Há vários tipos de pessoas, de mulheres, de homens, de mães e de pais. Parece repetitivo enumerar estas categorias, mas é importante. Tal como também há diferentes tipos de crianças e de bebés, diferentes tipos de casais, etc.
Tenho visto e sentido que nem sempre (claro, duh!) um casal está em uníssono no que toca a ter mais filhos. Tenho vários exemplos perto de mim, até inclusivé os meus pais que não morriam de amores pela ideia de ter nem um filho quanto mais mais um mas que, de uma maneira ou outra, se foram encaminhando até lá.
Muitas das vezes creio que se terá filhos (o primeiro, o segundo ou o terceiro), apenas com o intuito de agradar o parceiro ou parceira. A pressão pode ser de qualquer uma das partes, não estou a defender géneros.
A Irene nasceu porque o Frederico queria ser pai. Eu achava que nunca saberia ser a mãe que acho que é preciso ser e tinha 26 anos. Afinal até sei, mas não queria ter filhos. Sabia que para a relação continuar que era necessário que "os" tivesse e claro que ninguém me obrigou mas foi-me dito de forma bem clara que seria um requisito. Passado uns tempos encaminhei-me para aí. Não se pode dizer que tenha sido por um desejo louco de ser mãe, mas por me parecer fazer sentido e querer muito viver o sonho de ter uma família.
Sei de mães que querem ter mais filhos e os têm, apesar dos pais não quererem. Sei de pais que querem ter mais filhos, independentemente do que as mães digam sobre isso e de como se sentem. As conversas podem ser mais directas, mais duras, mais subtis, através de conversas ou de "bocas" e brincadeiras, mas está lá sempre o que se passa: "eu quero ter mais filhos".
Isto poderá activar muitos medos irracionais na outra pessoa: "Se eu não tiver mais filhos, ela deixa-me?", "Se eu não tiver mais filhos, ele vai ser infeliz para sempre?", "Sempre que virmos um bebé de alguém, vai ficar triste e esquisito?", "Vai culpar-me para sempre?", "Estou quase nos 40 e tal, o tempo está a acabar...".
É justo que se verbalize o que se quer, mas é necessário que se pense no que poderão ser os nossos desejos, principalmente quando se fala ou pensa em ter uma criança. Ter um filho porque a ideia foi estarem dois no postal de família parece-me pouco, ter mais um filho porque a ideia que se tem é que só um se sente sozinho (decidi assim ter dois gatos) pode necessitar de mais pensamento por cima, ter mais um filho porque se está aborrecido ou porque se tem saudades de ter um bebé pela casa também. Não julgando muitas de vocês que, tal como eu, tiveram um filho porque (inserir motivo menos romântico e mais prático, como foi o meu caso).
Não se tem um filho sozinho (pode ter-se, mas falo nas situações de casal que as partes se poderão pressionar) e o mais importante - mais do que qualquer expectativa ou ideia romântica ou projecção da sua própria infância ou mero accomplishment de guião - é se há condições para o ter. Claro que não falo só de dinheiro. Parece que, às vezes, o dinheiro estica. Às vezes o dinheiro não é o mais complicado se conseguirmos ser flexíveis e se desejarmos muito - pelos motivos mais certos para a criança - ter um filho.
Às vezes o que é mesmo difícil é gerir depois as expectativas e os papéis de cada um na educação e afecto da criança. A mãe que é mãe "por pressão" estará tão disponível emocionalmente para o fazer quanto uma mãe com a vontade de o ter? O pai que já não queria ter mais filhos, será a sua melhor versão para o próximo?
Tudo isto é discutível e eu sou exemplo disso. O início não foi o que gostaria. Não quis ser mãe, mas convenci-me que sim e tenho a certeza que a Irene tem o melhor de mim todos os dias. Porém, quando pressionamos alguém ou quando falamos dessas coisas... queremos ter só um filho no geral ou queremos que o nosso filho cresça com a melhor mãe e pai que possam ter? Queremos um filho ou queremos um filho com a pessoa que amamos?
Quando um parceiro nosso não está disponível para ouvir que não queremos ter filhos, será esta a relação certa para se trazer mais um bebé ao mundo? Não se pode controlar tudo, nada é perfeito, blá blá. Mas ter um bebé tem de ser mais importante que comprar um carro ou uma casa.
