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4.09.2019

Esquece tudo o que te vão dizer sobre o que é ser Mãe

Vão dizer-te que vais ficar sem tempo para nada, mas vais sentir que o teu tempo é o bem mais precioso de todos.

Vão dizer-te que vais deixar de ter vida, mas vais ver a vida a crescer em ti e à tua frente, a cada segundo.

Vão dizer-te que a tua vida começa agora, mas vais perceber que tudo o que foste vai estar sempre presente, em cada coisa que faças e digas. 

Vão dizer-te que vai ser difícil, mas vais achar que isso era um eufemismo, que não vais dar conta e que não consegues.

Vão dizer-te que as meninas roubam a beleza à mãe, mas provavelmente nunca te vais sentir tão bonita.

Vão dizer-te que é o fim do mundo, mas vais perceber que o mundo nunca acaba e que era uma hipérbole.

Vão dizer-te que nunca mais vais querer outra coisa, mas por vezes vais ter saudades de ti antes de seres mãe.

Vão dizer-te que te vais sentir endoidecer e tu vais sentir que já não há volta a dar, por isso mais vale embarcar na loucura.

Vão dizer-te que passa rápido e vais perceber que há momentos em que isso era mentira, de tão cansada que vais estar, mas noutros ter a certeza de que era a mais pura das verdades.

Vão dizer-te que amamentar dói, mas se calhar vais sentir que estavam a exagerar (e é bom sinal).

Vão dizer-te que amamentar é a melhor experiência da tua vida, mas provavelmente vais ter momentos em que não te apetece fazê-lo.

Vão dizer-te que o teu leite não presta, mas vais fazer ouvidos moucos e confiar em ti.

Vão dizer-te que os amigos fogem todos, mas vais perceber que os que ficam valem por todos.

Vão dizer-te que o cheiro do teu bebé é inebriante, mas vais chegar à conclusão de que nem há um adjectivo à altura. 

Vão dizer-te que os meninos são mais "da mãe", mas vais perceber que as meninas não poderiam ser mais tuas do que são.

Vão dizer-te que os rapazes são muito "reguilas", mas vais sentir que os abraços, os beijos e as mãos dadas são a coisa mais doce que já provaste.

Vão dizer-te que te vais sentir sozinha, mas há momentos em que a solidão e o silêncio é mesmo o que precisas.

Vão dizer-te que vais chorar de alegria muitas vezes, mas faltou dizer que se chora muitas vezes, de cansaço. 

Vão dizer-te que vais ter um sexto sentido, mas às vezes vais andar às escuras a tentar encontrá-lo. 

Vão dizer-te que ninguém conhece melhor o teu filho do que tu, mas vais perceber que não controlas tudo, que não sabes tudo e que isso faz parte do jogo.

Vão dizer-te que ser mãe é uma experiência do caraças, mas nada do que te disserem vai chegar aos pés daquilo que vais sentir, que vais SER.


Bem-vinda ao clube das Mães: somos todas tão diferentes, mas depois, afinal, temos muitas outras coisas em comum. Ou pelo menos uma: um amor desmedido pelos nossos filhos. E algum cansaço. Ou muito, vá.

Mas shiuuuuuu... esquece tudo o que leste.

Grávida de 37 semanas, já tinha ouvido de tudo, mas nada nunca se equiparou. - foto da querida Rita Ferro Alvim


5.04.2018

Lembra-me para não me esquecer.

Lembra-me para não me esquecer de que terminas as palavras de todos os versos das músicas que ouvimos no carro.
Lembra-me para não me esquecer que estiveste durante um ano e meio no meu colo todos os dias da tua vida, que te cheirei e te beijei vezes sem fim.
Lembra-me para não me esquecer de que cumprimentas toda a gente na rua, de que pedes colo a qualquer um, de que, desde cedo, começaste a chamar os empregados de mesa para te pisgares e que mandas beijinho e dizes adeus a toda a gente com que te cruzes.
Lembra-me para não me esquecer de que me ensinaste a respeitar o teu ritmo, a não enfiar sopa pela tua goela abaixo, a dar-te comida inteira, a ver-te aprender a comer, mastigar, com calma, até ao dia em que pegaste na colher e estavas pronta, por ti, a comer uma sopa, uma papa, um iogurte. Pela tua própria mão.
Lembra-me para não me esquecer de que um dia apareceste em casa a dizer as cores e que eu senti um misto de orgulho com aquele terror de te estares a tornar numa menina, depressa demais.
Lembra-me para não me esquecer de que chamavas "minha" às maminhas, com 1 ano e picos. 
Lembra-me para não me esquecer de que no primeiro fim-de-semana sem os teus pais dormiste noites inteiras em casa dos avós (safada).
Lembra-me para não me esquecer de que eras um despachanço fora do comum a comer, com garfo com a colher ou com a mão, e de que gostavas de azeitonas, limão e de café, quando te dei a provar. 
Lembra-me para não me esquecer de que tens um feitiozinho do caraças, uma energia inesgotável, uma fofura desmedida (que beijos bons são esses que nos dás?!). 
Lembra-me para não me esquecer de que um dia foste uma bebé muito dorminhoca e que depois descarrilaste completamente. 
Lembra-me de que só começaste a ligar a livros e a histórias já com quase dois anos mas que não as largaste mais. 
Lembra-me para não me esquecer de que adoravas mamar, escolhias a mama que querias, dizias quando passar à outra e voltar à primeira. Três vezes. 
Lembra-me para não me esquecer que por mais que me possa ter queixado de teres vindo tão próxima da tua irmã, duas bebés, nunca me poderia arrepender de todo o amor que vieste trazer contigo, todo o crescimento, toda a emoção.
Lembra-me para não me esquecer nunca que quando pensei que me poderiam perder, há quase dois anos, senti que nada tinha sido em vão: tinha deixado mais uma alma luminosa neste mundo. Não me enganei.

