Não estou a escrever estas palavras com um sorriso no rosto. Não posso deixar de dizer que fiquei triste porque houve pelo menos uma pessoa a dizer que me tinha deixado de seguir porque “estou sempre a fazer atividades com as filhas”. Percebo que a forma como o post da Joana Gama está escrito - apesar de saber que não foi essa a intenção - incentive por um lado, e ainda bem, a descompressão, o desabafo, a partilha mas, por outro, uma especie de shaming contra as “mães do Ruca”. Como se alguém o fosse.
Nunca disse que isto estava a ser fácil para mim. Vivo num T2 muito pequeno (mesmo muito), tenho duas miúdas cheias de energia fechadas, sem uma varanda que seja, sinto que estou sempre a fazer comida (frase que mais ouço é “tenho fome!” a par de “limpas o rabo?”, e faz sentido uma ser consequência da outra), a limpar, a arrumar ou a gritar para pararem de se esfolar vivas. Até há uma semana estava em teletrabalho e foi um mês de loucos. Tinha de trabalhar às vezes até às 3h da manhã para conseguir compensar o que não dava vazão durante o dia. E lá estavam elas a acordar cedo no dia seguinte e tudo se repetia.
No entanto - e esse foi o meu estratagema, não significa que resulte convosco, que possam ou queiram - tirava sempre (ou quase sempre), uma horinha que fosse só para elas de manhã. Mas, notem, não era só por elas. Era por mim também. Por dois motivos essencialmente: se lhes desse atenção, “des”largavam-me mais no resto do dia. E também porque planear coisas para elas fazerem e envolver-me nos projectos delas me salva. É uma forma de me manter ocupada, de ter planos e projectos. Sem grandes expectativas! Às vezes quem acaba as coisas sou eu. Às vezes só fica a Isabel entusiasmada. Às vezes gostaria que não se lembrassem do que lhes prometi fazermos na véspera, porque não me apetece, mas tenho uma polícia cá em casa (Isabel). Lembrámo-nos de jogar sempre um jogo os quatro às refeições (telefone avariado/ listas de animais, etc) e há dias em que só me apetecia comer em silêncio.
Já houve dias em que se tiveram 15 minutos da minha atenção focada foi muito. E está tudo bem. Tenho a certeza de que elas - e os vossos - não se vão lembrar disto nesta quarentena. Vão lembrar-se das partes boas. Eles não nos cobram isso tudo.
Por isso, decidi fazer aqui uma ressalva (como se não bastasse o estado em que mostrei a minha cozinha no outro dia...), para vos dizer que não ando a espetar nas vossas caras as mil atividades que faço com elas (atenção que algumas se fazem em 5 min... mas pronto) porque “sou uma ÓPTIMA MÃE, olhem para mim” mas sim para vos dar ideias simples, caso estejam já sem elas, para entreter os vossos filhos. Deixei também links de séries e de teatros e circos que duram uma hora (para nos libertar também a nós). Não escolham ver o pior dos outros nesta fase. Nem em vocês. Não se sintam frustradas porque não conseguem ter a casa arrumada, fazer a comida XPTO ou pão, ou fazer coisas com os miúdos. Quem disse que quem está nas redes a partilhar está o dia todo naquilo? E, mais importante, está feliz? Não se consegue fazer tudo bem. Muitas vezes prescindo de fazer refeições de jeito, de ter a casa arrumada ou, até, de tomar banho. Pronto, já disse.
Não sou guru, nem psicóloga, nem nada disso, mas tentem também avaliar se estão a fazer as escolhas mais “acertadas” (não falo do banho). Fará sentido continuarem a passar roupa a ferro? Que tal dobrar depois de apanhar e arrumar? Quem vos vai cobrar por isso? Quem vos vai ver? Poupam energia e tempo e cabeça [a não ser que vejam nisso uma terapia]. E fazer mais comida ao almoço a contar já com o jantar? E se eles não tomarem banho todos os dias? Sei lá, vejam de que forma podem tirar esse peso de cima de vocês, e por favor, sem se estarem sempre a comparar com os outros.
Vejo quem ande a treinar todos os dias, a ler livros atrás uns dos outros, outros já acabaram de correr a Netflix, vejo quem se continue a maquilhar todos os dias (por acaso a minha pele está muito melhor desde que não o faço): se eu ficar algum dia com algum sentimento de inferioridade por isto, internem-me (dava jeito já, para ir descansar um bocado delas). Se calhar deviam mesmo, que já gritei mais neste mês e uma semana do que na vida toda delas.
Ninguém é perfeito. Estamos todos a lidar com isto da melhor forma que sabemos. A apalpar terreno. A fazer ajustes todos os dias ou só a tentar sobreviver. Uns a conseguir aproveitar as coisas boas desta porcaria, outros a ver de que forma saem com alguma sanidade. Uns a descobrirem talentos que não sabiam que tinham, outros a pensar como vão conseguir continuar a pagar a escola dos miúdos se deixaram de ter trabalho.
Não, não vamos todos ficar bem, mas que o processo seja o menos penoso e o mais leve possível. Julguemos menos e, sobretudo, paremos de nos comparar tanto. Ninguém estava à espera disto e a espera por que tudo isto passe parece interminável. Cada um lida como melhor pode ou consegue.
Até breve, com mais ou menos sugestões de actividades com os miúdos. Mas seguramente com um copo de vinho ao lado, enquanto vos escrevo.
Joana, entendo que ninguém gosta de perder seguidores, mas se as pessoas se sentem melhor ao deixarem de seguir, acho que é o que devem fazer. Aliás, não foste tu que já fizeste o mesmo?
