4.10.2020

Não consigo fazer actividades com a miúda.

Não consigo e sinto-me pessimamente com isso.

Tenho visto os stories da Joana e as publicações aqui, mas confesso que só me deixam mais enervada comigo e triste.

Sinto que devia estar a fazer, até os trabalhos que a professora manda (estão a ser feitos às mijinhas), mas há algo que não me permite. Sinto que talvez seja a falta de tempo para mim mesma. 

É claro que a culpa é da pandemia, mas há pequenas coisas que conseguimos controlar para serem mais a nosso favor. Tenho escolhido ficar acordada a ver os directos do Bruno a descansar e a acordar cedo para preparar o dia, por exemplo. Tenho de tomar uma decisão mais inteligente. 

Agora que sabemos que, para os mais novos, as escolas vão ficar fechadas até Setembro, sinto-me ainda mais responsável por entreter a Irene de forma educativa, mas faltam-me as faculdades. Não que seja difícil ir à internet e sacar umas actividades ou comprar umas coisas, mas falta-me a disponibilidade mental. Adorava tê-la. 

A última vez que me senti assim foi quando estava numa relação e ocupava o meu tempo livre (sem Irene) com a relação. Assim que deixei de estar e passei mais tempo sozinha, passei a estar muito mais paciente e disponível para brincar. Neste caso, terei de trabalhar em delimitar melhor os tempos de cada uma sozinha para ver se os tempos de presença aumentam de qualidade. 

Também dizem para criarmos rotinas mas, honestamente, aqui têm ido a abrir. Se seguimos a rotina que fizémos uma ou duas vezes foi muito. Tenho de controlar mais isso. 

Tenho saudades minhas.

Por outro lado, porra. Não me apetece ter que controlar nada, nem melhorar nada. Apetece-me só ser empática comigo e com a miúda. Não estávamos à espera disto, não é horrível, mas não é nada fácil e talvez não seja agora tempo de fazer um sprint de criatividade e de dedicação por isto ser uma maratona. 

Se conseguisse, claro que faria sprints diariamente, mas não estou preparada para isto. 

Aliás, tem-me doido o corpo todo sempre que acordo. Às vezes nem reparo, mas devo andar muito tensa diariamente porque no dia seguinte é mesmo com se tivesse feito um treino de crossfit pela primeira vez (que nunca fiz, mas percebem a ideia). 


Tenho inveja de ti, Joana. Também quero ter paciência para pintar ovinhos e fazer rolos de papel higiénico e teatros de sombras e cozinhar saudável, mas ainda ontem mandei vir McDonalds, espetei-lhe o iPad para conseguir trabalhar e se brinquei 15 minutos com ela minimamente presente foi muito. 

Contudo, vou escolher aceitar-me. O meu estado tal como estou a vivê-lo. Somos diferentes umas das outras, skills diferentes e bem ou mal, vai tudo correr de forma diferente da que poderíamos alguma vez ter imaginado, mas vai correr. 

Não posso continuar a pedir tudo isto de mim própria: brincar com a miúda, pensar em actividades giras, ser boa mãe, comida saudável, arrumar e limpar a casa, trabalhar, pensar na carreira, ser proactiva... Fuck!

Acho que vou escolher ser razoável em tudo e não óptima. Deixem-me. 



22 comentários:

  1. Mãe sozinha de uma menina com 9 anos, há quase 7 anos, separada há 5, sem fins de semana sim / não porque o pai para além de trabalhar longe também é pouco presente, entendo isso e também não consigo. Seria muito melhor mãe se tivesse momentos meus, em solidão, ganho fôlego quando ela está uns dias com o pai. Já desisti de reparar no que os outros fazem pelos filhos e eu não. A vida dos outros não é a minha. Sou o melhor que posso, nas condições possíveis. Parece-me, mesmo assim, uma criança feliz!
    Beijinhos,
    Daniela

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    1. Revejo-me inteiramente nas suas palavras... bjs e força

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  2. Esperava este post de todas as mães que começo menos de ti Joana Gama. És tanto dos estímulos e actividades e o iPad era quando estava com o pai, que fiquei admirada.
    Muitas dessas actividades que falas fazem-se nesses tais 15 minutos. Isto é como nos blogs quem não gosta das actividades é só passar à frente e está tudo bem.
    Eu preferi o tempo com “aulas” do que as férias. Prefiro velos fazer alguma coisa do que só vaguear todo o dia pela casa. Eu e o meu marido estamos em teletrabalho e eles são 3 e o mais velho tem 7 anos. Dificuldades de todas as famílias.

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    1. Estou em casa sozinha em teletrabalho com dois filhos um de 9 meses e outra de 7 anos.
      O meu marido sai para trabalhar ás 7 da manhã e regressa ás 7 da noite.
      O que me sugere?!

