8.06.2017

Eu queria ser anorética.

Nunca escreveria este título de ânimo leve. Imagino a dor que represente não só para quem sofra de anorexia como para todos os que rodeiam essa pessoa e respectiva impossibilidade de ajudar ou de até compreender. 

Porém, era verdade. Lidei sempre mal com o meu corpo. Nunca gostei dele. Havia coisas que gostava em mim que, quando lúcida, conseguia vê-las, mas o normal era detestar-me. Não conseguia, contudo, parar de comer. Queria ser magra, queria ser mais loira, queria ser mais ou menos, mas não tinha grandes hipóteses. 

Recordo-me de ter passado vários dias num verão a protelar a comida o máximo que podia, a fazer o máximo de exercício físico que podia, a deitar fora as sandes que fazia para comer na praia, mas rapidamente fui posta nos eixos pela minha mãe. Isso não fez com que o ódio desaparecesse. Tentei vomitar o que comia das maneiras mais clássicas, tentei tudo. 

Odeio tanto a minha barriga há tantos anos que houve uma fase em que adormecia com um cinto apertado na barriga para me lembrar de a encolher enquanto dormia - pensando eu que um dia ficaria com a barriga perfeita assim - já que não conseguia "sequer" (palavra-chave aqui) deixar de comer. 

Sei que como emocionalmente. Sei que 90% das vezes em que como não tenho fome. Sei que como da mesma maneira que puxava do cigarro quando saía de casa às 8h da manhã para ir para a escola ou quando entrava no carro para ir para o trabalho. Não tenho grande controlo nisso. Ando a tentar. De dentro para fora. Faço terapia e acredito que ao pôr em ordem as minhas ideias, conseguirei lidar com todas estas questões e outras com mais calma. 

Até lá tenho criado as minhas ferramentas. Tenho dado o meu melhor para não me pôr em dietas porque sei que facilmente posso ficar demasiado rígida comigo própria e evito pesar-me. Não quero que a compulsão de me pesar diariamente me faça entrar num jogo de culpa e gratificação que, mais uma vez, vai espelhar-se na péssima relação que tenho com a comida. 

Além de que sei que o PESO não é o que interessa. Temos de parar com esta cultura de "perdi x quilos" e de nos informarmos mais um bocadinho - atenção que quem vos diz isto é alguém que, se se pesasse e tivesse perdido 10kgs ficaria imensamente feliz, mas estou a tentar ser racional. O peso pode ser água, músculo, órgãos, ossos e gordura. Interessa-nos perder massa gorda e não o resto. Se aumentamos de peso quando fazemos desporto é porque estamos a ganhar músculo (ou a comer mais porque achamos que o ginásio nos faz emagrecer). Para perder gordura (e não peso) o segredo está nas escolhas alimentares e não na quantidade de desporto - isso garanto-vos, senão eu estaria já tesudona com os treinos que tenho feito. 

Temos de nos concentrar no que interessa: sermos felizes. Vá, mas depois disso, vamos concentrar-mo-nos na GORDURA e não no PESO. 

Até já desenrasquei uma balança que me dá esse dado para tentar ignorar os kgs que pouco ou nada significam (estou satisfeita com ela- vejam aqui). 

O meu mindset é ser mais saudável. Comer melhor. Viver um estilo de vida mais saudável, mas é claro que gostaria de emagrecer (perder volume, gordura) um pouco. Por isso, escolhas saudáveis e nada de olhar para os kgs como se fossem uma espécie de tribunal em que nos dizem se somos uma merda ou se merecemos emagrecer. 

Não podemos criar uma relação pouco saudável, destrutiva connosco. É o clássico "se não gostar de mim", sim, mas...  é pior que isso. É: se não gostar de mim, não gostarei de mim. 

Estou a dar tudo o que tenho e tenho muita sorte em poder ter uma excelente equipa (#omelhorptdomundo e a Nitricionista) comigo. Acho que 2018 vai ser o ano. Depois engordo em 2019 para celebrar, haha. 