Luísa, menina do meu coração, fazes dois anos este mês 
(longo suspiro).
Lembra-me sempre do quão felizes somos por nos termos.





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9.06.2017

Carta à minha filha que foi para a creche pela primeira vez

Querida filha,

Espero que à hora que te escrevo já tenhas parado de chorar. Que tenhas comido qualquer coisa. Que tenhas conseguido dormir um bocadinho e sem soluçar. Que já tenhas presenteado todos os que te rodeiam com esse sorriso contagiante, com essas notas musicais no corpo, com os teus abraços demorados, com o teu despachanço. Tu que deitas alegria por todos os poros, que és meiga e suave e quase não choras. O meu coração mirra cada vez que te deixa, qual furacão a cuspir lava, pronta a ficar vermelha de tanto chorar. Faço um esforço enorme para não chorar ali à tua frente. Choro por dentro filha, tanto, tanto. Choro agora. 

E recordo a última sesta que fizemos juntas. Fiz questão de dormir contigo, de estar ali a ouvir-te respirar. Não quero saber se é parvo, adoro pôr o meu nariz bem perto da tua boca tão bem delineada para sentir o cheiro que de lá sai. É qualquer coisa de maravilhoso. E fui percorrendo todo o teu corpo com o olhar. Os teus dedos dos pés, quentinhos, a tocarem nas minhas pernas. As tuas dobrinhas perto dos joelhos. Tudo tão perfeito. A tua barriga que sobia e descia num ritmo calmo, relaxado. Estavas tranquila. Estavas segura. Sabias que eu estava ali. Dormes sempre mais quando eu estou ao teu lado. Eu protejo-te da ausência, do vazio. Eu sou a tua mãe. Foi a última sesta antes de ires para um sítio diferente, com outros cheiros e outras caras. Foi a última sesta comigo ali, por perto, pronta para te sorrir quando acordasses. Foi a última sesta em que pudeste sentir o meu cheiro, logo tu que, quando te cansas de mamar, gostas de enfiar a cabeça no meu sovaco. Tu não sabias que havia mais mundo lá fora, nem que quando acordasses eu poderia não estar lá. E isso dói-me em todos os músculos, articulações e na alma. Fazer este corte custa. Custa muito. Para as duas.

Sei também que vai deixar de custar tanto. Sei que um dia irás, conformada e entusiasmada, para a tua salinha e dir-me-ás adeus com a tua maozinha sapuda e tentarás dar-me um beijinho. Sei que um dia terás a certeza absoluta que eu volto para te devorar com beijos e colo e mimos. 
Até lá tenho de acreditar que vais ficar bem, que esta fase faz parte e que não deixará mossas em ti, minha filha querida. Que tudo o que vivemos foi tão forte e tão bom que já ninguém conseguirá desfazer. Que a nossa ligação te dará sempre forças quando eu não estou e que a saudade vai passar a ser algo bom. 

Estou aí às 4 horas, filha. Sabes que é a melhor parte do meu dia? Quando tudo volta a fazer sentido? Quando o meu coração acelera, qual apaixonada antes de um encontro? Chora tudo o que quiseres, faz-me queixinhas, pendurada no meu ombro. Até amanhã de manhã sou toda tua. E serei sempre. Mesmo nas horas em que não estou.

Sempre, filha. Sempre.


9.04.2017

Primeiro dia de creche e as dores de uma mãe

Hoje foi o primeiro dia de escola da Luísa e o primeiro dia na escola nova para a Isabel.

