3.22.2019

"Uma palmada não faz mal nenhum".

Custa-me, cada vez mais, ver e ouvir defensores de palmadas nos filhos.

Não julgo quem já perdeu a cabeça. Começo por dizer que eu própria já o fiz e tenho coragem de dar o corpo às balas e de o assumir aqui. Não me orgulho, no entanto. Não acho que seja necessário. É sim, sinal de descontrolo da nossa parte, mas convém que arranjemos ferramentas para não nos passarmos e, acima de tudo, ferramentas que tenham resultados efectivos a médio e longo prazo. Que ensinem algo. Os nossos filhos são quem nós mais devemos proteger e defender. 

Mas custa-me, mais ainda, em pleno século XXI, que haja quem escolha bater. Quem decida, conscientemente, que o vá fazer. E que não se aperceba de que há outras formas de educar ou que uma educação sem violência física não tem, necessariamente, que ser uma educação sem regras e sem limites. Ouço e leio que quem anda por aí a bater nos pais e a cometer crimes devia ter levado mais em criança (provavelmente houve falta de atenção, amor e/ou limites). Ou quem diz, ainda, que levou de cinto e grandes tareias e hoje está muito agradecido por isso, que está de muito boa saúde e que faria igual. Ou ainda "há crianças e crianças". 

Este tipo de discurso faz-me alguma confusão, confesso. Normalizar a palmada, o enxota moscas, o tira-pó do rabo, ou o que lhe queiram chamar, e encará-lo até como uma forma de amor chega a ser perverso. É um contra senso.

Não, não acho que os estalos que os meus pais me deram me tenham perturbado ao ponto de ficar com traumas, mas também não foram eles que me balizaram e fizeram de mim uma pessoa melhor. Preferia que tivessem tido outras ferramentas, outras escolhas. Mas na altura era "normal".

Hoje já se fala nisto. Já se sabe que não se pode. Que é proibido. E que não lhes faz bem nenhum, pelo contrário. Potencia comportamentos violentos. E nós temos de os ajudar a conter e a resolver frustrações, não a potenciá-las ainda mais.

É difícil fugir a este modelo correctivo? Acredito que sim. Esta normalização está-nos muito marcada. Foram anos e anos a ver acontecer. Era assim que se fazia. Mas ainda bem que se fala cada vez mais nisto e que nos apercebemos, com trabalho de psicólogos, pediatras, especialistas, que não faz sentido. Que não é bom.

A autoridade e a imposição de regras não têm de implicar palmadas. Não se bater não significa que estejamos a ser permissivos. Há consequências para as acções e regras que cada família deverá definir. A mim, ajuda-me muito ler sobre disciplina positiva para arranjar alternativas que, por muitas vezes estar presa a um modelo mais clássico de educação, nem que passariam pela cabeça. E, às vezes, uma conversa e um abraço resolvem birras monumentais. Noutras vezes não.

Mas palmadas, não. Em ninguém. Nunca.





Podem ver tudo o que já escrevemos sobre disciplina positiva aqui.



55 comentários:

  1. Não sou defensora da violência, obviamente, mas quando penso na minha infância e rebeldia penso que as tantas palmadas no rabo que apanhei foram de facto a melhor maneira de me acalmar porque eu fazia os meus pais e avó perderem as estribeiras. Nunca me magoaram e eu nunca fiquei traumatizada, aliás, hoje em dia até me rio ao pensar em algumas situações que eu própria criei. Houve sempre muito amor, mas de vez em quando era preciso uma mão firme para que eu entendesse quem mandava ali, e pelos vistos tentaram várias abordagens comigo. Acho que nem 8 nem 80 e uma palmada nunca deverá servir para magoar. Depende das criancas. Se forem mais calmas e for suficiente conversar ou seja o que for, ótimo. Mas parapara pequ demónios teimosos como eu não acho que seja um crime uma palmadinha e uma cara de mau.

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    1. Marta Branco12:57 da tarde

      O meu filho é uma crianaça normal, que com a atitude certa faz tudo o que nós quisermos. No entanto é constantemente apelidado de "criança difícil" pelos avós quando muitas vezes é só uma incapacidade de arranjar outras estratégias para lidar com ela além das ditas "normais".

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    2. Subscrevo inteiramente.

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    3. Mas é um crime. É isso mesmo. O anónimo diz isso no comentário: "porque eu fazia os meus pais e avó perderem as estribeiras". Eles faziam isso porque estavam completamente passados. E isso não é desejável.

      Com palmadas só se ensina que "eu sou mais forte portanto posso bater-te". Ou também aceitam que as crianças vos batam? Não lhes dizem "não se bate"? E depois vai palmada quando ao adulto faltam estratégias para lidar com a situação? Não.

      O meu filho tem muito génio. E já me aconteceu perder as estribeiras. E pedi-lhe desculpa, sem reservas nem relativizações. É o mínimo que nós, como pessoas com todo o poder sobre aquela pequena pessoa que nos ama e depende de nós, podemos fazer.

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  2. Orgulho-me de dizer que nunca perdi a paciencia com a minha mais velha a ponto de lhe bater, mas caraças, às vezes vontade não falta. Depois fico triste por ter sequer esses pensamentos, pq acho que só os tenho precisamente por ser um tipo de "educação" tão "enraizado" na nossa sociedade, embora eu própria nunca tenha levado e seja um ser humano decente. Amo-a o suficiente para ter esse autocontrolo. Não bato a ninguém que me frustre, mt menos vou bater às criaturinhas que mais amo no mundo inteiro. Não faz sentido nenhum. A lei é explícita, palmadas são ilegais. Mas as pessoas acham que a lei não abrange a "palmada pedagógica". Enfim. Há cada vez mais pais conscientes, felizmente. Quando os outros perceberem que não bater não é sinónimo de ser permissivo e fazer as vontades todas aos miúdos, o mundo vai ser um lugar melhor. :) Obrigada por lançarem estes tópicos q se sabem tão controversos, que dão sempre pano para mangas, mas que são tão importantes para alertar as pessoas.

