1.02.2016

Carta de amor


Carta de agradecimento à mestra da minha vida – a minha neta

Isabelinha, meu amor,

porque para além do meu nome, do meu sangue, és a minha mestra. 

Quero dizer-te que me ensinas muito mais que eu algum dia poderei almejar fazer…

Digo-te, com a fragilidade que estas palavras encerram, que me ensinas todos os dias que a verdade da vida explode nas coisas simples que me dás, gratuita e genuinamente, na força dos teus abraços, na alegria espontânea desse olhar puro que me enche a alma, no som dos teus passinhos quando me corres para o colo, no teu linguajar que diz mais que os “Nóbeis” da literatura universal.

Seria tão mais fácil aos homens, sabes estas pessoas que se dizem adultos, aprenderem contigo que a vida se está a descobrir, assim minuto a minuto, que nada é mais maravilhoso que esse encontro que fazes todos os minutos com ela, nessa entrega ao encantamento da descoberta, no espanto com que as pequenas coisas se agigantam com a tua alegria.  

Meu amor, trazes contigo a energia vital que poderia impedir os medos do mundo, trazes contigo essa suspensão dos receios que inibem o mundo girar em torno do que verdadeiramente interessa, amor, confiança, persistência. Como teríamos todos que reaprender contigo, o que perdemos algures neste crescimento, nesta vida séria de crescidos. Perdemos tanto! Agora que te vejo a cair para conseguires correr, a não desistires de tentar saltar mesmo que seja só um pequeno solavanco para cima, com esse corpinho ainda tão pequenino, ris-te porque ainda não o conquistaste mas sabes que o vais alcançar e persistes, sem dramas.  

Como disse Mia Couto, "a vida é tão simples que ninguém a entende"… só tu Isabelinha!

Obrigada, amor da minha vida!

Avó Béu




4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. De facto aprendemos e podíamos aprender muito mais com os nossos filhos pequenos, com a inocência que os faz ter uma alegria genuína com tudo o que é novo, com a ausência de medo que não lhes tolda a visão e a vontade de descobrir cada vez mais com a certeza de que o que vão ver é mágico, maravilhoso e maior do que o que conhecem.
    E os avós, com sabedoria da experiência que a vida lhe trouxe, terão uma serenidade maior para apreciar estes pequenos mestres. Os pais ainda estão num estágio intermédio (falo por mim) em que o medo que vem associado ao amor avassalador que sentimos pelos filhos (e é tão novo) nos impede de os apreciar sem algum receio, sem o peso da responsabilidade da sua vida , e até da sua felicidade, sobre os ombros.
    Dou por mim metade do tempo a rir com os sorrisos e as conquistas da minha filha, a ser feliz porque ela existe e, na outra metade do tempo, ainda feliz, estou a correr atrás dela e a dizer-lhe que não, que não deve subir os móveis, pegar em objetos potencialmente perigosos, correr demasiado depressa, não pode puxar as patas ao gato, nem enfiar-lhe os dedos nos olhos, nem comer bolachas de chocolate, nem roubar os brinquedos aos amigos, daquele jeito matreiro e inocente que só faz rir. Às vezes penso que devia deixá-la estar e vigiá-la ao longe agindo apenas se necessário, mas não tenho sido capaz. Não sou capaz de não andar atrás dela tentando antecipar todos os perigos e potenciais chatices. Algo a trabalhar este ano, sem dúvida. :)

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  3. Todos deviam ler este texto. E olhar para as crianças com estes olhos para aprender com elas! Parabéns pelo texto!

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