casa e com os miúdos - diferentes, mas, mesmo assim, partilho convosco 6 dicas que têm resultado comigo para minimizar stress e frustração.
1) Definir metas realistas
Não é suposto conseguirmos produzir exactamente o mesmo do que produzimos quando não temos elementos distractores, alguém a chamar para limpar o rabo ou brigas (normais) entre irmãos para ajudar a gerir. Menos ainda quando sabemos que os nossos filhos não se criam sozinhos nem podem passar 8 horas sem a nossa atenção e, muito importante!, estão a sentir esta mudança de rotina e a nossa insegurança/perplexidade perante tudo o que se está a passar e, por isso, ficam mais carentes e acabam por exigir mais a nossa presença. Faz sentido.
Por isso, pensar em reduzir, pelo menos, para 2/3 os objetivos que traçámos inicialmente / traçaram para nós é fundamental. Se estamos em casa, à partida significa que não temos profissões de facto imprescindíveis nestes dias - um enorme abraço a todos os profissionais de saúde, investigadores, camionistas que transportam bens de primeira necessidade/medicamentos, etc - e, se forem necessários mais dias para terminar um trabalho, que assim seja.
2) Fazer pausas para meditar, alongar, respirar fundo ou fazer exercício
Se estamos 24h/24h em casa, tendo que gerir almoços, jantares, máquinas de louça, limpezas, filhos e trabalho - sendo bombardeados por recomendações, notícias, alertas sobre a doença - é fundamental tirarmos momentos para reforçar a sanidade mental e para continuarmos a suportar estes dias de forma calma. A mim, acalma-me fazer o pino que aprendi no ioga, alongar, fazer exercícios de respiração e ouvir música. Fico mais feliz. É essencial encontrarmos coisas que nos façam desligar do que se está a passar.
3) Distribuir tarefas ao longo do dia
Percebi, logo no primeiro dia que fiquei sozinha com elas, que não valia a pena pensar que iria conseguir fazer 7h seguidas de trabalho. Por isso, tirei parte da manhã para organizar a casa e para brincar com elas e à tarde repeti essa lógica. Assim, consegui duas horas de seguida (!!!) super focada porque elas já tinham tido "mãe" durante bastante tempo e organizaram brincadeiras e jogos sozinhas (o rei manda/ saltos na cama/ pinturas). Foi mais rentável assim do que se elas estivessem sempre a exigir a minha atenção ao longo do dia e a cada 10 minutos. Por fim, deixei o que restava para fazer no computador depois delas adormecerem. Às 23h00 estava na caminha a ver séries (e a desligar do coronavírus novamente).
4) Desativar os alertas do whatsapp, instagram, messenger
Já não recebia alertas do instagram e do messenger há uns bons meses e agora retirei também os do whatsapp. Prefiro apanhar 150 mensagens de amigos de seguida - à partida, se fosse algo urgente, as pessoas telefonariam -, do que estar sempre a desconcentrar-me e em sobressalto. Claro que é importante irmos falando, desabafando e até rindo (o humor é essencial nestes momentos) sobre tudo o que está a acontecer, mas não tem de ser a cada 10 minutos. De quando em vez, vou espreitar, mas não ando sempre agarrada ao telemóvel, para bem da minha produtividade e da minha saúde mental.
5) Fazer logo comida para algumas refeições
A lógica acaba por ser a mesma do que quando trabalhamos fora e chegamos tarde a casa. Mais vale num dia "queimarmos" mais umas horas a cozinhar e a lavar louça, do que somar a tudo o que já temos para fazer em casa ao longo do dia a logística das refeições. Além disso, ficamos com uma ideia muito melhor do que temos na despensa, controlamos melhor prazos de validade, gerimos melhor tudo para não haver tanto desperdício e para irmos o menor número de vezes possível às compras nos próximos dias.
Ah! E aproveitar para cozinhar algumas coisas com eles. Já fazemos isto há algum tempo cá em casa (eu diria que desde sempre - mesmo sem torre de aprendizagem, sempre as pusemos em bancos para ajudarem), mas agora, mais do que nunca, é bom envolvê-los na preparação das refeições: é um momento em família, sabe bem a todos e forma de aprenderem o que fazer a alimentos que já estão ali na corda bamba para ficarem kunami (quem viu Gato Fedorento vai entender) - ex: fizemos gelado de morango com banana.
6) Pensarem em atividades que eles gostem, que lhes ocupem tempo e com que aprendam algo
Li algures que também não é preciso transformar a casa num circo (mais do que ela já fica normalmente) de atividades e de números arriscados. É importante deixar-lhes espaço para o ócio - é aí que a imaginação funciona. Mas também é útil pensarmos juntos em coisas giras para fazerem (e/ou fazermos).
A Mãe Já Vai deu a ideia de fazerem uma lista de coisas que querem fazer (cada elemento da família escolhe 3 ou 4), recortam, colocam num pote e vão sorteando.
Aqui vamos decidindo de cada vez. Dei a ideia de prepararem um espetáculo de música ou teatro e foi o momento mais emocionante e divertido do dia de ontem. Mas também já as pus a ver um filme da Disney para poder ter essa hora para mim, por exemplo. "Vale tudo", desde que com algum equilíbrio.
E não se esqueçam de ler o SUPER ÚTIL texto da psicóloga Eugénia Amaro sobre como falar com as crianças sobre coronavírus.
Deixo-vos ainda algumas ideias da Joana Gama, antigas, mas sempre úteis: 60 atividades para fazermos com eles e As nossas brincadeiras.
Querem acrescentar algumas coisas?