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  3. ​100% de acordo contigo Joana. Este é um tema que também me faz confusão: haver quem ainda ache normal/justificável/necessário um palmada. Ninguém, ainda para mais os nossos filhos, merece qualquer que seja o ato de violência física. E sim, o "enxota moscas", a "palmada que dói mais a mim do que à criança" são atos de violência física. Em maior ou menor grau, intensidade ou frequência, são sempre atos de violência física.

    Acho que é uma questão de respeito. Eu não faço a outros o que não gosto que me façam. Eu não faço à minha filha aquilo que tento incutir-lhe no dia-a-dia (o respeito pelo outro, a capacidade de resolver conflitos de forma justa, sem bater, sem agredir). Eu incuto-lhe respeito pelos outros, respeitando-a.

    Ela tem 3 anos e meio. Aconteceu uma vez bater-lhe na mão. Senti-me pessimamente. E refleti no que aconteceu para chegar àquele ponto. E o que precisaria fazer diferente para aquilo não voltar a acontecer. E não aconteceu mais. A relação é trabalhada no dia-a-dia, envolve conversar, explicar que o comportamento de​la​ tem consequências, que pode magoar o outro​. Envolve muita paciência e noção daquilo que ela é capaz de fazer (face à idade e à fase de desenvolvimento em que está).

    E, com o tempo, esta forma de nos relacionarmos com os nossos filhos, tão diferente da forma como os nossos pais nos criaram, torna-se natural e simples. E digo​,​ cria-se uma relação maravilhosa. A minha filha coopera bastante porque sente-se confiante e segura. E, quando não acontece, porque tem 3 anos e é normal, procuro ter muita paciência e amor por aquele ser pequenino que estou a criar. ​Ela merece isso. ​

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  4. Amo a minha filha com todo o meu coração, é só a pessoa mais importante do mundo..mas...a palmada não é o fim do mundo.

    Tem 5 anos e já fez birras épicas que acabou com uma palmada no rabo. Não é para magoar, não é para fazer-lhe sofrer, simplesmente funciona como uma forma de acabar a birra, de lhe fazer acordar para a realidade. Quando no meio de uma birra de 30 min já tentaste tudo e nada resulta, a palmada resulta sim. Já antes tentei falar, abraçar, ignorar..tudo... Não dou uma palmada ao primeiro grito nem ao primeiro minuto.

    E quando nos provocam vezes seguidas, do tipo "não podes mexer ai, vais te magoar" e explicas porquê...e mudas de lugar...e ela continua a provocar-te..pimba..um toquezinho na mão e já não mexe mais.

    Agora com 5 anos noto que está muito mais calma e a "precisar" muito menos duma palmada, mas não me envergonho porque nunca foi com o objetivo de lhe magoar.

    Beijinhos
    Catarina

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  5. bem, eu discordo do anónimo acima: eu era uma criança rebelde e levei muito da minha mae, pai, avós, e nao fiquei "melhor" haha. Acho que o castigo físico, como de resto a ciência já provou há muito, surte efeito apenas a curto termo. Ou seja, como modo de educar vale = 0 (zero). Perdoei os meus pais e falecida avó porque nao sabiam melhor portanto nao guardo nenhum rancor, mas nao repito o tratamento porque sei que nao resulta.

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  6. Joana, recomenda algum livro ou artigos sobre disciplina positiva?
    Obrigada

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    1. ​Se me permite deixo-lhe algumas sugestões:

      . Alfie Kohn - Unconditional Parenting​
      . Alfie Kohn - Punished by rewards
      . Lawrence Cohen - Playful Parenting
      . Magda Gomes Dias - Crianças Felizes
      . Elaine M. e Adele F. - Como falar para as crianças ouvirem e ouvir para as crianças falarem
      . Daniel Segel - O cérebro da criança

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    2. Vou acrescentar:
      Do mesmo Daniel Siegel: Disciplina sem dramas (imensas estratégias práticas, gusto muito deste);
      Mikaela Oven: Educar com mindfulness
      Laura Sanches: Mindfulness para pais

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    3. E eu vou aproveitar estas sugestões. Obrigada!

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  7. Concordo perfeitamente com o Anónimo 9:02, há crianças e crianças, há crianças que uma conversa é o suficiente, outras nem por isso. Nem 8 nem 80, qualquer dia querem pôr as crianças no psicólogo aos 5 anos de idade para que alguém os ensine a comportar. Acho ridículo ver uma criança dar um estaladão na mãe (como já vi), e depois ver a mãe dar um abracinho. E sabem o que acontece pouco tempo depois? Outra estalada na mãe. E depois? Estaladas aos outros meninos na escola, a outras crianças. Enfim, nem 8 nem 80.