Há os que nascem, há os que são planeados, há os que são pressionados. Importa saber porquê. Importa abrir espaço para os bebés e não obrigá-los a furar. Importa não pôr ninguém da relação numa situação frágil de ter que se comportar de forma exímia numa situação não desejada e "impingida".
Há momentos em que temos de fechar os olhos e ver o que acontece e faço-o em diversas situações (embora cada vez menos), mas isto de ter filhos tem de ter muito mais do que ser vencido pelo cansaço ou porque se tem medo de se perder a outra pessoa. Nada me garante que não tenha sido a decisão que tomei que tenha contribuído também para que tivesse tido uma experiência de pós parto tão sofrida, por exemplo. Não estava perto de estar pronta.
Não falo só das crianças, falo da mulher, do homem, do casal, da vida de tanta gente por um plano que não se muda ou que não se questiona.
Há coisas boas e más em qualquer decisão, mas esta tem de ser mesmo muito ponderada e com carinho por todos. Inclusivé por quem não quer ou acha que não quer.
Tudo se resolve, mas o princípio define muita coisa.
Bom tema... Sempre achei que foste, pelo o que lia, "empurrada' para ter a Irene e o pós parto foi isso mesmo um empurrão avassalador que não conseguiste controlar...Ainda bem que és a mãe tão imperfeita e tão excelente para ela... Mas o que seria dela... Se o amor não vencesse .. O vosso venceu.O do casal esmoreceu muito também por esta 'imposição' não me levas a mal, o comentário. Mas muitas más mães/pais talvez o sejam devido a estas imposições.... Pois nem todos temos de ter filhos ou gostar de os ter ou de os criar.
ResponderEliminarOlá Joana
ResponderEliminarAcho que nestas coisas do amor sou um bocado (demasiado) prática.
Tanto eu como o meu marido sabíamos que queríamos ter filhos. Não seria meu marido se assim não fosse, ponto. Tal como não seria meu marido se fosse daqueles que saem do trabalho e vão beber copos todos os dias com os amigos até às tantas, se achasse que eu era propriedade dele e não respeitasse as minhas escolhas, ou achasse que eu era a sua empregada doméstica. Não fui educada para me vergar por causa de um parceiro. E acho que o amor se constrói, com uma pessoa de gostos semelhantes aos nossos. Essa história de saber de antemão que um quer e outro não quer ter filhos, e achar que um não está a a respeitar as escolhas do outro, não me entra na cabeça. Um parceiro não pressiona o outro, vive-se em conjunto e consoante as escolhas de vida dos dois. Se há assim gostos tão incompatíveis, é porque provavelmente não são as pessoas certas um para o outro. Para mim, isso é claro como água.
Andreia
Ora nem mais...
EliminarExactamente! Acho que tocou no ponto que faz ter tanta gente insatisfeita nas suas relações: o terem-se contentado com alguém assim-assim. Alguém com quem têm algo em comum, "mas"... (e depois vem um sem número de coisas em que são diferentes/incompatíveis). Eu se não tivesse encontrado alguém que partilha na totalidade da minha visão de família/vida, nunca teria avançado para um viver junto, depois casar e agora ter filhos. Há outras opções, igualmente felizes!
EliminarTu soubeste dar a volta por cima e tornar-te uma Mãe excelente. Mas há quem não consiga dar essa volta e que têm os filhos para não perderem a relação mas depois não são mães no verdadeiro sentido que a palavra deveria ter.
ResponderEliminarNem mães nem Mulheres, diria eu. . .