Ontem à noite estava bem. Consegui não sofrer por antecipação. Hoje de manhã a angústia começou a vir, devagarinho, mas fui engolindo em seco. A Isabel estava entusiasmada com a ida para a escola nova, foi o que nos pareceu. Acordámos, eu e o David, um bocadinho mais cedo, tomámos o pequeno-almoço, banho, preparar o pequeno-almoço da Isabel e elas foram acordando. Fizemos tudo com calma, sem pressas. Tínhamos de lá estar até às 9h30 e assim foi. Assim que lá chegámos a Isabel não quis entrar na escola. E assim começou o que viriam a ser longos 15 minutos de angústia. Quis deixar primeiro a Isabel, mas assim que viu a sala e a educadora, começou a chorar. Ok, vamos levar primeiro a Luísa, pelo caminho fomos falando, de forma calma, sobre tudo o que ia acontecer e fomos mostrar-lhe o espaço exterior, os escorregas e tudo o que a pudesse fazer sorrir. Ao irmos deixar a Luísa, uma miúda não quis deixar a Isabel brincar com qualquer coisa e esta ficou pior que estragada. Deixámos a Luísa, sem grandes problemas. Ao descer as escadas, a Isabel disse-me que estava a ouvir a Luísa a chorar e o pai confirmou-me com o olhar. Não tive a certeza. Preferi ignorar com a cabeça, para ver se o coração desacelerava. Lá deixámos a Isabelinha, entrei na sala, tentei brincar um bocadinho com ela, mas nada lhe estava a conseguir tirar a tristeza. Só queria estar agarrada a mim. Disse-lhe com doçura mas com firmeza: "a mãe vem buscar-te a seguir ao lanche, amor. Até logo. Diverte-te e brinca muito". Saí. Saímos.

Custa, caraças. Custa muito. Vai custar menos, mas enquanto custar, custa. Aquele choro fica a ecoar dentro da nossa cabeça e sentimos as reverberações no nosso peito. Ficamos a pensar se terá ficado muito tempo a chorar ou se terá passado. E a Luísa? Terá comido? Como foi para adormecer, sem a maminha? Terá chorado muito?

Espero que deixe de custar já hoje, já amanhã, na próxima semana, mas o mais provável é que se prolongue mais umas semanas... Vai deixar de custar quando vir nelas sorrisos rasgados, quando quiserem ficar lá mais tempo, quando perceber que estão bem, que estão a ser bem cuidadas, mimadas e a fazer amigos. 

Tinha mesmo de ser? Perguntei-me - perguntei-nos - várias vezes. Sim, tinha. É preciso equilibrar o orçamento familiar, concentrar-me e trabalhar mais. Precisava de ter uma hora só para mim (voltei ao ginásio, ao Scape) [ok, é um luxo, é um extra, é um bónus, percebo que muitas preferissem ter mais tempo para os filhos, mas para a minha saúde mental - e física - estava a fazer-me muita falta]. Uma hora para compras, limpezas, arrumações. Deixar o jantar já pronto. E mais três horas em que consigo trabalhar de forma fluída e sem interrupções. Depois, é ir buscá-las às 15h30, já com tudo pronto e disponível, de colo e de alma, toda delas. Por inteiro. 

A seguir à escola, vamos ao parque, pelo menos nos dias sem chuva, e depois voltamos a casa para continuarmos a brincar, a dançar, a fazer cócegas. Banhos, jantar, história e cama. Vai ser esta a nossa rotina a partir de agora. 

Já não estava a conseguir dar o melhor de mim em nada. Nem conseguia escrever em condições, nem pensar em novos projectos, nem conseguia dar-lhes a atenção de que elas tanto precisam, nem dava conta da casa. Agora, com muita organização, vou conseguir ser tudo o que quero ser.

Tenho receios? Tenho. Tenho receio de que a Luísa deixe de ser aquela bebé sorridente e sempre bem-disposta, muito dada a toda a gente, e que fique riscada (como disse a Joana neste post). Pela Isabel, não tantos, porque já me provou que se adapta muito bem às mudanças.

Relatório: A Luísa ficou a chorar praticamente toda a manhã (mesmo ao colo), não almoçou grande coisa, dormiu quase duas horas e não chorou mais, lanchou bem. Quando lá cheguei, choramingou, mas coisa pouca. Despediu-se com beijinhos, foi a cantar no carro, correu e riu à gargalhada no parque. A Isabel parou de chorar assim que saímos e esteve sempre, sempre bem. Brincou, falou, comeu bem, dormiu a sesta e estava felicíssima quando a fui buscar, cheia de coisas para me contar.

Conclusão: não foi tão mau como pintei. Vamos ver amanhã.