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    1. Às vezes é uma questão de olharmos para a paisagem culturar. O que farão os pais noruegueses, dinamarqueses, suecos? É que as discussões que estamos a ter hoje em Portugal, são as que eles tiveram há 50 anos. É proibido bater em crianças no norte da Europa. De todo. Serão todas as crianças lá uns anjos? Não haverá também crianças igualmente desafiantes? Ou será que eles têm apenas outras estratégias para lidar com os desafios? E em adultos? Tornar-se-ão todos adultos sem limites nem respeito por não terem apanhado? Se calhar não…

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    2. Olá Inês, já assistiu in loco à educação que é dado nos países nórdicos (e não me refiro óbviamente "a um casal amigo", mas assim de forma mais generalizada?

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  8. Também não sou nada defensora da palmada, mas já tive esse descontrolo com os meus filhos, porque há alturas que parece que estão mesmo a gozar com a nossa cara e lá sai uma palmadinha sacode pó. Não me orgulho e só o faço em último recurso. Outra coisa que odeia é andar aos gritos e tenho a perfeita noção que muitas vezes são resultado do acumular de cansaço que depois nos leva a descarregar dessa forma e tenho-me tentado controlar ao máximo. Mas é um processo de aprendizagem.

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  9. Eu ainda ontem pensei nisso. E que a conversa do "bato-te porque te amo" provavelmente só incentiva a que tantos adultos normalizem a violência psicologica e física que depois vivem nos relacionamentos. Achem normal que o amigo que está constantemente a fazer lhes bullying, faz lhes bullying porque gosta muito deles. Achem normal que o marido controle todas as mensagens ou lhes bata. Porque desde criança que somos educados que bater é amor. De certeza que está relacionado.

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    1. Hum, será?... Não. Apanhei algumas palmadas e não acho nada disso normal. Por isso "de certeza que não está relacionado" (percebe como soa mal a generalização que acabou de fazer?).

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  10. Inteiramente à parte de concepções e opiniões pessoais,
    isto - Já se sabe que não se pode. Que é proibido. - não é verdade,
    e isto - E que não lhes faz bem nenhum, pelo contrário. Potencia comportamentos violentos. - não é linear.
    Muito importante é sabermos distanciar-nos do que achamos e do que entendemos como correcto ou errado ao falarmos destes assuntos em contexto público.

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    1. Na realidade a parte de ser proibido é verdade sim. A questão é que a Lei é interpretada por pessoas e se o comportamento, não obstante tipificado na lei como ilícito penal, for socialmente aceite, então os aplicadores da lei interpretá-la-ão de acordo com essa aceitabilidade social.

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    2. Inês, não.
      A lei tipifica a ofensa à integridade física e os maus-tratos como tipo específico, e prevê como causa de exclusão da ilicitude, causa justificadora portanto, o poder-dever de correção dos pais aos filhos. Decorre dessa ideia de adequação social de que fala e é pessoal e intransmissível, o que significa, por um lado, que não podemos exercer esse poder-dever sobre os filhos dos outros e, por outro, que não se estende, por exemplo, a professores e educadores.
      A montante disto, e, sob a minha perspectiva, mais importantemente, o direito penal, que querem invocar para aqui, é um ramo do Direito ultima ratio, o que significa que, até em consonância com as consequências que se prevêm, se exige do acto maligno certa dignidade penal para que se lhe possa conferir a tutela penal que se quer chamar. Dignidade que uma palmada, naturalmente, não tem.
      E depois, suponhamos então encaixar a ação no tipo: aqui já mais tecnicamente, como percebo que sabe, vamos esbarrar nas barreiras intransponíveis, senão do dolo, atribuamos à negligência, da culpa. E as consequências de facto de uma palmada não permitem preencher aqui estes requisitos. Sob pena de se aplicarem então consequências de direito absolutamente desnecessárias, desadequadas e desproporcionais aos factos. E com isto já saltamos do penal para o constitucional, e percebemos então que não temos base absolutamente nenhuma.
      Está a ver por que é que lhe digo que não é proibido? Pronto, porque efectivamente não é.
      Se o mesmo é verdade para uma sova de cinto? Evidentemente que não. É que a queremos defender o nosso ponto de vista, tendemos a dizer que não há grande diferença entre uma palmada e uma sova de cinto, é tudo bater como se ouve muito dizer por aí. Mas não é, nem social nem jurídicamente.
      E o assunto é, única e exclusivamente, de política pedagógica pessoal, não é, de todo, de política penal.
      Se eu concordo que se dê uma palmada? Pessoalmente, acho que há outros métodos que me parecem pelo menos tão eficazes quanto, de maneira que se torna desnecessária e, assim, injustificada. Mas isto é o que EU enquanto pessoa penso, eu e só eu. Haverá quem concorde, haverá quem discorde. A minha mãe, por exemplo, descordaria; o meu pai haveria de concordar comigo com certeza.
      Agora, não caio é no ridículo de, para defender o meu ponto de vista e ali com uma pontinha de o querer impor aos outros, dizer que por isso o pai ou a mãe podem apanhar ali com uma pena de uns dias de multa ou de prisão suspensa ou efectiva. Porque tenho medo desses extremismos, sejam os de querermos impor a nossa perspectiva aos outros, sejam os da perseguição, penal ou outra. Porque todos conhecemos as consequências de todo e qualquer extremismo.

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    3. Ena. Joanas, a elevar as parcerias na blogoesfera da parentalidade, com especialistas! :)
      Agora sem brincadeira, com a devida vénia!