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    2. Umas boas garrafas de vinho tinto. Não sei como conseguimos viver assim, vamos sair disto todas com problemas psicológicos.

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    3. As redes sociais podem ser uma inspiração. Mas não se avalie por elas. Não se sinta boa ou má mãe pelas redes sociais.
      Se ninguém fizesse actividades já está tudo bem?
      Antes da quarentena já havia actividades pelas redes sociais.

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  3. Acho que em teletrabalho e com miúdos é impossível. Mais que não seja, é desmotivador. Afinal, ser mãe/pai é, já de si, um trabalho a tempo inteiro, quanto a mim, que não gosto particularmente de grandes misturas. Ter tudo ao mesmo tempo na cabeça é simplesmente demais, quanto a mim, é de deixar qualquer um maluco, ou alguma coisa fica mal feita. Pior que ter tudo isso na cabeça, é ter tudo isso em casa, ao mesmo tempo. Vá onde o coração lhe levar. Deixe-se ir, balde-se. Não se pode ser boa mãe o tempo todo. E quanto a tudo o resto, pode esperar.

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  4. Obrigada precisava mesmo de ler isto. Sou mãe de uma menina de 2,5 anos. Queria fazer tanto. No inicio ainda conseguia a regra do deitar cedo e acordar cedo. Fazer actividades. Na sesta aproveitar para tratar de coisas minhas. É cansativo porque eles não estão bem e querem/precisam de nos, e insistir em trabalhar ou fazer coisas é pior. Tentar o equilibrio é o foco. E relaxar, tudo isto acaba e ficaremos bem. Beijinhos

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  5. é tão isto... :/

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  6. Joana, eu não tenho filhos e acordo com dores no corpo. Só quem sofre de ansiedade sabe o que isso é. Nem imagino com uma criança. Eu quero muito ser mãe, mas ao mesmo tempo sofro de todas as mesmas cenas que tu (sempre que te oiço a falar, podia ser eu) e tenho medo de não ser capaz. Todos os dias penso nisso. Por isso força, miúda. Tu és incrível e só estás a ser o melhor que sabes. < 3

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  7. E depois de ler o teu texto, só me sai um suspiro de alivio..
    Neste momento em licença de maternidade, estou em casa com a minha filha de 3 meses e a outra de 3 anos e 3 meses. O pai ainda tem que trabalhar e muitas horas a fio.
    As noites são típicas de quem tem um bebé e os dias são passados a arrastar-me para tentar acompanhar a energia toda da mais velha..
    Tendo ainda todo o trabalho da casa e refeições e etc..
    Sinto que podia estar a aproveitar muito mais este tempo, mas já estou a entrae num ponto em que não me sinto boa em nada.
    Ando aqui em modo piloto automático, com muito amor mas muito cansada..

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  8. Não estás sozinha. Há um mês que ando nisto. Mãe de 3, uma com 19, outro com 15 e um com 10 com diagnóstico de phda e asperger ��. Os mais velhos têm as suas parvoeiras mas são responsáveis. O terceiro é muito complicado... ando há um mês a controlar, actividades, horários e merdas... e a diminuir drasticamente a minha sanidade mental. Todos os dias tenho verdadeiras batalhas.Hoje disse-lhe: estás por tua conta. Nem banho tomou, brincou o dia todo sozinho com legos, viu TV não sei quanto tempo, jogou no telemóvel. E à noite disse-me: mãe, esta quarentena também não está a ser fácil para mim, mas vou tentar fazer o que me pedes sem gritar e sem me zangar. E amo-te mãe.

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  9. Olá!
    Aqui na Mamã Piursa também somos duas mães (irmãs e melhores amigas) e enquanto eu sou casada, com uma menina de 2 anos e outra na barriga (que deve nascer em Julho) a minha irmã é solteira com um filho de 5 anos. Como tu e a JPB temos dinâmicas muito diferentes, somos pessoas distintas e cada uma tem os seus desafios. Nesta quarentena já passámos por variadas fases, há dias em que sinto que tenho o peso do mundo nos ombros, dói-me o corpo e a alma e só quero ficar a dormir (mas não dá porque teletrabalho e filha não esperam) e há dias de boost de energia em que se faz coelhinhos de rolos de papel, bolachinhas ou bolo ou uma receita xpto qualquer. Sei que a minha irmã tem mais dias não que sim. Com o historial de ataques de pânico dela fica difícil lidar com esta nova realidade sobre a qual não temos controlo. Eu afogo os meus stresses na comida, é isso ou entrar em depressão. Por isso, que venham daí mais uns quilos desde que a mente se mantenha leve. Acho que o mais importante é mesmo aceitarmos os nossos limites, sermos gentis connosco, respeitarmos as nossas emoções e não nos compararmos com outras pessoas que lidam com o caos de forma diferente. Cada um encontra a sua terapia e lida como pode com esta situação única. Ninguém estava preparado para esta mudança abrupta de modo de vida e cada um tem o seu ritmo de adaptação. Vai com calma, dá tempo à tua mente para encontrar o equilíbrio, não forces uma rotina se não te sentes preparada... muita força e um grande abraço