Foram um ano e três meses maravilhosos. Não trocava por nada deste mundo. Faria tudo de novo. Obrigada ao David, porque sem ser um projecto de família não teria sido possível. Obrigada, Luísa, por me teres feito renascer. Obrigada, Isabel, por me ensinares tanto. Obrigada, Vida, Sorte, Deus, o que for, pela oportunidade. Foi duro, foi desgastante, mas foi muitíssimo compensador e este ano já ninguém nos tira. Agora, novos desafios. Para todos. 


Como foi o vosso primeiro dia?




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6.12.2017

Carta ao meu namorado.

Estou de camisa de dormir, daquelas que comprei, grávida da Isabel, para levar para a maternidade. Estou com a azul clarinha, fresca, com botões até lá abaixo, uns números acima e conforto para dar e vender. E é incrível como me sinto sexy mesmo numa camisa de dormir que comprei grávida da Isabel para levar para a maternidade. Voltei a sentir-me confiante, segura, e o meu corpo voltou a pertencer-me, mesmo que diferente, mesmo que não o mesmo que conheceste em 2009. Elas estão a dormir as duas, tu estás longe e eu estou com o portátil no colo, dei de mamar nem há cinco minutos e já estava a ceder ao sono quando me apeteceu vir escrever-te. Dizer-te que, oito anos depois, duas filhas depois, estou como quando me conheceste, mas outra. Sinto-me uma miúda, pés descalços, corpo a pedir dança e cabelos desalinhados. Despenteados, para dizer a verdade. Cheia de vontade de me fazer à estrada no teu carro vermelho com lascas de tinta a sair, perdermo-nos com umas caipirinhas e a pedir pollo em vez de pulpo. Uma, duas, três vezes. Andar de mãos dadas, suadas do calor. Peles salgadas, tostadas e corações a palpitar muito. Aquele bikini preto que dizias que me ficava bem. Aquelas músicas que cantávamos nas viagens sem vergonha do ridículo. Aquelas idas ao cinema umas atrás das outras com uns hambúrgueres escondidos na mala. Como nunca viste o Laranja Mecânica?, perguntaste e mostraste-me esse e muitos outros. Fizemos colecções de clássicos e de Almodovares e de Allens. Ofereci-te uma viagem que era para a Tunísia mas acabámos nas Canárias. E fomos tão felizes em Veneza e em Florença. E nos nossos aniversários em degustações no Olivier na rua do Alecrim ou jantaradas naquela tasca maravilhosa em Caxias. Perdemo-nos em Londres e em Amesterdão (literalmente), descobrimos cidades e descobrimo-nos nelas. Dormimos sestas demoradas em longos domingos, chegámos a ir dormir para a banheira tal era o calor daquele T1 minúsculo num nono andar sem ar-condicionado e enroscámo-nos bem nas noites mais geladas. Comemos poeira em festivais de verão, dormimos em Ibis e em hotéis manhosos em Milão, perdemos carteiras em Tarifa. Trabalhámos juntos alguns anos e, quando nos diziam que trabalhar com namorados não resultava ou cansava ou sei lá mais o quê, mais gozo nos dava provar o contrário. Somos uma boa parelha - nem é preciso falar para sabermos o que o outro acha daquele corte na edição ou daquela escolha de música.

Começaste por dizer que me amavas, sem eu saber se algum dia te iria corresponder, quando o meu coração já era todo teu e eu nem adivinhava. Há coisas que têm mesmo de ser, há coisas que têm mesmo de acontecer. Nem um mês depois e já tinha a minha escova de dentes em tua casa, mal sabia eu que seria para a vida toda. Sei que é. Nós sabemos. Aquele bikini preto já não me deve ficar grande coisa, já não devemos voltar a pedir pollo em vez de pulpo, o carro vermelho a cair de podre já deve estar na sucata, mas nós somos os mesmos. Quando os nossos olhares se cruzam, mesmo que debaixo deles haja olheiras, mesmo que eles se tendam a fechar mais rapidamente, a luz é a mesma, ou maior ainda. Gosto daquilo em que te tornaste. Gostas da mãe em que me tornei, já mo disseste, todo orgulhoso. Já sabíamos o que trazíamos no coração, já sabíamos que éramos boa gente, mas vermo-nos a ser família, a ter provas para superar, fortaleceu tudo. Mais e mais e mais.

São oito anos - ou serão mais? Parecem mais ou foram muito intensos? Bons oito anos. Os melhores. Ao teu lado, os melhores.