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    4. já agora, que temos especialistas no debate, não custa deixar aqui dois trabalhos de análise (não quero chamar-lhes dissertações, para não assustar a malta), que explicam muito bem as duas teorias sobre aplicação de castigos corporais, a teoria da proibição absoluta (a tal do "é tudo bater") e a teoria da proibição relativa (a tal de "uma palmada em certas circunstâncias é legítima dentro do direito-dever de educação dos pais"):
      - "Da criminalização dos castigos corporais aplicados pelos progenitores no exercício das responsabilidades parentais: do poder de correção ao dever de educação", Joana Marisa Magalhães Carvalho, Faculdade de Direito -Escola do Porto, 2018.
      https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/26431/1/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20%e2%80%93%20Castigos%20Corporais%20PDFA.pdf

      - "A fronteira entre castigos legítimos e maus tratos a criançasO caso particular das crianças institucionalizadas", Ana Carlota Lopes Pereira Aguiar da Rocha, Porto, Maio de 2014.
      https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/16349/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O%20Ana%20Carlota%20Rocha%20Pdf.pdf

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  11. "Acho que nem 8 nem 80 e uma palmada nunca deverá servir para magoar."

    Então qual é o objectivo mesmo?

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  12. No meu caso tento evitar, já perdi o controlo algumas vezes, mas espanta-me o que a sociedade (família, amigos) pressiona para a palmada e critica o mimo / amor...

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  13. Eu acho que se comete o erro de chamar tudo a mesma coisa. Uma palmada não é a mesma coisa que um estalo, por exemplo. Eu seria incapaz de dar um estalo a alguém, muito menos a uma filha, acho um gesto humilhante, um ataque à cara, mesmo que não haja força e não magoe (quanto mais se houver força e magoar!). Mesmo as palmadas não são sempre a mesma coisa: há as enxota-moscas, em que o adulto controla perfeitamente a força para que não magoe a criança e há aquelas em que as mães até agarram o braço da criança para que esta não fuja e lhe assentam com força para doer.

    Concordo com o anónimo acima: apanhei uma palmada uma vez do meu pai, senhor que sempre conversou sobre tudo com os filhos, disposto a ouvir as nossas queixas, razões e argumentos. Lembro-me bem da palmada e de como naquele dia decidi pisar o risco para ver o que acontecia. E vi, um pai furioso, a crescer em tamanho e uma palmada, que em nada me doeu (nada mesmo, foi mesmo o gesto que me marcou) mas que serviu para perceber que pisar o risco daquela maneira nunca me traria nada de bom. Acho que qualquer outra atitude naquele dia não teria resultado. Já a minha é capaz de nos ter dado umas palmadas no rabo (sinceramente não tenho a certeza porque se as deu não envolviam dor) e tentava dá-las nas nossas pernas durante as enormes discussões no carro entre irmãos, o que provocava uma galhofa enorme e que ainda hoje nos faz rir quando nos lembramos. Nunca nos magoaram, nunca houve força envolvida.

    Por isso, sim, percebo e concordo que seja um sinal de descontrolo dos pais e incapacidade de gerir de outra forma. Concordo que é algo a evitar. Mas não metamos tudo no mesmo saco. A palmada que recebi do meu pai nada teve a ver com um estalo ou uma tareia de cinto. Seria impensável ele magoar um dos filhos, só a ideia o horrorizaria assim como a mim.

    Não sou defensora da palmada enxota-moscas nem a acho essencial na educação de uma criança. Mas não me choca o seu uso num momento isolado e único.
    E sou claramente contra infligir dor a uma criança seja num estalo, numa tareia ou numa palmada, nem que seja apenas uma vez.
    Acho coisas tão diferentes que não compreendo como se chama "palmada" a tudo.

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    1. Pode-se chamar o que quiser, mas é sempre bater. Com mais ou menos força, na cara, perna, mão ou rabo, é sempre bater. E eu acho que aqui a linha deveria ser sempre clara: não se bate a ninguém, nunca. Ponto. Todos nós precisamos limites, e existem maneiras de os estabelecer sem bater. Não depende da criança. A responsabilidade é do adulto. Ele é que deve ser capaz de mais e melhor.

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    2. São realmente opiniões. Como disse, não defendo a palmada e não conto usá-la com a minha filha. Mas que não consigo ver um enxota-mosca que não provoca dor da mesma forma que vejo uma estalada ou uma tareia de cinto, isso não.
      Quando estamos atrasados, dou uma palmada carinhosa no rabo da minha filha ou do meu marido enquanto digo para se despacharem. É suave, é na brincadeira, não inflige dor, mais como se lhes empurrasse o rabo. Isto também é violência?
      Não deixa de ser curioso que na mesma semana leia duas mães emitirem a sua forte opinião contra a palmada enquanto ao mesmo tempo dão o corpo às balas e assumem que já recorreram a ela (num dos casos, uma estalada, o que para mim é bem pior que uma palmada num rabo). Admito que não entendo.

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    3. E atenção, eu até posso concordar que o limite deveria ser claro e ser « não se bate em ninguém, ponto ». O que eu acho é que da mesma forma que deveríamos dizer « não se deve andar em excesso de velocidade nunca », não podemos dizer que quem andou uma vez na vida a 10km/h a mais fez tão mal como quem ultrapassa todos os limites de velocidade todos os dias.

