Quando se tem filhos, passa-se por imensas fases. Pelo menos eu passei por estas: isolamento total, isolamento parcial, solidão imensa, estranheza do afastamento de algumas pessoas, pena por não poder fazer os planos de antigamente e sentir-me "diferente", aceitação, aproximação de outras pessoas, adaptação dos planos a um equilíbrio entre ser pai e ter amigos, re-aproximação das pessoas "de sempre", etc. Sinto que, nesta fase, depois de ter voltado ao trabalho (fez-me maravilhas, não tenham medo que não vale a pena) a minha vida está como uma boa receita: uma pitadinha de tudo nas doses mais equilibradas.
Já consigo voltar a estar com pessoas de quem gosto. Já não me sinto aprisionada por ser mãe, já consigo ter maior flexibilidade (não na prática que tenho a flexibilidade de uma vassoura) e a Irene também. Passeamos, encontramo-nos com amigos, fazemos planos diferentes... agora sim.
Nunca antes tinha sentido este grau de "silêncio" em mim. Sentir-me completa em todas as vertentes. Trabalho em algo que gosto, tenho o meu companheiro (Frederico) sempre comigo, tenho amigas, tenho amigos e tenho o maior presente que a vida pode dar a alguém (que o queira): um filho. A Irene.
A Susana, minha amiga desde o secundário... Aliás, foi mais do que minha amiga. Estávamos juntas praticamente todos os dias, só as duas, saíamos sempre as duas juntas, só as duas, jantávamos juntas, só as duas, andávamos no ginásio, só as duas, dormíamos juntas lá em casa, só as duas (sem ordinarices, 'tá bem?)... Bom, a Susana desapareceu durante a minha gravidez. Ou melhor, desaparecemos as duas. Deixamos de ser compatíveis... eu arranjar namorado e ela também fez com que a vida das duas mudasse de tal maneira que não nos conseguíamos encontrar. Hormonas e sentimento de culpa à mistura, ainda deu para uns quantos e-mails e whatsapps mais palermas e frios.
Quando me passou a crise hormonal e o babyblues (e ela passou a estar mais atinadinha também - toma, cabra!), voltámos. Não voltámos a ser "namoradas" porque isso já não era "normal" antes, não iria passar a ser agora, mas somos nós na mesma. As brincadeiras são as mesmas, os olhares cúmplices, as bocas passivo-agressivas (tudo na boa, claro) e, mais do que tudo, a história. Sabemos a história uma da outra.
Vejo um bocadinho dela em todas as mulheres que conheço. A Joana Paixão Brás tem algumas coisas de Susana, a minha amiga Eugénia tem outras, a Renata não tem NADA de Susana... Ela é como se fosse uma espécie "molde" para mim.
Sinto que passamos de dupla a trio. Quando estivemos juntas na terça-feira, apalhaçamos as três. Teríamos apalhaçado na mesma antes da Irene, mas não se ouviriam os Caricas em som de fundo, nem falaríamos tanto de animais de quinta.
Os vossos amigos já voltaram?
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Ainda não.. Ainda estou na fase da solidão :/ que falta me faz ter uma "Joana" (alguém a passar pelo mesmo que eu, assim aqui ao lado).
ResponderEliminarOlá Joana. "Aquilo" na foto, lá atrás, é um microfone? Onde se vende? Quero! (Não para mim, obviamente!) :-)
ResponderEliminarQue bom Joana, parabéns pelo teu "regresso"! Eu ainda estou na fase bicho-do-mato... Passei (e passo) pelas mesmas fases de isolamento. Só que tenho um twist (que é capaz de ser uma agravante) é que parece que perdi a paciência para certas conversas. Só me apetece estar no "ninho" com a cria (9 meses) e com o pai da cria.
ResponderEliminarCom o mesmo nome...e o mesmo sentimento...=) eu ainda passo por essa fase...e sinto, muito, a falta dos meus amigos...e a precisar de "uns novos" que tenham disponibilidade para Estar!!! Acho que devíamos combinar um encontro, com crias e tudo eheheh!!!
ResponderEliminarVoto no encontro! A mãe é que sabe devia organizar um encontro de mães e crias :-)
EliminarEu devo ser sortuda. Não senti afastamento, nem mesmo da minha grande amiga cujo sonho sempre foi ser mãe e ter filhos (mas que anda com pouca pontaria e não acerta em quem queira o mesmo). Tive medo que ela ficasse frustrada (eu, por oposição, nunca tive o casamento e ter filhos como objectivo de vida com tanta paixão como ela), que se afastasse. Mas não. Partilha isso tudo e com todo o orgulho de acompanhar o crescimento da minha pimpolha.
ResponderEliminarE mesmo os amigos distantes, que mudaram de cidade ou emigraram. Mandam mensagens, pedem novidades, falamos pelo skype, "perdem" tempo a desviarem para virem ter connosco nos poucos dias que passam cá por ano.
Para além disso, calhou ter uma data de amigas a ter bebés no mesmo ano em que a pequenita nasceu, por isso também tive sempre com quem "despejar" as conversas de mãe (roupa, promoções, doenças, etc.) sem ser chato para ninguém (digo eu).
Sim, tenho muita, muita sorte.
Eu não senti isso. A minha melhor amiga de sempre (que ainda não é mãe) esteve tão presente quanto os km que nos separam permite, e foi muito presente. Não senti qualquer tipo de afastamento.
ResponderEliminarArrisco-me a dizer que, a ter sentido algum afastamento, até foi de amigas que também foram mães e que passaram a viver única e exclusivamente para os filhos. Não quero julgar, até porque não me cabe fazê-lo, mas senti um pouco esse afastamento (agora que penso nisso).
Acredito que quando temos um filho, acabamos por mudar naturalmente e isso acaba por não nos custar. O que mais me custa ainda é não viajar tanto como gostaria mas até para isso hei-de arranjar solução. É uma questão de adaptação mas é possível. Defendo que, havendo vontade, é possível manter tudo o que quisermos sem prejuízo de nada, ou quase nada. As coisas continuam a existir se quisermos, apenas não da mesma forma.