Parabéns a nós. Por querermos dançar esta dança, mesmo que às vezes pisemos os pés um do outro, sem querer. Por mandarmos para trás das costas o que não é importante, por nos darmos, dedicarmos e cedermos, sem fazer jogos de força. Que sejamos sempre assim. Que consigamos sempre respirar fundo, relativizar e reencontrar o que nos juntou e o que continua a juntar. O nosso amor. Elas. E o nosso amor nelas.

Parabéns, amor.

Há 7 anos. Constato que somos como o vinho do Porto.

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4.30.2017

Estás grávida? Bem-vinda à maior aventura da tua vida.

Inspira.
Expira.
É mesmo verdade.
Estás grávida.
É normal teres medo.
É normal estares com borboletas na barriga.
É normal não saberes bem no que te meteste.
E ao mesmo tempo estares a viver um sonho.
É desejado. Muito. Tinhas a certeza de que querias um filho.
Mas mesmo assim tens incertezas.

Vais sentir aquele amor que dizem ser maior que tudo?
Vais, mesmo que não o sintas logo, como estás à espera, vais sentir esse amor incondicional. Dá-te tempo.

Vais dar conta?
Vais. Mesmo que pareça que não sabes bem o que estás a fazer, confia. Sono? Fome? Frio? Aconchego? Pouco a pouco vais perceber. Vais saber ouvir o teu bebé. Vais perceber que às vezes o colo resolve tudo. E compras um pano ou uma mochila ergonómica. Ou ambas. E o teu calor, o bater do teu coração vai acalmá-lo. Se não acalmar, pede ao teu coração para se acalmar. Respira fundo. Sai de cena e volta a entrar. Está a chorar. Muito. Mas vai passar.

Vais ter sono e endoidecer?
Vais. Vais sentir-te um zombie. Vais desesperar. Vais achar que estás a enlouquecer. Se calhar vais ter de pedir ajuda. E pedes. Se calhar vais achar que não vais sobreviver. E vais. E aguentas. Mais um dia. E outro. E arranjas as melhores formas de dar a volta. Dormes uma sesta. E outra. Deixas o bebé meia hora com o pai. Ou a avó. Ou alguém em quem confies. E dormes um bocadinho. Enches a banheira e relaxas. Esses 10 minutos vão fazer milagres. Aquele cheirinho, aqueles esgares, boquinhas e sons perfeitos também.

Por agora desfruta.
Dessa barriguinha.
Desse tempo de espera.
Vê uma série se não adormeceres.
Faz amor se te apetecer.
Passeia se os pés não ficarem tamanho 45.
Compra uma roupinha tamanho 1 e delicia-te.
Se tiveres de estar na cama, lê Carlos Ruiz Zafón, vê um bom filme, aproveita agora (é uma seca, sim, é fácil falar, sim, mas é temporário).
Se trabalhares, vai passar num instante e ao mesmo tempo sentes que demora (que coisa mais estranha, mas habitua-te a este sentimento dúbio: vai acontecer com todas as fases do teu bebé).

Prepara essa cabeça e esse coração.
Para ouvires bitaites de todo o lado, até de quem até agora não conhecias a voz.
Para teres de fazer ouvir-te perante tantas dicas e contradições. Sê humilde mas filtra. És tu - e o pai - quem decidem.
Para quereres chorar e logo a seguir sorrires. É uma montanha russa de emoções difíceis de controlar. Deixa-a subir e descer e fazer loopings. Logo, logo, vais relativizar tudo. E até ter saudades dos primeiros tempos. Que loucura.

Cala internamente as vozes que dizem que o estás a mimar demais com colo. Cala internamente as vozes que dizem que o teu leite é fraco. Cala internamente as vozes que dizem que ele tem de dormir na caminha dele.
Não duvides do teu instinto animal, de protecção. Não duvides que o teu cheiro cura tudo (e não estou a falar desse bolçado no pijama). Não duvides que os teus braços dormentes são em vão. Ele esteve 9 meses no teu corpo a sentir-te. A serem um só. Ele quer-te. Pele a pele. E tu também vais querer esse mimo todo. Também tu precisas daquele cheirinho viciante e daquela pele macia por perto, colada à tua.

Estás grávida e ainda falta tanto, mesmo não faltando.
Queres conhecê-lo. Queres conhecê-la. Queres conhecê-los (ui! plural, coragem a dobrar!).
Está quase. E vai ser difícil para algumas, mais fácil para outras.
Mas bom. Muito, muito bom. No momento ou à distância. Mas intenso. 
E depois de passado o turbilhão, ficarão a restar as saudades.

Estás grávida. Bem-vinda à maior aventura da tua vida.

À minha grávida preferida do momento (e a todas as outras)

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2.14.2017

Não preciso do Dia dos Namorados para nada.