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    4. Olá Teté, qual foi a outra mãe que o confessou, já agora? :)
      Eu só acho bom falar-se disto, a sério. Se fizer com que uma mãe e um pai com filhos ainda de meses, conheçam alternativas às palmadas e nunca o façam ou mesmo que o façam queiram outras alternativas, melhor.
      Para mim, é diferente uma palmada no rabo que um espancamento que leve ao rompimento de um tímpano, como li algures um dia destes. É e sempre será diferente. Mas os dois casos revelam, de certa forma, algum nível de descontrolo emocional (diferente, claro está...) e desconhecimento de outras ferramentas. Atenção que este discurso é não só de defesa das crianças mas também de ajuda aos pais. A médio prazo, acho que nos ajuda a não entrarmos numa espiral de gritaria, cansaço extremo, culpa. Ajudou-me muito perceber que às vezes uma simples troca de palavras, muda a reação da minha filha e a torna mais cooperante. Facilita-me a vida, a sério. Nem sei bem aonde vou buscar às vezes criatividade para responder a alguma birra, mas acho que é do "treino" que tenho feito e em não querer usar as frases e modelos que seriam mais "instintivos" (só porque reproduzidos e ouvidos vezes sem conta). Espero que daqui a uns anos já não tenhamos que discutir sequer este assunto, tal como em alguns países europeus... Até lá cá estaremos :) Se eu tive livros e blogues que me ajudaram, espero conseguir ajudar pelo menos uma pessoa nisto.
      Beijinhos!

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    5. Teté, não se explique mais. Qualquer pessoa razoável entende o que está a dizer. O problema é quando um grupo de pessoas quer fazer passar uma ideia, dramatizando-a até ao seu limite, como a intenção de a fazer ganhar força e com isso, lamentavelmente, a única coisa que conseguem é descredibilizar e às vezes até ridiculizar a situação. E se não fica claro assim - comparar enxota moscas ou palmadas a violência doméstica (sobre mulheres, homens ou CRIANÇAS) não serve propósito absolutamente nenhum sem ser, como referi acima, ridiculizar ambos os temas.

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    6. Joana, outra blogger por acaso com o seu nome também. :D Mas prefiro não revelar o blogue não vá esta conversa passar para lá sem necessidade. :)
      Eu também acho importante falar deste tema, atenção. Eu cresci a achar que eu minha geração já não apanhava palmadas, estaladas e outras coisas ainda piores porque eu e os meus amigos não apanhávamos. Os meus pais também já tinham crescido assim. Obviamente tudo isto são ferramentas que me levam a não ter o instinto de bater ou gritar com a minha filha. Em minha casa não se batia, não se gritava, não se batia com as portas e nem chamar parvo ao meu irmao eu podia porque era ofensivo. :)
      Mas em adulta percebi que nem toda a gente cresceu como eu e que muitas mães e pais procuram fazer de forma diferente mas não sabem bem como (nem eu sei tudo). Daí achar mesmo importante que se fale disto, que se dê dicas, que se informe. O truque de falar mais baixo para que uma criança abrande os gritos (porque tem de parar de fazer barulho para nos ouvir e porque há tendência para imitar) é um dos que às vezes resulta, por exemplo. :)
      Só acho que não se pode pôr tudo no mesmo saco. Não consigo achar que tive a mesma infância que alguém que apanhou várias estaladas dos pais só porque o meu pai me deu um enxota-moscas uma vez, e que isso deixa as mesmas marcas.

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  14. Eu entendo o seu ponto de vista. E uma palmada no rabo da criança, com fralda, dada 1x é obviamente diferente de uma estalada na cara, dada regularmente. Mas a ação em si é sempre bater. É uma questão de dar o nome às coisas. No seu exemplo, fala do limite de velocidade. Podemos passar o limite 1x ou várias mas a ação não deixa de ser a mesma. E isto serve para tudo o que fazemos na vida. Qual o limite que colocamos, quais os valores que importam para nós. Como disse, bati uma vez na minha filha. Não digo que não poderá voltar a acontecer. Mas esse não é o meu valor. Não acredito em bater, não o quero fazer e procuro alternativas.

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    1. Mas se é tão contra porque é que bate? Não percebo.

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    2. Não está a perceber uma coisa no meu raciocínio: eu nunca disse que um enxota-moscas é aceitável, que não passa o limite. O que eu digo é que não acho comparável uma enxota-moscas com uma tareia de cinto. Eu também procuro outras alternativas, tanto que nunca bati na minha filha. Mas se um dia lhe der uma palmada sem dor recuso-me a aceitar que digam que fiz o mesmo que lhe bater com um cinto.
      E o que eu estou a fazer é mesmo dar o nome às coisas. Porque quando me diz que bateu na sua filha, quer que eu pense que lhe deu tamanha tareia que ela ficou hospitalizada? É que para mim isto é mais grave que uma palmada no rabo. Mas se calhar só mesmo sou eu que acho isto....

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    3. Ao anónimo das 06h03: sou contra bater, mas bati 1x na minha filha. Fi-lo porque fui incapaz de gerir as minhas emoções. Perdi o controlo. E deitei-me a pensar no assunto. No que tinha acontecido para chegar àquele ponto e o que poderia fazer diferente no futuro. Por não acreditar no bater, por saber que não resulta, por querer criar uma relação de respeito com a minha filha, pedi-lhe desculpa e fiz as minhas reflexões. Não aconteceu mais. E à tété: eu dei uma palmada na mão dela. Deve ter doído, saiu com força. Mas sinceramente essa diferença de mais ou menos força não me interessa. Eu bati e detestei isso. Eu percebo que diga que são coisas diferentes porque o são. Mas todas elas resumem-se a um ato físico de violência, todas elas são incorretas. Não é por existirem pais que batem de formas piores, mais violentas e com mais frequência que tornam as minhas ações aceitáveis.

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    4. Mas em momento algum eu digo que é aceitável. Pelo contrário, expliquei que sou absolutamente contra infligir dor a uma criança (mesmo numa palmada numa mão). Não acho que bater numa mão seja a mesma coisa que uma tareia de cinto mas não acho nenhuma das duas aceitáveis.

