Disclaimer: Não quero incentivar-vos a meterem os vossos filhos na escola. Acho que esta é uma decisão muito pessoal. Não temos todos as mesmas condições, as mesmas necessidades, as mesmas estruturas familiares, as mesmas escolas, modos de funcionamento. Todos temos e tivemos de pesar os pros e os contras.
Tomámos a decisão de irem quando se colocou a hipótese de eu recomeçar a trabalhar já em junho. Ligaram-me e talvez viesse a ter trabalho em breve em TV. Como poderia vir a saber de um dia para o outro, achámos melhor que a transição para a escola fosse uma coisa suave e que começassem a ir menos horas enquanto eu as pudesse ir buscar mais cedo. Têm ido das 10h às 16h30, mais coisa menos coisa.
Uma coisa que me descansou foi o facto de terem um bom espaço exterior e ser lá que iriam passar a maior parte do dia. Tivemos uma reunião de quase 2 horas para ficarmos a saber como iria ser o funcionamento da escola. Percebi (já calculava) que não iria faltar mimo, que os miúdos poderiam brincar juntos (sei que algumas de vocês acharam graça àquela imagem dos helicópteros na cabeça que andou por aí a circular - a ideia era os miúdos terem umas hélices tão grandes, num suporte na cabeça, que lhes delimitavam o espaço e impedia que se aproximassem; eu não gostei mesmo nada) e, muito importante, que iriam fazer várias atividades na rua. Acho que no primeiro dia então, só foram dentro para almoçar e para a sesta. Posto isto, a confiança na escola e nas educadoras, auxiliares, etc foi um factor decisivo para mim.
Outro factor a ter em conta, para nós, foi a proximidade com pessoas de risco. Os meus pais não o são, por exemplo. Os meus sogros, sim. Por isso, agora que tomámos esta decisão, é provável que só os voltemos a ver depois de estarmos de férias e com menos contactos. Veremos.
Sossegou-me bastante ter visto uma entrevista recente a uma infeciologista pediátrica portuguesa; ter lido outros artigos e ter conseguido vencer o meu medo.
Depois de tomada a decisão, e mesmo tendo agora a noção de que muito provavelmente só voltarei a ter trabalho em tv em julho, já não as tiro da escola tão cedo. A não ser que haja indicação para isso.
Elas estão outras. Logo no primeiro dia, notei uma diferença tremenda. Chegam a casa e vão brincar. Mal se lembram de que têm uma TV em casa. Estão mais colaborativas. A Luísa voltou a fazer sesta. Fazem o caminho todo de carro a contar as novidades, ao que brincaram, o que comeram, sem que lhes pergunte nada. Querem partilhar as novidades e a sua felicidade comigo. As descobertas que fizeram. O balancé novo. A brincadeira às bruxas boas ao pé da árvore. O "quantos queres" que fizeram. A lanterna.
Estão mais calmas, mais felizes, acho que precisavam muito desta rotina, destas companhias e, também, de encontrar este espaço individual. Cada uma, sozinha, com os seus amigos e educadoras.
Para finalizar, percebo que este seja um tema que divide muita gente e eu percebo. Eu também dizia "não tendo necessidade real, elas não vão". Até cheguei a pensar que seria egoísmo meu ir pô-los na escola estando em casa, com trabalhos esporádicos. Que só deviam ir os filhos de quem não tem outra opção. Mas quem define "necessidade real"? Quem me diz que não era uma necessidade que precisava de colmatar nas minhas filhas? Uma necessidade emocional?
E não, não temos de nos catalogar como pais extremosos e dedicados VS. pais que não têm paciência para os filhos, só porque se toma esta decisão. Ou pais medrosos VS. pais inconscientes.
As minhas filhas não estão a ser "cobaias" de nada, como aí vi escrito sobre este assunto. Às minhas filhas foi devolvida uma rotina mais agradável, um jardim, amigos que adoram, aprendizagens e, também, uma mãe mais equilibrada, depois destes meses. Todas as decisões são legítimas, desde que feitas em consciência, pesando os prós e os contras e de acordo com cada escola e família.
Esta foi a nossa decisão.