Quem me vai lendo por aqui, sabe que mais lamechas e romântica dificilmente haverá no mundo. Choro com a morte de uma formiga e emociono-me com o arco-íris (ou com uma caixa de bolachas de chocolate). Gosto de (alguns livros do) Nicholas Sparks [vá lá, não retirem já o like da página, estou em confissão]. Sou toda do amor, da paixão, dos afectos. Mas sou também uma chata com isto das datas forçadas. É o carnaval semi-nu à chuva, é o dia das Carlas e o dia das Patrícias (como se isso não fosse só marketing para a partilha das páginas), é o dia das couves roxas, é o Dia dos Namorados. Sei que há uma história por detrás, sei vagamente quem era o S. Valentim, acho um bocado irritante a exploração comercial, os restaurantes cheios de casalinhos a comer o mesmo, e que se for preciso estão ao telemóvel a encher o instagram de corações e unicórnios, mas que mal trocam umas frases durante o jantar. 

Eu, uma romântica incorrigível, não preciso do Dia dos Namorados para nada. Celebre-se o amor hoje, mas celebre-se o amor todos os dias. E não é preciso ser num restaurante da moda, nem com um relógio da moda embrulhado num papel de seda. Umas torradas levadas à cama. Um "deixa lá que eu fico um bocadinho com os miúdos na sala para dormires duas horas" e depois ser acordada com abraços e beijos, ver um filme de mãos dadas já depois dos putos estarem a dormir, um bilhete querido, ou simplesmente um beijo dado no momento certo ou num qualquer outro momento (todos os momentos são certos). Não preciso do Dia dos Namorados para nada, porque todos os dias deveriam ser dias de amor, de paixão, de surpresa. Com as mais pequenas coisas, que nem físicas têm de ser.


Lembremo-nos disto mais vezes e não precisaremos do Dia dos Namorados para nada.


fotografia Weheartit
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1.27.2017

Às melhores filhas do mundo

A vocês que me desculpam sempre,
que têm um coração puro, sem maldade,
que me sorriem mesmo que tenham dormido mal
e que às vezes têm de levar com as minhas trombas.

A vocês que me vêem chorar
e que assim sabem que sou gente,
e que não faz mal expressarmos as nossas emoções,
que não temos de engolir choros ou ir chorar para longe,
apesar de eu às vezes desejar isso a alguém tão pequenino e indefeso,
só porque estou cansada.

Já te pedi, Isabel, "cala-te por favor!"
Já te disse, Isabel, "não chores mais!"
Já te implorei que parasses.
E agora te digo, Isabel, que ainda bem que falas, interrompes, choras e tens bicho carpinteiro.
Estás viva, estás a aprender, estás a testar, estás a crescer!
Tudo demora o seu tempo.

A vocês, minhas filhas queridas,
que se contentam com tão pouco
com uma careta, um bolo imaginário, uma dança alegre, um colo a três
E que às vezes empanturro com informação e objectos e vozes estridentes
como se fosse preciso um circo montado para preencher a ausência de outros momentos.

Exijo que me ouças à primeira, Isabel, que faças o que te digo
quando nem sempre levanto os olhos do telemóvel quando me interpelam.
"Mãe, estás a ouvir?", perguntaste-me, com dois anos! Dois anos!
E nesse momento levei uma chapada imaginária e caí em mim.
Não, não estava a ouvir. Apesar de ter anuído.

Prometo-vos, minhas filhas,
estar mais, de verdade.
Prometo-vos dar-vos o exemplo, mais vezes,
e não exigir tanto de vós,
quando nem sempre vos dou o que merecem.

Merecem tudo.
Olhares ternos,
ouvidos atentos,
abraços demorados,
colos cheios de empatia.
Porque é isso que gostava que fossem, nas vossas vidas.

Presentes.
Conscientes.
Amáveis.





 
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7.20.2016

Adeus, culpa.

Ontem emocionei-me a sério. Tive daqueles momentos mágicos, cúmplices, de perfeita simbiose com a Isabel. Nem todos os dias consigo ter disponibilidade mental para contemplá-la, para senti-la, para ouvi-la, para curti-la, para cheirá-la, para fazer narizinho à esquimó ou olhinhos de borboleta. Estou a adorar os dois anos. São os mais desafiantes até agora, sem dúvida, mas é também a fase mais divertida e aquela em que mais sinto o amor e a admiração da minha filha. Chegámos à altura em que ela tanto me parece esgrouviada e faz birra pelas mais pequenas coisas, fazendo stressar até um morto, como me retribui, a toda a hora, o amor que lhe dou, seja num olhar, numa frase, numa festinha ou abraço caloroso. Sou a pessoa preferida dela, aquela em quem mais confia, aquela com quem mais se ri. 