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  15. Tema controverso este. Nunca vai gerir consenso porque todos nós somos diferentes e pensamos de modo diferente mesmo que se siga a mesma linha de pensamento.
    Ninguém é igual, nem 2 gêmeos são iguais em personalidade. As vivências são todas diferentes na casa de cada um de nós. Um casal, 2 filhos, 1 é super obediente, um anjo, nunca precisou nem de um "enxota moscas" e o outro é um rebelde, provocador...pois então, temos nesta equação os mesmo pais, os mesmos valores, a mesma educação e agora??? Como podem ser tão diferentes? Chama-se personalidade minha gente! Uma criança, inserida num meio de família estabilizada psicologicamente, num ambiente super estável e controlado, porque é assim?- porque somos todos diferentes, logo as nossas ações vão ser diferentes e se nestes 2 filhos com 1 deles basta conversar, o outro pode precisar de um modo diferente de actuar da nossa parte.
    Nunca digas nunca, a realidade do lado é diferente da tua. Nós como adultos também temos as nossas "palmadas", as nossas consequências para mau comportamento em sociedade e para não termos essas consequências aprendemos a não pisar o risco e com as crianças também, têm as suas consequências para aprender a viver dentro do limite e uma simples palmadinha trava e ensina SIM.
    Obrigada.

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    1. Claro que sim e "só quem está no convento sabe o que vai lá dentro". Mas precisamente porque os nossos filhos são diferentes uns dos outros é que temos de nos adaptar a todos, tentar compreender cada um e usar estratégias diferentes e percebendo o que funciona melhor com cada um. Defendo apenas que esse modo de atuação não deve passar pelo uso das palmadas como correctivo (não sou só eu que o defendo, são médicos, psicólogos, especialistas, pedagogos e por aí fora). Está estudado que não resulta, tanto que se tivesse resultados duradouros não seria necessária mais do que uma palmada...). Claro que trava, mas não ensina, não explica, não resolve, não faz com que mudem o comportamento e não o repitam daí a uma semana. É inglório e ingrato, cria culpa aos pais e não os ajuda em nada, no fundo. É a minha opinião, vale tanto como a sua :)

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  16. A Joana admite que já deu palmada...então é porque necessitou de o fazer e se já não o faz é porque alguma resultou no comportamento da criança para já não ter chegado ao limite de a voltar a dar. Pensem nisso, é fácil falar quando as situações acalmam e os comportamentos mudam, pois olhamos para trás e já parece tudo tão mais simples que até esquecemos do porquê.

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    1. Olá! "Necessitei de o fazer" porque na altura EU não tive criatividade e paciência para fazer diferente. É óbvio que a minha filha voltou a "esticar a corda" mais mil vezes depois dessa - primeiro porque é criança, tem 5 anos e é natural ainda não se saber controlar, basta ler sobre o funcionamento do cérebro de uma criança para perceber porquê - e depois porque uma palmada trava apenas o comportamento naquela altura mas não ensina nada (aliás, se o comportamento dos nossos filhos mudasse com a palmada para sempre, só seria precisa uma, certo?). É por não me fazer sentido que não repito e procuro outras estratégias, só isso. Agora, estou longe de dizer que as minhas filhas são muito "bem-educadas" e fáceis e que isso é resultado da educação que lhes dou. Elas são crianças e eu (e o pai) estou a dar o meu melhor. Se resulta ou não, logo se verá. Mas que tenho conseguido coisas fixes com uma mudança de mindset, tenho.

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  17. Informem-se: toda a evidência científica já mostrou que bater causa, a médio e a longo, impacto negativo na criança. O impacto positivo que poderá ter é apenas a curto prazo e baseia-se mais no facto da criança parar o comportamento por ter medo. Não ensina nada de valor. Não se tratam de meras opiniões. Bater é nocivo. A ciência prova isso. E, sinceramente, não deveriam ser precisas evidências científicas para ESCOLHERMOS não bater nos nossos filhos. E malta, uma vez mais, leiam com atenção: podemos colocar limites aos nossos filhos SEM NUNCA BATER. É possível, qualquer que seja a criança/a sua personalidade e a situação. Leiam, informem-se, conheçam o vosso filho, a vocês, trabalhem a relação no dia-a-dia. Não se fiquem pelos argumentos de sempre: "ah, mas isso é com crianças fáceis. Existem crianças mais desafiadoras e a conversa, e abraços e afins não resultam", "eu apanhei e estou bem", "é só um enxota moscas", "doí mais a mim do que a ele." Isso são desculpas.

    Vocês, como adultos, gostam que os limites, que todos precisamos na nossa vida, vos sejam colocados através do bater? Ou gostam que as pessoas procurem alternativas para vos transmitir aquilo que é preciso transmitir? Numa relação com um chefe, com um amigo, colega, vizinho, de que forma vocês acham que é mais agradável/justo/construtivo apreender o limite?

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    1. Eu acho que as pessoas não devem ser mal-educadas. Acho que há esse limite. Contudo já tive quem o tenha sido comigo uma vez na vida porque estava num momento mau. Não gostei mas isso não define aquela pessoa nem a nossa relação. Vocês não jogam à sardinha com os vossos filhos? Não brincam às lutas de almofadas? Não puxam ou empurram ligeiramente quando estão atrasados?

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    2. Eu não defendo que o enxota-moscas torna a acção benéfica ou desculpável. Eu não uso e não conto usar. Mas que não consigo achar igual (até porque não doi)a uma palmada, uma estalada ou uma tareia de cinto, não consigo. Basta pensar no enxota-moscas que o meu pai me deu e tentar substituir por qualquer outra destas coisas. Não é comparável.