ResponderEliminarPost sincero e sensato. Obrigada 😊 que paremos todos e todas de ver mal nos outros e tentemos sim ver o bem em nós! Como mãe de três (gêmeos de 7 meses e menina de 3 anos) não é fácil ser a super mãe mas procuro ter pelo menos uma coisa que me faça feliz 😊 obrigada pelas sugestões do outro post. Algumas boas para uns momentos de sossego e outras também boas para ver em família.
ResponderEliminarQue fiquemos todos o melhor possível 😍
👏👏👏👏👏👏
ResponderEliminarTantas sugestões ao longo destes anos, por parte das duas autoras, que tenho visto neste blog e agora porque estamos em quarentena já parece mal?
ResponderEliminarNão me identifico com tudo o que leio por aqui. Mas está tudo bem, passo à frente. Volto a ler quando me agradar mais. Acho que a Joana Gama mesmo sendo autora poderia fazer o mesmo. Tiro ideias mas não me avalio por aqui.
Aqui em casa, somos cinco, só se passa a ferro as calças e camisas de trabalho do meu marido. Por isso agora nem isso :)
Ola Joana, percebo-te bem. As pessoas (e em especial as mães) gostam muito de se criticar mutuamente. De alguma forma está nos genes, triste mas verdade. Eu também gosto de fazer o maior número de actividades com a minha filha e as vezes noto alguma crítica ou invejas que não têm sentido nenhum. Vivo no estrangeiro e nunca tive ajuda de ninguém, nem pre Covid. Tenho uma menina com quase 4 anos e outra a caminho daqui a uns 2 mesitos. De quarentena a trabalhar de casa e a ter de ocupar a criança (com 500 mil interrupções diárias) é um grande desafio. La vou arranjando actividades, mas há imensos dias que nada funciona a não ser o iPad e lá tem de ser. Fico super frustrada e cansada. Tal como tu tenho de ficar bastantes dias a trabalhar noite dentro pois não consigo fazer o que queria durante o dia, e no dia seguinte tenho o meu alarme humano pequenino a acordar pelas 6:30am (que com a pança com que estou custa especialmente levantar da cama ;). Continua a partilhar as tuas actividades para nos dar motivações e ajudar a puxar pela nossa imaginação. Todos sabemos que as fotos podem parecer fantásticas mas que as vezes são tarefas que entretêm 20 min no máximo. Mas que isso não nos faça desistir de continuar a tentar.. beijos de força do outro lado do Mundo, Sofia
ResponderEliminarVou confessar algo: depois de ler os teus posts/ver as stories percebi que ficava a sentir-me irritada e com vontade de deixar de seguir as tuas publicações. O sentimento era esse do "olha, a mãe perfeita, que consegue fazer tantas atividades e que parecem criativas e interessantes". Mas a frase que continua é "e que Eu não o consigo fazer!". Depressa percebi que eu é que me sentia insegura por não estar a acompanhar a minha filha. Não era correto estar a fazer esse exercício, inconsciente, de julgar-te. Arrumei isso na minha cabeça e continuo a seguir-te, pois gosto muito da forma como escreves e dos teus conteúdos ;)
ResponderEliminarParabéns por ter conseguido ter esse discernimento. Mas há muita gente que, pelo menos sozinha, não consegue fazer esse exercício de ver sem se deixar afetar. Quando é assim, a bem da sanidade mental, o melhor é mesmo deixar de ver.
EliminarSério que há gente que se ofende por alguém tirar uns minutos para fazer actividades com as filhas? Creio que é tempo de se olhar para dentro e perceber o que está mal ou o que achamos que estamos a fazer mal... e tentar a aceitação. Ninguém consegue limpar, cozinhar, arrumar, brincar, lavar roupa, ter as compras em dia, fazer de educadora, trabalhar 8h/dia e sair disto tudo sem um fio de cabelo desalinhado. Cada uma dá prioridade àquilo que a faz ficar menos maluca, olha.
ResponderEliminarJoana Bráz...eu sigo-a porque adoro ver as actividades que faz com as suas filhas e os livros e brinquedos didacticos que nos indica. Admiro-a pelo esforço e entusiasmo que dedica á educação das suas filhas.É uma inspiração para muitas mães.Parabéns pela pessoa que é...e não ligue a comentários com críticas não construtivas.Há pessoas que como não conseguem fazer igual, uma forma de se sentirem por cima é desvalorizando o trabalho dos outros.Parabéns e continue o seu magnifico trabalho para o bem de muitas mães! Beijinhos .Ass: mãe Su
ResponderEliminarContinua a mostrar as tuas atividades! São super úteis 🧡
ResponderEliminarJoana, eu tenho achado super úteis as dicas porque não tenho lá muito jeito para 'actividades' (salvo ligar a música e fazer aulas de dança livre, ou ler histórias). Tenho tão pouco jeito para trabalhos manuais, mas eles parecem não reparar. No outro dia pequei numa caixa de cartão grande de uma coisa qualquer que tínhamos comprado antes disto tudo, e fiz a minha tentativa de arts and crafts. Tentei fazer um castelo, em que os rolos de papel higiénico eram as muitas chaminés, e usar papel de lustro e fitas de laços de prendas, as únicas coisas que tinha aqui por casa, para enfeitar, e o resultado foi.... Opa, simplesmente risível (pior que a tua cozinha desarrumada ou as saias às cores da Desigual da Joana Gama 🤣). Mas eles adoraram e usaram vários dias como refúgio, garagem para Legos, cama para nenucos....
ResponderEliminarOlá Joana!
ResponderEliminarEste post fez-me ver como temos todos esta "mania" de nos compararmos. Costumo ver as tuas histórias e pensar: espetacular, um dia também quero ser assim. Ter paciência e energia. És uma inspiração, mesmo sabendo nós que nenhuma mãe é perfeita. Continua, força!!