Dica: não ponhamos balanças na casa de banho das nossas filhas. 

Eu a encolher a barriga a 6 de Agosto de 2017. 



✩✩✩✩✩✩✩✩✩✩

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10 comentários:

  1. Infelizmente a sociedade transmite a ideia que ser magro é que é bom, é bonito. Quem é magro consegue tudo. E ninguém foca a questão de sermos saudáveis. Que é tão mais importante. Saber os kg que temos interessa menos que saber a quantidade de matéria gorda. Essa sim prejudicial. E eu, mãe ha quase 5 meses, engordei 17kgs. Faltam-me perder no mínimo 10kg. Até ao fim do ano (I hope).. mas principalmente a banhola na barriguinha e braços! Bom post.

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  2. Título muito infeliz. Eu nunca fui anoréxica mas conheço o drama de quem passa por tal. É semelhante a dizer-se que gostava de ser toxicodependente ou de ter cancro e isso é no mínimo algo que revela algum desequilíbrio mental.

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    1. E ler o texto e perceber que a Joana "queria ser anorética" quando era miúda, não agora. Aliás se ler o texto vai perceber que até é contra o culto da perda de peso, etc etc As vezes é só mesmo por implicar, irra. Joana Gama, Deus vos dê muita paciência.

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    2. Razão para dizer que ficaram-se "apenas pelas gordas" e não leram o resto do texto...
      Como se consegue comentar, negativamente, sem sequer ler o conteúdo é que me faz confusão.

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  3. Obrigado pela dica da balança 😀 Não sabia que existiam balanças assim para ter em casa, tenho-me pesado na farmácia, mas sem dúvida que em casa é muito mais confortável. Fui mãe à 3 mesinhos e tenho de ganhar coragem para perder pelo menos uns 10 kg para me manter no meu IMC. Desejo-te boa sorte nessa luta também. Vamos conseguir! Marina

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    1. Comprei uma no Decatlom, custam 20 euros, e funcionam muito bem, dão peso, massa gorda e magra e nivel de hidratação!

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    2. Obrigado pela dica :)

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  4. Em relação a perder massa gorda e preservar a massa magra, aconselho-te a leitura deste artigo: http://melhorsaude.org/2017/06/20/jejum-intermitente/

    Este blog tem muita informação de confiança e é a ele que recorro quando tenho alguma dúvida relacionada com saúde ou alimentação. Marina

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  5. Joana linda! Simpatizo mesmo muito contigo. Cortei a semana passada o meu cabelo à rapaz, porque estava tão maltratado que só um corte radical é que iria permitir "começar do zero". A minha cabeleireira vendo-me tão firme na decisão disse-me: tu estás mesmo bem contigo mesmo! E eu, que nunca tinha pensado nisso, dei por mim a pensar, realmente estou, sinto-me tão feliz no alto dos meus quase 40 anos, com dois rapazes lindos e saudáveis, um marido imperfeito mas maravilhoso, um trabalho stressante mas desafiante, um corpo imperfeito mas cheio de energia e de amor para dar. Quanto ao cabelo, ele dá-de crescer....
    Força menina, não é assim tão dificil gostarmos de nós!
    Catarina Caldeira.

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  6. Olá Joana.

    Li o teu post ontem. Ontem também foi o dia que fui-me pesar e vi que só peso 50. Eu que sempre lutei para conseguir engordar... e estava já com 56, mas com dois trabalhos, e depois fiquei doente, enfim....
    Percebo o teu post porque sempre tive amigas assim, e elas muitas vezes invejavam-me. E não percebiam que eu sentia-me mal com os meus ossos espetados. Isso já sem contar com os anos de bullying por ser alta e magra...
    Mas isso passou-me, aprendi a aceitar-me como sou e agora vou tentar ir ganhando peso de volta, se não conseguir para já vou ter que aceitar isso.

    Aprende a gostar de ti. Se gostares de ti os outros irão sempre te achar linda ;)

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