Ontem conversámos muito antes dela adormecer. Tinha saudades de não ter pressa (consegui adormecer a Luísa antes, o que é raro). Como sempre, revimos o dia, o que mais gostou e o que menos gostou, como se portou e como se sentiu. Como eu me senti. Tento que ela verbalize o que sente até para ajudá-la a ir compreendendo o que se está a passar com ela, quando tem aquelas crises de raiva e frustração. Dar nomes às coisas. Depois perguntou-me pelo pai, abraçou-me e disse que tinha saudades. Confirmou que gostava muito dele. E depois disse: "goto da mamã, muito, enorme, gigante". Senti, nesse momento, que estava a fazer tudo certo, senti que estava ali, naquele amor desmedido por mim, o resultado de tanta dedicação. Tranquilizou-me: mesmo não estando sempre, mesmo não estando tanto, ela sabe que estou. A culpa tem de se ir embora, não faz cá falta nenhuma. Eu sou e serei sempre o melhor que posso para ela. Para elas.








A túnica (que é fofo mas tenho gostado mais de ver com calções) é da RubyOwl.
 
 
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4.20.2016

Ao pai das minhas filhas

Obrigada é pouco. Acho que todas as demonstrações de amor, de gratidão, todas as palavras que possa escrever-te são insuficientes. Mas sei também que os abraços, o carinho e o olhar da Isabel é tudo o que te basta. Que os pontapés da Luisinha, que sentes durante a noite, quando estou colada a ti, são a prova de que estamos a construir o que importa construir. 

E se algum dia nos faltar o resto, que não nos falte o discernimento para perceber que o que fizemos juntos, lado a lado, é maior do que as partes. É o que importa que fique para sempre. Elas. Nós nelas. Que tenham sempre motivos para se orgulhar de nós enquanto pais, mesmo que falhemos no resto. Não acontecerá, acredito em nós e no nosso amor. Mas aquilo em que acredito piamente, sem piscar os olhos, é no que nos une para sempre, mesmo que as outras pontas se desatem. Elas. Nunca lhes faltaremos.

Obrigada por me fazeres acreditar nisto. Sempre.


Fotografia CV Love


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4.19.2016

E quando ela tiver um namorado?


Olhei para esta fotografia que tirei no sábado de manhã na música e pus-me a pensar: ela vai ter namorados, ela vai dar beijinhos na boca e responder a cartas com os quadrados a dizer sim e não (ou uma app qualquer no iPad de alguém). Ela vai ter ciúmes, ela vai jogar ao bate pé, ela vai acabar com namorados, vão acabar com ela e ela vai chorar. Ela vai dar as mãos, ela vai dar abraços, ela vai contar segredos. Ela vai jantar fora no Dia dos Namorados. Ela há de ir ao cinema com o namorado (ou curte, sei lá). 

Ela vai fazer tudo isso.

E eu só desejo uma coisa: 

Irene, que nunca precises de procurar fora de ti o amor que mereces. Guia-te por aquilo que queres e não por aquilo que precises. Farei o meu melhor para que as tuas decisões venham de um coração e alma calmos, tranquilos - é esse o meu papel.

4.16.2016

Voltei lá, ao meu passado.

Voltei há um mês e pouco à minha terra: aos cheiros, à comida caseira, às memórias. Voltei a ter mais tempo e calma, como quando era criança. Um dia destes, passei de carro em frente à minha escola primária e resolvi parar. Não entrei, mas fiquei ali um bocadinho. Vi o sítio onde dançávamos e cantávamos as músicas dos Onda Choc e dos Ministars, onde fingíamos que uma era professora de ginástica e as outras atletas, onde brincávamos aos "bebés espertos". Lembrei a minha professora São, rígida mas inesquecível, as visitas de estudo ao Portugal dos Pequeninos e a Lisboa, os namoricos com o Zé Diogo, dos olhos verdes (era o namorado de todas), os casamentos (casei com o Nuno, mas - desculpa Nuno! - o meu coração sempre foi do Zé Diogo), as festas de anos da Telma, sempre maravilhosas, cheias de luzes de discoteca, de música e de slows (onde, mais uma vez, todas queríamos dançar com o Zé Diogo). O dia em que despejei um leite com chocolate, daqueles que davam na escola, em cima da camisa azul bebé do Ursinho, já nem me recordo porquê, coitado. Vivi de novo o dia em que se forravam as sebentas amarelas e em que escrevia nas primeiras folhas "lição número 1". Recordei as idas para casa, a pé, com a Priscila, a minha melhor amiga, que vivia no rés-do-chão do meu prédio. Senti-me livre, novamente. A apanhar as azedas pelo caminho e a chupá-las. Vi-me novamente na festa final do 4º ano, a cantar e a dançar, e regressei ainda à festa de Natal (seria do primeiro ou do segundo ano?), em que fizemos um coro e a Marta era a mais alta e a Telma e a Tatiana as mais baixinhas. 