EliminarEu gostaria imenso...apesar de ter tido um pós parto horrível...tipo o teu, com a diferença de que eu queria muito ser mãe, tendo sido aos 36 anos. Entretanto estou num processo de divórcio, talvez o pós parto, a entrega ao meu filho ter sido de tal forma arrebatadora e a sensação de ter tido o pai do meu filho pouco presente estejam na origem de tal situação...infelizmente :( de momento com 39 anos e a viver a situação descrita anteriormente talvez já não seja possível ter mais filhos :( no entanto acompanho bastante o blog dias de uma princesa há sempre a esperança de que a qualquer momento tudo pode mudar :)
ResponderEliminarEu gostaria imenso...apesar de ter tido um pós parto horrível...tipo o teu, com a diferença de que eu queria muito ser mãe, tendo sido aos 36 anos. Entretanto estou num processo de divórcio, talvez o pós parto, a entrega ao meu filho ter sido de tal forma arrebatadora e a sensação de ter tido o pai do meu filho pouco presente estejam na origem de tal situação...infelizmente :( de momento com 39 anos e a viver a situação descrita anteriormente talvez já não seja possível ter mais filhos :( no entanto acompanho bastante o blog dias de uma princesa há sempre a esperança de que a qualquer momento tudo pode mudar :)
ResponderEliminarEu gostaria imenso...apesar de ter tido um pós parto horrível...tipo o teu, com a diferença de que eu queria muito ser mãe, tendo sido aos 36 anos. Entretanto estou num processo de divórcio, talvez o pós parto, a entrega ao meu filho ter sido de tal forma arrebatadora e a sensação de ter tido o pai do meu filho pouco presente estejam na origem de tal situação...infelizmente :( de momento com 39 anos e a viver a situação descrita anteriormente talvez já não seja possível ter mais filhos :( no entanto acompanho bastante o blog dias de uma princesa há sempre a esperança de que a qualquer momento tudo pode mudar :)
ResponderEliminarEu gostaria imenso...apesar de ter tido um pós parto horrível...tipo o teu, com a diferença de que eu queria muito ser mãe, tendo sido aos 36 anos. Entretanto estou num processo de divórcio, talvez o pós parto, a entrega ao meu filho ter sido de tal forma arrebatadora e a sensação de ter tido o pai do meu filho pouco presente estejam na origem de tal situação...infelizmente :( de momento com 39 anos e a viver a situação descrita anteriormente talvez já não seja possível ter mais filhos :( no entanto acompanho bastante o blog dias de uma princesa há sempre a esperança de que a qualquer momento tudo pode mudar :)
ResponderEliminarLol 4x 😜
EliminarA minha filha tem 3 anos e, volta e meia, as pessoas fazem comentários do tipo: "então e o próximo", "vais dar um irmão à tua filha, não vais", "não vais deixá-la ser filha única, pois não?" e por aí a fora. Eu não quero ter mais, e o meu marido também não. Por isso, não haverá o tipo de problema de que falas no post. Mas não sei como se pode gerir uma situação de um querer e o outro não! Porque é algo em que o meio-termo não existe. Ou é ou não é. Um lado tem que ter o que deseja e o outro não.
ResponderEliminarEu estou um bocadinho pior, Joana.
ResponderEliminarSofro uma pressão DIÁRIA para ter filhos e há dias que quero muito, outros que não me imagino mãe.
Questiono-me taaantas vezes que mãe serei eu? Se estou psicologicamente disponível para o novo papel, para a nova dinâmica que isso acarreta? Não sei... algum dia vou saber? :(
mas isso não são temas conversados durante o namoro? Desculpem mas faz-me alguma confusão... Se a Joana achava que não queria ter filhos, ou que só os queria ter lá para os 40 anos, dizia isso claramente ao namorado. Se o namorado dissesse "de maneira nenhuma, eu quero muito ter filhos tipo 2 anos depois de casar", claramente que já saberiam que isso iria ser uma grande pedra no caminho da relação.
ResponderEliminarNamorei muitos anos com o meu marido e sempre concordámos em ter 4/5 filhos. Casámos e continuámos com a mesma ideia. Tivemos o primeiro filho e ele mudou de ideias e só quer, talvez, mais um. Rifo-o? Digo "prometido é devido?" ou "Não foi isso que combinámos nos últimos 15 anos?". Compreensão, amor, comunicação, são essenciais. Penso que renegociaremos esta questão e redefiniremos, em conjunto, a nossa noção de família. Já houve quem me dissesse para "engravidar na mesma" mas mais importante que tudo é termos uma família feliz baseada em confiança e respeito, independentemente do número de filhos.
EliminarConcordo consigo. A ideia de nos afastarmos da outra pessoa, por não ter os mesmos desejos/vontades/planos, é redutora. As relações são complexas. O que é necessário é existir, como diz, compreensão e comunicação.
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