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  10. Não está sozinha...aqui é igual e nem.sequer quero pensar se estivesse em Teletrabalho.
    Não temos que ser como ninguém querida Rita, tenos que ser apenas nós...também tento interiorizar isto todos os dias, porque este momento é diferente..não é, nem pode ser vivido, como uma rotina normal...e a palavara rotina, já por si mexe comigo! Força e Coragem para TODOS!

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  11. Obrigada pelo texto... Já me sinto mais "normal" pensava que estava a ser eu a má da fita por não conseguir fazer a mesma coisa, não estou em teletrabalho apenas fiquei em casa porque as escolas fecharam e tenho duas cachopas de 10 e 7 anos, infelizmente a mais velha tem paralisia cerebral e tudo isto ainda me deixa mais em pânico em sem saber o que fazer!! Rotinas esquece... Não consigo já tentei e não dá mesmo e sou uma pessoa que adora rotinas... E entreter a miúda tem sido complicado porque já não sei o que inventar.. E simplesmente não consigo brincar, nao me sinto bem a fazê lo e ela sente isso e acaba por desistir :( faço actividades com ela mas quando Ela pede mais e mais puff bloqueio e só quero tempo para mim.. Mais uma vez obrigada pelo texto muita força ❤️

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  12. Pai de uma miúda de 18 meses (em "teletrabalho" que é mais babysitting do que trabalho, a mãe continua a trabalhar longas horas). Sinto o mesmo: falta de tempo para tudo, desde tudo a ficar atrasado no trabalho a conseguir manter a casa habitável a ter um bocadinho de tempo para mim, e um sentimento de culpa por não estar a conseguir dar-lhe atenção suficiente e fazer mais actividades com ela.

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  13. Então o que faz a Irene durante o dia? :/

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  14. Tal e qual sem tirar nem pôr. Por aqui mãe de menino de 5 anos...com o pai ainda a trabalhar. Sentimento de culpa por não conseguir pôr o menino a fazer actividades...só quer telemóvel e tv e eu cedo por cansaço 😓 força

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  15. Mas ser boa mãe é isto mesmo... aceitar quando estamos bem e quando não estamos.
    Se hoje não teve tempo de qualidade, não há problema nenhum, continua a ser uma boa mãe na mesma... amanhã duplique o tempo de brincadeiras.
    Se hoje ela comeu Mac, amanhã duplique a quantidade de sopa.
    Ela estará bem se a mãe estiver bem.
    E sim, cuide de si, é uma prioridade.
    Não se esqueça que quando há um problema nos aviões, a primeira máscara de oxigênio é para os pais.
    Feliz Páscoa

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  16. Como mãe de 2 crianças em ensino doméstico, uma de 11 anos que nunca frequentou qq escola e outra de 14 que entrou na escola este ano, posso dizer-lhe o seguinte: são realmente as nossas expectativas(e as dos outros) que deitam abaixo.
    Levem as crianças para a cozinha e façam comida juntas, desenhem juntas, joguem juntas, lavem loiça juntas, dobrem roupa juntas. Relaxe se não tomam banho todos os dias, se não comer bem a todas as refeições, tenha algo para oferecer que não dê tanto trabalho a preparar, frutas, pão, ovos cozidos, frutos secos, queijo, sconnes que fizeram juntas.
    Em relação às aprendizagens, relaxe tbm.
    As crianças aprendem com o mundo todo. Leiam o mais que conseguir, aproveitando a conexão e aprendendo ao mm tempo.
    E tempo individual para cada um , para respirar, como todos sabemos é muito importante.
    Aproveitar o máximo desses momentos, nem que seja só durante o banho.
    Existem fases do crescimento das crianças mais duras para as mães é certo.
    Por isso ajuda a interiorizar que em pouco tempo a situação muda e a criança fica mais autónoma.
    A minha maternidade começou há 14 anos e passou num ápice.
    Desejo-lhe tudo de bom.

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  17. Joana, eu estou grávida de 8 meses, tenho uma filha de quase 3 anos, estou a trabalhar e a pagar 2 casas (comprámos uma é esta em obras - do que não, por causa da m*rda do bicho). Percebo - a é estou solidária. Bjs

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  18. Olá!
    Vou enviar mensagem privada para a vossa página!
    Um beijinho!
    Ivana

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