No nosso primeiro dia de escola: a Priscila, eu e o meu irmão Frederico.

Na festa de final de ano, a despedida, antes de mudar de escola e enfrentar o 5º ano.

Tive saudades. Saudades de ter tudo pela frente, de não ter medo, de ser um livro em branco, onde tudo ainda se poderia escrever. Mas muito do que se veio a escrever não apagaria, nunca. Por mais feliz que tenha sido a minha infância, os dias mais marcantes - conscientemente - vieram depois, muitos anos mais tarde, com a Isabel e com a Luísa, que vive em mim. Voltei lá, ao meu passado, e tive saudades. Mas o futuro vai ser do caraças.

3.23.2016

Ontem estive pouco tempo com ela...

Tive de trabalhar mais do que o costume ontem. No trabalho estava a ver as horas a passar e o meu tempo com ela a diminuir. Na minha cabeça ouvia a voz dela e via o sorriso dela de temps em temps e morria de saudades. Acelerei o que podia ao máximo como se não pudesse perder aquele comboio que só há de mês a mês (parece uma metáfora estúpida para período mas não). 
Vim rápido. Cheguei a casa doida para a abraçar. Ela também, mas distraiu-se com uma bola no chão. Pediu maminha e trocámos de turno: o pai foi trabalhar. Tinha de fazer imensa coisa como o jantar dela, o meu, arrumar a sala, dar uma limpeza no chão... 

Decidi incorporá-la em tudo. Começamos pelo clássico da maçã assada no forno que ela adora tirar os autocolantes das maçãs, lavar as maças, pôr os paus de canela lá dentro, pôr o mel por cima e provar. 

Depois cortamos batatas na mandolina para ficarem tipo fatias e ela colocou-as uma a uma no tabuleiro para irem ao forno com azeite e um pouco de sal (foi demasiado, comi-as eu).

A video posted by Joana Gama (@joanagama) on

Ajudou a mãe a cortar os cogumelos (coitadinha, como cortar alguma coisa com uma faca de manteiga) e ainda comeu uma fatia de chouriço (é segredo). 

Pôs os ovos na panela com muito cuidado para não se partirem para que, depois de cozidos, os pusesse na maquineta para sairem às rodelas. 

A meio de tudo isto, enquanto punha os cogumelos cortados numa taça, olhou para mim disse: "mamã, cozinhari" e abraçou-me o braço durante alguns segundos. 

Até me vêem as lágrimas aos olhos a contar isto. E isto é só genuíno. Ela estava genuinamente grata por lhe estar a dedicar tempo. Um tempo em que juntei o útil ao agradável.

É tão fácil fazê-los felizes.


... por enquanto. 


3.22.2016

Sinto que estou a ter um caso.

Sim. Fora do casamento. É como se me estivesse a apaixonar por outra pessoa que não aquela a quem prometi amor eterno. Como se o meu coração me dissesse que estava tudo bem, que me podia levar por este novo amor, mas a razão não me deixasse usufruir dessa nova relação a cem por cento. Medo de estar a trair o meu primeiro grande amor.

Mas a verdade é que me estou a apaixonar outra vez e é uma coisa séria. Não é um amor de verão, não é um caso, não é um acidente. É um amor para a vida. O mais estranho é ser possível amar duas pessoas assim, tentando não sentir um bocadinho de culpa. Entregar-me assim ao amor a dobrar. Agora ainda não tenho o consentimento do meu primeiro grande amor, é tudo um bocadinho pela calada, acho que ainda não percebeu bem a dimensão do que se está a passar. Mas espero vir a ter. A ser perdoada. E que também ela o sinta. Este amor enorme por alguém que vem aumentar a família e acrescentar tanto.

Olho para o meu primeiro grande amor e penso se será possível que o novo cresça assim desmesuradamente. Mas se nem eu podia prever que aquela paixão se poderia tornar uma coisa tão forte, maior do que tudo na vida, também acredito que me vou surpreender. Mais uma vez. Amar dois seres diferentes, por igual, e sempre, sempre mais.
Sim. Estou numa relação e tenho dois amores. 

Um que, cada vez que me acorda com um sorriso e um beijinho, faz tudo ter sentido. E que quando me ofereceu, com todas as letrinhas um abraço - um abraço, mãe! - me fez chorar baba e ranho. Obrigada, Isabel.

Um que sem ter nascido ainda já nasceu. Obrigada, Luísa. 

Amores da minha vida.