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  18. Vou só contar um exemplo que aconteceu comigo, porque acho que nem tudo é só bom ou só mau.
    A minha filha de 3 anos uma noite depois do banho estava meia histérica, e na brincadeira aplicou-me uma estalada com força na bochecha. O objectivo não era (necessariamente) magoar-me, porque até estávamos na galhofa apesar de eu lhe dizer para ela se despachar. Mas quando ela me bateu, magoou-me mesmo e eu - por instinto e por descontrolo - bati-lhe de volta. Acho que não foi com muita força, foi uma palmada, mas ela desatou a chorar imenso, aquele choro que não é só por se ter magoado, mas sobretudo de quem está triste/ofendida e cansada (era de noite). [Pausa para metade das mães começarem a escrever que sou horrível e vingativa e mimimi]
    Logo a seguir, dei-lhe colo e beijinhos. Quando se acalmou, expliquei-lhe o que tinha acontecido do meu lado (acção-reacção) e pedi-lhe desculpa várias vezes, a olhar nos olhos dela. Disse-lhe que não devia ter feito, que não gostava do que tinha feito, que gostava muito dela e que agora só podia pedir desculpa.
    Quando a deitei (já noutro registo, estava super bem disposta), disse-me "Desculpa, mãe, ter batido". E eu disse-lhe que a desculpo sempre. E acho que isto são lições importantes - que nós também falhamos, que quando falhamos o que podemos fazer é pedir desculpa, e que podemos sempre recomeçar e ser perdoados. E ela aprendeu isso.
    Não que agora devamos desatar ao estalo e a desculpar-nos para lhes ensinar isso, mas a verdade é que só falhando é que os podemos ensinar a reagir perante uma falha. Falhar não é mau, é humano. Não quero falhar muitas vezes, mas sei que vou falhar algumas. Um bocadinho mais de compreensão connosco próprias, sff.

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  19. Já me descontrolei algumas vezes com o meu filho porque de facto não soube/sei/saberei lidar com determinadas situações-limite de outra forma. Que bater é contraproducente já percebemos, agora o que nos falta (acho que posso falar no plural porque com certeza não serei a única) são estratégias, e sugestões de como lidar/ reagir sem passar pelo "bater". Por isso gostava de ver um (ou mais, até podia ser uma rubrica) post mais "prático" que abordasse estratégias, livros, workshops, exemplos de situações e sugestões de resposta adequada.
    Beijinhos

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    1. Excelente sugestão.

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    2. Para além dos livros mencionados em alguns comentários, deixo-lhe a sugestão do site Mum´s Boss. Nele encontra precisamente o que refere: formações, sugestões de livros, artigos de opinião, tudo no universo da Parentalidade Positiva. Já fiz uma formação com a Magda Gomes Dias e adorei.

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    3. Aqui têm uma lista de 10 maneiras de disciplinar os filhos https://www.healthychildren.org/English/family-life/family-dynamics/communication-discipline/Pages/Disciplining-Your-Child.aspx
      Nesse link também está a lista de maneiras de disciplinar por idades, bebés, crianças pequenas idade Pré-Escolar, crianças mais crescidas e adolescentes.
      Pela associação americana de pediatria (a maior e mais fidedigna fonte de informação médica sobre pediatria).

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  20. Teté e Joanas,
    Por vossa causa fui procurar lista de sugestões modernas de educação positivia e alternativas à educação tradicional.
    Eis uma lista de dicas com sete maneiras de disciplinar:
    https://www.familyeducation.com/about-us que encontrei via o site da revista americana Psichology Today https://www.psychologytoday.com/us/about-psychology-today

    Mas honestamente acho que sobre isto temos (nós, pais) de confiar em nós.
    Acima de tudo acho que pior que perder as estribeiras são pais ausentes (mais do que fisicamente ausentes, espiritualmente ausentes, se é que me entendem).
    Às vezes dá ideia que aqueles sites com dicas "práticas" de especialistas em educação ou de psicólogos são feitas por pessoas que não têm filhos. São demasiadas dicas, muitas delas coisas que não são naturais, não fazem parte de uma relação normal com os filhos. Não acho natural uma criança estar a gritar e os pais começarem a falar baixinho....essa não é uma forma natural de disciplinar. É estranho, é forçado, é algo que mesmo que estejas calmo e em controlo de situação tens de te "lembrar" de fazer. Para nós (lá em casa), quando estamos bem, calmos e descansados, disciplinar os filhos (menino de 4 e menina de 22 meses) não é difícil. O difícil é estar sempre calmo e descansado. E achar que devíamos ter crianças que nunca se portam mal é irrealista. As crianças portam-se mal, é natural que o façam. E se não fizessem é que provavelmente haveria alguma coisa de errado neles.
    É natural os irmãos baterem-se. É natural terem inveja um do outro. É natural competirem pela atenção dos pais, Tudo isso faz parte do natural desenvolvimento humano. É normal crianças estarem a marimbar-se para os horários da "vida real dos adultos". Não podemos exigir que nestas idades sejam responsáveis (Será diferente daqui a uns anos e aliás a disciplina das crianças deve ser apropriada a cada idade, claro). Quando eles não se vestem de manhã porque estão na macacada, têm de vestir porque os pais mandam. Caso contrário, castigo (time out, ou tempo para pensar). Directo. Um aviso e depois, muito importante, cumprir o aviso. Claro que nem sempre conseguimos, porque estamos cansado, controlar a nossa irritação. Mas não temos de nos sentir mal por isto, nem culpados.
    Crianças não ficam traumatizadas por verem os pais irritar-se ou zangar-se.
    O que os traumatiza NÃO é verem os pais a serem humanos. Os pais podem irritar-se mas crianças sabem que pais as amam, sabem que são valorizadas, que pais têm orgulho nelas.
    Um pai que, pegando no truque da Teté, começa a falar baixinho quando o filho está a fazer uma birra, para nós é quase uma forma de ausência...é introduzir uma artificialidade na relação.
    Eu se estiver a gritar com uma pessoa e essa pessoa começa a gritar comigo, eu posso zangar-me na altura mas eu compreendo essa reacção. Agora se estou a gritar e uma pessoa começa a falar baixinho eu só penso...que raio de ROBOT é esta pessoa? Deixo de confiar nela porque não a compreendo...não me consigo rever nessa reacção.
    Se os nossos filhos nos virem como uma pessoa que pode perder as estribeiras de vez em quando mas que os ama, que os apoia, que tem orgulho neles, que os ensina. Estamos confortáveis com essa imagem.
    Isto, claro, se o perder as estribeiras não seja fazer nada de grave.

    Dito isto, aqui está para quem quiser ler e informar-se:
    Sobre a não eficácia do castigo corporal eis a info científica da publicação oficial da American Association of Pediatrics https://pediatrics.aappublications.org/content/142/6/e20183112
    e um Guia para a Disciplina Eficaz https://pediatrics.aappublications.org/content/101/4/723

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    1. a.i.

      Sem abrir os links que deixou, concordo consigo em vários pontos: que temos de confiar em nós, que é importante que as crianças vejam os pais como adultos que também têm os seus dias maus, as suas faltas de paciência, etc.., que pais ausentes também deixam as suas marcas...
      Mas quanto ao exemplo que dei, sobre o grito e o falar mais baixo, não consigo concordar. Em casa dos meus pais não se gritava porque eles não acreditam nessa forma de comunicação. Eu fui criada assim e ainda hoje seja em que circunstância for, não gosto de gritos, não grito com os outros e não admito que gritem comigo. Entre adultos, se alguém gritar comigo o meu instinto será manter o tom de voz calmo e controlado para que a outra pessoa acalme o seu também. Com as crianças faz-se o mesmo. Mantém-se a tom baixo ou baixa-se o tom usado. Não é ser robot, não é ausentar-me, é manter o controlo quando o outro não o está a conseguir e a tentativa de que naturalmente este imite o nosso comportamento. E não é um gesto que me obrigue a pensar nisso porque cresci assim, porque foi o que sempre vi acontecer em casa dos meus pais, dos meus avós...
      Vi uma vez a minha mãe a ser extremamente dura num sermão que passou a um adulto devido a maus-tratos a um animal e o meu comentário a seguir (eu era uma pré-adolescente) foi: “Foste tão mal-educada...”. Não foi, não tinha dito asneiras, não tinha insultado o homem, mas tinha falado num tom e num volume mais agressivo e alto do que o usado em casa. Ela nem sequer gritou com ele para que veja que mesmo assim eu notei a diferença. :)
      Compreendo que não seja assim em todas as famílias, mas também não posso dizer que não seja um
      comportamento normal entre pais e filhos. :) Provavelmente na sua família faz outras coisas que ajudam a gerir certa situações que na minha não se faz e que nos dava jeito aprender, comportamentos que para nós não são naturais e teríamos de nos lembrar de os fazer. :)

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    2. Olá Teté! Realmente já não é a primeira vez que a leio a comentar e nunca lhe li uma palavra menos controlada ou que pudesse ser dita num tom mais alto 😊
      O difícil, para nós, é conseguir sempre essa calma, esse controlo. Ambos temos personalidades que nem sempre conseguem manter a calma depois de uma situação stressante ou de dia intenso no trabalho, preocupações, etc. Mas por exemplo os meus pais também são assim... Nunca levantam a voz, nunca os ouvi ter tom ou palavras agressivas...a minha mãe nem admitia um 'bolas'. O meu lembro-me de uma única vez em que chegou a casa chateado porque lhe bateram no carro (ele que nunca teve um acidente nem batidela) e disse 'merda' e eu é irmã termos ficado de boca aberta.
      Nem imagina a quantidade de vezes em que eu desejo conseguir ter controlo sobre as emoções... Não me irritar... Etc.
      Felicidades para si e família!

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    3. Somos todos humanos, com emoções. A semana passada estive doente e estive claramente com menos paciência para a minha filha. Sei que isso se notava mas não vejo problema nisso: sou humana, expliquei-lhe que estava com febre e que estava com menos paciência para brincadeiras e birras, tem 3 anos e se calhar desta vez ainda não percebeu, mas não é crime estar cansada e não querer brincar nem querer gerir uma birra com a paciência do costume. E ela tem de lidar com isso também. A vida é assim, o mundo é assim. Esta semana já estou mais normal. :P
      E desengane-se, não sou sempre calma e controlada. Não venho é à internet nesses dias. :D Fora de brincadeiras, também tenho a minha quota-parte de comentários menos sensatos que agora à distância vejo que embora tivesse razão no que dizia, devia dizê-lo de outra forma. :)
      Isto da internet engana sem querer e não é de todo essa a imagem que sou. Não estou sempre calma e controlada, acredite em mim. :D

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  21. Não é a toa que estás são as gerações perdidas, onde para se educar um filho, é preciso subornar o mesmo, porque uma palmada aplicada na altura certa é muita violência.

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